Expresso,
11.07.2015
Somos a
próxima Grécia
Não vai acontecer já
amanhã, mesmo que a Grécia venha a sair do euro. Nem é responsabilidade
específica do atual Governo ou dos anteriores, apesar dos erros próprios e da
má fortuna. A verdade nua e crua é que o euro, da forma como está construído,
leva inevitavelmente ou ao enorme endividamento dos países periféricos,
colocando-os numa situação insustentável, ou só se pode permanecer nele pagando
durante décadas com elevadas taxas de desemprego, reduções drásticas dos custos
de trabalho e empobrecimento das famílias, venda de ativos, esmagamento do
Estado social e forte emigração dos quadros qualificados. A Grécia pode ser
salva in extremis, mas não tem salvação. Portugal só
se manterá no euro se continuar mansamente a definhar económica, social e
culturalmente, vendo degradar inexoravelmente os seus índices de bem-estar. E
Espanha e Itália também sentirão enormes problemas para se manterem na
Eurolândia.
E tudo isto porque as
condições essenciais para a existência de uma moeda comum implicavam a livre
circulação de trabalhadores e capitais, a flexibilidade de preços e salários, a
coordenação dos ciclos económicos e um mecanismo federal que compensasse os
choques assimétricos. Contudo, nunca o pensamento dominante na Europa admitiu
alguma vez a existência de fundos que permitissem compensar os tais choques
assimétricos. Pelo contrário, a Alemanha e os que alinham com Angela Merkel e
Wolfgang Schäuble sempre entenderam isso como uma forma de premiar os Estados
gastadores do sul, sendo a alternativa aplicar-lhes programas punitivos de
austeridade. Esta visão não é compatível com uma zona económica integrada, onde
há diferentes estruturas produtivas e onde os choques externos têm
consequências completamente diferentes que ou são compensadas por via de
transferências ou agravam cada vez mais as desigualdades no interior da União.
Este euro só pode
produzir, para os países do sul, ou a expulsão da moeda única ou um lento mas
inexorável definhamento
Acresce que o pensamento
neoliberal que domina a Europa é extremamente generoso para os movimentos de
capitais. Daí que tenha sistematicamente fechado os olhos à existência de
paraísos fiscais no interior da zona euro, permitindo a Estados-membros fazerem
concorrência desleal por via fiscal. O resultado disto vê-se, por exemplo, no
facto de a quase totalidade das empresas do PSI-20, as maiores de Portugal,
terem a sua sede noutros países, onde pagam os impostos resultantes de lucros
que obtiveram no nosso país — o que fragiliza ainda mais, agora do ponto de
vista fiscal, os países periféricos.
Estas
falhas, involuntárias ou intencionais, na construção do euro, têm outras
consequências. Um país com menos receitas tem de reduzir os apoios sociais e as
verbas para a investigação e desenvolvimento. Para ser competitivo tem de baixar
os custos salariais, através do aumento do desemprego e do enfraquecimento da
contratação coletiva. Salários mais baixos significam que os melhores quadros,
cientistas e investigadores emigram para onde tenham melhores condições. E tem
de vender as suas melhores empresas porque o capital interno escasseia. Este
euro, sem novos mecanismos, só pode produzir, para os países do sul, ou a
inevitável expulsão da moeda única ou um lento mas inexorável definhamento.
Vemos e lemos,
gostamos e aprendemos,
e ficamos a perguntar-nos:
... mas porque é que ficam
a meio do caminho,
em cima do muro?
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