domingo, janeiro 31, 2010

De conceito estratégico em conceito estratégico... - 1

Na sessão promovida pelo CPPC para assinalar os 60 anos da criação do Conselho Mundial da Paz houve interessantes intervenções. Do presidente do CPPC e de representantes de movimentos pela Paz alemães, belgas, espanhóis, cipriotas, checos, sérvios, de um grego da Direcção do CMP, e testemunhos de seis portugueses, também ligados ao movimento pela Paz, membros da Presidência do CPPC.
Como seria inevitável, muito se falou da NATO e da reunião do próximo mês de Novembro, em que se intenta definir um novo conceito estratégico para a organização.
Irei deixar, daqui até Novembro, algumas reflexões sobre esse novo conceito e a sua eventual adopção em Lisboa (ai!, Lisboa... como estão a usar o teu nome, como ele ficará na história...), começando já por sublinhar que, Portugal está entre os Estados fundadores da NATO, sendo então um Estado fascista acolhido como parceiro de impoluta democraticidade.

Membros da OTAN na Europa por data de entrada

Estados membros
Membros fundadores

Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, França, Holanda, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Portugal e Reino Unido (4 de abril de 1949).
Adesões durante a Guerra Fria
Grécia e Turquia (18 de Fevereiro de 1952), Alemanha Ocidental (9 de Maio de 1955) e Espanha (30 de Maio de 1982).
Adesões após 1990
Alemanha Oriental (reunificada com a Alemanha Ocidental, 3 de Outubro de 1990), República Checa e Polónia (12 de Março de 1999), Bulgária, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Letónia, Lituânia e Roménia (29 de Março de 2004), Albânia e Croácia (1 de Abril de 2009).

No simpósio Contra a guerra - 60 anos de luta pela Paz, comecei assim o meu testemunho (o único de que tenho documento escrito):

«Estamos em anos de efemérides.
No fim da guerra de 39-45 aconteceu muita coisa. Hiroshima e Nagasaki, as Nações Unidas e Bretton-Woods, a NATO e o Conselho Mundial da Paz.
Estamos nas comemorações sexagenárias… melhor se diria: do que deve ser assinalado. Contra a Paz e na luta pela Paz.
A criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte, de Estados capitalistas com claro carácter militarista e o desígnio de ser uma frente de oposição e de agressão aos países que tinham enveredado pela via do Socialismo, antecedeu de poucas semanas a do Conselho Mundial da Paz, instituído por organizações do movimento pela Paz, pela coexistência pacífica e pelo desarmamento nuclear.
Sendo certo que o movimento pela Paz não começou com o CMP, a sua criação é facto assinalável e merecedor de comemoração.
Apenas um apontamento sobre o tempo que foi o de uma geração que passava da adolescência para a idade adulta, regista-se a cronologia das efemérides NATO, CMP, Pacto de Varsóvia, este apenas em 1955, embora se persista na despudorada manipulação de que a NATO foi a resposta do Ocidente à criação desse Pacto. Aliás, após o desaparecimento deste, a NATO já estendeu o Atlântico Norte até ao Afeganistão e arredores, oceânicos ou não. (...)»

Hoje, aqui será conversa sobre o Haiti

No centro de trabalho do PCP/CDU.

Os comentários sobre a Paz, as comemorações do 60º aniversário do Conselho Mundial da Paz, e a próxima reunão da NATO em Lisboa e o seu "novo conceito estratégico" (e muitos são...) terão de ficar para logo.

sábado, janeiro 30, 2010

O homem que não pára de nos surpreender...

... sempre para pior!

«Próximos anos serão mais difíceis que o esperado

alerta Constâncio»

Hoje, é um dia dedicado à luta pela Paz

Como muito o foram.

Como todos deveriam ser!

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Amanhã, na Casa do Alentejo, pela Paz

A propósito (em Janeiro de 1973):
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(Re)ver ou (re)lembrar

Shakespeare, a economia... e Marx - 3

Como escrevi no início, aqui há uns dias, tudo isto começou com a leitura do livro comprado na Travessa, oferecido no Rio no dia 21 de Dezembro, com a dedicatória «Porque hoje os teus desejos são ordens e te apeteceu este livro… ».
E é que tinha apetecido mesmo. Um livro pode ser um objecto belo, para além do título, do tema, do autor. Este é um belo objecto, e o tema aliciante (e lembrando coisas). O autor (um dos autores, Gustavo H. B. Franco) era vagamente conhecido de “outros carnavais” (aliás, no regresso, vim a encontrar uma entrevista com ele, conceituado economista-financeiro brasileiro, no suplemento Economia do Expresso), e reforçava o interesse pela leitura. Até pelo insólito, por ser raro em economistas meterem-se por outras áreas, então nesta do teatro…
A leitura começou a corresponder à expectativa. Por exemplo: «Palavras, como o valor individual, começam a ter valor não apenas pelo que representam (valor intrínseco), mas pelo que lucro ou estima que sua pronúncia pode engendrar» ou «A linguagem, a mais significativa moeda da época, estava sendo cunhada dentro do teatro». Logo com a ilustração, em Shakespeare, por este ter tratado de «a disseminação de crédito, endividamento, moeda fiduciária e inovações financeiras e institucionais, seus efeitos económicos, jurídicos e no imaginário de uma sociedade em transformação».
Depois, ao referir economistas que já “pegaram” em Shakespeare, veio o tropeço, o trambolhão: «… O leitor não se deve assustar com esse "materialismo keyneseano", pois ninguém poderia estar mais distante de Marx; Keynes é um apoio inestimável para os que buscam estabelecer a relevância do entorno económico e das considerações materiais na vida na vida dos génios na literatura universal, mas em que isso represente qualquer forma de adesão a esquematismos, qualquer que seja a sua extracção», logo citando outra autora, para reforçar..., que recusa que o indivíduo seja «única e exclusivamente produto do meio».
E aí está Marx (e o marxismo) reduzido a esquematismos, entre eles o de que o indivíduo é, exclusivamente, produto do meio.
Que ignorância e que preconceito! Ou as duas coisas. Aliás, comprovadas por, na extensa lista de Referências bibliográficas a um trabalho sobre Shakespeare e a economia, o autor não incluir nenhuma obra de Marx.
Já algo deixei sobre o que tem de se considerar lacuna grave, e concluirei com mais alguma informação.


(continua)

A comunicação social e o Haiti

«Mídia dos EUA bloqueia notícias sobre ajuda de Cuba ao Haiti

DA PÁTRIA LATINA

Nos críticos primeiros dias após o terremoto que abalou o Haiti apenas duas agências de notícias norteamericanas relataram a rápida resposta cubana para a crise. Uma delas foi a Fox News, que afirmou, erradamente, que os cubanos estavam ausentes da lista dos países caribenhos vizinhos que tinha prestado assistência.

Por Dave Lindorff, no Rebelión

O outro meio foi The Christian Science Monitor (uma respeitada agência de notícias que recentemente fechou sua edição impressa), que comunicou, corretamente, que Cuba enviou 30 médicos para o Haiti.

The Christian Science Monitor, num segundo artigo, citava a Laurence Korb, ex-subsecretário da Defesa e atualmente membro do Center for American Progress, que declarou que os EUA, que lideravam os esforços de ajuda no Haiti, deveriam “pensar em aproveitar os conhecimentos da vizinha Cuba”. Assinalou também que “tem alguns dos melhores médicos do mundo – deveríamos tratar de enviá-los para o Haiti”.

No que se refere aos demais meios de comunicação dos EUA, simplesmente ignoraram a Cuba.

Na verdade, omitiram-se ao não informar que Cuba já tinha cerca de 400 médicos, paramédicos e outros profissionais de saúde enviados ao Haiti para ajudar no dia-a-dia das necessidades sanitárias do país mais pobre das Américas, e que esses profissionais foram os primeiros a responder ao desastre levantando um hospital, justamente ao lado do principal hospital de Porto Príncipe derrubado pelo terremoto, assim como um segundo hospital de campanha em outra parte da cidade.

Longe de “não fazer nada” depois do desastre, como afirma a propaganda direitista da Fox-TV, Cuba tem sido um dos países que reagiram de modo mais eficiente e crucial nesta crise, pois mesmo antes do terremoto já havia criado um infraestrutura médica que foi capaz de se mobilizar rapidamente para começar imediatamente a tratar as vítimas.

Como era de se prever, a resposta de emergência norteamericana concentrou-se, principalmente, pelo menos em termos de pessoal e dinheiro, no envio da enormemente cara e ineficiente máquina militar – uma frota de aviões e um porta-aviões –, um fator que deve ser levado em conta ao examinar os 100 milhões de dólares que a administração Obama diz ter destinado para a ajuda de emergência ao Haiti.

Tendo em conta que o custo operacional de um porta-aviões, incluindo a tripulação, é de aproximadamente 2 milhões de dólares por dia, somente o envio de uma companhia a Porto Príncipe, durante duas semanas, vai consumir um quarto da anunciada ajuda norteamericana e, embora muitos dos soldados enviados certamente trabalharão na ajuda, distribuindo e custodiando suprimentos, a longa história de brutal controle militar/colonial do Haiti, inevitavelmente leva a temer que outros soldados tenham a missão de assegurar a sobrevivência e controle da elite de políticos haitianos parasitas pró-EUA.

Por outro lado, os EUA têm ignorado o dia-a-dia da permanente crise humanitária no Haiti, enquanto Cuba vem fazendo o trabalho de proporcionar atenção sanitária básica.

Não que fosse difícil encontrar cubanos em Porto Príncipe. Democracy Now! dispunha de um relatório, assim como o dispunha a revista Noticias de Cuba, com sede em Washington. O que acontece é que contar as boas ações de um país pobre e orgulhosamente comunista aos norte-americanos não é algo que os meios de comunicação corporativos daquele país estejam dispostos a fazer.»

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(do blog do Brasil marciacsilva.wordpress.com.

Obrigado e saudações fraternas.)

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Villa-Lobos

Em intenção de um vizinho amigo que gosta de tocar Villa-Lobos.

(obrigado, Samuel!)

Conversa no barbeiro

O vizinho que me corta o cabelo e a barba, no seu moderno estabelecimento do Fátima, é um homem simpático, de quem gosto.
Já aqui deixei, em Setembro - há mais de 4 meses! - um apontamento sobre as nossas conversas, com tesouras, espelho e muito pêlo pelo meio. Entre essa ida e esta volta houve uma outra que ficou sem apontamento. Não que não tivesse havido matéria... mas escapou.
Desta vez, antes que escape..., aqui vai ela. Fresquinha. Não como foi (claro!), mas como eu a retive e resumo.
- Então, ó doutor (é assim que ele me trata, como já o disse), qu'é acha daquela desgraça do Haiti?...
- ...
- Aquilo se não fossem os americanos, e a sua pronta ajuda, tinha sido bem pior...
- Ó amigo Arnaldo (é assim que o trato, como já o disse), olhe que a ajuda dos que chama americanos não tem sido lá grande coisa. e agora foi mais ocupação militar do aeroporto e do País (que já vêm ocupando e controlando, às vezes violentamente, há muitos anos), e olhe também que outros bem mais ajudaram, antes e depois da catástrofe, por exemplo, todos os médicos cubanos, que são centenas, que lá trabalham solidariamente, e o Brasil, e a Venezuela, e o ALBA, e a França, até contra a vontade e a força dos que chama americanos...
- Mas, ó doutor, não é essa a ideia que eu tenho - então esse louco Chavez... -, e penso que o mundo estaria muito pior se não fossem os americanos...
- Olhe que não, olhe que não... e já reparou que me fala das imagens e das ideias que querem que todos tenhamos, da informação que nos dão com esse objectivo de criar imagens - essa do Chavez ser louco, por exemplo... oiça ou leia um discurso dele, completo e não uma frase para ridicularizar, um gesto isolado e injustificado...
- Mas... os americanos é que...
- É que, o quê? No Iraque?
- Sim. Não me diga que o tal Sadam Hussein não era um bandido?
- Ah! era sim senhor, mas sempre o foi! Mas foi lá posto pela administração dos Estados Unidos para destruir a democracia que se instalava e matar milhares de comunistas... não passou a ser bandido quando deixou de servir os Estados Unidos, e estes inventaram aquele pretexto das armas químicas para o massacre que continua...
- Mas... ó doutor...
E assim continuou a conversa. De que vim, confesso, cansado e (quase) angustiado.
Esta máquina de formatação de pensamento tem uma força que parece (!!!) invencível. Num apressado balanço, talvez a única semente que deixei (para que o amigo Arnaldo pense pela sua cabeça...) foi a de que os Estados Unidos não são "os americanos", que americanos também são os brasileiros, os haitianos, e muitos etc., que nem sequer são os "americanos do norte" (há os canadianos e os mexicanos), que o povo (e os presidentes) dos Estados Unidos são uma coisa e a sua administração (e o complexo industrial-militar) outra bem diferente.
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Nestes intervalos entre cortes de cabelo, não faltarão outras conversas e muitas 24 horas de... informação "à maneira" dos "americanos"...

quarta-feira, janeiro 27, 2010

informação ao vivo -1



Shakespeare, a economia... e Marx - 2

Páginas do diário que não escrevi e das memórias que não escreverei –( 2)
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O convite para o colóquio, em Dezembro de 1967 ou em Janeiro de 1968, não me surpreendeu. Andava muito nessas tarefas…
Mas já me surpreendeu o acolhimento, o jantar, a vivenda que fora transformada num clube… militar e naval. Lembro-me dos sóbrios conforto e bom-gosto.
A “conversa” desenrolou-se no amplo átrio, com alguns assistentes sentados na escada e, em sofás confortáveis, estava eu, o animador…, os directores do Clube (e do convite) e Sarmento Rodrigues, ao que julgo almirante e que fora ministro da Marinha de Salazar, o que foi, para mim, outra surpresa.

Pois comecei a introdução à conversa procurando explicar as funções e perversões do dinheiro, servindo-me de Göethe e de Shakespeare. Com evidente boa receptividade e alguma estranheza.


Já houve uma certa perplexidade (e incómodo) quando, antes de passar à matéria da desvalorização da libra, na minha perspectiva, disse que aquelas citações tinham sido tiradas dos Manuscritos de 1844 (do 3º) de Karl Marx! Foi giro... e foi bom, agora, reler mais uma vez o texto todo, que talvez venha a reproduzir.

«"Com a breca! pernas, braços, peito,
Cabeça, sexo, aquilo é teu;
Mas, tudo o que, fresco, aproveito,
Será por isso menos meu?
Se podes pagar seis cavalos,
As suas forças não governas?
Corres por morros, declives, vales,
Qual possuidor de vinte e quatro pernas."

(GÖETHE, Fausto, Mefistófeles)[N10]

"Que é isto? Ouro? Ouro amarelo, brilhante, precioso? Não, deuses: eu não faço protestos vãos. Raízes quero, oh céus azuis! Um pouco disto tornaria o preto, branco; o feio, belo; o injusto, justo; o vil, nobre; o velho, novo; o covarde, valente. Mas, oh deuses! porque é isso?, isto que é, deuses? Isto fará com que os vossos sacerdotes e os vossos servos se afastem de vós; isto fará arrancar o travesseiro de debaixo das cabeças dos homens fortes.
Este escravo amarelo fará e desfará religiões; abençoará os réprobos; fará prestar culto à alvacenta lepra; assentará ladrões, dando-lhes título, genuflexões e aplauso, no mesmo banco em que se sentam os senadores; isto é que faz com que a inconsolável viúva contraia novas núpcias; e com que aquela, que as úlceras purulentas e os hospitais tornavam repugnante, fique outra vez perfumada e apetecível como um dia de Abril.
Anda cá, terra maldita, meretriz, comum a toda a espécie humana, que semeia a desigualdade na turbamulta das nações, vou devolver-te à tua verdadeira natureza."

E mais adiante:

"Oh tu, amado regicida; caro divorciador da mútua afeição do filho e do pai; brilhante corruptor dos mais puros leitos do Himeneu! valente Marte! tu, sempre novo, viçoso, amado galanteador, cujo brilho faz derreter a virginal neve do colo de Diana! tu, deus visível, que tornas os impossíveis fáceis, e fazes como que se beijem! que em todas as línguas te explicas para todos os fins! Oh tu, pedra de toque dos corações! trata os homens, teus escravos, como rebeldes, e, pela tua virtude, arremessais a todos em discórdias devoradoras, a fim de que as feras possam ter o mundo por império!"

(SHAKESPEARE, Tímon de Atenas)[N11])»

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Notas:
[10] Goethe, Fausto, Parte 1, Cena 4. Esta passagem foi tirada da trad. por Bayard Taylor, The Modem Library, Nova York, 1950 - N. do T (N. do T. - Em português, recorremos à trad. de Jenny Klabin Segail, S. Paulo, Instituto Progresso Editorial, 1949, pàg. 106.)

[11] Shakespeare, Timon of Athens, Act Iv, Scene 3. Marx citou a tradução (alemã) de Schlegel-Tieck. - Nota do T. (N. do T. - Recorremos à tradução portuguesa de Henrique Braga, Porto, Livraria Chardron, de Leilo & Irmao, 1913, págs. 119 e 145.)

terça-feira, janeiro 26, 2010

Convite do CMP e do CPPC












Convite
Sessão Comemorativa do 60º aniversário do
Conselho Mundial da Paz.
18.00H (Entrada livre)
Simpósio “Contra a Guerra – 60 anos de luta pela paz”
Com a participação de Rui Namorado Rosa CPPC, Frank Bochow EPF (Alemanha), Pol de Vos INTAL e Pieter Teirlink VREDE (Bélgica), Christos Curtillarias CPC (Chipre), Julian Borrego CEDESPAZ (Espanha), Jiri Burges SAW (Rep. Checa), Dragomir Vucicevic (Sérvia) e Iraklis Tsavdaridis CMP.
e de: Carlos Carvalho, Dieter Dellinger, Margarida Tengarrinha, Maria da Piedade Morgadinho, Mário Pádua e Sérgio Ribeiro.
20.30H (Inscrição prévia)
Jantar Convívio
Comemorativo do 60º aniversário do CMP
Jantar €20 inscrições através do 213 863 375— 213 863 575
conselhopaz@netcabo.pt

Seguido de Momento Cultural com:
Samuel, Tavares Marques e Filipe Narciso.

Shakespeare, a economia... e Marx - 1

Páginas do diário que não escrevi e das memórias que não escreverei (1)


Na recente viagem ao Brasil comprei (e ofereceram-me) muitos livros. Cada vez que entrava numa Travessa (nome de livraria espalhada pelo Rio), lá vinha eu carregado. E feliz da vida.


Como aqui deixei, na “mensagem” do 1º dia do ano, entre as várias coisas a fazer naquele "dia especial", havia esta

«(…) começar a ler o livro que encontrei, e oferecido me foi, no Brasil (na Travessa), e que mais me está a "piscar o olho", sendo grande a curiosidade, até porque não esqueço as citações que Marx fez de Shakespeare (e de Goethe) a propósito de dinheiro.


Pois vou buscar à memória (não ao diário que não escrevi nem às memórias que não escreverei) uma velha estória, a da minha ida ao Clube Militar Naval, então ali no Marquês de Pombal, para animar um debate sobre a desvalorização da libra em Novembro de 1967.


Antes disso… porquê esse convite? Talvez porque “escrevera” um livrinho sobre a desvalorização da libra, de que, noutro blog (som-da-tinta), deixei sinal:


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«A história de o (quase)diário de uma desvalorização, desta edição de Novembro de 1967, pode começar a ser contada transcrevendo o início do "antelóquio" que o abre:
«No jornal da manhã de 19. Numa manhã de domingo jornal-lido-na-cama. A libra desvalorizou. Não foi nada que nos obrigasse a saltar para o frio. Mas era uma notícia importante! E durante quatro dias, entre 19 e 23 (hoje), lemos, recortámos, anotámos o que nos ia passando pelas mãos. Primeiro, por necessidade profissional; depois, transcendendo-a; agora, fazendo nascer (e acarinhando) a ideia de comunicar aos outros o resultado em mim de umas horas dedicadas a um assunto. A um assunto que todos toca, interessados ou não. Aos grandes especuladores de Bolsas a sério, aos pequenos especuladores de meses-turismo para aguentar penúria-de-todo-o-ano. (...)»
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Um pormenor então não contado: antes de arrancar com o trabalho, telefonei para responsáveis da Seara Nova, de cuja redacção fazia parte, avisando que iria entregar um original sobre a desvalorização da libra, assunto muito importante, para sair no número de Dezembro. Resposta: impossível pois como eu sabia, para que o número estivesse no correio por forma a chegar a casa dos assinantes nos primeiros dias do mês todos os originais e paginação tinham de estar na tipografia até 20 do mês anterior! Definitivo... tivesse a libra desvalorizado mais cedo.
Fiquei "em pólvora". Atirei-me ao trabalho. Comprei um monte de jornais ingleses, franceses, espanhois, recortei, anotei ao lado, montei tudo numa sala de jantar transformada em “atelier”. Com a extraordinária ajuda de um amigo da Associação dos Estudantes de IST, responsável pela secção de folhas (o Carrilho), fizemos as montagens, fotografámos, levámos para a tipografia (a Novotipo, de um ex-companheiro de Caxias, das raras com off-set).
Ainda em Novembro, antes de sair a revista Seara Nova de Dezembro, a Prelo lançava o liv(inh)o (de 80 páginas) que deve ter sido o primeiro a ser publicado, em todo o mundo, sobre a desvalorização da libra.
Depois do "antelóquio", o sumário era:
• o significado da desvalorização
• antecedentes próximos
• a decisão e os objectivos
• respostas internas
• reacções internacionais
• a posição da Espanha
• a posição de Portugal
• os Estados-Unidos
• "mercado comum"
• a corrida ao ouro e o sistema (monetário-internacional)»



(continua)

Haiti - Informação de hoje

De vermelho - a esquerda bem informada (Brasil):



Haiti: Brasil terá gabinete de crise e ajudará com R$ 375 milhões


O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Félix, embarca na madrugada desta terça-feira (26) para o Haiti. Ele vai instalar um gabinete de crise do governo brasileiro no país, devastado por um terremoto no dia 12 de janeiro. O objetivo é melhorar o fluxo de informações para que sejam definidas as prioridades para a ajuda humanitária aos haitianos.
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Reconstrução do país deve ser feita pelo próprio governo haitiano, disse Celso Amorim
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O gabinete que será instalado pelo general terá integrantes dos ministérios da Defesa, das Relações Exteriores, da Saúde e funcionários da Secretaria de Defesa Civil Nacional, ligada ao Ministério da Integração Nacional.
Os funcionários do governo que estiverem no Haiti terão comunicação direta com o gabinete de crise coordenado pelo GSI no Brasil e ajudarão a eleger as prioridades para a ajuda humanitária.
O general Félix também deve receber um relato completo da situação no Haiti e do trabalho dos brasileiros enviados até agora para ajudar nas buscas de desaparecidos e na distribuição de alimentos e de água no país. Quando retornar, o ministro deve fazer um relato do que viu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ajuda brasileira será de R$ 375 milhões

O Brasil está disposto a doar R$ 375 milhões (o equivalente a US$ 210 milhões) em ajuda ao Haiti, mas a reconstrução do país deve ser feita pelo próprio governo haitiano, disse nesta segunda-feira (25) o chanceler Celso Amorim, que participa, no Canadá, de conferência sobre a reconstrução do país devastado pelo terremoto no último dia 12.

Os "países amigos" do Haiti iniciaram nesta segunda-feira uma conferência na cidade canadense para definir um plano de reconstrução do país caribenho, o mais pobre do continente.

Segundo o chanceler, o governo enviou ao Congresso brasileiro uma proposta de pacote total de ajuda ao Haiti de R$ 375 milhões de reais, o que equivale a cerca de US$ 210 milhões.

O valor inclui as doações, os gastos das forças militares com atividades diretamente relacionadas à assistência humanitária no Haiti, e a construção de dez unidades de saúde.

"Trata-se do maior pacote de ajuda internacional já prestado pelo Brasil, e de um montante muito significativo para um país em desenvolvimento como o nosso", disse o ministro, segundo reprodução do discurso no site do itamaraty.

Minustah

Amorim, chanceler do país que envia mais soldados para a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), disse que a estratégia geral de uma reconstrução haitiana deve ser "fazer mais e melhor".

"Não é questão de fazer tudo diferente", insistiu. "São projetos que funcionam a longo prazo como, por exemplo o reflorestamento que o Brasil está desenvolvendo. São planos que levam anos".

O Brasil disse estar disposto a aumentar de 1.300 para 2.600 seu número de soldados no Haiti, após a recente decisão da ONU de aumentar para 12.650 os efetivo da Minustah.

Amorim assinalou estar de acordo com o aumento do número de soldados da missão e disse que por enquanto o número pedido pela ONU é apropriado.

"A Minustah não deve ter uma presença ofensiva como se fosse uma força de ocupação", falou o chanceler.

Além disso, negou que os soldados enviados pelos Estados Unidos após o terremoto tenham criado problemas no território. "Falei muito com os comandantes brasileiros (no Haiti) e nenhum deles se queixou (...). Os Estados Unidos estão ajudando e cada grupo tem seu papel", explicou.

Cuba, Venezuela e Nicarágua acusaram os Estados Unidos de enviarem 20 mil soldados para o Haiti com o objetivo de tirar proveito da situação humanitária no país e aumentar sua presença militar na área. Analistas políticos também acusam os EUA de tentar ocupar o país caribenho militarmente visando dar "segurança" para as empresas norteamericanas que enxergam na tragédia haitiana uma fonte de lucros bilionários por causa dos investimentos que este país irá receber para reconstruir as estruturas danificadas pelo terremoto.

Além de Celso Amorim, estão presentes na reunião de Montreal o primeiro-ministro haitiano Jean Max Bellerive, a secretária de estado americana Hillary Clinton, o chefe da diplomacia francesa Bernard Kouchner, e representantes da Argentina, Chile, Costa Rica, Espanha, Japão, México, Peru e Uruguai.

Prós & Contras, Lª.

Desta vez, houve. Houve uns de um lado, numa mesa, outros do outro lado, em outra mesa.
E em que mesa estava o PS?
Novidades? Nem por isso.
Mas sublinho a referência a que a tributação dos ganhos (as ditas "mais-valias") na Bolsa está, mais uma vez, no programa do Governo e não para cumprir... para já. De novo adiada. Quando outras medidas se tomam com a justificação de... estarem no programa de Governo do PS.
E porquê esta promessa é menos promessa que as outras promessas? O senhor ministro, em representação do seu partido, deu a explicação: a preocupação de "recuperar a confiança de todos os sectores"!
De todos? Diria eu que de todos... menos dos trabalhadores, dos que vivem do seu salário, das micro, pequenas e médias empresas.
Quem colocou a economia (as finanças) neste estado tem de ser estimulado para... recuperar a confiança. Já aos trabalhadores da função pública, aos actuais e próximos futuros desempregados não se lhe dá confiança!
Tudo isto seria ridículo, se não houvesse as gravíssimas consequências sociais que se conhecem.
Ah!... e a Grécia?, e a Grécia?, a Grécia como espantalho, como alibi, como espectro.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

PAZ, SIM - NATO, NÃO!


A luta dos enfermeiros

Um acidente pessoal, levou-nos ao hospital (rima e é verdade...). Nada de grave, obrigado pelo cuidado.

Foi a oportunidade para confrontar os enfermeiros em luta. Sem qualquer reflexo no atendimento (ah! se o SNSaúde dependesse dos profissionais da saúde que bom seria!), recebi o comunicado dirigido aos srs(as). utentes.

Durante a espera, li o que nos era endereçado, com o que estou solidário, embora tivesse tido muita dificuldade em ler os números pequeninos (e em azul) em que se comparam as remunerações iniciais nas seguintes profissões:

Enfermeiro ACTUAL - 1.020 €

Proposta do MS para o futuro - 995,36 €

Professor - 1.518 €

Médico - 2.575 €

Magistrado - 2.549 €

Tecnicos superiores de saúde - 1.626 €

Inspectores - 1.664 €

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Assim, legível..., a solidariedade torna-se mais forte!

Que domingo!

Resumo de muitas horas de informação... que é o que chamam a "isto#:
1. um a fazer da abstenção um triste espectáculo de ópera "bufa"; outra a falar de "boas indicações", ao lado do que foi ministro com o primeiro; aquele que é ministro a dizer que esperava mais de um mas está confiante na outra.
2. em complemento, há doutoramento "honoris causa" Sampaio sem peias e com alegre "à boleia".
3. lá de fora, o Haiti com com 10% de eficácia na ajuda, dizem uns, 60% diz o governo (qual governo?); o Bin Landen com imenso tempo de antena, em comunicação com o Obama via aviões e ameaças.

domingo, janeiro 24, 2010

"Parece que foi ontem" e luta-se para que não seja amanhã

Um “facto político” que animou a semana na/da comunicação social e das/nas querelas partidárias para entreter, foi a condecoração a Santana Lopes.
Ora, o dr. Santana Lopes foi 1º ministro por obra, graça e compensação da ida de Durão Barroso para a presidência da Comissão da U.E. – o que, isso sim, deveria muito fazer pensar –, e toda a gente bate e ironiza no e sobre agraciador (com dor?) e agraciado?
Mas… S.L. foi 1º ministro sozinho? Aqueles meses de governação foram só dele?, foi muito diferente a sua governação das que antecederam a sua e das que o prosseguiram? Por exemplo, o dr. Paulo Portas não estava lá, como Ministro de Estado, da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar? Era ele, S.L., que fazia toda governança e negócios correlativos, incluindo os negócios submarinos?
Ora, se toda a gente fez do acontecimento um “facto político", também a “gente” do Expresso o fez. Mas, com a sua foto ("...parece que foi ontem"), veio ao encontro de dúvidas e observações que se levantaram e pareceram pertinentes. E "empurrou" a publicação...
Alguns dos membros da equipa estão na foto. Faltam outros (estariam noutras funções, algumas mais a ver com o próximo orçamento…). Como Aguiar Branco, como António Mexia, Luís Nobre Guedes, Telmo Correia, e outros.

Jerónimo em Tomar, hoje

Do site do PCP:


«Será a luta a impor a mudança

Sábado, 23 Janeiro 2010

Ao mesmo tempo em que, por todo o País, as organizações do Partido ultimavam a preparação das primeiras acções da campanha nacional «Com o PCP, lutar contra as injustiças, exigir uma vida melhor», Jerónimo de Sousa participava em Tomar, numa sessão pública de solidariedade com os trabalhadores com graves problemas sociais – o lançamento, no terreno, desta campanha que, até ao final de Março, estará nas empresas e nas ruas de todo o País.

Na ocasião, o Secretário-geral do PCP garantiu que os comunistas empenharão, como até aqui, "todas as suas forças" na luta contra o desemprego, a precariedade e os baixos salários. Fenómenos que, afirmou Jerónimo de Sousa, não só afectam quem os enfrenta directa ou indirectamente mas prejudicam o próprio País. Com os actuais 700 mil desempregados, realçou, a economia nacional vê-se privada de 20 mil milhões de euros anuais.

Com esta campanha, adiantou Jerónimo de Sousa, o PCP pretende esclarecer e mobilizar os trabalhadores e a população para a necessidade de lutar por uma nova política, que garanta o pleno emprego, a valorização dos direitos dos trabalhadores e o aumento dos salários e pensões.

Precisamente o oposto daquilo que está a ser preparado entre o PS e os partidos da direita para o Orçamento de Estado. O que está em preparação, denunciou, é um orçamento que prossiga e agrave os sacrifícios para os trabalhadores e permita o aumento dos lucros e dos benefícios para o grande capital. "Em 2009, os cinco maiores bancos a actuar em Portugal obtiveram lucros de 5,5 milhões de euros por dia".

Reafirmando a sua convicção de que o "nem o País está condenado ao atraso nem o povo está condenado a uma vida pior», Jerónimo de Sousa manifestou a convicção de que "será a luta a determinar a ruptura com a política de direita e a impor uma nova política". Nesta luta, garantiu, "podem contar com o PCP".

Antes, Rui Aldeano, do Comité Central e dirigente regional do Partido, tinhajá alertado para a difícil situação que se vive no distrito, marcada pelos encerramentos de empresas, o aumento da exploração e as dramáticas condições de vida de muitos trabalhadores. O caminho é "resistir e lutar corajosamente, afirmou, como têm feito, aliás, os trabalhadores de muitas das empresas do distrito de Santarém".

A sessão começou precisamente a dar voz a estes trabalhadores. Que, com a sua luta, resistem aos desmandos patronais e à indiferença governamental. António Basílio, da Comissão Sindical da *IFM Platex*, destacou a longa e dura luta dos trabalhadores desta empresa em defesa dos postos de trabalho, contra o encerramento: "queremos trabalhar e queremos produzir, não queremos engrossar as longas listas de desempregados». Segundo o sindicalista, não foram muitas as portas que se abriram às suas reivindicações – se o Ministério da Economia prometeu intervir em 11 de Dezembro (sem que até agora tivesse surgido qualquer medida concreta), o Ministério do Trabalho ou a Comissão Parlamentar do Trabalho nem sequer recebeu os trabalhadores. O PCP apresentou já um requerimento ao Governo sobre a situação da empresa, que exporta 60 por cento do que produz.

Francisco Lopes, da *João Salvador*, denunciou os 11 meses de salários ematraso e o envio de máquinas desta empresa para Angola. »

sexta-feira, janeiro 22, 2010

O FMI sempre com a mesma pontaria

Sou do tempo de há três décadas, em que, com pezinhos de lã e já bem cá dentro, o FMI esperava por “cartas de intenções” dos governos portugueses para apoiar “ajustamentos estruturais”, já experimentados (com os sucessos conhecidos…) na ajuda aos ditos países subdesenvolvidos... para se desenvolverem.
Claro que esses governos nossos, já constitucionais… mas como se não houvesse Constituição, escreveram logo as cartinhas cheias das intenções que o FMI queria por carta para dar o seu apoio.
Sou desse tempo, em que assim se ajudou, decisivamente, o caminho que viria a ser percorrido, com os PS-PSD-CDS de braço dado, umas vezes muito chegadinhos, outras vezes com alguns distanciamentos conjunturais e aparentes arrufos, caminho que até esta situação nos trouxe, sempre com as ilusões-desilusões a sucederem-se em alternâncias e composições imaginosas.
Mas também sou deste tempo, em que o FMI é que nos escreve "cartas" repletas de conselhos e intenções (que cada um julgará por si). Viram os jornais de hoje?
«(...) Os homens de Washington, sede do FMI, pintam um cenário cinzento para o futuro do País. E, por isso, apelam a "uma resposta política ambiciosa", a "um forte apoio público", sendo necessário, e a "uma liderança política determinada ao longo de vários anos".
Para já, em vésperas de apresentação do Orçamento do Estado para 2010, o FMI pede uma "consolidação orçamental credível" com base em "ajustamentos" salariais aos funcionários públicos e em apoios sociais. A consolidação orçamental deve "incidir sobre a redução da massa salarial do sector público" e nas "transferências sociais". "O ajuste nos salários da Função Pública em 2010 será fundamental", diz o Fundo Monetário Internacional, enquanto pede a revisão do "sistema dos subsídios de desemprego". (...)»
E mais... sempre pior!
Agora, neste tempo, leio o mesmo que li noutros tempos. Sempre com os salários (os trabalhadores) na mira bem assestada. Sim, porque - escreveu Marx - os salários são indissociáveis dos lucros (como os alcatruzes…), e estes é que fazem a economia… deles.
Não se podem devolver estas cartas ao remetente?

Estacionamento proibido, de António Rebordão Navarro

Dezembro de 1957
Circulem, senhores, circulem.

Não parem junto aos mortos,
não estacionem no silêncio,
não se detenham ante o sangue.

Circulem, senhores, circulem.

Não interrompam o tráfico,
não deixem de cumprir ordans,
não deixem de ser neutros
e desapiedados.

Circulem. senhores, circulem.

Há muita gente que tem horas,
há muita gente que tem pressa,
há muita gente que deve esquecer.

Circulem, senhores, circulem.

Façam de conta,
fechem os olhos,
tapem os ouvidos.

Circulem, senhores, circulem.

Deviam já estar habituados.
deviam não ter lágrimas,
nem espanto, nem irmãos.

Circulem, senhores, circulem

Mais CIMPOR

Circunstâncias pessoais (aquilo de que somos feitos...) levaram a que tivesse começado a observar o "processo CIMPOR e OPA da CNS brasileira" a partir da comunicação social brasileira... É curioso ver as duas faces da mesma moeda... ou negócio. Para aqu,i trouxe algumas notas. Hoje, trago uma outra nota publicada no avante!, Afinidades, de Vasco Cardoso, que, além de "novidades", faz uma útil recapitulação. Recapitulemos, então:

«Há um ano atrás, o País ficava a saber que o banco público – Caixa Geral dos Depósitos – havia realizado um negócio com o Sr. Manuel Fino – ilustre capitalista – em que lhe comprava acções da empresa cimenteira CIMPOR por um valor superior em 25% ao chamado valor de mercado das ditas acções. Este negócio representou na altura para o erário público uma perda de mais de 60 milhões de euros.
Acrescente-se que as acções da CIMPOR a MF pela CGD, correspondentes a 9,5% do capital social, são acções de uma empresa que já tinha pertencido ao Estado e que foi sendo privatizada por governos do PS e do PSD entre 1994 e 2001 por valores bastante inferiores aos seus lucros e ao seu valor estratégico.
Esta semana ficámos a saber que, apesar da CGD ter comprado as acções da CIMPOR pertencentes a MF, o direito de voto dentro da cimenteira, isto é, a capacidade de decisão junto dos restantes accionistas, permaneceu nas mãos do capitalista MF. Querem mais? E se ficámos de posse dessas informações podemos "agradecer" à OPA lançada pelo grande capital brasileiro, que se preparava para deitar a mão a esta empresa estratégica para os interesses nacionais, e ao facto de cada um dos actuais accionistas – Teixeira dos Santos, Soares da Costa, BCP, etc. – se estarem a posicionar em função dos seus próprios interesses.
Recapitulemos então: a CIMPOR é uma empresa estratégica para o País, que produz uma matéria-prima vital – o cimento; o Estado vendeu a CIMPOR a MF por um valor aos lucros que esta proporciona; a CGD, que é do Estado, comprou acções da CIMPOR a MF por um valor superior ao "de mercado"; MF ficou com o direito de voto dentro da CIMPOR, mesmo depois de ter vendido a bom preço as acções ao Estado (CGD).
Tal como na situação do BPN – onde o Estado, também por via da CGD, assumiu mais de 3000 milhões de euros de prejuízos para, depois de “limpo”, entregar o banco novamente ao grande capital –, este negócio em torno das acções da CIMPOR e dos interesses de MF, é revelador do papel que tem sido reservado ao Estado enquanto instrumento ao serviço da acumulação e concentração capitalista.
Bem podemos dizer que aquilo que falta em transparência nestes negócios entre interesses privados e recursos públicos sobra em descaramento e na impunidade com que o grande capital – cuja afinidade com o PSD e CDS não se distingue do que vai tendo com o PS – vai saqueando os trabalhadores, o povo e o País.»

Que economia para a UE? - 2

(continuação)


«(...) Pois, neste debate, venho dizer que a economia para a União Europeia, com esse ou outro nome, poderia ser nem liberal, nem keynesiana, nem um casamento apressado este as duas para que Keynes (talvez à sua revelia) estaria sempre disponível com a missão de evitar males maiores ou, dizemos nós…, os adiar para maiores males.

É verdade que, na institucionalização do processo de integração, estamos num momento de interrogações. Redutoras ou não.

O chamado Tratado de Lisboa, sendo um documento sectariamente neo-liberal no que respeita à economia, constitucionalizando a ideologia da economia de livre mercado (que se monopoliza, que concentra e centraliza o capital, que cria libertinos lugares off-shores, quer dizer, fora das costas ou nas costas de qualquer regulação), terá de ser compatibilizado com intervenções de tipo keynesiano.
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Mas estas são as mudanças para que tudo continue na mesma. São as injecções de capital-dinheiro, feitas com dinheiro fictício ou simbólico, cada vez com menor base material e maior desvalorização da economia real, é o avolumar do crédito até à demência no negócio de passar de dinheiro a mais dinheiro sem que algo seja criado na esfera produtiva.
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Tarde ou cedo, e tudo depende do tempo que leve a tomar-se consciência da necessidade vital de verdadeiras mudanças, terá de haver rupturas, tarde ou cedo se sairá do “anel de fogo” liberalismo ou keynesianismo, do primado absoluto da competitividade como valor absoluto, da dita iniciativa privada livre – outro nome para o capitalismo –, tão livre até à libertinagem que exige intervenções contrariando a pureza teórica do liberalismo.
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A vida não se compadece com teoria… se esta não se renova com aquela. Na prática, a teoria é outra, era o título de um livro que há muitos anos li. Mas a prática social não é o pragmatismo, a ausência de teoria, ou a ideologia do fim das ideologias. A prática social, as dinâmicas e caminhos da vida – e da economia, claro – imporão mais que as alternâncias redutoras.
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No processo que nos trouxe até esta União Europeia ilustram-se essas dinâmicas. Foi em resposta (de classe) a problemas objectivos decorrentes do desenvolvimento das forças produtivas que surgiu a integração económica da união aduaneira e da PAC e que, de certo modo, conflituou e veio a absorver o esboço de réplica da cooperação nas indústrias e na criação de zonas de comércio livre, ensaiado na EFTA.
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Até começos da década de 70 do século passado teria sido esse o seu acento tónico, com a passagem de 6 a 9 Estados-membros, e de acordos comerciais e de associação.
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Então, foi o vazio criado pela decisão unilateral da inconvertibilidade do dólar, deixando a economia mundial, cada vez mais internacionalizada, orfã de um sistema monetário e a primeira (se primeira foi…) crise do petróleo, e foi o começo, nos países desenvolvidos, e decorrendo da confirmação das leis tendenciais da economia capitalista, do desemprego, primeiro como “novidade”, sempre como variável estratégica. (Sendo a ordem dos facto(re)s arbitrária porque inter-relacionados nas origens e consequências…)
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Nesse momento (na História), em paralelo com a monetarização e o liberalismo, sempre no quadro da relação de forças na luta de classes, o processo de integração económica arrancou, através de alargamentos sucessivos, com a linha estratégica de um núcleo super-integrado e de uma coroa periférica, tendo essa mesma luta levado à moderação, aquando da criação do mercado interno, através da adopção de um objectivo da coesão económica e social, simultânea com a entrada de Portugal e da Espanha, visando também a Grécia e a Irlanda, entre os 12.
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Com a queda dos países socialistas, episódio dessa luta de classes (o que não quer dizer que não seja enormemente significativo), com a criação da Organização Mundial do Comércio, com a dita globalização, foi um novo arranque para a União Económica e Monetária e para a União Política, a primeira na sequência do mercado interno, a segunda como consagração supra-nacional do processo, com todos os engulhos que se conhecem, alguns que se pode dizer que foram surpreendentes face às facilidades que se esperariam e obrigaram a expedientes evidentemente pouco democráticos, desrespeitando regras que, no início e no decurso do processo, eram (digamos) “de ouro”, como a da necessária ratificação e unanimidade, desprezando ou ignorando identidades e soberanias nacionais. Coisas velhas, obsoletas, dirão…, mas que servem, perversamente, quando se trata de acirrar rivalidades nacionalistas.
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Sei que estou a chegar ao termo do tempo concedido. A respeitá-lo me ensinaram 11 anos no Parlamento Europeu (e não só!). Por isso, passo já ao fim da intervenção e à resposta directa à pergunta directa.

Que economia para a UE: liberal ou keynesiana?

Lutamos, aqui e na União Europeia, por outra economia. Porque há outra economia, porque pode vir a haver outra União Europeia, de Estados-membros soberanos partilhando algumas competências no respeito mútuo, fazendo prevalecer a cooperação e a solidariedade, articulando o aproveitamento dos recursos através do trabalho para um melhor viver dos povos.

É possível!»

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Jerónimo de Sousa em Tomar - 23 de Janeiro


Que economia para a UE? - 1

1º excerto da minha intervenção na Conferência Europa dos valores, no 3º debate (que economia para a UE: liberal ou keynesiana?), na Universidade Lusófona, Porto:


«Agradeço, em nome do Partido Comunista Português, o convite para este debate sobre que economia para a União Europeia, tema que nos parece do maior interesse, oportunidade, pertinência.
No entanto, o título não se fica por aí, coloca dois pontos, um em cima do outro (podiam ser três, uns ao ladinho dos outros) e uma escolha a anteceder um outro ponto, o ponto de interrogação.

Que economia para a U.E: liberal ou keynesiana?

O título tem todo o ar de ser uma provocação a este convidado para o debate, em nome do Partido Comunista Português e membro do seu Comité Central (diz-se no programa). Mas… sei que não é.

Como além dessa qualidade (se qualidade é), sou economista e estive 11 anos em deputado no Parlamento Europeu, a minha intervenção vai ter de ser a resposta à provocação que sei não ter a intenção de o ser.

Aliás, pegando-lhe de outra maneira, objectivamente nem o será. Ou melhor: parece mais uma confissão ou auto-denúncia.

Será que a economia para a União Europeia só pode ser liberal ou keynesiana?

Então… se a economia não for liberal nem keynesiana não haverá economia para a União Europeia?, ou, mais radicalmente, deixa de haver União Europeia?

Se assim fosse, seria a confirmação (e não dada por nós, PCP!...) da posição que temos tomado, desde sempre, desde Roma (e antes…), a de que este processo de integração económica, em Roma formalmente iniciado, é uma resposta de classe a problemas reais, objectivos. Que é um processo dominado por e/ou ao serviço de uma classe!

Por mim, recuso a dicotomia neo-classissismo/keynesianismo que esgotaria a ciência económica e a economia política, ainda que com cambiantes e sub-correntes, como liberalismo, Friedman, monetarismo, escola austríaca (Hayek), Hicks, Samuelson, nova síntese neo-clássica com keynesianismo e etc..

Trata-se de redutora posição sobre a economia, é ideológica, e a ideologia toma expressão, na União Europeia, deixando de fora o rabinho do livre mercado, apenas se concedendo a possibilidade, mitigada e só quando e enquanto há explosões de crise, de regulação e intervenção estatais, então ressuscitando Keynes e procurando sínteses, ou casamentos, ou uniões civis entre liberalismo e keynesianismo.

O que quero deixar bem claro é que, para nós, a economia, quer para a União Europeia, quer para Portugal, quer para o mundo, não se reduz à alternativa (ou alternância) de ser liberal ou keynesiana.

É certo que, ao longo de todo o percurso do processo de integração, historicamente curto apesar de ter meio século, de ter passado de 6 a 27 Estados-membros, de ter coexistido com transformações de grande significado no contexto inter-nacional, diria na luta de classes, tem predominado a “economia de mercado”, que coloquei entre aspas e assim é chamada para não se lhe chamar capitalista.

Mas nós chamamos, porque, na nossa concepção, há mais economia, outra que capitalista não é, que capitalista terá de deixar de ser por não ser esta, a economia capitalista, o fim da história.

Não o capital como factor de produção mas, sublinho, como relação social.

Muitos acusarão esta posição de ultrapassadas, ma a crítica à economia política capitalista é, a nosso ver, a única que dá chaves para a compreensão da economia que vivemos. E alguns o dizem, ou pensarão, ainda que não sejam marxistas ou não militem como comunistas.

E se, nos períodos de explosão da crise, para além de se ressuscitar Keynes, com várias reincarnações, renasce o interesse pela leitura de Marx, que não morreu, e quem o ler – e digerir, o que nem sempre é fácil – não pode aceitar a vossa pergunta redutora, embora se entenda que, com esta União Europeia, a pergunta seja adequada.

Mas então, haverá quem pergunte, que faz lá, na União Europeia, quem recusa que a economia seja, só, liberal ou keynesiana?

Luta! Luta por aquilo que defende, com as armas que tem. As armas da discussão, do debate, da tomada de consciência.

Pois, neste debate, venho dizer que a economia para a União Europeia, com esse ou outro nome, poderia ser nem liberal nem keynesiana, nem um casamento apressado para que Keynes (talvez à sua revelia) estaria sempre disponível com a missão de evitar males maiores ou, dizemos nós…, os adiar para maiores males. (...)»

Dá que pensar!

Passei o dia de ontem em viagem ao Porto. É sempre bom... mesmo quando não o é.

Fui em tarefa do PCP, para o representar num ciclo de conferências, na Universidade Lusófona, sobre o Futuro da União Europeia, numa Conferência "A Europa dos Valores", num 3º debate sobre Que economia para a UE: liberal ou keynesiana?, para que foram convidados os partidos com eleitos no Parlamento Europeu, que 5 são.

Iniciativa da Comissão Europeia-Representação em Portugal e Centro de Informação Europeia Jacques Delors., com vários "parceiros" e organização e promoção por uma empresa de eventos.

Todo este aparato teve correspondência no local. Uma antiga igreja, transformada em auditório, um espaço de alguma pompa e circunstância. Apoio com luzes, som e material informático para apoio quanto bastasse e sobrasse.

Passei lá a tarde. Assisti aos dois primeiros debates. Passei lá a tarde, assisti aos dois primeiros debates. Para me ambientar... e, talvez, por masoquismo.

Na hora de entrarmos em cena, confirmou-se que dois partidos (PP e PSD), apesar de instados, confirmaram a não confirmação, um outro (BE), que confirmara a presença, não se (a)presente(ou), e nada disse. Na hora de sairmos de cena, o reitor da U.L. , que deveria encerrar o ciclo dos três debates do dia também, e foi substituído pela presidente da Associação de Estudantes para nos desejar boa viagem para casa.

O que foi feito, com a tarefa cumprida, algum cansaço e a sensação de que a reflexão, o trabalho de a pôr no papel para cumprir os 10 minutos que nos tinham sido atribuídos, a presença e evidente interesse do (escasso) público não tiveram correspondência e até algum desrespeito por parte de uns tantos.

Por mim, e sem falsas modéstias, acho que o meu texto merece mais que ter ficado por ali, no antigo e desactivado altar-mor, perdido entre aquelas paredes. Alguns trechos trarei para aqui.


terça-feira, janeiro 19, 2010

Um acto de justiça...

Mais um "facto político"!

Este "acto de justiça" do PR é esclarecedor. Premeia, disse ele, os bons serviços prestados à Nação. E só me lembro de uma entrevista a O Jornal, lá para 1987, em que este agraciado "servidor da Nação" teve o descaro de dizer que ia para deputado no Parlamento Europeu para resolver uns problemas financeiros. Então, fiquei indignado. Ainda estou...

E, já que escrevi Parlamento Europeu, e porque há por aí umas cabecinhas muito maldosas sempre à espreita de um passo ou palavra em falso, digo que também lá estive, eleito, no PE, mas foi... como tarefa. Do PCP. E que nunca me passou pela cabeça "merecer" qualquer distinção, por essa ou por qualquer outra circunstância.

Aliás, na prisão de Caxias, na leitura do DN, autorizado a entrar na sala, devidamente censurado e recensurado, o camarada encarregado da leitura colectiva, que tinha "poucas letras", em vez de ler "agraciado com a ordem de"... leu "anavalhado com a ordem de", e todos nós rimos muito... com o cuidado de não magoar o camarada. Desde então, decidi não consentir que me anavalhassem.

Sobre um certo patriotismo espúrio

A recente campanha para o “promoção” de Vítor Constâncio a vice-governador do Banco Central Europeu levanta problemas de fundo, esclarecedores do mundo em que vivemos. Isto é, do sistema em que nos obrigam a viver.
Não quero, aqui, deter-me muito sobre as qualidades (qualificações… e remunerações) profissionais de Vítor Constâncio e seu CV.
Foi aluno de altas notas, foi docente que os alunos apreciavam, foi homem que andou na periferia da luta anti-fascista; depois do 25 de Abril, quando as provas eram de fogo, foi um dos “agentes” da contra-revolução, para mais "infiltrado" porque participante em governos provisórios e constitucionais cuja missão era a de fazer avançar a democracia; teve um período de actividade política explícita, chegando a secretário-geral do PS quando o PS precisava de ter alguém que se opusesse ao PSD de Cavaco Silva, não nas políticas em que coincidiam quase ponto por ponto, mas na aura de elevada preparação técnica, mas o PSD e Cavaco Silva, politicamente, não tiveram dificuldade perante tal adversário; claramente derrotado, “deixou a política”, foi fazer a política que convinha para outro lado, e tão bem a fez que deu os resultados que se conhecem… e merece esta “promoção”.
Apenas acrescento que V.C. esteve sempre na primeira linha da "contenção salarial", da "perda real de poder compra" por parte dos trabalhadores, e da permanente defesa da prioridade absoluta para a criação de condições para que os lucros sejam o deus ex-machina da economia. Quer como técnico na política, quer como político na técnica.
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Mas do que eu quero falar é de patriotismo.
Há quem afira o patriotismo dos outros por apoiarem ou não compatriotas a lugares de direcção nas instâncias internacionais.
Um dia, nos idos de 2004, fui interpelado nos corredores de Bruxelas por ter votado contra a investidura de Durão Barroso como Presidente da Comissão, e fui apostrofado de falta de patriotismo. Pois bem, também agora o serei… ou seria se ainda estivesse na tarefa e se se tratasse de votar Vítor Constâncio.
Para além do que penso da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu e dos cargos, que, a meu critério, em nada honram os seus ocupantes, o meu patriotismo tem a ver com a História, a Língua, a Cultura, e, sobretudo, com os meus compatriotas, com aqueles que partilham este solo pátrio em que nascemos. Se alguns deles justificam, para mim, oposição e luta, pela sua acção contra outros nossos compatriotas, contra os trabalhadores, contra um futuro da Humanidade (e da pátria) que considero mais humano – e que será! –, continuarão a contar com essa oposição e luta ao passarem a ter maior responsabilidade (ou só visibilidade) em recompensa por bons serviços prestados à (sua/deles) causa.
Tenho dito!

E não resisto a “roubar” esta foto ao cantigueiro (onde é que tu arranjas coisas destas, ó Samuel?)

O que não se lê sobre o Haiti... mas deveria

Em vermelho, do Brasil:

18 de Janeiro de 2010 - 11h04
Carl Lindskoog: O que você não ouve sobre o Haiti, mas deveria

Nas horas seguintes ao terremoto que devastou o Haiti, CNN, New York Times e outras importantes agências de notícias adotaram a mesma interpretação para a grave destruição: o terremoto de 7 graus foi tão devastador porque atingiu uma zona urbana extremamente povoada e pobre. Casas “construídas umas em cima de outras” e feitas pelo próprio povo pobre fizeram da cidade um local frágil.

Por Carl Lindskoog*, em Opera Mundi
Os muitos anos de subdesenvolvimento e caos político do país fizeram com que o governo haitiano estivesse mal preparado para responder a um desastre desse tipo. É verdade. Mas essa não é toda a história. O que falta é uma explicação do motivo de existirem tantos haitianos vivendo dentro e nos arredores de Porto Príncipe e de tantos deles serem forçados a sobreviver com tão pouco.

Na verdade, até quando uma explicação é dada, muitas vezes é escandalosamente falsa, como o depoimento de um ex-diplomata norte-americano à CNN dizendo que a superpopulação de Porto Príncipe estava prevista pelo fato de que haitianos, como a maioria no Terceiro Mundo, não sabem nada sobre controle de natalidade.

Pode assustar os norte-americanos, famintos por notícias, saber que essas condições que a mídia atribui corretamente ao aumento do impacto deste tremendo desastre foi em grande parte produto da política de Washington e seu modelo de desenvolvimento.

De 1957 a 1971, os haitianos viviam sob à sombra escura de "Papa Doc" Duvalier, um ditador cruel que tinha apoio dos EUA porque era visto pelos norte-americanos como um anti-comunista confiável. Depois de sua morte, o filho de Duvalier, Jean-Claude "Baby Doc", tornou-se presidente vitalício aos 19 anos de idade e governou o Haiti até que finalmente foi derrubado em 1986. Foi nas décadas de 1970 e 1980 que Baby Doc, o governo dos EUA e a comunidade empresarial trabalharam juntos para colocar o Haiti e a capital do país nos trilhos.

Depois da posse de Baby Doc, planejadores norte-americanos dentro e fora do governo iniciaram seus planos de transformar o Haiti na “Taiwan do Caribe”. Este pequeno e pobre país situado convenientemente perto dos EUA foi instruído a abandonar o passado agrícola e a desenvolver um forte setor industrial de exportação orientada. Ao presidente e seus aliados, foi dito que este era o caminho para a modernização e o desenvolvimento econômico.

Planos da USaid

Do ponto de vista do Banco Mundial e da Agência para Desenvolvimento Internacional dos EUA (USaid), o Haiti era um candidato perfeito para uma reforma neoliberal. A pobreza enraizada do povo haitiano poderia ser usada para forçá-lo a trabalhar por baixos salários costurando bolas de beisebol e montando outros produtos.

Mas a USaid também tinha planos para a zona rural. Não eram somente as cidades que se tornariam bases de exportação, mas também o campo, com a agricultura haitiana reformulada com as linhas de exportação orientada e produção baseada no mercado. Para realizar isso, a Usaid, ao lado de industriais urbanos e grandes proprietários, trabalhou para criar instalações de agroprocessamento, mesmo enquanto eles aumentavam a prática de dumping para produtos agrícolas excedentes dos Estados Unidos ao povo haitiano.

Essa “ajuda” dos norte-americanos, juntamente com mudanças estruturais no campo de maneira previsível, forçaram os camponeses haitianos que não poderiam sobreviver ali a migrar para as cidades, especialmente para Porto Príncipe, onde os novos trabalhos na indústria supostamente estariam. No entanto, quando eles chegaram lá, não encontraram emprego suficiente para todos na indústria. A cidade ficou cada vez mais lotada. As favelas se expandiram. E para satisfazer a necessidade de habitação de camponeses desalojados, casas foram sendo erguidas rapidamente e a um preço mais baixo, algumas vezes “umas em cima das outras”.

Muito tempo atrás, porém, planejadores norte-americanos e elites haitianas decidiram que talvez seu modelo de desenvolvimento não funcionaria tão bem no Haiti, e o abandonaram. No entanto, as consequências dessas mudanças lideradas pelos norte-americanos continuam.

Na tarde e noite de 12 de janeiro de 2010, quando o Haiti vivenciou o terrível terremoto, depois do abalo não havia dúvidas que a destruição foi profundamente agravada pela real superpopulação e pobreza de Porto Príncipe e arredores. Mas os norte-americanos chocados podem fazer mais que balançar a cabeça e, com piedade, fazer uma doação. Eles podem confrontar a responsabilidade do seu próprio país pelas condições de Porto Príncipe que aumentaram o impacto do terremoto, e admitir o papel dos EUA de impedir o Haiti de alcançar um desenvolvimento significativo.

Aceitar a história incompleta do Haiti oferecida pela CNN e pelo The New York Times é culpar os haitianos por terem sido vítimas de um esquema que não foi criado por eles. Como John Milton escreveu, “eles, que tiraram os olhos das pessoas, são aqueles que as reprovam por sua cegueira”.

* Carl Lindskoog é ativista da cidade de Nova York e historiador doutorando da City University of New York. Artigo originalmente publicado no site Common Dreams.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Como se fosse um recado...

... para alguns que passaram de partidariamente sectários a anti-comunistas viscerais:
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"Disse um dia a um jornal que os erros dos que estão mais próximos dos meus ideais, mesmo só em teoria, nunca me farão cair nos braços dos inimigos desses mesmos ideais. Disse-o então e digo-o agora. Amanhã a mesma coisa. Espero".

domingo, janeiro 17, 2010

Haiti e desinformação organizada

O que é mais curioso (?!) é que é a nós que nos acusam de querer "aproveitar" a tragédia quando damos as notícias da solidariedade real, concreta, que "eles" calam, e denunciamos a vergonhosa manipulação que "eles" fazem.
Esta mensagem em cravodeabril é esclarecedora. Se quiser, leia desinformação organizada. Vale a pena!

Um "facto político" e os factos da política

Na habitual viagem pela blogosfera, em (quase) todas as minhas paragens, de estações e de apeadeiros (e também "apiaderos"...), encontrei referência ao "facto político" da condecoração de Santana Lopes por Cavaco Silva.
Não tinha nenhuma intenção de falar disso mas, apesar de considerar que há quem possa estar a cair na ratoeira de "divertir a malta", isto é, contribuir para as cortinas de fumo lançadas para nos distrair dos reais problemas que temos (e se os temos...), e passar ser mais um "na ratoeira", venho afirmar rapidamente que o dr. Cavaco Silva não vai condecorar o dr. Santana Lopes!
O actual Presidente da República vai colocar a condecoração atribuida a todos os Primeiros Ministros ao único que não a teve, e último antes do actual.
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Os verdadeiros factos políticos, e estes não servem de distracção mas deveriam servir para muito séria reflexão, é termos tido aquele Primeiro Ministro e termos este Presidente da República, que, aliás, foi o que mais tempo esteve como Primeiro Ministro da República Portuguesa depois de Salazar (se a minha memória me não trai), e que, lá do alto do seu império de Belém, toma ares de quem não tem quaisquer responsabilidades na política que nos conduziu ao estado em que a nação está.
Quanto às condecorações... lembram-me o 10 de Junho no Terreiro do Paço, quando gostaria de recordar Camões e os Lusíadas.

sábado, janeiro 16, 2010

Certidões de esquerda

- Ó fazfavor… é aqui que passam “certidões de esquerda”?
- É sim, senhor.
- Faziófavor de me passar uma…
- Temos várias em stock. Quer em que língua? Assinada por quem?
- Em português, claro. E queria uma destas últimas, ainda fresquinhas, assinada pelo dr. Manuel Alegre e pelo prof. Francisco Louçã.
- Sim, senhor. Escolheu bem. São as mais actuais. São de hoje. Em todo o caso, se esperar para depois do orçamento de direita, também pode juntar a assinatura do eng. Sócrates. A gerência está a tratar disso…
- Eu sei, eu sei. Mas tenho pressa. É para uma urgência…
- Sem dúvida... e olhe que vai bem servido. Estas certidões são de confiança.
- Pois… “genuíno de esquerda”. Traz carimbo, não traz?
- Claro, por cima das assinaturas dos dois, todas alegres e louçãs.
- É mesmo disso que eu preciso. Sabe?… é que lá na minha terra, por causa de umas coisas que eu disse outro dia no café, andam a chamar-me comuna. Eu sou é da esquerda responsável. Da que se impõe e não precisa cá de lutas e de colectivos e de greves e de massas. Uns irresponsáveis que nem passam certidões…
- Tem toda a razão!... E quer já em moldura ou leva embrulhada?
- Pode ser em moldura... mas com cópias para mostrar à malta. Aí umas três… Que durem até às presidenciais. Se fazfavor
- É é mais caro. Mas sai barato. Quase não paga o papel...
- Eu sei, eu sei. Já não há certidões grátis.!
- Claro. Paga na caixa e recebe nas embalagens.
- Muito obrigado.
- Foi um prazer… vo(l)te sempre.

Haiti - Informação de algures para alguns

Reproduz-se tal-e-qual, sem comentários:
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15 de Janeiro de 2010 - 14h27
Parte da tragédia do Haiti é "Made in USA"
Parte do sofrimento no Haiti é "Feito nos Estados Unidos". Se um terremoto pode danificar qualquer país, as ações dos Estados Unidos ampliaram os danos do terremoto no Haiti. Como? Na última década, os Estados Unidos cortaram ajuda humanitária ao Haiti, bloquearam empréstimos internacionais, forçaram o governo do Haiti a reduzir serviços, arruinaram dezenas de milhares de pequenos agricultores e trocaram apoio ao governo por apoio às ONGs.

Por Bill Quigley, no Huffington Post
O resultado? Pequenos agricultores fugiram do campo e migraram às dezenas de milhares para as cidades, onde construiram abrigos baratos nas colinas. Os fundos internacionais para estradas e educação e saúde foram suspensos pelos Estados Unidos. O dinheiro que chega ao país não vai para o governo mas para corporações privadas. Assim o governo do Haiti quase não tem poder para dar assistência a seu próprio povo em dias normais -- muito menos quando enfrenta um desastre como esse.

Alguns dados específicos de anos recentes.

Em 2004 os Estados Unidos apoiaram um golpe contra o presidente eleito democraticamente, Jean Bertrand Aristide. Isso manteve a longa tradição de os Estados Unidos decidirem quem governa o país mais pobre do hemisfério. Nenhum governo dura no Haiti sem aprovação dos Estados Unidos.

Em 2001, quando os Estados Unidos estavam contra o presidente do Haiti, conseguiram congelar 148 milhões de dólares em empréstimos já aprovados e muitos outros milhões de empréstimos em potencial do Banco Interamericano de Desenvolvimento para o Haiti. Fundos que seriam dedicados a melhorar a educação, a saúde pública e as estradas.

Entre 2001 e 2004, os Estados Unidos insistiram que quaisquer fundos mandados para o Haiti fossem enviados através de ONGs. Fundos que teriam sido mandados para que o governo oferecesse serviços foram redirecionados, reduzindo assim a habilidade do governo de funcionar.

Os Estados Unidos têm ajudado a arruinar os pequenos proprietários rurais do Haiti ao despejar arroz americano, pesadamente subsidiado, no mercado local, tornando extremamente difícil a sobrevivência dos agricultores locais. Isso foi feito para ajudar os produtores americanos. E os haitianos? Eles não votam nos Estados Unidos.

Aqueles que visitam o Haiti confirmam que os maiores automóveis de Porto Príncipe estão cobertos com os símbolos de ONGs. Os maiores escritórios pertencem a grupos privados que fazem o serviço do governo -- saúde, educação, resposta a desastres. Não são guardados pela polícia, mas por segurança privada pesadamente militarizada.

O governo foi sistematicamente privado de fundos. O setor público encolheu. Os pobres migraram para as cidades. E assim não havia equipes de resgate. Havia poucos serviços públicos de saúde.

Quando o desastre aconteceu, o povo do Haiti teve que se defender por conta própria. Podemos vê-los agindo. Podemos vê-los tentando. Eles são corajosos e generosos e inovadores, mas voluntários não podem substituir o governo. E assim as pessoas sofrem e morrem muito mais.

Os resultados estão à vista de todos. Tragicamente, muito do sofrimento depois do terremoto no Haiti é "Feito nos Estados Unidos".

Fonte: Huffington Post, reproduzido por Vi o Mundo

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Sobre acordos e políticas - para acordar memórias

Depois da Constituição, cumpridos os compromissos revolucionários, para a criação de um Estado democrático (de democracia a avançar ou a recuar é outra questão...), estamos no XVIIIº governo .
Iº (1976-78) - PS
IIº (1978) - PS c/ CDS
IIIº (1978) - iniciativa presidencial
IVº (1978-79) - iniciativa presidencial
Vº (1979-80) - iniciativa presidencial
VIº (1980-81) - AD (PSD-CDS-PPM)
VIIº (1981) - AD (PSD-CDS-PPM)
VIIIº (1981-83) - AD (PSD-CDS-PPM)
IXº (1983-1985) - Bloco Central (PS-PSD)
Xº (1985-87) - PSD
XIº (1987-91) - PSD
XIIº (1991-96) - PSD
XIIIº (1996-99) - PS
XIVº (1999-02) - PS
XVº (2002-04) - PSD-CDS/PP
XVIº (2004-05) - PSD-CDS/PP
XVIIº (2005-09) - PS
XVIIIº (2009-...) - PS
Resumo: em 18 governos, o PSD esteve em 9 governos(cerca de 20 anos) , o PS em 7 (cerca de 15 anos), o CDS/PP em 6 (cerca de 8 anos), o PPM (enquanto partido ecologista) em 3 (cerca de 3 anos).
Sempre chegaram a... acordo. Para concretizar as políticas que sempre criticámos.
Em fases mais difíceis, de "crise", sempre se usou a "dramatização" para impor e reforçar as mesmas políticas e os mesmos sacrifícios. O sr. Cavaco Silva, actual PR, o cidadão com o maior tempo de permanência como PM (12 anos!), "dramatiza" (as aspas não querem dizer que a situação não seja... dramática) e apela a acordos ou entendimento partidários. É fácil. Tem sido fácil. desde que continuem as mesmas políticas que servem os interesses dominantes.
Há quem queira discutir as políticas. Sempre o fizeram. Enquanto que aqueles estão sempre no peditório e continuam, um esteve sempre a não dar para esse peditório. Cada vez com mais razão para não o ter feito. E disponível, sempre disponível, para discutir. E... acordar.

Haiti

2ª brigada de 50 voluntários e 12 toneladas de alimentos e medicamentos da Venezuela. Ver.

Haiti

Sobre o Haiti, leia Fidel.

« (...) E el campo de la salud y otras áreas, Cuba, a pesar de ser un país pobre y bloqueado, desde hace años viene cooperando con el pueblo haitiano. Alrededor de 400 médicos y especialistas de la salud prestan cooperación gratuita al pueblo haitiano.

En 227 de las 337 comunas del país laboran todos los días nuestros médicos. Por otro lado, no menos de 400 jóvenes haitianos se han formado como médicos en nuestra Patria. Trabajarán ahora con el refuerzo que viajó ayer para salvar vidas en esta crítica situación. Pueden movilizarse, por lo tanto, sin especial esfuerzo, hasta mil médicos y especialistas de la salud que ya están casi todos allí y dispuestos a cooperar con cualquier otro Estado que desee salvar vidas haitianas y rehabilitar heridos.

Otro elevado número de jóvenes haitianos cursan esos estudios de medicina en Cuba.

También cooperamos con el pueblo haitiano en otras esferas que están a nuestro alcance. No habrá, sin embargo, ninguna otra forma de cooperación digna de calificarse así, que la de luchar en el campo de las ideas y la acción política para poner fin a la tragedia sin límite que sufren un gran número de naciones como Haití.

La jefa de nuestra brigada médica informó: "la situación es difícil, pero hemos comenzado ya a salvar vidas". Lo hizo a través de un escueto mensaje horas después de su llegada ayer a Puerto Príncipe con refuerzos médicos adicionales.

Tarde en la noche comunicó que los médicos cubanos y los haitianos graduados de la ELAM se estaban desplegando en el país. Habían atendido ya en Puerto Príncipe más de mil pacientes, poniendo a funcionar con urgencia un hospital que no había colapsado y utilizando casas de campaña donde era necesario. Se preparaban para instalar rápidamente otros centros de atención urgente.

¡Sentimos un sano orgullo por la cooperación que, en estos instantes trágicos, los médicos cubanos y los jóvenes médicos haitianos formados en Cuba están prestando a sus hermanos de Haití! »


Pode ler o resto aqui.