domingo, março 09, 2014

A mesma luta!

É - como é que se diz?... - recorrente. 
Quando, a propósito de qualquer coisa e sempre a despropósito, se quer atacar o Partido Comunista Português, vai-se buscar a Coreia de Norte. Ontem, foi o Expresso, no Cartoon de António. Que agressão (nas intenções!) mais infeliz e despropositada.












Paciência! Que é revolucionária.
Mas, agora, nestes dias de agora, e a propósito, impôs-se-nos uma recente leitura e transcrição da tradução da parte final de um texto do


com o significativo título de
"Guerra boa" e "guerra má"
- e a luta da memória contra o esquecimento
O regime que Washington criou no Sul, a “boa” Coreia, foi instalado e largamente mantido por aqueles que colaboraram com o Japão e a América.


O artigo é de John Pilger, e foi publicado a 13 de Fevereiro de 2014.
Depois de uma abertura em que denuncia como a história tem sido escrita pelos se assenhoriaram do poder, ou pelos seus serventuários, o A. refere autores que têm procurado contrariar esse contar do passado - E.P.Thompson, Howard Zinn, Eduardo Galeano, Richard Overy.
E termina essa abertura sublinhando que hoje, mais do que nunca, essas clarificações são necessárias, pela força da informação e porque se quer fazer crer "que nós vivemos, como afirma o jornal Time, “num presente eterno”, no qual a reflexão é limitada ao Facebook e a narrativa histórica é o espólio de Hollywood (e como no seu) 1984, George Orwell escreveu:“quem controla o passado controla o futuro, quem controla o presente controla o passado”
Logo depois pode (e deve!) ler-se:

«O povo da Coreia compreende bem isto. A carnificina na sua península a seguir à Segunda Grande Guerra é conhecida como “a guerra esquecida”, cujo significado para toda a humanidade há muito vem sendo escondido por histórias militares e de espionagem de guerra fria de"bons"contra"maus".
Acabei de ler A Guerra Coreana: uma História,  de Bruce Cumings (2010), professor de História na Universidade de Chicago. Primeiro vi Cumings ser entrevistado no extraordinário filme de Regis Tremblay  Os fantasmas de Jeju, que documenta o levantamento em 1948 na ilha sul coreana de Jeju, e a campanha dos seus actuais habitantes para impedir a construção da base de mísseis dos EUA apontados provocadoramente para a China.
Tal como a maioria dos coreanos, as famílias de agricultores e pescadores protestaram contra a divisão sem sentido da sua nação entre Norte e Sul, em 1945 – uma linha desenhada ao longo do paralelo 38 por um oficial americano, Dean Rusk, que tinha “consultado um mapa por volta da meia-noite ao dia seguinte a termos destruído completamente Nagasaki com uma bomba atómica”, como escreve Cumings. O mito de uma Coreia “boa” (o Sul) e uma Coreia “má” (o Norte) estava
inventado.
De facto a Coreia, Norte e Sul, tem uma notável história de resistência do povo ao feudalismo e à ocupação estrangeira, particularmente à do Japão no séc.XX. Quando os Americanos derrotaram o Japão em 1945, ocuparam a Coreia e frequentemente etiquetararam os que resistiram aos japoneses como “commies” (forma abreviada, popular e depreciativa de comunistas) . Em Jeju, cerca de 60.000 pessoas foram massacradas por milícias apoiadas  e, em alguns casos, comandadas por oficiais estado-unidenses.
Esta e outras atrocidades não relatadas foram um prelúdio “esquecido” para a guerra da Coreia (1950-53), na qual foram mortas mais pessoas do que os japoneses que morreram durante toda a Segunda Grande Guerra. Cumings faz um cálculo impressionante do grau de destruição nas cidades do norte: Pyongyang 75%, Sariwon 95%, Sinanju 100%. Foram bombardeadas grandes barragens no norte, a fim de causar tsunamis internos. Armas “anti-pessoal”, tais como napalm, foram testadas em civis. A excelente investigação de Cumings ajuda-nos a compreender por que a Coreia do Norte de hoje parece tão estranha: um anacronismo sustentado por uma longa atitude defensiva.  “A avalanche de bombas incendiárias foi visita do Norte durante três anos” escreve ele, “produzindo uma terra de ninguém e um sobrevivente povo toupeira que aprendeu a amar o refúgio de caves, montanhas, túneis e redutos, um mundo subterrâneo que se transformou na base de reconstrução de um país e uma recordação que levou ao surgimento de um ódio feroz na população. A sua verdade não é um conhecimento frio, antiquado e ineficaz”.  Cumings cita Virginia Wolf para descrever como o trauma deste tipo de guerra “confere memória”.
O líder guerrilheiro Kim Il-sung começou a lutar contra o militarismo japonês em 1932. Todas as características ligadas ao regime que ele fundou – “comunismo, estado nocivo, inimigo diabólico” – deriva de uma resistência implacável, brutal, heróica: primeiro contra o Japão, depois contra os EUA, que ameaçaram atacar com armas nucleares os escombros deixados pelos seus bombardeiros.  Cumings revela como propaganda a noção de que Kim Il-sung, líder da Coreia “má”, era um fantoche de Moscovo. Em contrapartida, o regime que Washington inventou no Sul, a  Coreia "boa", era dirigido maioritariamente por aqueles que tinham colaborado com o Japão e a América.
A guerra da Coreia teve uma especificidade não reconhecida. Foi nas ruínas ardentes da península que os EUA se voltaram para o que Cumings chama “um arquipélago do império”. E quando a União Soviética ruiu nos anos 1990, foi como se todo o planeta fosse declarado americano – ou quase.
Mas agora há a China. A base que está a ser construída na Ilha de Jeju ficará em frente da metrópole chinesa de Xangai, a uma distância de menos de 300 milhas, e do coração industrial do único país cujo poder económico irá provavelmente ultrapassar o dos EUA. “A China”, diz o Presidente Obama num documento público, “é a nossa ameaça estratégica de mais súbita emergência”. Por volta de 2020, quase dois terços de todas as forças navais estado-unidenses no mundo serão transferidas para a região Ásia-Pacífico. Num arco desenhado desde a Austrália até ao Japão e além deste, a China estará rodeada por mísseis e força aérea nuclear dos EUA. Será também “esquecida” esta ameaça para todos nós?»


 Coreia do Norte e PCP - a mesma luta?
Não será, antes, o povo coreano e o povo português 
- a mesma luta?
Ou os povos do mundo - a mesma luta?
Ou, já agora..., sociais-democratas, liberais, fascistas - a mesma luta?
(a sobrevivências do capitalismo!),
 com as suas profundas divisões e antagonismos.?
...matai-vos uns aos outros?
 A questão é que, matando-vos, a nós nos matam!

7 comentários:

Jaime Ramalhete Neves disse...

Sim, é necessário que isto seja dito. E tu disseste-o bem e bem documentado.
Até há pouco tempo a ilha de Cheju (Jeju) era um local de atracção turística que os coreanos (alguns...) escolhiam para passar a lua de mel. Hoje base naval militar.

Antuã disse...


É preciso que a verdade venha ao de cima.

Olinda disse...

Quando leio textos destes,ê que tenho pena de nao ter impressora.Seria um texto a juntar a muitos,que vou guardando.
O cartoonista do expresso,devia documentar-se mais sobre as Coreias,e a sua histôria.Hâ sempre muita ignorancia somada ä reacionarice.

Um beijo

Graciete Rietsch disse...

Desta informação tão bem documentada é que todos precisamos para poder desmascarar as mentiras com que todos os dias somos atingidos.
Obrigada pelas tuas informações que me vão servir para argumentar contra
muitos que gostam de provocar atirando-nos com tanta falsidade fabricada.

Um beijo.

Xabier Pérez Igrexas disse...

Caro Sérgio,


Acabo de enviarlhe un correo electrónico urgente a respecto das conferencias internacionais ás que o convidamos a participar na Galiza, en tanto que relator. Quando você puder responda-me. Oobrigadísimo. Um grande abraço camarada.

Ana disse...

Alguns jovens portugueses visitaram Panmunjon a linha de demarcação que divide o norte e o sul da Coreia. Dum lado a indignação e o mesmo grito: Coreia é uma!
Do outro as tropas - americanas e sul-coreanas - que fotografavam os que se atreviam a dizer Não! ao Imperialismo.
A gigantesca muralha que divide o norte e o sul é um crime hediondo construído e suportado pelos EUA, que lá (man)têm tropas e observadores.
A luta, a mesma luta, como dizes, mantém-nos unidos. É esta união dos povos pelo futuro digno, que os fantoches sabem que existe mas à custa de dizerem tantas mentiras esperam (e conseguem) que alguma coisa fique nos que se alimentam (só) desta imprensa.
Não conheço o povo do sul. Conheço o povo do norte (estive lá cerca de 20 dias) e é um povo trabalhador e ordeiro. As crianças vão para a escola sem medo de perigos. Não há gente desempregada. Os campos estão lavrados. As cidades não se encontram sujas. As montanhas são belíssimas e não ardem a fogo posto. Idosos e crianças, o mesmo respeito. E manifestam para com os estrangeiros uma imensa gemerosidade. São raras as vezes em que mostro as centenas de fotografias que lá fiz há cerca de 25 anos. Os que as vêm perguntam-me: Como são os norte-coreanos e a Coreia do Norte? E lá estou eu a explicar-lhes que a Coreia é uma. Os coreanos são como nós. Mas o que eu conheço, os do norte, são trabalhadores, ordeiros e generosos. E a saudade de ver os amigos como a Cha e o Pak é imensa. Tão imensa, que o correio trocado não é capaz de anular. E alegram-me as notícias, como a tua, que me trazem a Coreia e o povo do norte.

trepadeira disse...

Excelente.
Vou roubar.
Temos de divulgar mais e mais aquilo que o sistema esconde.

Abraço,

mário