quinta-feira, março 27, 2014

A estatística como representação da realidade

Houve quem dissesse (se bem cito... ou se não estou a parafrasear) que há três tipos de mentiras: as bem intencionadas, as mal intencionadas e as estatísticas.
Ora as estatísticas são tanto mais "mentirosas" quanto mais se apresentam como o número certo, até às décimas, ou centésimas, ou milésimas, seja do que for... e como der jeito. Elas, as estatísticas nunca deveriam ser mais do que uma representação (em números) da realidade. E a realidade não cabe em números certos, mas simno que a represente aproximadamente.
Deixada esta primeira nota prévia,  fique ainda uma segunda, na mesma senda que se procura que seja de chamada a atenção para a necessidade de rigor
Acabamos de conhecer um estudo do INE (Instituto Nacional de Estatística), na sequência de outros (da OCDE, do FMI, e de quejandos), sempre actualizados, sobre a dispersão de rendimentos e a pobreza (ou risco de pobreza). Calculando-se esta (melhor se diria estimando-se esta) como a população abaixo de uma determinada linha de rendimentos sem que se ficasse a saber se essa linha é a do rendimento médio ou do mediano. O que, em estatística, são coisas diferentes (podendo ser muito ou pouco diferentes consoante os casos). O que não terá grande importância para os não especialistas... desde que se pegue nas informações como representações da realidade e nunca como a realidade. 

Nestes dias (e anos) a realidade, pelas suas representações estatísticas, confirma-se em estado muito grave - e em tendência de agravamento - da situação social. As desigualdades cavam-se mais e mais, como o revelam as repartições de rendimentos, crescem os estratos da população em risco de pobreza, de privação material e de privação material severa.
Quem vier dizer que o mal da sociedade  não está em haver ricos mas em haver pobres, não leu nem as estatísticas nem Almeida Garret, porque, no sistema de relações sociais que vivemos, os mais ricos estão mais ricos porque os pobres estão mais pobres (e, a partir daqui, valia a pena ler, num célebre texto de 1848 que continua a ser "espectro para a Europa", uns parágrafos sobre pauperismo).
Nas estatísticas, a repartição dos rendimentos calcula-se pela diferença encontrada - nas estatísticas - entre os pobres os ricos, os muito pobres e os muito ricos, os paupérrimos e os nababos. Para o que, em estatística, se consideram os estratos dos 20% de menores rendimentos monetários e os 20% de maiores rendimentos, dos 10% do topo para cima e os 10% do rés do chão para baixo, dos 5% do terraço com piscina e helicóptero e os 5% da cave desprovida de tudo ou sem abrigo.
As estatísticas (o INE), representando a realidade, acabam de o dizer. E não são os números (certinhos, às décimas de percentagem...) mas sim as políticas que servem o sistema capitalista (nas correlações de forças sociais existentes) que levam a que sejam estes os números (aproximados) da representação da realidade e da sua evolução. 



3 comentários:

Justine disse...

Aqui se mostra neste texto,de modo claro e pedagógico, como têm sido bem sucedidas as políticas ao serviço dos mais ricos e poderosos, levadas a cabo por este governo desprovido de escrúpulos e de ética.

Graciete Rietsch disse...

A estatística é mentirosa mas a verdade é que mesmo sem estatística se nota, a olho nu, o aumento das desigualdades e da pobreza.
E o que mais por aí virá!!!!!!

Um beijo.

Olinda disse...

Completamente de acordo!Os nûmeros sao trabalhados,conforme as conveniencias.Felizmente que hâ,tambêm,têcnicos honestos que divulgam a realidade com os nûmeros adquiridos.

Um beijo