"Caiu-lhes a máscara
Depois da fria recepção nos EUA, onde – ao contrário do que se verificou anteriormente – não foi facultada a possibilidade de se dirigir ao Congresso, eis que Zelensky intervém no parlamento canadiano, na presença de Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, tendo sido recebido com um autêntico delírio apoteótico.
A euforia foi tão grande que Zelensky, Trudeau e todo o parlamento acabaram a ovacionar colectiva e significativamente, de pé e por duas vezes, um ucraniano-canadiano membro da 14.ª Divisão das Waffen SS nazis, apresentado como um «herói».
Perante a ampla denúncia deste tão escandaloso quanto clarificador acto de glorificação de um colaboracionista nazi, seguiu-se um vergonhoso exercício de «passa culpas» e de tentativa de desresponsabilização por parte daqueles que nele tão entusiasticamente participaram.
O branqueamento do nazi-fascismo e dos que com este colaboraram não é novo no Canadá. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Canadá acolheu colaboracionistas do nazi-fascismo, incluindo ucranianos integrantes das Waffen SS, responsáveis por hediondos crimes. Aliás, os membros da 14.ª Divisão das Waffen SS, maioritariamente integrada por fascistas ucranianos, sob comando nazi, encontraram no Canadá um espaço para a sua articulação no pós-guerra. Recorde-se que, nos anos 80, as autoridades do Canadá procuraram branquear a 14.ª Divisão das Waffen SS, tentando ilibá-la dos crimes cometidos pelos nazis, nomeadamente na União Soviética e na Polónia.
Recorde-se ainda que o Canadá, assim como os EUA, o Reino Unido e, em geral, os países integrantes da NATO e da UE – incluindo Portugal – têm-se sistematicamente abstido ou votado contra a resolução aprovada anualmente pela Assembleia-Geral das Nações Unidas sobre o combate à glorificação do nazismo, do neonazismo e de outras práticas que contribuem para alimentar as formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância associada.
A cumplicidade das potências capitalistas com o fascismo verifica-se desde a origem deste, estando patente no período que levou à eclosão da Segunda Guerra Mundial e prosseguindo no pós-guerra. A participação da ditadura fascista portuguesa como membro fundador da NATO e o seu apoio à guerra contra os povos africanos imposta pelo regime colonial fascista português, é um entre tantos exemplos desta cumplicidade que teve expressão em praticamente todos os continentes. É dessa cumplicidade aberta ou encoberta do imperialismo com o fascismo que surgiram as forças que hoje, em diversos países do Leste da Europa – como na Ucrânia ou nos Estados bálticos – branqueiam o nazi-fascismo e os seus crimes e glorificam os que com ele colaboraram, ao mesmo tempo que destroem os monumentos e a memória dos soldados soviéticos e perseguem os comunistas e outros democratas.
Veja-se como o imperialismo não hesitou em recorrer a grupos fascistas e nazis para efectuar o golpe de Estado na Ucrânia em 2014 e impor um poder xenófobo e belicista que, não se importando de sacrificar o povo ucraniano, se assume como uma autêntica tropa de choque da estratégia de confrontação e guerra dos EUA.
Por muito que o procurem iludir, o vergonhoso episódio no parlamento canadiano não foi um acto isolado, um erro ou um acaso, mas a expressão de uma longa e inaceitável conivência política.
Pedro Guerreiro "