sexta-feira, janeiro 30, 2009

Isto está insuportável... mas não podemos ir para Pasárgada

Segundo o boletim da Assembleia da República, hoje (ontem) discutiu-se e votou-se "isto":

REUNIÃO PLENÁRIA - 2009.01.29 (QUINTA-FEIRA) 15:00 HORAS
Actualização anual do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC).
(Grelha B)

Proposta de Lei n.º 247/X (GOV) – Cria o programa orçamental designado por «Iniciativa para o Investimento e o Emprego» e, no seu âmbito, cria o regime fiscal de apoio ao investimento realizado em 2009 (RFAI 2009) e procede a alteração à Lei n.º 64-A/2008, de 31 de Dezembro.
(Grelha B)
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Em que página dos jornais, em que noticiários das rádios e das televisões, haverá informação sobre estas minudências?
O PEC? Que é isso?, que tem a ver com a "crise"?
Que vai ser essa coisa da "Iniciativa para o Investimento e o Emprego"?
Pois se nem o primeiro-ministro esteve presente, a tratar de assuntos "familiares" (parece que têm a ver com um tio e primos).
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Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Vou-me embora pra Pasárgada.
(partes indecentementas roubado ao poema de Manuel Bandeira)

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Justificação de falta (se por ela se deu...)

Um fim-de-semana em Bruxelas. De sábado a terça, avião quarta de manhã. Para “apresentação” do livro “50 anos de economia e militância”. Porque assim foi sugerido, numa iniciativa de amizade e camaradagem, logo por aqui acolhida, até com entusiasmo… até porque Bruxelas fica perto de Amsterdam.
E, curiosamente, foi mais difícil manter o contacto, nestes escassos dias, com a “blogosfera”, que quando por vietnamitas paragens.
Aliás, logo na quinta-feira, abandonei este “canto” a que agora regresso, para ir até Portimão participar num debate sobre a “crise”, promovido pelo Partido, na Biblioteca Municipal (mais uma BM que me deixou saudades do que não tenho na minha terra…).
Voltei, na sexta, de Portimão, com a satisfação de tarefa cumprida, fiz as horas de “expresso” (e tantas foram!), e na manhãzinha de sábado voámos para Bruxelas.

À tarde, sessão na livraria Orfeu. Um “canto” português, perto da "Comissão". No domingo, um almoço na APEB (associação dos portugueses emigrados na Bélgica) e, na segunda e terça, um regresso ao Parlamento Europeu (foram 11 anos!), para andar por aqueles corredores e salas, reencontrar gentes, sentir simpatia... e para uma “apresentação” e conversa sobre o livro.
Agora, é a volta à rotina… se é que há disso, actualizar-me nesta informação que me fugiu entre os dedos ou de que apenas apanhei o que talvez seja suficiente. Que pelo menos o é para sentir que isto está mesmo muito mal, em todos os sentidos, sobretudo ético.
E, procurando não me ter repetido nas três apresentações, ganhei uma nova “arrumação” para as razões por que escrevi e por que publiquei o livro:
Escrevi-o por 3 razões:
..........1. em 2008, fazia 50 anos de licenciatura
..........2. em 2008, fazia 50 anos que "tomei partido", que entrei para o PCP
..........3. em 2008 começara o chamado “Mercado Comum”,
querendo contar esse meio século pelas vivências de este economista e militante comunista, deste cidadão interveniente.
Publiquei-o por mais duas razões:
..........4. por julgar oportuno falar da resistência ao fascismo, e de comportamentos
..........5. por, nesses 50 anos, a “nova economia", via financeirização, se ter imposto
e por mais uma razão “a posteriori”:
..........6. o eclodir da chamada “crise”, que mais não é a manifestação da crise do capitalismo nas actuais condições, por ele criadas e pelas políticas de quem o serve
Embora esta última, por ter coincidido com a saída do livro, me pudesse ter levado, se não fosse “a posteriori”ou

..........a) ou a não o publicar
..........b) ou a reescrevê-lo, valorizando mais a Conferência do PCP de Nov. de 2007 e as “leituras” de Marx (e Engels) do processo histórico, como nesses 50 anos se concretizou.
Esta ida a Bruxelas reforçou uma 7ª razão adicional para ter escrito e publicado este livro:
..........7. o pretexto que ele tem sido para a valorização da camaradagem e da amizade, alimentos da luta em que estamos, e em que a vertente ideológica, a afirmação dos nossos princípios e valores, que combatem o individualismo, o egoísmo, o “salve-se quem puder”, a produtividade e ao competitividade como valores, combate indispensável para a tomada de consciência do tempo (e dos riscos) que vivemos.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Citação (talvez) oportuna

«Crises em que a produção se interrompe e se trabalha apenas "pouco tempo", apenas durante alguns dias da semana, naturalmente em nada modificam o impulso para o prolongamento do dia de trabalho. Quanto menos negócios se fizerem tanto maior há-de ser o ganho sobre o negócio feito. Quanto menos tempo se puder trabalhar, tanto mais tempo de sobretrabalho se deve trabalhar. Assim relatam os inspectores fabris sobre o período de crise de 1857 a 1858: (...)»


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O Capital, Karl Marx, livro primeiro - tomo I, pg. 274, edições avante!, 1990

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Hoje, depois de ontem

No anterior "post", o dia de hoje, apareceram comentários dos habituais visitantes que tanto gosto de receber e de conversar e uma "novidade", Patrícia de seu nome ou pseudónimo, que, logo de manhãzinha, me fez pensar e re-comentar. E parece-me interessante reproduzir o diálogo, elevado a mensagem para reflectir:
Patricia disse...
O dia de hoje é um dia histórico para os americanos,que o digam os que lutaram e lutam pelos direitos civicos.E afinal não passou assim tanto tempo desde que o pai de Obama não podia frequentar um restaurante de brancos até ao dia que o filho tomou posse como Presidente dos EUA."Eu tive um sonho", e o sonho comanda a vida
20/1/09 23:21
Sérgio Ribeiro disse (devidamente corrigido)...
... o que me parece absolutamente fundamental ter presente, ou de que é vital tomar consciência, é que aquilo que a comentadora Patrícia diz é verdade e tem de ser sublinhado, mas não é menos fundamental e vital TER DE acrescentar
... apesar de
e
assim é porque muito se lutou e muitas vítimas ficaram pelo caminho
e
não nos podemos deixar iludir
e
a luta tem de continuar - e talvez mais difícil - para evitar que as reais conquistas da luta (pela Humanidade mais humana ou menos desumana) não sejam armas perversamente utilizadas pelos interesses que de tudo foram capazes para as procurar evitar, e que contra mais avanços continuam a usar toda a sua força não recuando perante a violência, a guerra, o que for...
21/1/09 08:15

terça-feira, janeiro 20, 2009

O dia de hoje

Pronto! Também vou escrever umas palavras. Que hoje é dia de palavras. Como se as palavras fossem o que as palavras deveriam ser.
Hoje é um dia de grandiloquentes palavras. De grandiloquências. No culminar de dias cheios de palavras. Não de palavras vazias, não, mas de palavras esvaziadas. Em outra língua que não a nossa, para a nossa língua tra(du)zidas.
Pois que seja assim. Ou que assim seja!
Usemos, pois, as palavras. Hope igual a esperança, change como se fosse mudança, we can o mesmo (e depois!) de sim, é possível!
Mas não esqueçamos as outras palavras. Também nossas. Algumas só nossas. E mal ditas por outros. As palavras que ficarão - ah!, disso estou certo... se é que não é a única certeza que tenho?! - depois das palavras em Obamoda, em uso e abuso. Em USA e abUSA.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Ser ou não ser... economista

À ideia que se faz de economista junta-se, consensualmente, a ideia de “homem de números”. O que faz contas. Contas mais complicadas que as da contabilidade, contas de técnicas e métodos quantitativos, estatísticas, econometrias e mais coisas inacessíveis aos comuns dos mortais.
Sempre combati essa conotação redutora. Gosto de ser economista, gosto de trabalhar números… mas, para mim, economia não são números, muito menos cifrões, $ ou . Economia é, sobretudo –escrevi: sobretudo –, uma ciência social.
Andei, pelos vietnames, no meio da economia real, das pessoas e das coisas. Das coisas no meio das pessoas. Não das pessoas no meio das coisas. E das finanças, e sendo seus joguetes.
Abro os jornais, “ouvejo” os noticiários, e é como se regressasse das economias, não às economias. O que, ontem, era +0,6% de previsão de crescimento do PIB – e, anteontem, muito acima – passou, hoje, a ser previsto descer aos –0,8% ou mais abaixo; o défice orçamental que, ontem, se chegasse a 3% do PIB era pior que, para o Código das Estradas, pisar um duplo risco contínuo, e condicionava todas as economias nacionais (ou o que mantém esse nome), hoje, é dito que será de 3,9% mas sabe-se, já, que vai ser bem superior; o objectivo do controlo da inflação, transformado em sine qua non (não se sabe bem de quê mas sine qua non) foi substituído pelo risco de deflação, que é o contrário sendo, socialmente, o mesmo; o desemprego – ah!, o desemprego –, ontem a grande maleita, com a criação de empregos (150 mil, não era?) como terapêutica inadiável (e para isso sendo necessária a maioria absoluta), hoje é a eminente inevitabilidade, com a taxa anunciada de 7,7% a subir para 8,5%, e são percentagens (às décimas de porcento…) que só querem dizer que se espera que vá aumentar muito e, logo, quem tem emprego que o guarde bem guardado, como benesse ou privilégio, e que se deixe de direitos e essas fantasias…
Porquê? Porque se fizeram mal as contas? Porque não se supervisionou a actividade bancária, quando é esta que supervisiona o resto, voando acima de todos os ninhos de todos os cucos? Porque a economia nacional está dependente da internacional, e a crise veio de fora?
Mas não foi dito e redito, previsto e prevenido, que as políticas prosseguidas iam levar à demente financeirização, à crescente e trágica dependência do exterior, desde as de tradução técnica (balanças comerciais e de pagamentos, dívida externa), mas, sobretudo, alimentar, energética, na economia… real, isto é, das realidades, porque se desvalorizou o aparelho produtivo, maxime os trabalhadores?! O que passou a valer, a ter valor, é o que compra os melões, e não o trabalho que planta e colhe melões e meloas, que tira e amanha peixe e outro pescado, que faz e troca queijos e quejandos.
Não embrulhem os cidadãos em números. Não digam que a culpa é dos economistas, É das políticas! É dos interesses (de classe) que servem. E que põem os ditos economistas (os "daquelas contas") ao seu serviço.

Carta a Mounti e recomendação a alguns

Meu caro Mounti,

li, no quarteto, a tua mensagem. Foi agradável ver que recomendas que me venham visitar, mostrando que não te esqueceste que foi aqui que nasceste para a "blogosfera", apesar de ter sido por essas paragens que te tornaste, verdadeiramente, uma vedeta. Mas que não esquece as origens. É bonito! Até pareces o Cristiano Ronaldo...

Devo dizer-te que estava para recomendar visitas ao quarteto, no âmbito destas impressões da viagem ao Vietname. É que, e muito me apraz registá-lo, encontro verdadeira complementaridade no que a Justine vem fazendo. Encontro, nos seus posts, a ilustração do que são os lugares e as gentes, as suas actividades, a terra e a agricultura, a água e a pesca, o comércio, o bulício efervescente das urbes... enfim, a economia real que aqui, pelas nossas bandas, pelas finanças e traficâncias, foi esquecida e está a ser brutalmente lembrada mas com a lembrança abafada pela continuidade das mesmas políticas, sob a capa de "mudanças".

Olha, não te digo mais. Recomendo a visita ao quarteto, e só ainda não o tinha feito porque até me parecia jactância, eu, que tão pouco visitado sou, recomendar visitas a quem tem tantos visitantes.

Mas... aproveito a tua boleia, com as saudações que mereces... e de que abusas.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Tudo uma questão de natureza e civilização

Ocupado, ocupadíssimo (por dentro de mim, com reflexos nas viagens e paragens blogosféricas), com o Vietname e com os massacres que nos vêm de Gaza, apenas tenho espreitado outros sítios e temas. E porque quer o Vietname quer Gaza não merecem grande guarida no albergue dos danados (ainda hei-de perceber porquê...), as visitas e espreitadelas neste têm sido rápidas e "a escapar". Mas um texto de a viúva fez-me parar e sentir uma vontade irreprimível de transcrever. Aí vai:
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Nunc et in hora mortis nostræ. O senhor cardeal patriarca, que é católico, apostólico e o raio que o parta, sabe o que diz sobre o casamento de moças devotas do menino Jesus com moços virados para o quarto lunar crescente. Mas não sabe tanto quanto o senhor reitor do santuário de Fátima anterior, para quem, há quem recorde?, o motivo para divórcio depende do grau de agressão do homem à mulher. Disse o senhor monsenhor Luciano Guerra, “há o indivíduo que bate na mulher todas as semanas e há o indivíduo que dá um soco na mulher de três em três anos” (in Notícias Sábado, suplemento do jornal Diário de Notícias, n.º 50591, 6 de Outubro de 2007, p. 18). Isto, claro, se o indivíduo for inclinado ao credo católico e tal. Porque se for inclinado ao credo muçulmano, então, como é sobejamente sabido e nunca é demais avisado, desde o princípio o caso muda de civilização e natureza, natureza que há só uma. A viúva.
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G'anda malha!

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Caderno Vietname - anexo

No balanço feito da viagem ao Vietname, foi referida a evolução histórica do País de modo que, em releitura, se avalia insatisfatório. Não pretendo, de maneira alguma, resumir essa História, mas aproveitar leituras e vivências para fazer uma brevíssima sinopse, e assim terminar os excertos da crónica desta viagem que tanto me marcou… embora, decerto, volte ao tema, isto é, ao País:
  • Após a pré-história, formou-se um Estado primitivo (dos “viets”);
  • Dominação chinesa durante mais de mil anos;
  • Independência e construção de um Estado feudal centralizado entre os séculos X e XVI;
  • Período de divisões no território, entre os séculos XVI e XVIII;
          • Reunificação do País, com duas dinastias, 1778-1802 e 1802-1945;
          • Ocupação colonial francesa, desde1884;
          • Luta pela independência nacional contra o colonialismo (entre 1930 e 1945);
          • Independência nacional e criação da República Democrática do Vietname, proclamação (Ho Chi Minh) a 2 de Setembro de 1945 e eleições gerais a 6 de Janeiro de 1946;
          • Regresso dos ocupantes franceses, e primeira guerra de libertação, de Dezembro de 1946 a 1954;
          • Acordos de Genebra de 1954, e “solução” de divisão por paralelos (no caso do Vietname, o paralelo 17);
          • Incumprimento dos acordos e segunda guerra de libertação, contra os EUA, pela libertação do sul do Vietname e a reunificação nacional;


          Gabinete de Ho Chi Minh em Hanoi

          • Tomada de Saigão a 30 de Abril de 1975, eleições gerais em 25 de Abril de 1976 e mudança de nome para República Socialista do Vietname (02.07. 76);
          • “Construção nacional” entre 1975 e 1986, com adopção de um tipo de organização da sociedade e economia centralizada, com apoio da União Soviética;
          • VI Congresso do Partido, em 1986, e procura de novo caminho na mesma direcção, do socialismo;
          • Etapa de “renovação nacional”, com economia multi-sectorial adoptando mecanismos de mercado, iniciando vinte anos de transição, de “mudança”;
          • Em 2006, avaliação das consequências da “abertura” à economia do mercado e entrada para instituições e mecanismos internacionais, como a OMComércio, e decisão de corrigir desvios (como infiltrada corrupção) com medidas que estarão em curso.

          Sobre o Vietname e não só... tempo para quebrar silêncios!

          Lembra ocastendo.blogs.sapo.pt que há 80 anos nasceu Martin Luther King (e há mais de 40 foi assassinado).
          Obrigado!

          quarta-feira, janeiro 14, 2009

          "Hamas não seria problema se houvesse Paz"

          Hamas não seria problema se houvesse paz, diz diplomata

          «Lisboa, 14 Janeiro (Lusa) - A representante da Autoridade Palestina (AP) em Portugal, Randa Nabulsi, defendeu nesta quarta-feira que o extremismo e o Hamas deixariam de ser um problema se houvesse esperança de paz e qualificou os combates na Faixa de Gaza como "massacre". Em entrevista à Agência Lusa, a delegada-geral da AP considerou que a ofensiva militar israelita na Faixa de Gaza iniciada em 27 de dezembro e que, segundo fontes palestinas, já causou mais de 900 mortes, "não é um conflito, é um massacre". Israel disse pretender com a ofensiva acabar com o disparo de mísseis a partir de Gaza, administrada pelo movimento islâmico Hamas desde Junho de 2007, contra o sul do território israelita. Segundo Nabulsi, "se as autoridades de Israel dissessem agora: estamos dispostos a devolver toda a terra da ocupação de 1967 - na seqüência de uma guerra com três países árabes vizinhos, Israel ocupou a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém oriental - e a aplicar as resoluções sobre os refugiados, deixaria de haver extremismo, Hamas ou problemas". "Se houvesse esperança de paz, todo o extremismo desaparecia, acredite. É o resultado da falta de justiça e esperança", afirmou. Nabulsi ressaltou que a Autoridade Palestina está "contra os mísseis, porque não quer os civis envolvidos no conflito". "Mas temos que ter a certeza que são os civis de ambos os lados, os civis israelitas e os civis palestinos", afirmou. Nabulsi considerou que "Israel conseguiu vender a questão dos mísseis como um assunto muito importante", mas estes são "uma reação". "Sempre que Israel fechou Gaza mais e mais (o território palestino é alvo de bloqueio por parte de Israel), e deixou as pessoas passarem fome e ficarem sem acesso a medicamentos e eletricidade foi mandado mais um míssil ou mais dois mísseis. Foi uma reacção", disse. "Não se trata do problema dos mísseis, é a atitude de Israel contra quem quer que não aceite a ocupação", declarou Nabulsi.


          Cessar-fogo


          Em relação ao elevado número de civis palestinos mortos, cuja responsabilidade Israel atribui ao Hamas por tentar usar a população como escudo humano, Nabulsi argumenta que quem conhecer a Faixa de Gaza percebe que "não há lugares para irem os civis ou ir o Hamas, é uma faixa muito curta e é um dos sítios com maior concentração populacional do mundo". "Se eles decidissem não matar civis, eles podiam não matar civis. Mas penso que eles não se preocupam com os civis", lamentou.
          Nabulsi declarou que a AP está fazendo de tudo o que pode, "a pedir à comunidade internacional, em primeiro lugar, para pressionar Israel que páre o massacre".
          Ela disse também que o presidente da AP, Mahmud Abbas, foi ao Conselho de Segurança da ONU e que têm existido contatos "com a Liga Árabe, com os presidentes árabes, com a ONU e a comunidade internacional para pressionar Israel para um cessar-fogo. É o primeiro passo".
          A diplomata confessou que, "tal como muitos países", a AP "colocou elevadas expectativas no próximo presidente dos Estados Unidos, talvez porque Bush foi o pior de sempre que os Estados Unidos teve". "Não sei se ele (Barack Obama) consegue pressionar Israel. Esperamos que o próximo governo norte-americano olhe de forma diferente para o nosso problema e as nossas necessidades e os nossos direitos", declarou.


          Divisão palestina


          A diplomata considerou ainda que "a divisão palestina (entre o Hamas que controla Gaza e o movimento Fatah, ligado a Mahmud Abbas, que controla a Cisjordânia) foi o maior presente para Israel"."E oferecemo-lo de graça", lamentou, adiantando, no entanto, que "o Hamas cresceu porque depois de 17 anos de negociações com Israel não conseguimos (a AP) nada".
          "Depois de 17 anos a tomar injeções de calma e de esperança, as pessoas já não acreditam na paz, foram para o Hamas porque pensaram que se este caminho de negociação política não nos deu nada vamos tentar o caminho contrário", disse.
          Em Janeiro de 2006, o Hamas venceu as eleições para o Conselho Legislativo Palestiniano derrotando a Fatah, mas foi forçado a abandonar o governo por pressão dos Estados Unidos e União Européia. Contudo, em junho de 2007, o Hamas tomou o controle da Faixa de Gaza derrotando as forças da Fatah no território.
          "Não quero ser posta como defensora do Hamas, nós temos muitos problemas e desacordos entre o Hamas e a OLP (Organização de Libertação da Palestina, presidida por Mahmud Abbas), mas posso compreender o resultado desta guerra. Será a vitória do extremismo de todas as partes", disse Nabulsi.
          E continuou: "Não posso defender o Hamas, mas também não posso defender que se obrigue as pessoas a fazer a paz com um tanque, com um (helicóptero) Apache ou um (avião de combate) F16".
          Considerando que a questão israelense-palestina "é um exemplo claro de dois pesos e duas medidas", defendendo que, se Israel "quer continuar com as negociações políticas tem que ser terra por paz, não paz e terra ao mesmo tempo"."Os israelitas têm que perceber que o povo palestiniano tem direito à independência completa com as fronteiras de 67, incluindo Jerusalém", concluiu a representante palestiniana.»

          terça-feira, janeiro 13, 2009

          Excertos de Caderno Vietname - 6 (balanço 3 e fim)

          E termino. Neste momento (histórico!) de (re)configuração mundial, há um papel a desempenhar pela Ásia. Lá está a China, lá está a Índia, lá está o Laos. Lá está o Vietname!

          A ASEAN (associação dos países do sudeste asiático) agrupa 10 países (Birmânia, Brunei, Cambodja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Singapura, Tailândia, Vietname), sendo uma forma avançada de organização e integração, sublinhando-se a diversidade de todo o tipo entre os países que a compõem. À ASEAN juntam-se, por vezes e com alguma informalidade, mais 3 países que são, só(!) a China, o Japão e a Coreia do Sul (e a do Norte, por onde anda?). A estes 10 + 3 associam-se a Índia, a Austrália e a Nova Zelândia numa Cimeira da Ásia Oriental, ainda mais informal mas à procura de forma e que não se sabe no que pode dar.

          O que se sabe é que depois da “crise de 1997-98” (a dita “asiática”), o FMI e a OMC são, naquela zona, cartas jogadas e, talvez…, fora do baralho, e neste quadro (ou nos vários quadros do contexto) se multiplicam os acordos bilaterais, se verificam aproximações. Com um Vietname, com mais de 300 mil quilómetros quadrados e mais de 85 milhões de habitantes, há relativamente ouco tempo a entrar, militarmente, no vizinho Cambodja, aquando dos “khemers vermelhos”, e a ter de rechaçar firmemente uma retaliação chinesa que lhes entrou em território seu. Com este Vietname que visitámos a poder ser charneira. Será?

          O que é que isto tudo vai dar? O que é certo é que sinto ter estado a visitar um centro do mundo (da Humanidade), nas dimensões espacial e temporal deste (e desta).

          Bom dia, Vietname!

          segunda-feira, janeiro 12, 2009

          TOMADA DE POSIÇÃO e inFORMAÇÃO

          Para ser visto e ouvido como tomada de posição do PCP, e, também, lido em ocastendo, como útil inFORMAÇÃO.
          E divulgado.

          domingo, janeiro 11, 2009

          Será estupidez? De quem?

          Ver! Sobre a "avaliação de professores" e as deputadas manobras e alegres manigâncias. Mais que autoridade nacional, uma informação de "serviço público".

          Gaza em mais angular

          O blog maisangular.blogspot.com publicou alguns documentos e comentários que justificam uma visita. Ver

          Excertos de Caderno Vietname - 5 (balanço 2)

          Voltei impressionado. Não pelo que vi, não pelo que ouvi, não pelo li, não pelo que teria querido confirmar. Voltei impressionado – sei-o a cada palavra que escrevo, a cada foto que revejo – pelo que sinto, pelo que só eu posso sentir por muito próximo do que eu sinto outros possam sentir.

          Uma pré-história, um estado primitivo (dos “viets”), uma dominação chinesa de séculos, de mais de mil anos, uma independência e construção de um Estado feudal centralizado entre os séculos X e XVI, um período de decomposição e de divisão do território, recomposição com duas dinastias, a partir do final do século XVIII até 1945, um espaço penetrado e ocupado pela dominação colonial francesa, uma luta pela independência nacional contra o colonialismo (entre 1930 e 1945), um regresso dos ocupantes franceses e uma primeira guerra de libertação entre 1946 e os acordos de Genebra de 1954 com o expedito expediente de dividir por paralelos (no caso do Vietname, o paralelo 17), um incumprimento destes acordos e uma segunda guerra de libertação, contra a intervenção dos EUA, para a libertação do sul do Vietname e a reunificação nacional, até 1975, uma construção nacional entre 1975 e 1986 com a adopção de um tipo de organização da sociedade e da economia centralizada, burocratizada, com o apoio e a imitação da União Soviética, hoje considerado “modelo” fechado, até porque as condições mundiais se alteraram substancialmente, um Vietname que, pelo seu Partido, se antecipou a essa mudança com o VI Congresso, de 1986, e uma procura de novo caminho na mesma direcção, do socialismo, a etapa de “renovação nacional”, com uma economia multisectorial e adoptando mecanismos de mercado, uns vinte anos de difícil transição, de “mudança” e, em 2006, o confronto com algumas consequências dessa “abertura” à economia do mercado, com entrada para instituições e mecanismos internacionais, como a OMC, e a procura determinada de correcção de alguns desvios (como os da infiltrada corrupção) com medidass que parecem em implementação.

          Várias vezes… as dúvidas. Do observador empenhado. Que procura, ali e onde, ter os olhos e o espírito abertos, mas nunca abdicando de princípios e valores, de critérios de avaliação temporalizados.

          Para mais, tudo epidérmico, de passagem, a correr. Aqui emocionando-me, ali assustando-me, acolá descobrindo sinais e esperança.

          sábado, janeiro 10, 2009

          Excertos de Caderno Vietname - 4 (balanço 1)

          Em "trabalho caseiro" acabei o Caderno de Viagem. Tinha de me libertar desta tarefa para poder "partir para outras". Ficaram 67 páginas de texto e algumas fotos. Aqui tenho trazido alguns excertos. Agora, vou deixar 3 pedaços do que chamei "brevíssimo balanço". E "até breve, Vietname"... ainda que lá não espere voltar (embora muito o desejasse).
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          « (...) Nunca fui tão longe. Tão longe no espaço e no tempo.

          Apesar de já ter estado nas Filipinas e nos Uruguais e nas Islândias, nunca senti ter ido tão longe no espaço. Apesar de, no tempo, já ter recuado aos Egiptos, às Guatemalas, à soviética Odessa e Potemkine, também aos Portugais (a Portugal e ao que foi e é nas dedadas históricas bem impressas nos viveres de outras gentes de outros lugares), nunca fui tão "agarrado" pela convicção de que confrontava, com os meus olhos e passos, séculos e milénios… a História da Humanidade.

          Esta viagem, se tão longe foi, claro que não o foi apenas objectivamente, foi-o, sobretudo, no plano da minha sensibilidade. Que foi guardando impressões, que as foi transformando em breves notas, enquanto se ia transformando, ela-sensibilidade, em objectividade. Minha.

          Sei, como então não o terei sabido, que vivi intensamente, no final dos anos 60, começo dos anos 70, os “massacres que nos vinham do Vietname”, até para falarmos de outros massacres que, então, nos vinham de Moçambique;

          Sei, como então não o terei sabido, a importância que teve assumir riscos não só de assinar o que assinei, como de tomar as atitudes cívicas que tomei, como a de me responsabilizar pela edição do que era preciso que alguém assumisse.

          Sei, como então não o sabia, toda a dimensão heróica da determinação de um povo, de um povo diferente e heterogéneo mas unido, com uma vanguarda, com um líder, personificação e exemplo de uma luta.

          E intuo, como então não o poderia intuir, que esse povo é especial (como todos o serão…) e que, nas condições concretas que foram as suas, e que são as suas, é um povo em que se pode confiar. É um povo que, como disse o treinador de futebol Henrique Calisto, que está no Vietname a trabalhar, e não por razões de dinheiro fácil (ou difícil que fosse), é um povo que ensina… solidariedade

          sexta-feira, janeiro 09, 2009

          Excertos de Caderno Vietname - 3

          “Dia de Natal”. Outra madrugada! Depois do delta do Mekong, Cu Chi.

          Uma longa viagem para visitar uma região, um lugar histórico, de uma certa maneira o culminar da visita a My Son e o delta do Mekong, nomes míticos de uma luta que os que lutavam nos anos 60 e 70 tinham na sua memória dita colectiva.

          A 70 quilómetros de Saigão, estava o centro nevrálgico de uma rede de túneis, que tinha 200 quilómetros de extensão, três níveis, várias secções inter-comunicáveis, com corredores de fuga, armadilhas, salas para reuniões e preparação da guerrilha, cozinhas, refeitórios, também hospitais ou locais de socorros e cuidados médicos.

          A organização firme e bem apoiada, e a inteligência ardilosa.

          De tudo isto tivemos um… “cheirinho”. De que ficou a vontade de conhecer muito mais. Muito mais histórias, como a de um dos carros de assalto e combate do exército dos Estados Unidos, que um comandante não conseguiu encontrar, e que estava “recolhido” num desses túneis.

          A “guerra americana”, a guerra imperialista dos EUA e dos que se lhe aliaram ou puseram ao serviço, contra um inimigo que não estava em lado nenhum e que estava em todo o lado. Por isso, era preciso destruir tudo e todos exterminar.

          Mas não foram capazes.

          Foi a vitória da inteligência fina sobre a bruta brutalidade.

          Mas uma situação muito delicada. Até hoje. No sul do Vietname poucas famílias haverá em que não tenha havido gente dos dois lados. Como em tantas outras lutas de tantos outros lugares aconteceu, mas aqui – talvez… – com mais evidente expressão

          Havia o Vietname do Norte, socialista, e o seu exército regular, os “vietcongs” clandestinos e guerrilheiros, e havia o Vietname do Sul, com o seu regime suportado pelo apoio do imperialismos, pelo aparelho militar dos EUA.

          E as oscilações no campo internacional! Com a China, sempre a acompanhar com interesse à sua desmedida dimensão o que se passava nas suas fronteiras e milenárias ligações de domínio, e o cisma sino-soviético, e a evolução no Cambodja, e as agressões mútuas e invasões, umas para garantir estabilidade, outras para retaliação.

          Um País no Mundo. Sempre, mas – talvez… – na nossa contemporaneidade como nunca.

          E agora, e agora, e agora?

          Lembrando cinismo, a propósito de hipocrisia

          "Os acordos de Paris não incluem, em si-mesmos, o seu respeito…"

          Kissinger, a propósito dos acordos de cessar fogo no Vietname, assinados em 1973, sendo ele o responsável pela política externa dos EUA, acordos que, evidentemente, os EUA, seus signatários, não respeitaram. E não lhes serviu de emenda...

          quinta-feira, janeiro 08, 2009

          Um... caso de estudo

          A entrevista do primeiro-ministro, na véspera do anúncio da “recessão técnica” pelo governador do BdeP, é, pelos antecedentes, pelo contexto, pelo discurso que pretende deixar e em que se vai insistir, um caso de estudo. Daqueles que não dão gosto fazer mas que é imprescindível que sejam feitos.
          A tecla da surpresa da crise (de todos, disse ele!... quando foi só dos que quiseram ignorar por serem ignorantes ou por quererem mentir, e que surdos e/ou estigmatizadores se fizeram dos que previram e preveniram) e da culpa da dependência externa [quando a(s) dependência(s) foi(ram) decisão política prosseguida e apresentada como promessa de “melhores dias, que “alguns” se atreveram a denunciar como danosa para os interesses pátrios, isto é, dos portugueses], essa dupla tecla é, apenas, manifestação de coerência no desrespeito pela inteligência dos outros.

          O que há que sublinhar é o que vem aí, é o discurso “no estaleiro” para se tornar a versão a impor, é a opção a transformar em único pensamento, é a mentira a repetir para ser aceite como verdade ou consenso. Duas linhas mestras:
          • animem-se que vai melhorar o poder de compra dos assalariados (porque se caminha ou tende para a deflação, pelo que qualquer acréscimo ou até estagnação de salários é melhoria de poder de compra)
          • preocupem-se porque só assim será para os trabalhadores que mantiverem os empregos pois o desemprego vai, inevitavelmente, aumentar... apesar – não se assustem demais – da maioria ainda continuar com emprego (ser maior o número de desempregados que o de empregados insinua-se como um cenário a ter em consideração, o que é uma verdadeira monstruosidade).

          Daqui, a política social, na sua base consistente que é a do trabalho com direitos, passa a inexistente ou a justapor-se ao assistencialismo. A grande preocupação passa a ser o subsídio de desemprego e não o salário, e menos ainda os direitos, a começar pelo de se uma coisa obsoleta chamada horário de trabalho.

          Adicionalmente, para certas camadas com actividades empresariais, reais ou potenciais, acena-se com a grande frase ou fórmula de que a crise é fonte de oportunidades. Para quantos e sobre o sacrifício de quantos, deveria perguntar-se?

          A luta ideológica toma nova acutilância na luta de classes.

          Hoje, às 18 horas, todos os que puderem em frente à Embaixada de Israel

          terça-feira, janeiro 06, 2009

          Excertos de Caderno Vietname - 2



          No delta do Mekong, de novo tivemos por “nossa conta” um barco e seu “capitão”, desta vez com o reforço de mais uma guia local, para acompanhar a Chau que se vai revelando uma boa companheira de viagens… e de madrugadas, com conversas elucidativas sobre o viver quotidiano.

          Como um casal jovem, de classe média, com uma filha de 6 anos, vive numa casa familiar com 14 pessoas. Que coisas lhe contam, e que estuda da história recente do seu País. De que todos os dias faz leituras de uma hora para melhor conhecer o seu País e Povo.

          Não é comunista, nem a família o é, embora o pai tivesse «estado com os “vietcongs”» enquanto uma outra parte da família teria estado ligada ao exército e regime do Vietname do Sul, fantoche dos EUA.

          Mas haveria tanto a dizer sobre este tema... Apenas uns apontamentos – para o caderno:

          Já estivemos no Norte, no Centro e no Sul. Este Sul é onde esta guia fala de governo, de governo, de governo, até porque as instituições são encabeçadas por dois homens de Saigão – Presidente da República e Primeiro Ministro. Adivinho, até por confronto, uma clara omissão do Partido, mas em que não descortino hostilidade.

          Parece-me latente um certo pragmatismo.

          Leio que, entre os 10 principais factos de 2008 (num outro Courrier du Vietnam), está o do “investimento directo estrangeiro” ter triplicado este ano, mas o mais marcante, o primeiro facto, terá sido que, no seu segundo ano, o movimento “estudar e seguir o exemplo moral do Presidente Ho Chi Minh” tenha provocado “mudanças importantes nos conhecimentos e nas actividades da população”.

          E anoto uma atenção muito particular para o campesinato e o campo, e para uma campanha, com base em resoluções do 7º Congresso do PC do Vietname, de consolidação da união operários-camponeses-intelectuais.

          Mas haveria muito mais a procurar saber, a falar, a debater, sobre este País que tem uma História que não é só a da independência e da resistência ao colonialismo francês e ao imperialismo interpretado pelos EUA, mas também a das milenares relações com a China, as com a União Soviética, e com os vizinhos, com o Cambodja, sobretudo quando dos “khemers vermelhos”.

          Aqui, numa visita de menos de duas semanas, vivem-se (podem viver-se, ao nível da sensibilidade) séculos de História do ser humano e décadas de actualidade política internacional.

          Palestina e Israel

          Mapa e legenda (e que legenda!) em mararavel.blogspot.com e em ocastendo.blogs.sapo.pt

          segunda-feira, janeiro 05, 2009

          Excertos de Caderno Vietname - 1

          (...)

          Quero saber melhor, mais ao vivo (e até onde possível, analfabeto que me sinto), que País está este.

          No regresso de Halong (que maravilha a baia… também já disse…), misturámo-nos com as pessoas, andando a pé pelas ruas do centro de Hanói. Que experiência! Conduzidos pelo guia, entrámos num turbilhão quase assustador. Um movimento louco que já descortináramos de dentro da carrinha, mas agora vivemos, nele metidos, nele mergulhados, entre “scooters”, bicicletas, vendedores em circulação e “esplanadas” nos passeios e cabeleiros e mais e tudo. Indescritível. Também infotografável ou quase ou tão pouco ou retendo.Quero saber mais (e muito) deste País, com uma extensão 3,5 vezes a de Portugal e uma população 8 vezes superior. Deste Povo de que pouco se fala, depois da sua heróica luta secular pela independência, deste País de que pouco se fala, um país socialista, dos “que definem como orientação e objectivo a construção de uma sociedade socialista”, como ficou na Resolução Política do Congresso do PCP.

          Estando nele, procuro saber como está lendo alguma coisa… legível. Apanho Le Courrier du Vietnam (o de 5ª e o de sábado), e tenho informações interessantes. Um crescimento económico acima de 7% nos últimos anos, previstos 9,5% em 2009 para Hanói, onde o primeiro-ministro veio apresentar o orçamento, e onde falou o responsável pelo Partido, acordos bilaterais no âmbito da ASEAN, a visita de delegação de Espanha e de um senador dos EUA, para o ano o começo do subsídio de desemprego.

          Há que saber mais. Muito mais!

          Já em Hue, num hotel de Internet free, vou ao Google e confirmo dados: no indicador de crescimento económico, a ordem dos países desta área é China em 94º, Índia em 126º, Vietname em 129º, Laos em 134º, Cambodja em 142º; corrigidos com dados da saúde e da educação, o indicador de “desenvolvimento humano”, do PNUD faz o Vietname subir 15 lugares, colocando-o em 114º, subindo também a China (10 lugares), o Cambodja (6) e o Laos (1) mas descendo a Índia (-6). Diria que faz pensar!
          .
          Em apontamento complementar, lembro que Cuba é de todos os países do mundo que estão arrolados nestas listas, o que mais melhora com a introdução destes "correctores sociais", mesmo sem se entrar em linha de conta com a "repartição dos rendimentos", pois sobe 40 lugares passando de 88º para 48º lugar!

          domingo, janeiro 04, 2009

          Pela Paz, como em Outubro de 1973

          Isto anda tudo ligado...
          Nos dias de hoje, deste começo de 2009, em que estou a "recuperar" de uma viagem ao Vietnam, procurando não perder nada do que de lá trouxe mas tendo de partir "para outra", nestes dias de hoje, em que a agressão brutal à população civil de Gaza nos choca e indigna, tropeço num caderninho de que fui o editor em Outubro de 1973, Pelo Vietname, Pela Paz, e a que recentemente, em Agosto de 2008, fiz referência em som-da-tinta@blogspot.com a propósito da Prelo Editora e de edições paralelas, talvez marginais... não clandestinas mas apreendidas e fautoras de problemas para os "editores":

          Com os ouvidos em Gaza

          Indignado. Sofrendo a impotência.

          Mas de quem?

          Quem apoia esta invasão? Apenas por omissão?

          Ouço: "É o caos!". "É uma crise humanitária!".

          E mais ouço. E mais ouvimos. Todos! Mas quereremos, todos, ouvir? E ver? E agir?
          Humanitariamente.


          sábado, janeiro 03, 2009

          Em Cu Chi

          200 quilómetros de túneis!
          Uma experiência pessoal inesquecível
          e emocionante para quem era adulto e informado
          no final dos anos 60, começo dos anos 70!

          sexta-feira, janeiro 02, 2009

          Leituras de avião

          São muitas horas! Há que fazer alguma coisa. Há quem durma... Tenho dificuldade. Vou ocupando o tempo. A ler, a ver (no pequeno ecran de televisão e à volta), a ouvir (ah! o Brel). E, depois, venho cheio de notas, de recortes, de trabalho para casa...


          "Segurança alimentar

          A segurança alimentar atinge-se quando todos têm acesso em permanência a uma alimentação correspondente às suas necessidades e aos seus hábitos alimentares. Ela depende de três factores: a disponibilidade física, a acessibilidade (poder comprar a sua alimentação quando não a produz) e uma utilização de alimentos adaptada a cada membro da família. A insegurança alimentar respeita a 800 milhões de pessoas, dos quais três quartos são rurais."
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          (L'état de la mondialisation - 2009,
          Alternatives internationales, Décembre 2008, hors-série nº 6)

          Ho Chi Minh

          Quem quiser notícias (outras) de Ho Chi Minh, espreite, por favor, som-da-tinta

          quinta-feira, janeiro 01, 2009

          Com olhos (e todos os sentidos) em Gaza

          Ver e acompanhar.

          Bom ano, amigos!

          Numa das escalas da nossa viagem de regresso, na madrugada parisiense, peguei no Libération de 31.12.2008/01.01.2009 (número duplo) e li-o durante o percurso.
          Valeu a pena!
          Sobretudo porque, na página 5, em Rétrospectives, encontrei um artigo com o mote certo para esta saudação de passagem de ano. Michel Onfray, com o título “2008, la paupérisation généralisée”, escreve um artigo muito interessante, muito francês… por isso, talvez com o pecadilho de ser demasiado francês.
          Desde logo, o título, que me prendeu, perseguidor que sou, há décadas, do tema pauperisação (ou pauperismo), com recente recidiva “por culpa” das várias releituras do Manifesto nos seus 160 anos. E, evidentemente, por culpa (posterior...) da “crise”.
          Depois de referir vários temas e situações merecedoras de “cartão postal” capaz de resumir 2008, Onfray reteve, para si, que 2008 foi o ano da pauperisação generalizada, como “o efeito natural de uma causa que se chama capitalismo liberal” .
          E justifica a escolha com o aumento da pobreza dos pobres e do número de pobres, em simultâneo com a rarefacção do número dos ricos e o aumento da riqueza dos ricos.
          E o autor, contundentemente, ilustra o que o levou a assim caracterizar 2008, começando por dizer “Morre-se de frio em França. Dito de outra maneira, morre-se de pobreza em França. Porque não se morre de frio, morre-se de não se ter dinheiro que permita ter casa, abrigar-se das intempéries, vestir-se com roupa que aqueça, morre-se de não ter dinheiro para permita comer por forma a revitalizar o corpo correctamente, morre-se de complicações de doenças porque não se tem dinheiro que permita cuidá-las, seja de forma preventiva, seja de modo curativo”.
          Não vou reproduzir na íntegra o artigo (não está seleccionado na net), que continua com uma referência duríssima aos suicídios – por desemprego, na cadeia, por desespero – , e com o confronto com a “venda sem descontinuidade de relógios correspondentes a cinco anos de Smic[1] líquido, facturas de noites em hotel equivalentes a meio ano de Smic…”, mas vou adaptar o seu final:

          A verdadeira direita, durante este tempo que vivemos, faz saltar rolhas de garrafas de champagne ao preço de muitos salários mínimos regateados ao cêntimo; as falsas direitas e as falsas esquerdas esperam as suas horas, os seus dias, os seus anos de alternância no poder político ao serviço do poder financeiro, e só isso e por isso esperam; a verdadeira esquerda… só tem que lutar por rupturas, por verdadeiras alternativas.

          Boa ano de 2009. Bom ano de luta. De muitas lutas.
          _______________________________________________
          [1] - Salário mínimo interprofissional de crescimento (Smic) igual a 8,71 €/hora. O salário mínimo em Portugal passa para 450 €/mês, o que, em semana de 40 horas, cerca de 180 horas mensais, dá 2,5€/hora. E, no avião, vimos o anúncio de um relógio por 297 mil euros… mais de 50 anos de salário mínimo português!