segunda-feira, março 24, 2014

No regresso de uma festa de aniversário - em MORA, do SEU FLUVIÁRIO-3

(...)

6. Trata-se, ou deveria tratar-se, de corresponder à Constituição da República Portuguesa que, no art. 9º da Constituição, sobre as tarefas fundamentais do Estado. em que na alínea d) (já emendada e remendada) ainda está a promoção do bem-estar e da qualidade de vida do povo e, na alínea e) (novo ou acrescentado na revisão de 1982) está a protecção e valorização do património cultural do povo português.
E o Título III (Direitos e deveres económicos e sociais) da Parte I (Direitos e deveres fundamentais) tem um capítulo III com a designação direitos e deveres culturais – O Estado promove a democratização da cultura, incentivando o acesso de todos os cidadãos à fruição e criação cultural… (art.73.3 também emendado e remendado… mas vigente)
Haverá, talvez, quem julgue ser despropositada tanta citação, e particularmente “desta coisa” chamada Constituição da República Portuguesa, posta de quarentena ou permanentemente agredida porque “essa coisa” da Constituição não é compatível ou não pode prevalecer sobre o “esforço heróico” (…) para sanear as finanças públicas à custa sacrifício de todos (como dizem e insistem), embora desse sacrifício de quase todos (digo eu) esteja a resultar, como se vê (e sente!), o agravamento… das finanças públicas. Entre outros aspectos de somenos, como o nível de vida económico e cultural das populações
Será ela, essa Constituição e os valores que há 38 anos ela consagrou o que há 40, a 25 de Abril se começou a conquistar, tudo isto um sonho lindo?
Como sonho lindo foi este fluviário há 13 anos! E hoje assinalamos esta linda realidade. Com enormes dificuldades, fruto e realidade preservada porque também realidade o agredido Poder Local. 


7. Como sonho lindo foi, em 2001, este fluviário! A que Mora deu o nome e retribui dando nome a Mora. E hoje assinalamos o 7º aniversário desta linda realidade. Com enormes dificuldades, fruto e realidade preservada porque também realidade o agredido Poder Local (que, aqui, em boas mãos estava e em boas mãos continua... o que incomoda outros poderes)..
Falei de dificuldades.
Olhei para o site do fluviário.
Com “olho clínico”, de economista (embora reformado e, parece…, deformado, neste tempo de financeiros… e maus!).
Pedi actualizações relativas a 2014.
Tudo me foi facultado, com toda a transparência apesar das manigâncias contabilísticas gerais que a lei impõe, e mais servem para esconder que para revelar, levando ao exercício, pelos poderosos, de conta habilidades e prescrições…
Adiante.
Preocupa-me, sobretudo, a tendência de queda de visitantes (que parece em inversão!). Como decerto, e sobretudo, a todos vós.
Em tempo de austeridade não há lugar para a cultura porque nem as necessidades elementares estão a salvo. Não se visitam museus e fluviários, do ataque ao Poder Local faz parte a dificultação ou até impossibilidade de meios (de viaturas e recursos humanos que traziam escolas a Mora), pouco sobra para publicidade (gosto mais de… promoção), não há subsídios, patrocínios, incentivos. Só se a cultura for uma mercadoria e das que que dão lucro e, por isso, pedem aspas a ornamentar a palavra…
É um ciclo infernal, é um círculo de desculturização (não de aculturação, a não ser que se dê ao prefixo a o significado de negação, sendo, portanto a negação da cultura ção), é, também, um circo de fausto desavergonhado com migalhas de caridade e de mecenato.

8. Mas de sonhos lindos é feito o futuro, ao realizá-los cumprindo, cada um e todos, a nossa tarefa.
Que é. com toda a sua simplicidade crua – a de despertar a alma colectiva das massas. De que somos e que também somos.
E antes de terminar, ou de passar ao colóquio (como desejo)…, permitam-me que vos conte uma história por mim vivida quando, em tarefa de deputado no Parlamento Europeu, estava a apanhar sol e a ler umas coisas, no intervalo de uma reunião em Budapeste.
(Contar – já coloquialmente – a história de um ancião que se me dirigiu, em línguas sucessivas até eu entender que me pedia uns “trocos” para poder ir mostrar ao neto, com quem vinha de mãos dadas, o museu ali ao lado, museu de que ele tanto gostava e que, antigamente (disse ele...), era de livre acesso e que, agora, tinha entrada paga para que ele deixara de ter meios.)

É para mim, o retrato perfeito da cultura em austeridade:
Pedir esmola para mostrar um museu ao neto!
ou

O passado, no presente de austeridade, a pedir entre-ajuda para se abrirem as portas da cultura ao futuro. Para que este o possa ser!
Vamos conversar?

4 comentários:

Antuã disse...


Aquilo que os partidos do arco da governação cultivam é a imbecilidade.

Jorge Manuel Gomes disse...

Obrigado Camarada, por partilhares connosco esta visita ao Fluviário de Mora (já lá estivemos e havemos de voltar).

É de facto, "um sonho lindo", realizado pelo querer e crer do Povo de Mora.

E devo confessar que fiquei muito comovido com a estória, que faz parte da história de um Povo, do avô que desgraçadamente não tinha possibilidades de pagar uma entrada de museu ao seu neto.

Mas Nós sabemos que o capitalismo não é o fim da história...

A luta continua, contínua!

Um grande abraço, desde Vila do Conde,

Jorge

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigados, camaradas
pela companhia nesta visita tão reconfortante.

Abraços

Graciete Rietsch disse...

História comovente a do avÔ a pedir "esmola" para que pudesse mostrar o museu ao neto. E isto num país distante e antes das troikas e quejandos. Era já uma amostra de como essa "maravilhosa" UE pretendia transformar a Europa. Empobrecer o POVO e meter a CULTURA numa gaveta bem fechada.

Um beijo.