Hamas não seria problema se houvesse paz, diz diplomata «Lisboa, 14 Janeiro (Lusa) - A representante da Autoridade Palestina (AP) em Portugal,
Randa Nabulsi, defendeu nesta quarta-feira que o extremismo e o Hamas deixariam de ser um problema se houvesse esperança de paz e qualificou os combates na Faixa de Gaza como "massacre". Em entrevista à Agência Lusa, a delegada-geral da AP considerou que a ofensiva militar israelita na Faixa de Gaza iniciada em 27 de dezembro e que, segundo fontes palestinas, já causou mais de 900 mortes,
"não é um conflito, é um massacre". Israel disse pretender com a ofensiva acabar com o disparo de mísseis a partir de Gaza, administrada pelo movimento islâmico Hamas desde Junho de 2007, contra o sul do território israelita. Segundo Nabulsi,
"se as autoridades de Israel dissessem agora: estamos dispostos a devolver toda a terra da ocupação de 1967 - na seqüência de uma guerra com três países árabes vizinhos, Israel ocupou a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém oriental - e a aplicar as resoluções sobre os refugiados, deixaria de haver extremismo, Hamas ou problemas". "Se houvesse esperança de paz, todo o extremismo desaparecia, acredite. É o resultado da falta de justiça e esperança", afirmou. Nabulsi ressaltou que a Autoridade Palestina está
"contra os mísseis, porque não quer os civis envolvidos no conflito". "Mas temos que ter a certeza que são os civis de ambos os lados, os civis israelitas e os civis palestinos", afirmou. Nabulsi considerou que
"Israel conseguiu vender a questão dos mísseis como um assunto muito importante", mas estes são
"uma reação". "Sempre que Israel fechou Gaza mais e mais (o território palestino é alvo de bloqueio por parte de Israel),
e deixou as pessoas passarem fome e ficarem sem acesso a medicamentos e eletricidade foi mandado mais um míssil ou mais dois mísseis. Foi uma reacção", disse.
"Não se trata do problema dos mísseis, é a atitude de Israel contra quem quer que não aceite a ocupação", declarou Nabulsi.
Cessar-fogo
Em relação ao elevado número de civis palestinos mortos, cuja responsabilidade Israel atribui ao Hamas por tentar usar a população como escudo humano, Nabulsi argumenta que quem conhecer a Faixa de Gaza percebe que "não há lugares para irem os civis ou ir o Hamas, é uma faixa muito curta e é um dos sítios com maior concentração populacional do mundo". "Se eles decidissem não matar civis, eles podiam não matar civis. Mas penso que eles não se preocupam com os civis", lamentou.
Nabulsi declarou que a AP está fazendo de tudo o que pode, "a pedir à comunidade internacional, em primeiro lugar, para pressionar Israel que páre o massacre".
Ela disse também que o presidente da AP, Mahmud Abbas, foi ao Conselho de Segurança da ONU e que têm existido contatos "com a Liga Árabe, com os presidentes árabes, com a ONU e a comunidade internacional para pressionar Israel para um cessar-fogo. É o primeiro passo".
A diplomata confessou que, "tal como muitos países", a AP "colocou elevadas expectativas no próximo presidente dos Estados Unidos, talvez porque Bush foi o pior de sempre que os Estados Unidos teve". "Não sei se ele (Barack Obama) consegue pressionar Israel. Esperamos que o próximo governo norte-americano olhe de forma diferente para o nosso problema e as nossas necessidades e os nossos direitos", declarou.
Divisão palestina
A diplomata considerou ainda que "a divisão palestina (entre o Hamas que controla Gaza e o movimento Fatah, ligado a Mahmud Abbas, que controla a Cisjordânia) foi o maior presente para Israel"."E oferecemo-lo de graça", lamentou, adiantando, no entanto, que "o Hamas cresceu porque depois de 17 anos de negociações com Israel não conseguimos (a AP) nada".
"Depois de 17 anos a tomar injeções de calma e de esperança, as pessoas já não acreditam na paz, foram para o Hamas porque pensaram que se este caminho de negociação política não nos deu nada vamos tentar o caminho contrário", disse.
Em Janeiro de 2006, o Hamas venceu as eleições para o Conselho Legislativo Palestiniano derrotando a Fatah, mas foi forçado a abandonar o governo por pressão dos Estados Unidos e União Européia. Contudo, em junho de 2007, o Hamas tomou o controle da Faixa de Gaza derrotando as forças da Fatah no território.
"Não quero ser posta como defensora do Hamas, nós temos muitos problemas e desacordos entre o Hamas e a OLP (Organização de Libertação da Palestina, presidida por Mahmud Abbas), mas posso compreender o resultado desta guerra. Será a vitória do extremismo de todas as partes", disse Nabulsi.
E continuou: "Não posso defender o Hamas, mas também não posso defender que se obrigue as pessoas a fazer a paz com um tanque, com um (helicóptero) Apache ou um (avião de combate) F16".
Considerando que a questão israelense-palestina "é um exemplo claro de dois pesos e duas medidas", defendendo que, se Israel "quer continuar com as negociações políticas tem que ser terra por paz, não paz e terra ao mesmo tempo"."Os israelitas têm que perceber que o povo palestiniano tem direito à independência completa com as fronteiras de 67, incluindo Jerusalém", concluiu a representante palestiniana.»