sexta-feira, julho 31, 2015

1 de Agosto de 1975 - a coexistência pacífica e a ACTA DE HELSÍNQUIA

Por “encomenda” do avante! elaborei um texto publicado a 16 de Julho, na secção HISTÓRIA, sobre a Acta de Helsínquia assinada em 1 de  Agosto de 1975. A importância da efeméride justificava a “requisição” e para cumprir a tarefa recorri à memória e procurei documentação. Nem tudo foi aproveitado, até por razões de paginação, e – hoje – queria ainda aproveitar alguma. A começar por esta foto, que me parece muito elucidativa pois mostra Erich Honecker, da RDA (República Democrática Alemã), e Helmut Schmidt, da RFA (República Federal da Alemanha), em debate animado durante a conferência que levou à acta.  





A propósito, será oportuno melhor esclarecer o conceito de stato quo em que Lenine muito insistia e que é um pilar da coexistência pacífica. Stato quo não se traduzia, então, por imobilismo mas fazia prevalecer a dinâmica das massas, da consciencialização destas. Pela Paz, nunca como trégua na luta de classes, como Lenine frisou, no 8º Congresso (de 1920), no relatório sobre as concessões, ao apresentar duas teses: “primeira, toda a guerra é uma continuação da política do tempo de paz; segunda, as concessões em que acordámos, que nós somos obrigados a acordar, são uma continuação da guerra sob uma forma diferente, por meios diferentes.”
Como procuro relevar no texto para o ávante!, para Portugal a segurança e cooperação tem particular significado. Antes do 25 de Abril, por ser um Estado fascista e em guerra colonial, logo, contrário aos princípios em gestação; depois, por tais princípios coincidirem com os do Portugal democrático e revolucionário.
Em texto bem informado[i] conta-se que a situação portuguesa teve lugar de destaque em Helsínquia, com pressões ingerentes sobre Costa Gomes – sobretudo pelo 1º ministro do Reino Unido e o chanceler da RFA (ambos socialistas) com ameaças de cortes de apoios – e sobre Brejnev – também pelos socialistas europeus e por Kissinger que, em conferência de imprensa a 30.07.75, avisou (ou ameaçou?): «Uma actividade substancial levada a cabo por um país estrangeiro em Portugal será considerada inconsistente com o espírito, e mesmo com a letra, da declaração da CSCE» – pressões (e práticas entãoprosseguidas) evidentemente contrárias aos princípios (a)firmados!
Como referência pessoal mostrando como então considerei a assinatura da Acta uma importante mudança na dinâmica do processo histórico, convidado a dar testemunho num programa de televisão que M. A. Valente então conduzia sobre o facto mais relevante daquela semana ou mês, em Agosto de 1975 respondi, com alguma surpresa dado estarmos no escaldante “verão quente português”, que o facto mais relevante dessa semana teria sido a assinatura por Costa Gomes, em nome do Portugal democrático, da Acta de Helsínquia
Tanto mudou nestes 40 anos!





[i] - Tiago Moreira de Sá em http://janusonline.pt/2008/2008

quinta-feira, julho 30, 2015

As preocupações do dito nosso primeiro-ministro e a CGD

A preocupação do primeiro-ministro português em relação à Caixa Geral dos Depósitos (portuguesa), da forma como foi confessada em público, seria das coisas mais abstrusas se não estivessemos a viver o tempo e o lugar em que estamos. Com este desgoverno e na sequência destes anos e décadas de destruição. De destruição da economia produtiva, dos serviços públicos, de tudo que é nacional (... é nacional, é mal - é publico, é mau, é privado... é pior).
De qualquer forma... a forma como o dito primeiro.ministro se refere à gestão de um empréstimo de que é o primeiro responsável dos dois lados do empréstimo é realmente... abstrusa! 
Nem no confessionario e a um padre de confiança... como é suposto serem todos para o crente em confissão.

T(á)Visto - Avós...os que já têm pouco tempo para lutar por uma melhor vida para os netos

- Edição Nº2174  -  30-7-2015

No Dia dos Avós

O passado domingo, dia 26 de Julho, foi o Dia dos Avós pelo menos em Portugal e no Brasil, tendo a data sido escolhida, ao que consta, em consequência de o dia ser também consagrado a Joaquim, santificado por ter sido avô de Jesus graças à extraordinária gestação de sua filha, Maria. Não será uma razão e um vínculo parental exageradamente fáceis para o comum das gentes, nem geralmente o são as vidas dos santos e a sua projecção nos diversos quotidianos, mas é claro que não é isso que importa: o 26 de Julho é o Dia dos Avós em Portugal, aliás apenas desde 2003, e pronto. Tanto que pelo menos a TVI, talvez recordando-se um pouco dos bons velhos tempos em que era o canal de assumida inspiração cristã no quadro televisivo português, dedicou à efeméride cerca de uma hora no seu TVI24, acessível por cabo, decerto confiando em que os netos portugueses que apenas têm acesso aos quatro canais abertos se lembrassem dos seus avós sem que para tanto fossem ajudados pela televisão. De resto, não há motivo para descrer em que a inspiração dos céus possa servir também para recordar estas pequenas coisas, ela que, infelizmente, não parece que lembre as coisas grandes, fundamentais, às cabeças dos que têm a estrita obrigação de nunca as esquecer. Passemos. Para registar que na TVI24 foram entrevistadas pelo jornalista Henrique Garcia duas senhoras avós de excelente aspecto, com formação universitária e de nível cultural decerto acima da média portuguesa que, como se sabe, é baixinha de um modo geral e não apenas entre as avós. Sem nada que especialmente as recomendasse foram, sem dúvida, duas entrevistas agradáveis. E assim a TVI festejou, com perdão da palavra que é excessiva, o Dia dos Avós no Portugal de 2015.
Os que não têm tempo
Acontece, porém, que isto dos avós portugueses aqui e agora é assunto que na verdade exige muito mais do que a consagração de um dia em cada ano, como uma espécie de desobriga pascal transferida para os calores do estio pouco ou nada celebrada na TV ou fora dela. Como a própria televisão por vezes nos vai permitindo saber e como o nosso encontro pessoal com a realidade nos revela, a generalidade dos avós portugueses é talvez o sector social mais vergastado pela impiedade do Governo Passos Coelho e também o mais indefeso. Os avós, isto é, os velhos, assistem impotentes a que os pais dos seus netos sejam despojados do posto de trabalho que permitia a manutenção de uma vida familiar sustentável; vêem os netos a serem condenados a um quotidiano de privações várias que muitas vezes inclui a fome e noutras vezes passa pelo recurso a esmolas que pouco ou mal disfarçam a humilhação que implicam; desesperam-se ao verificarem que as suas pensões assaltadas por taxas e impostos não bastam para salvar os netos das privações e os filhos das múltiplas desgraças que são lançadas sobre eles por quem quer, pode e manda. Os avós portugueses são, hoje, o elo mais impotente de uma sinistra cadeia de infelicidades contra a qual já pouco ou nada podem porque são avós, isto é velhos, e além do mais o desapreço pelos velhos é um dos mandamentos não escritos mas cumpridos nesta sociedade «pragmática» e desinibida, isto é, sem remorso nem vergonha. Os avós são, como regra geral, os que estão marcados para sofrer e menos municiados para a defesa do modesto minimundo que puderam construir com enormes custos pessoais ao longo de décadas. Por tudo isto, que está muito longe de ser tudo, bem se justificava uma generalizada celebração, séria e consciente, do Dia dos Avós, na televisão e fora dela. Melhor: bem se justificava multiplicar essa celebração pelos trezentos e sessenta e cinco dias do ano. Para que, enfim, à generalidade dos avós portugueses fosse prestada não apenas a carinhosa homenagem que merecem, mas também o socorro de que talvez a larga maioria deles, por motivos directos ou indirectos, necessite. Socorro que é urgente e inadiável. Porque os velhos não têm tempo. Para esperar.



Correia 
da Fonseca

quarta-feira, julho 29, 2015

domingo, julho 26, 2015

Ex-citações sobre Grexit não faltam... apesar do adiamento e da surdina

No Expresso desta semana, no suplemento Economia, que vale sempre a pena ler, encontra-se um texto deste professsor da Universidade Católica de Louvaina, que começa assim:





























(...)

e o artigo continua interessante, mostrando como chegam às "torres de marfim" os ecos da realidade, desde que se tenham janelas abertas (e olhos, e ouvidos), embora fique sempre um sentimento acre da "falta de qualquer coisa", de ausência de mais um passo que leve ao modo de produção (ou de não-produção mas de especulação), às relações sociais.
De qualquer modo, termina assim:

"(...) Portanto, preparemo-nos para o desfazer da zona euro."

Preparemo-nos?... onde é que já ouvi, ou li, isto?

sábado, julho 25, 2015

Não é cedo demais? Perdeu-se toda a vergonha?

Mas que é isto?
Marcou-se (e espera-se) a consulta ao povo, para que este escolha os seus representantes por circulos-distritos, e já estão - como sempre estiveram... mas, neste momento, explicitamente, sem qualquer vergonha ou pudor - a manobrar sobre "cenários" que invalidem essa consulta. Para que ela sirva, apenas, de "capa"!

sexta-feira, julho 24, 2015

Batoteiros indecentes

De raspão. E com indignação.
Esta batota que se está a montar é indecente. Inaceitável por ser o contrário da democracia!.
Daqui até 4 de Outubro vai ser o massacre da necessidade da maioria absoluta. Ou seja: ou PSD-CDS ou PS... o resto só atrapalha. Assim como quem decide que a 1ªLiga só pode ter como vencedores ou o Porto ou o Benfica... faça-se já uma final!  
A mensagem está aí, ma ssacrante, subliminar, ditadora: 
que se abstenham os portugueses que não escolherem entre a actual governante coligação de dois partidos e o partido que a antecedeu na governança e que, por sua vez, se substituiu a si próprio e, antes, substituira um dos partidos da actual coligação, e assim sucessivamente, sempre os três coligados na mesma política de que os trabalhadores e o povo têm sofrido as desastrosas consequências.

Temos de resistir a tal desvirtuação da democracia e lavagem* aos cérebros!
---------------------
* - aliás, de "lavagens" sabem eles





quinta-feira, julho 23, 2015

Minúsculo ensaio sobre hipocrisia

(a propósito da marcação
das legislativas para 4 de Outubro,
e do seu anúncio pelo cidadão Cavaco Silva,
no estatuto de Presidente da República)

Muito mal se dá esta gentalha com os outros, com os outros que não sejam os seus. Enquanto-seus-forem.
Mas os discursos, por eles proferidos sob o estatuto de representantes dos outros, legitimados pela escolha destes para os representar, deitam para fora das bocas, pelos etéreos meios, preocupações imensas relativamente aos outros... Como se preocupados com o seu futuro, com o seu nível de vida, com o seu bem-estar. Com o bem da Nação.
Esta gentalha, alguns deles em particular, deu-se muito bem com ditaduras, com fascismo e guerra colonial, disponível e subserviente para polícias políticas, apta e obediente para mobilizações guerreiras. Fazendo, claro, pelas próprias vidinhas…
Fazendo pelas vidinhas, foram-se adaptando às situações mutantes, disponíveis e aptos para, ao serviço do poder económico-financeiro, protagonizarem ditaduras de executivos com ligeira camada de cobertura de verniz democrático.

E se lhes causam engulhos as regras democráticas que lhes são impostas, e cujos consagrados nomes enfática e sacrilegamente invocam, não se cansam de as procurar contornar – ou controlar… como se diz das rotundas – e, se acaso lhes falta o engenho demagógico e manipulador, deturpam-nas, e se, ainda assim, os seus desígnios, ou os desígnios que lhes estão cometidos, não são alcançados, não hesitam: caminham, ou abrem caminhos, pisando as tais regras democráticas, ignoram-nas sob os seus pés e botifarras, e justificam-se com a necessidade da eficácia para a estabilidade e/ou para um apenas dito crescimento económico, para o bem-estar das populações, para melhorar o nível de vida dos povos. Para o bem da Nação. De que esmagam a soberania. 

Para o dia 4 de Outubro



QUE CADA UM SAIBA
O QUE ESTÁ EM CIMA DA MESA

quarta-feira, julho 22, 2015

Esta é muito curiosa... veio pôr-se...

Expresso:


Cavaco ao lado de Passos:
Adiar alívio da dívida grega
"não teve qualquer relação
com as eleições"

Juncker disse que Portugal, Espanha e Irlanda
travaram o debate por causa
da proximidade das eleições.
Passos já tinha desmentido
o presidente da Comissão Europeia
.

Cavaco ao lado de Passos: Adiar alívio da dívida grega

Cerca de duas horas depois de Pedro Passos Coelho
ter desmentido o presidente da Comissão Europeia
e negado que a proximidade das eleições legislativas
tenha estado na base do travão português à discussão
do alívio da dívida grega, o Presidente da República
veio por-se ao lado do primeiro-ministro. (...)
-----------------------------------------------------
!
"... veio pôr-se ao lado..."!!!
veio de onde?, onde é que estava?,
onde é que sempre esteve?

Por outro lado,
a notícia é muito interessante...
E, já agora, a propósito de pôr:
só falta dizer que branco é, galinha o põe
... e não é um ovo...


François Hollande a derrapar ou em duplo desespero?

Confesso alguma perturbação desde que soube da novidade. Saltou-me logo a tampa da caneta (é como quem diz...), mas travei. 
Li e ouvi melhor. À primeira impressão fiquei com a ideia que o homem derrapara. Embalado por um aparente protagonismo na "crise grega", todo impante por ser o parceiro do directório mai-la D. Ângela, o homem tinha embalado em "la grandeur française", derrapara e estampara-se.
No meio de toda a confusão "europeia", com a U.E. a 29, o Eurogrupo a 19 (ou 19 - 1 = a 18, como diria o outro), com os directórios (em refeições ocasionais) de emergência, com a imagem do funcionamento democrático absolutamente de pantanas, era lá possível! Ali também deveria haver mãozinha germânica.
Afinal...
Afinal, parece que não (parece...). O François pôs-se a pensar (ai! balha-me deus...), duplamente em desespero, ou desesperado ao quadrado. Com o futuro da "Europa" e com o papel da França na Europa e no mundo. Terá pensado (ai! balha-me deus...): "tenho de encontrar uma solução e tem de ser françoise!" .

E vai daí... um orçamento para o Eurogrupo que vier a sobrar deste terramoto, um parlamento para 6 Estados (ou menos), um governo monetário de 6 (ou menos), um Banco Central para 6 (ou menos), tudo sob o comando dos 6 (ou menos, ou dos dois, ou de um... o francês). 
O resto (a Europa, enfin!...) a cumprir, perifericamente, as directivas dos 6 (ou menos... porque a Itália...).

Quando eu andava na escola, a receber e a transmitir conhecimentos sobre uma matéria chamada integração económica falava-se muito dos 6 do Tratado de Roma, antes do 1º alargamento (1972) houve um plano Werner que até 1980 criaria - a 6! - a moeda única, mas ficou tudo no tinteiro, com esse primeiro e outros alargamentos e outros planos, tal o do sr. Tindemans (de 1975) que projectava o núcleo super-integrado (com os 6 e - talvez - o Reimo Unido) e a criação de uma periferia, e duas velocidades (ou mais). 
E por aí se tem avançado. Às apalpadelas. Com resistências, com lutas, com revezes: Com irresistível tomada de consciência. Apesar da intoxicação ideológica.

Agora por esta de se vir fazer batota com o conta-quilómetros para vender como a sair do stand o carro escavacado (não é piada...) é que não esperava. E não escrevo mais porque se faz tarde. 

terça-feira, julho 21, 2015

Hoje...

Obrigado,
GR7

segunda-feira, julho 20, 2015

Devem estar a brincar com a gente...

Rádio Renascença:


Adeus, incumprimento. Grécia pagou

2 mil milhões de euros ao FMI

Foto: Olivier Hoslet/EPA

"Toma lá empréstimo,
paga-me cá a dívida.
Ficas a dever-me
o empréstimo com que
me pagaste a dívida
que tinhas do anterior empréstimo!"

E assim se alimenta a máquina
Até que seja impagável
... que já é!

domingo, julho 19, 2015

Reflexões lentas

Insistimos (a 1ª pessoa do plural não tem nada de majestático mas muto de colectivo) na ideia de que temos de nos preparar para a saída do euro.
Disse-o já há alguns anos, e há mais anos ando a dizer, que o que nos (a todos... com não  poucas, algumas sabidas e não poucas excepções) tramou - e trama! - não é estarmos no euro mas é termos entrado para o euro!
Foi então que, caminho feito passo a passo (Tratado de Roma a 6, alargamentos e criação de uma periferia de/para o centro, Acto Único, mercado interno, Maastrich) com a União Económica e Monetária dotada do euro e BCE, se consolidou a destruição do nosso aparelho produtivo, a entrega (escolhosa) das alavancas da economia  aos privados, a absorção por um sistema bancário-especulativo.
Algumas condições técnicas foram preparadas. Ao serviço de interesses sedeados no norte-centro da U.E, sofremos duas valorizações da moeda - a do escudo para poder ser parte do euro, a do euro para fazer face ao dólar - depois, e sobretudo, foi feito alvo de tudo o que se parecesse ou lembrasse (vou dizer o nome para não esquecer): "conquistas da revoluçao").
Off-shores, BPN, .BES, EDP, CTT, CP, TAP, transportes urbanos, PPP, reformas, PEC, IRS, IVA, "troikas" são nomes e siglas que a "oposição aos PS, PSD e CDS" não inventou, mas que encheriam fascículos de um dicionário ou enciclopédia, e que vieram e que coexistem com o euro.

Estamos muito mal no euro. É uma opinião velha (por isso, não de velho...) e com argumentos fortes. Haverá quem assim não pense. Alguns terão argumentos... que têm vindo a perder consistência e, nalguns casos, seriedade.
Mas ganha força a opinião de que estamos mal no euro e o desejo fundamentado de sair do euro, e de toda a pafernália a ele ligada. O que não se complementa, automaticamente, com a decisão de vamos sair do euro... e pronto.
Até porque há por essa ademocrática e nada solidária U.E. (a 28), por esse fantasmagórico Eurogrupo (a 19... mas só por aritmética, de preferência de diminuir), há por aí quem acha que quem está mal no euro somos, nós, portugueses, e essa é gente que está em lugares e força para algo fazer para que saiamos como entrámos: em seu benefício e em nosso prejuízo (calado, resignado, consentido, amordaçado). 

(Há divórcios que são inevitáveis... mas que não fique um consorte com o bragal mais os bens e heranças que o outro - com azar, ou em azaradas hora - trouxe para o matrimónio, ficando só para si com as ruínas do património ante-nupcial que deixou destruir e as dívidas que contraíu.)

Trata-se "isto" de uma questão de vontades e de habilidades negociais? 
Claro que não. É uma questão de relação de forças. E de informação, e de esclarecimento, e de participação. Para que quem tem a força - que aão as massas - saiba que a tem, dela ganhe consciência e dela faça bom uso.
Há que preparar o que é inevitável... para que não seja um adiamento em proveito dos de antes (para não dizer dos de sempre). Afinal, vivemos ou não em democracia? Alguma há!    

sábado, julho 18, 2015

sexta-feira, julho 17, 2015

A União Europeia (e não só... ) na "invasão" da Europa

Todo o mundo acha que são precisas reformas
     (nas instituições mas não para os reformados!)
Ninguém se entende nas reformas a fazer
Há já alguns que dizem que "a Europa não é reformável..."
Mas há uns que dizem
     - e sempre disseram! -
     que a União Europeia,
     além de ter sido criada ao serviço do grande capitalº,
     é que não é reformável !

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Há os mandaretes prepotentes
     os humilhados e vencidos
     os ridículos e vexatórios
           (os que chamam sua a "ideia" que põem na lapela)
   
Há os que lutam sempre e sem prazo
     (sem se contarem pelos seus dedos)
dizia o Brecht que são os imprescindíveis

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Já "entrou" a Croácia mas observe-se, só,
as posições estratégicas - em relação à Turquia, ao Médio Oriente,
à Rúsisia - da Gréecia, de Chipre, da Ucrânia!

Irreformável, começam a dizer outros... sem se juntarem aos que sempre disseram!

 - Edição Nº2172  -  16-7-2015

Prisão de povos


Os acontecimentos dos últimos dias mostram à saciedade que a UE/Euro é incompatível com a democracia, a soberania e o bem-estar dos povos. É uma ditadura ao serviço do grande capital financeiro e uma autêntica prisão de povos. Como o PCP tem afirmado, esta UE não é reformável. Apenas sobre os seus escombros poderá haver futuro para os povos.



Os empréstimos ao abrigo dos programas das troikas são obra de agentes do grande capital financeiro (como o presidente do BCE, Draghi, homem da Goldman Sachs) para benefício do grande capital financeiro. A banca privada era credora de boa parte da dívida grega em 2010 e prosperava com os respectivos juros, mas decidiu pôr-se a salvo quando a crise estoirou. Tal como cá, o dinheiro das troikas nem entrou na Grécia: foi parar directamente aos credores – o capital financeiro parasitário – transferindo as dívidas para o BCE, o FMI e os bancos centrais nacionais. A «ajuda» foi para a banca. Para os povos ficaram as dívidas públicas, que explodiram nos anos das troikas. São impagáveis, mas servem de pretexto para levar os povos à miséria, aumentar a exploração e impôr relações de tipo colonial aos países endividados.



As tão badaladas «obrigações dos devedores» são à la carte. O principal jornal do grande capital inglês, o Financial Times, dedica um editorial (11.6.15) a outro país europeu que está na falência: a Ucrânia. Titula o FT: «Os credores da Ucrânia têm de partilhar a dor do país» e «têm de aceitar um haircut [perdão de dívida]». Informa que há um «pacote de apoios internacional [...] que admite a reestruturação da dívida e cortará os juros a pagar em 15,3 mil milhões de dólares nos próximos quatro anos» para que «sejam geríveis em relação à produção económica» do país. Acrescenta que há credores privados que «resistem a um perdão da dívida», mas sentencia: «terão de ceder. Têm uma obrigação moral em concordar com a reestruturação que permitirá reduzir a dívida para níveis sustentáveis». E defende «a utilização de mecanismos de indexação ao PIB», solução que considera «a melhor para todas as partes», até porque «a História mostra que, mesmo após um incumprimento [default], os investidores privados regressam rapidamente quando a economia recomeça a crescer». Remata o FT: «em matérias de tal importância geopolítica, não se pode permitir que os interesses financeiros privados ditem as políticas públicas». A adulta directora do FMI, Lagarde, já «assegurou à Ucrânia que os fundos [do FMI] continuarão disponíveis, mesmo que o país falhe nos pagamentos aos seus credores privados» (Deutsche Welle, 13.6.15). Esta duplicidade gritante de critérios é explicada pelo FT: a Ucrânia «tem o governo mais reformista desde a independência [...] que está a concretizar grandes cortes nos subsídios estatais». Se o combativo povo grego tem de ser castigado e humilhado pela sua ousadia de resistir, já os golpistas e fascistas ucranianos, que impõem políticas troikeiras do imperialismo pela violência, o terror e a guerra, merecem apoio e perdões de dívida. Medite-se ainda sobre uma terceira dívida, afastada destas considerações políticas. O FMI acaba de recusar qualquer perdão de dívida ao Nepal, país devastado em Abril deste ano por um enorme terramoto que matou 8600 pessoas e destruiu mais de 500 mil casas. A destruição não foi considerada suficiente (catholicireland.net, 30.6.15).


Os acontecimentos dos últimos dias são portadores de importantíssimos ensinamentos sobre a verdadeira natureza da dominação de classe, do imperialismo, da União Europeia e da social-democracia (nas suas várias expressões). A humilhação do governo grego mostra que se paga caro as ilusões de que é possível reformar esta UE.


Jorge Cadima

quinta-feira, julho 16, 2015

O Desbloqueador e a Sonda

Boa!
Obrigado, Gonçalo

quarta-feira, julho 15, 2015

Com vossa licença

Sem falsas modéstias, antes com o orgulho (legítimo?) de ter sido ligado à "cartilha antieuro do PCP", antes de haver euro... em 1997 (!):


,,, e porque o "post" anterior lembrou Gil Vicente, aí está ele:
Todo o Mundo e Ninguém
Um rico mercador, chamado "Todo o Mundo" e um homem pobre cujo nome é "Ninguém", encontram-se e põem-se a conversar sobre o que desejam neste mundo. Em torno desta conversa, dois demônios (Belzebu e Dinato) tecem comentários espirituosos, fazem trocadilhos, procurando evidenciar temas ligados à verdade, à cobiça, à vaidade, à virtude e à honra dos homens.
Representada pela primeira vez em 1532, como parte de uma peça maior, chamada Auto da Lusitânia (no século XVI, chama-se auto ao drama ou comédia teatral), a obra é de autoria do criador do teatro português, Gil Vicente
Entra Todo o Mundo, rico mercador, e faz que anda buscando alguma cousa que perdeu; e logo após, um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém e diz:



Ninguém:
Que andas tu aí buscando?
Todo o Mundo:
     Mil cousas ando a buscar:
delas não posso achar,
porém ando porfiando
por quão bom é porfiar. 
Ninguém:
Como hás nome, cavaleiro?
Todo o Mundo:
     Eu hei nome Todo o Mundo
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro
sempre nisto me fundo.
Ninguém:
Eu hei nome Ninguém,
e busco a consciência.
Belzebu:
Esta é boa experiência:
Dinato, escreve isto bem. 
Dinato:
Que escreverei, companheiro?
Belzebu:
Que ninguém busca consciência.
e todo o mundo dinheiro. 
Ninguém:
E agora que buscas lá?
Todo o Mundo:
     Busco honra muito grande.
Ninguém:
E eu virtude, que Deus mande
que tope com ela já.
Belzebu:
Outra adição nos acude:
escreve logo aí, a fundo,
que busca honra todo o mundo
e ninguém busca virtude.

Ninguém:
Buscas outro mor bem qu'esse?
Todo o Mundo:
     Busco mais quem me louvasse
tudo quanto eu fizesse.
Ninguém:
E eu quem me repreendesse
em cada cousa que errasse. 
Belzebu:
Escreve mais.
Dinato:
Que tens sabido?
Belzebu:
Que quer em extremo grado
todo o mundo ser louvado,
e ninguém ser repreendido.
Ninguém:
Buscas mais, amigo meu?
Todo o Mundo:
     Busco a vida a quem ma dê.
Ninguém:
A vida não sei que é,
a morte conheço eu.
Belzebu:
Escreve lá outra sorte.
Dinato:
Que sorte?
Belzebu:
Muito garrida:
Todo o mundo busca a vida
e ninguém conhece a morte. 

Todo o Mundo:
     E mais queria o paraíso,
sem mo ninguém estorvar.
Ninguém:
E eu ponho-me a pagar
quanto devo para isso. 
Belzebu:
Escreve com muito aviso.
Dinato:
Que escreverei?
Belzebu:
Escreve
que todo o mundo quer paraíso
e ninguém paga o que deve. 

Todo o Mundo:
     Folgo muito d'enganar,
e mentir nasceu comigo.
Ninguém:
Eu sempre verdade digo
sem nunca me desviar.
Belzebu:
Ora escreve lá, compadre,
não sejas tu preguiçoso.
Dinato:
Quê?
Belzebu:
Que todo o mundo é mentiroso,
E ninguém diz a verdade.

Ninguém:
Que mais buscas?
Todo o Mundo:
     Lisonjear.
Ninguém:
Eu sou todo desengano.
Belzebu:
Escreve, ande lá, mano.
Dinato:
Que me mandas assentar?
Belzebu:
Põe aí mui declarado,
não te fique no tinteiro:
Todo o mundo é lisonjeiro,
e ninguém desenganado.

 Do  Portal  da Família.org


Dão-me licença?

De vez em quando, há que vencer pudores e lembrar (a Todo o Mundo e (a) Ninguém, diria o sr. Gil Vicente):

1997

1998
Extractos dos arquivos da página do Parlamento Europeu 
na Internet:

“SESSÃO DE SÁBADO, 2 DE MAIO DE 1998
4. Moeda única
Declarações de voto
Ribeiro (GUE/NGL). – Senhora Presidente, os deputados do Partido Comunista Português, com a solenidade que a ocasião exigiria, mas que a euforia para impressionar a opinião pública não permite, declaram que:
- o seu voto é a expressão coerente de uma posição contra este projecto, o modo como foi conduzido e os interesses que serve. Não é um voto contra a estabilidade de preços, o equilíbrio orçamental, ou o controlo de dívidas, mecanismos e instrumentos. É, sim, um voto contra a sua utilização para impor estratégias que concentram riqueza, agravam desemprego, agudizam assimetrias e desigualdades, criam maior e nova pobreza e exclusão social, diminuem a soberania nacional e aumentam défices democráticos;
- é também um voto contra a formação do núcleo duro para a Comissão Executiva do BCE, privilegiando zonas geográfico-monetárias e partilhando influência entre grandes famílias partidárias, numa evidente polarização do poder na instituição que condicionará todas as políticas dos Estados-Membros;
- após este passo, continuarão a combater os já reais e os previsíveis malefícios do projecto que integram os mecanismos e instrumentos criados. Procurarão, do mesmo modo, contribuir para que sejam potenciadas as suas virtualidades;
-lamentam, por último, que o Parlamento tenha perdido a oportunidade para se credibilizar como instituição democrática, por ter cedido à pompa e circunstância de um ritual de homologação ou de confirmação do que lhe foi apresentado.”

(...) 

Marinho, Torres Couto, Apolinário, Barros Moura, Campos, Candal, Correia, Torres Marques, Lage, Moniz (PSE), por escrito. – O euro entrará em vigor em 1 de Janeiro de 1999. É uma certeza que desmente categoricamente os vaticínios negativos que muitos faziam.
Portugal, contrariamente às previsões daqueles que não apostavam um cêntimo nas suas possibilidades, venceu, brilhantemente, todos os exames e está na primeira fila dos países fundadores, participando com orgulho neste momento, verdadeiramente crucial da história da Europa, que assim dá sinais de não querer envelhecer e declinar. Ao contrário também daqueles que arrogantemente garantiam a pés juntos que para atingir o euro seria necessário sacrificar os interesses imediatos dos cidadãos e, ao mesmo tempo, previam uma crise da produção nacional. Portugal desmentiu, nesta recta final do euro, todas as teorias académicas e ideias adquiridas: o crescimento económico do país acelerou, o nível de vida dos portugueses melhorou e a capacidade de exportar aumentou.
Tudo isto foi conseguido porque a grande maioria dos portugueses se sentem identificados com este grande projecto, porque trabalhadores e empresários souberam aproveitar a conjuntura favorável e porque, é justo dizê-lo, o Governo socialista soube combinar habilmente a expansão da procura interna com o investimento público e apostou na iniciativa privada, dinamizada pela baixa da taxa de juro. Tudo isto realizado num clima de tranquilidade social e de solidariedade de que a introdução do rendimento mínimo garantido foi o símbolo maior.
Não se pode dizer que não haverá problemas ou dificuldades. Todavia, tal como o país mostrou ser capaz de realizar as «performances» inesperadas que realizou, também será capaz de, com o mesmo espírito e dinamismo, aproveitar as oportunidades que tem à sua frente e aproximar-se mais depressa dos níveis médios de riqueza e das exigências de competitividade dos nossos parceiros do euro, com os quais encetamos esta caminhada inédita na história contemporânea. Caminho esse que não dispensa, antes exige, uma intensificação da dimensão política e social da integração europeia. A Europa política tem agora a palavra, o funcionamento democrático da União Europeia e o envolvimento dos cidadãos têm a prioridade.
Nós, que desde sempre nos batemos e sonhámos com este momento, temendo quantas vezes em silêncio que não nos pertencesse a alegria da chegada, sabemos reconhecer quem nos indicou o caminho e quem o tornou possível. Vivemos um acontecimento singular da história da Europa, um princípio e não um fim, e estamos conscientes que nesta nova etapa do projecto europeu, esta instituição, será chamada a uma maior intervenção nos destinos da Europa.


Nada irá acontecer JÁ amanhã... mas tudo o que vai acontecer será depois de hoje





Expresso, 
11.07.2015

Somos a próxima Grécia

Não vai acontecer já amanhã, mesmo que a Grécia venha a sair do euro. Nem é responsabilidade específica do atual Governo ou dos anteriores, apesar dos erros próprios e da má fortuna. A verdade nua e crua é que o euro, da forma como está construído, leva inevitavelmente ou ao enorme endividamento dos países periféricos, colocando-os numa situação insustentável, ou só se pode permanecer nele pagando durante décadas com elevadas taxas de desemprego, reduções drásticas dos custos de trabalho e empobrecimento das famílias, venda de ativos, esmagamento do Estado social e forte emigração dos quadros qualificados. A Grécia pode ser salva in extremis, mas não tem salvação. Portugal só se manterá no euro se continuar mansamente a definhar económica, social e culturalmente, vendo degradar inexoravelmente os seus índices de bem-estar. E Espanha e Itália também sentirão enormes problemas para se manterem na Eurolândia.
E tudo isto porque as condições essenciais para a existência de uma moeda comum implicavam a livre circulação de trabalhadores e capitais, a flexibilidade de preços e salários, a coordenação dos ciclos económicos e um mecanismo federal que compensasse os choques assimétricos. Contudo, nunca o pensamento dominante na Europa admitiu alguma vez a existência de fundos que permitissem compensar os tais choques assimétricos. Pelo contrário, a Alemanha e os que alinham com Angela Merkel e Wolfgang Schäuble sempre entenderam isso como uma forma de premiar os Estados gastadores do sul, sendo a alternativa aplicar-lhes programas punitivos de austeridade. Esta visão não é compatível com uma zona económica integrada, onde há diferentes estruturas produtivas e onde os choques externos têm consequências completamente diferentes que ou são compensadas por via de transferências ou agravam cada vez mais as desigualdades no interior da União.
Este euro só pode produzir, para os países do sul, ou a expulsão da moeda única ou um lento mas inexorável definhamento
Acresce que o pensamento neoliberal que domina a Europa é extremamente generoso para os movimentos de capitais. Daí que tenha sistematicamente fechado os olhos à existência de paraísos fiscais no interior da zona euro, permitindo a Estados-membros fazerem concorrência desleal por via fiscal. O resultado disto vê-se, por exemplo, no facto de a quase totalidade das empresas do PSI-20, as maiores de Portugal, terem a sua sede noutros países, onde pagam os impostos resultantes de lucros que obtiveram no nosso país — o que fragiliza ainda mais, agora do ponto de vista fiscal, os países periféricos.
Estas falhas, involuntárias ou intencionais, na construção do euro, têm outras consequências. Um país com menos receitas tem de reduzir os apoios sociais e as verbas para a investigação e desenvolvimento. Para ser competitivo tem de baixar os custos salariais, através do aumento do desemprego e do enfraquecimento da contratação coletiva. Salários mais baixos significam que os melhores quadros, cientistas e investigadores emigram para onde tenham melhores condições. E tem de vender as suas melhores empresas porque o capital interno escasseia. Este euro, sem novos mecanismos, só pode produzir, para os países do sul, ou a inevitável expulsão da moeda única ou um lento mas inexorável definhamento.

Vemos e lemos,
gostamos e aprendemos,
e ficamos a perguntar-nos:
... mas porque é que ficam 
a meio do caminho,
em cima do muro?