domingo, junho 30, 2013

Para este domingo!

Para os 80 anos do grande camarada 
e amigo Álvaro Cunhal, 
de Fernando Lopes  Graça


por Fausto Neves

parte do programa do concerto de logo à tarde, 
às 17 horas, na "Casa da Banda", 
R. 25 de Abril, 14
em OURÉM

sábado, junho 29, 2013

Veja-se só a cara de/o energúmeno

Segundo Vítor Gaspar os novos limites de compensação por cessação do contrato de trabalho deverão entrar em vigor "no início de outubro" Manuel de Almeida/Lusa 


Segundo Vítor Gaspar, os novos limites de compensação por cessação do contrato de trabalho deverão entrar em vigor "no início de outubro"

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/parlamento-aprova-corte-nas-indemnizacoes-por-despedimento=f816902#ixzz2XYyXweIC

sexta-feira, junho 28, 2013

Atenção ao Brasil!

Depois de dois dias em que andei por outras paragens da minha vida, que são das mais fundas que ela tem - e num desses dias, ontem, com uma Greve Geral! -, depois desses dois dias em que a morte de Herberto Goulart quase apagou tudo o resto, procuro vir à tona. Tem de ser! Até porque hoje encerra o ano lectivo da Universidade Sénior e realiza-se uma Assembleia Municipal, porque há que fazer coisas relacionadas como o concerto "musica com paredes de vidro" de domingo.
Com essa intenção de "vir à tona", passo os olhos pelos jornais, e retenho-me na situação do Brasil, com particular atenção para o importante artigo de Pedro Guerreiro no avante!, que me traz à memória o livro que escrevi, há 40 anos, com as crónicas que enviei para o Diário de Lisboa a partir da minha participação numa delegação comercial - crónicas e notas que foram, naturalmente..., cortadas pela censura, como o livro apreendido,



- Edição Nº2065  -  26-6-2013


O que está em jogo?

As manifestações populares no Brasil expuseram de forma vigorosa a luta de classes, as contradições e a complexidade da situação neste grande país.
As manifestações contra o aumento do preço dos transportes e exigindo transportes públicos de qualidade, tendo sido iniciadas em São Paulo e após violentamente reprimidas pela Polícia Militar, rapidamente se alastraram a todo o país, incorporando outras reivindicações sociais.
Recorde-se que o Brasil iniciou uma viragem política com a eleição do presidente Lula, em 2002, que melhorando as condições de vida de milhões de brasileiros e afirmando a soberania nacional – dando um contributo valioso para o avanço da emancipação da América Latina da alçada dos EUA e para a importante criação e dinâmica dos BRICS –, não encetou as profundas transformações sociais, económicas e políticas que atacariam a raiz das brutais desigualdades sociais existentes neste país.
Integrando-se nos processos progressistas e de desenvolvimento soberano que têm lugar na América Latina, o Brasil não vive um processo revolucionário. As forças de esquerda que elegeram Lula e Dilma, abrindo caminho a uma viragem, estão no governo mas não detêm o poder.
Aqueles que detêm o poder económico e que são responsáveis pelos grandes problemas que o Brasil e o seu povo enfrentam, procuram – desde o primeiro momento e controlando os grandes meios de comunicação –, determinar o rumo das manifestações populares, pretendendo virá-las contra as forças políticas progressistas, provocar uma crise política e, se possível, criar as condições para reverter os avanços sociais alcançados – num cenário similar a outras operações de ingerência dos EUA contra países da região.
As forças democráticas e progressistas brasileiras colocam-se perante o desafio e a necessidade de, contrariando a tentativa de instrumentalização das manifestações por parte das forças reacionárias, aproveitar esta oportunidade para impulsionar novas e mais amplas medidas e transformações de sentido progressista.
Para tal, será fundamental ampliar, desenvolver e integrar novas camadas na luta organizada dos trabalhadores e das populações, assegurar a melhoria das condições de vida do povo brasileiro – em áreas como a saúde, a educação, a habitação ou a segurança social –, dar solução aos complexos problemas das grandes cidades e resposta às aspirações da juventude.
Os recentes acontecimentos demonstram que a continuidade dos avanços alcançados nas condições de vida da generalidade do povo brasileiro coloca como questão central o aprofundamento do processo que está na sua origem e que foi iniciado há cerca de dez anos.
Um caminho que passa pelo retomar da iniciativa, pelo recrudescimento da luta e participação das massas e, consequente, reforço e unidade das forças políticas e sociais que se propõem protagonizar e levar a cabo o programa de profundas transformações democráticas e progressistas, pelo qual o povo brasileiro desde há muito anseia.
A resposta às aspirações da maioria esmagadora do povo brasileiro, o avanço na concretização dos seus direitos, passa pela conquista de uma justa redistribuição da riqueza e pelo controlo dos meios e instrumentos económicos que a assegurarão, o que significará afrontar o domínio dos grandes grupos financeiros e económicos, que controlam grande parte da economia brasileira.
Isto é, os avanços sociais – os alcançados e os a alcançar –, só poderão ser consolidados pela realização de significativas transformações económicas e políticas e pela construção de uma correlação de forças que as permita concretizar.


Pedro Guerreiro

terça-feira, junho 25, 2013

Morreu Herberto Goulart



o Colega
o Amigo
o Camarada
o Homem Bom
para mim... um Irmão!

"Isto" faria rir...

... não fossem as gargalhadas fascistas da madama Le Pen!

Vamos, então, falar de Greve Geral

transcrito de ocastendo:

Greve Geral

Vamos falar de greve geral

Uma greve geral nunca é total

Imagina que todos fariam greve

Diz-nos O impossível para que serve

Sim Cumpre o possível É o teu dever

Não te desculpes para nada fazer

Hoje vamos falar de greve geral

Em qualquer local Aqui Em Portugal

Há quem não alinhe em greves gerais

Nem sequer adira a greves parciais

Há quem esteja contra as paralisações

Quando não são decretadas por patrões

Hoje vamos falar de greve geral

Esquece a tua greve imaginária

O capital marca greves todo o ano

Muito mais de 1 milhão não tem trabalho

Marca a nossa Fá-la tua Colabora

És uma peça do xadrez da vitória

Hoje vamos falar de greve geral

Mas de quem produz Da massa laboral

Não achas que é tempo de baixar os braços

Para levantar os salários baixos

Se não achas Fica a exigir a lua

Enquanto na terra a luta continua

Hoje vamos falar de greve geral

Não és só trabalhador a trabalhar

Não resolves o teu caso no cantinho

Nem com medo Nem com sorte Nem sozinho

Sim Decide com quem estás e com quem vais

Os teus problemas são todos nacionais

Hoje vamos falar de greve geral

Contra o poder de explorar e amedrontar

Camarada Colega Amigo Aliado

Pára Escuta Tens mais força parado

Hoje fabricarás faixas e bandeiras

Megafones Coletes e braçadeiras

Hoje vamos falar de greve geral

Em qualquer local Aqui Em Portugal

Os piquetes são a tropa perfilada

O abraço antigo A conversa actualizada

Se me perguntarem de que lado estou

Direi Do lado que a História me ensinou

Hoje vamos falar de greve geral

É dia da pátria obreira e fraternal

Estou contigo Estás comigo Companheiro

Traz outro amigo Camarada verdadeiro

Viva a máquina do mundo e do progresso

Faço greve Ganho o meu dia Protesto

Sim Greve geral Cada vez mais geral

Fazem a guerra Querem paz social

Fica à porta da empresa e do Estado

Hoje não entres no sítio errado

Não piques o ponto da resigNação

Dá um murro na mesa da enceNação

Sim Greve geral Cada vez mais geral

Em qualquer local Aqui Em Portugal

Viva a máquina do mundo e do progresso

Faço greve Ganho o meu dia Protesto


César Príncipe

In Notícias do Resgate, AJHLP, 2013



segunda-feira, junho 24, 2013

"Desinconomias" - 2

repete-se a pequena dedicatória
aos companheiros do curso
introdução à economia política,
da Universidade Popular do Porto,
e os que estiveram na última sessão saberão porquê.

Aliás, ou a propósito, passamos à página 6… permitindo-nos a recomendação (a quem tiver pachorra para acompanhar as nossas reflexões e comentários) de lerem primeiro a mensagem anterior.
Pois, aliás, logo na página seguinte à página 5, isto é, na página 6, está uma entrevista com Miguel Cadilhe em que há coisas interessantes.
 


Este é um sujeito que procura pensar como economista, dir-se-ia mesmo que pensa... O que de modo algum quer dizer que se concorde com o que escreve ou diz, mas que o que escreve ou diz ajuda a pensar (e não esquecemos o curto período em que, na AR, discutíamos o OE quando o governo era “Miguel Cavaco”/”Aníbal Cadilhe”, e sempre se conseguia discutir alguma coisa com o Cadilhe, sendo o Cavaco um verdadeiro muro, uma pedra com olhos…).
No caso desta entrevista, e a propósito da irracionalidade (e do crime por anti-social) que é a financeirização da economia, sublinha-se a referência ao caso dos submarinos em que, como ele diz, “o país deveria saber quem decidiu, porque decidiu” e lembra que foi “matéria até para um processo na Alemanha”; assim como se anota a afirmação de que “quando as instituições falham e não fazem parar desvarios a tempo, ficam afectadas nas suas atribuições nas suas atribuições e no exercício de vigilância das finanças públicas”… só faltando “pôr o guizo ao gato” que se chama BPN, e que Cadilhe conhece bem.
Ainda considero de fazer pensar, apesar das posições serem antagónicas ideologicamente, o que Cadilhe diz sobre o euro, a entrada e a saída. Vale a pena ler  as opiniões de quem diz ter estado contra a entrada, que a dívida deve ser negociada, que a saída "sózinhos e por nossa iniciativa" não é recomendável, e que, "no limite, o pais pode ser empurrado para fora da zona euro num processo descontrolado". Há ali (no conjunto) matéria para fazer pensar.
Por fim, porque não queremos estender-nos, uma última observação que ilustra a “subtileza” da informação que nos pretende manipular. 
Dá-se, em "caixa" destaque ao facto de, em 1974, o stock de ouro do BdP ser 866 de toneladas e estar, em 2011, em 382,5, ficando a subliminar interpretação de que foi o 25 de Abril que veio, também aí, dar cabo de equilíbrios existentes. Ora o que Cadilhe disse, em discurso directo, foi que “desde o 25 de Abril vendemos 56% do ouro”, mas acrescenta imediatamente que “uma parte aconteceu entre 2003 e 2006, à média de 52 toneladas por ano”, sem que ele conheça as razões de tal venda mas com a afirmação de que essa venda de mais de 200 toneladas “não serviu para financiar a reformado Estado”.
209 toneladas de ouro vendidos peloBanco de Portugal entre 2003 e 2006 (governos de Durão Barroso, Santana Lopes e Sócrates, e com Vitor Constâncio como governador) de que não se sabe o destino, isto é, 24% das que existiam em 1974 e 55% das que existiam em 2011!

"Desinconomias" - 1

com uma pequena dedicatória
aos companheiros do curso
introdução à economia política,
da Universidade Popular do Porto

Depois de algum (largo) tempo de admiração, quando não de espanto, pelos escritos de Nicolau Santos na página Cem por Cento do caderno Economia do Expresso, estamos a passar por uma fase de crescente irritação face à leitura do que ele escreve.
É verdade que essa admiração (ou espanto…) se explicou a si mesma com a sua confissão explícita de keyneseano (e "graças a deus!"…) e que a nascente irritação também por aí se explica.




Nesta última edição, NS faz perguntas muito pertinentes sobre a opção de, em situação de dramática queda de investimento, se irem enterrar (ou afogar…) 600 milhões de euros num terminal para contentores na Trafaria quando existe Sines com posição estratégica, condições e dinâmica que irão sofrer espúria e inexplicável concorrência com a concretização desse projecto (se de projecto passar).
O que nos irrita, neste caso, é que NS sabe as respostas, ou deveria saber..., e as ignora ou até escamoteia. 
É que esse, como qualquer outro investimento que se faça, nas actuais condições e correlação de forças sociais, é apenas um negócio, apenas mede o acréscimo que traz ao capital-dinheiro investido (seja ele fictício ou creditício: D - D'), indiferente à sua utilidade social, à sua racionalidade económica. O que é contraditório, irracional, criminoso. Como o sistema.


Aliás, ou a propósito, passando à página 6…

Além, claro, da...


Música com paredes de vidro, em Ourém, no domingo 30 de Junho

Esta nossa (pessoal... mas não só) semana será muito marcada por este acontecimento... marcante, que a culminará!

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“Música com Paredes de Vidro
= Concerto para o Centenário de Álvaro Cunhal =

Sede da AMBO, OURÉM
Rua 25 de Abril, 14
30 de Junho de 2013,
17,00 horas

Concepção do concerto, articulação de imagens, recriação livre de melodias rústicas portuguesas, canções do repertório revolucionário internacional e nacional e uma “Música Festiva”, de Fernando Lopes Graça, dedicada a Álvaro Cunhal, por:

 Carlos Canhoto
Fausto Neves
Manuel Pires da Rocha



PROGRAMA
I
FERNANDO LOPES-GRAÇA (1906-1994)
Melodias Rústicas Portuguesas 
para Piano a 4 Mãos op.211

1. Canto do S. João
2. Este ladrão novo…
3. Deus te salve, ó Rosa
4. S´nhora da Póvoa
5. Oração de S. José
6. Pastoril Transmontano
7. A virgem se confessou
8. Canção do berço
9. Ó da Malva, ó da Malvinha!
10. Martírios
11. Maragato Son
II
Três Canções Revolucionárias Internacionais
para Violino, Saxofone e Piano
III
FERNANDO LOPES-GRAÇA
Música Festiva op. 153 nº23
(“Nos 80 anos do grande camarada
e amigo Álvaro Cunhal”)
IV
Três Canções Revolucionárias Portuguesas
para Violino, Saxofone e Piano
Músicos:
Carlos Canhoto, saxofones soprano e contralto
Fausto Neves, piano
Joana Resende, piano
Manuel Pires da Rocha, violino

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Iniciativa da comissão concelhia do PCP,
sala cedida pela AMBO-Banda de Ourém, 
R. 25 de Abril, 14

domingo, junho 23, 2013

Reflexões lentas - entre o acerto e a desonestidade

Por aqui se tem referido e transcrito com (talvez) inusitada frequência a página 5 do caderno Economia do Expresso. Porque nela temos lido coisas que escreveríamos (ou subscreveríamos), mesmo sabendo que outras, que dessas docorreriam, ficam por dizer. Porque o seu responsável tem a sua  opção ideológica, com os limites que esta impõe. E por isso ali está...

Hoje, e com atraso de uma semana (um apontamento que se escondeu no fundo de uma algibeira...), aqui se volta com o que essas leituras semanais suscitam, e por razões que não são as habituais. É que Nicolau Santos, nesse número, com a escrita aliciante que usa, escreve sobre a desonestidade e o fracasso (a propósito da 7ª avaliação "troikulenta") e sobre os passos que Cavaco deu. fazendo o que Passos não fez (e mais coisas como um excelente apontamento com o título "o carteiro já não toca duas vezes" sobre o que está a passar nos CTT e suas consequências no viver das gentes).
Mas, voltando à desonestidade e ao falhanço, e subscrevendo a chamada "caixa" que diz 



continuaria com a reflexão criticamente negativa que, desta vez, nos provoca o escrito de Nicolau Santos, resultado inevitável das referidas fronteiras que a ideologia não o deixa pisar. Até diriamos que também NS oscila, não entre a desonestidade e o falhanço mas entre o acerto e a  desonestidade.
Isto porque, falando de (falemos então!) de honestidade (intelectual!) não se pode parar a meio do caminho do acervo, e acerto!, das críticas a uma(s) política(s) de um governo, e deixar de lado, como se não existissem
  • as estratégias de um sistema
  • as contradições de um sistema
  • as críticas (bem anteriores) que vêm de fora do sistema, que tem um nome: capitalismo.
e se ignorem
  • as posições críticas que se escoram numa outra opção ideológica
  • a natureza de classe das políticas que se criticam, pois, como as bruxas, que las hay, las hay
Ainda que se não se concorde com as outras opções ideológicas, como é coerente para quem tem uma (graças a deus...), é desonesto louvar o que faz Cavaco sem dizer o que não faz como seria de seu dever constitucional, como também tem "perfumes" hipócritas escrever coisas certíssimas sobre os malefícios do "carteiro não tocar duas vezes" desenquadrando-as de uma estratégia global de ataque aos direitos conquistados numa luta de classes em que, para a classe dominante, o que não der lucro não teria razão de existir e os tais direitos se metamorfoseiam em migalhas aparentemente caridosas que têm de ser distribuídas para evitar males maiores dados os limites da suportabilidade.

Para este domingo



Le diable (Ça va) (anos 50)

Jacques Brel

(tradução, a partir da mais recente versão,
com alguma "diabólica" liberdade...)

Um dia,
um dia, o diabo subiu à Terra,
um dia o diabo veio à Terra
para ver como iam os seus negócios.
Ele viu tudo, o diabo, ele ouviu tudo.
E depois de tudo ter visto,
e depois de tudo ter ouvido,
voltou a casa, lá nas profundezas.
E, lá em baixo, fez-se um grande banquete,
No fim do banquete, levantou-se o diabo,
e o diabo fez um discurso:


Isto vai!
Há sempre, um pouco por todo o lado,
fogos a iluminar a Terra.
Isto vai!

Os homens divertem-se como loucos
no perigoso jogo da guerra.
Isto vai!

Os comboios descarrilam com estrondo
porque há rapaziada cheia de ideais
metendo bombas nos carris.
E isso faz mortos originais
Isso faz funerais sem confissão,
confissões sem penitência
Isto vai!

Nada de vende mas tudo se compra!
Até a honra, até a santidade.
Isto vai!

 Os Estados fazem conluios às escondidas
Em anónimas sociedades
Isto vai!

Os grandes arrebanham dólares
retirados dos países das crianças.
A Europa representa o Avarento*
num cenário de mil e novecentos,
o que faz aumentar os mortos de fome
e provoca a inacção das nações
Isto vai!

Os homens, eles já viram tanto
que os seus olhos ficaram cinzentos e tristes
Isto vai!

E já não se ouve cantar
por todas as ruas de Paris
Isto vai!

Tratam-se os bravos como loucos
e os poetas como idiotas.
Mas nos jornais de todo-o-lado
todos os bandidos aparecem em grandes fotos.
Isso faz sofrer as gentes honestas
e rir as desonestas gentes

Isto vai, isto vai, isto vai, ça va!
_______________________
* - Molière na versão moderna da Austeridade

sexta-feira, junho 21, 2013

G8 e reservas mundiais de divisas e ouro

O que vimos escrevendo sobre a reunião desta semana do G8 tem sido, para nós, de uma grande importância e utilidade. 
Embora nos recusemos, sempre, a tomar os números, os indicadores, pela realidade, eles podem ajudar-nos a acompanhar o andamento desta. A reunião dos tais 8 que formam um grupo demasiado perigoso para que não seja tomado muito a sério, motivou-nos umas pequenas buscas e "arrumação" de dados que reflectem uma situação e - bem mais importante! - uma evolução.
Depois dos PIBs, fomos ver qual a situação das "reservas mundiais em divisas e ouro"  e há informações sobre que importa determo-nos.
Se os 8, os títeres "senhores do mundo", têm (ou teriam em 2011, e segundo o FMI) 51,1% do PIB mundial, apenas dispunham de 22,9% dessas "reservas", enquanto só a China dispunha de 27,9% (isto segundo dados da CIA)!
Confrontando, como fizemos para os PIBs, as "reservas" tal como arroladas pela CIA em 2011, elaborou-se um quadro que parece elucidativo... e significativo.
Com a impressionante contribuição da China, os BRIC (com os territórios anexos, mas contabilizados como países, de Taiwan e Hong Kong) dispõem de 43,6% das "reservas" mundiais, enquanto os 8 do G não passam dos referidos 22,9%, com os Estados unidos  ( com 21,7% do PIB segundo o FMI) a dispor de 1,3% das "reservas". Maior monstro com pés de barro não se pode encontrar!
Anote-se ainda que, para Dezembro de 2008. a CIA contabilizava, para a China, 2 biliões e, agora, para 2011, contabiliza um salto de 60%. Em três anos.

O mundo está, em muitos aspectos, de pernas para o ar, e reflecte o funcionamento globalizado do capitalismo no seu estertor. Tem, decerto, os dias, perdão, os séculos contados (como diz Avelãs Nunes):
E tudo isto é muito perigoso, com a Rússia a desempenhar um papel-charneira, até por estar nos dois grupos que se vêm referenciando.

OUTRA INFORMAÇÃO - "Armas de destruição em massa"?

- Edição Nº2064  -  20-6-2013


ADM 2.0
Há uma década, o imperialismo lançou uma enorme campanha de desinformação alegando que o Iraque de Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa (ADM). Cedo se confirmou que o pretexto não passava duma Aldrabice para a Destruição em Massa (ADM). Agora, uma nova versão da saga ADM está em marcha. O seu subtítulo é «as armas químicas de Bachar al-Assad».
Actor de proa da ADM 2.0 é o presidente «socialista» francês, François Hollande, que no início deste mês foi agraciado com o Prémio da Paz da UNESCO por (pasme-se!) «a sua contribuição considerável para a paz e a estabilidade em África». Ou seja, pela invasão militar do Mali. O presidente do júri de tão criativa atribuição é Mário Soares (www.unesco.org). Após reestabelecer a ordem colonial no Mali, Hollande parece determinado em reestabelecer a ordem colonial na Síria. O seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, declarou em entrevista que «a França já tem a certeza de que o gás sarin foi usado na Síria […]. Não há qualquer dúvida que [os responsáveis] são o regime e os seus cúmplices, porque fomos capazes de recriar toda a cadeia» do ataque (Libération, 4.6.13). E esclarece: «todas as opções estão em cima da mesa [...] incluindo uma reacção armada contra os locais de armazenamento do gás». A França não tem dúvidas. Mesmo depois de Carla del Ponte ter afirmado (Independent, 6.5.13) que se alguém usou gás sarin na Síria, foram os «rebeldes» armados pelo imperialismo. Mesmo depois de «jornais turcos terem relatado que 12 membros da Frente al-Nusra da Síria, com ligações à Al-Qaeda, que alegadamente planeavam um ataque na Turquia e que estavam na posse de 2kg de sarin, tinham sido presos» naquele país (Reuters, 30.5.13). Até o insuspeito New York Times escreveu (10.6.13) que «o presidente Obama terá, sem querer, fornecido um incentivo para exagerar» relatos de utilização de armas químicas ao afirmar que «a utilização de armas químicas pelo governo Sírio seria uma 'linha vermelha'» que provocaria uma escalada da intervenção dos EUA no conflito. Mas o Prémio Unesco da Paz parece ter convencido o Prémio Nobel da Paz que chegou a hora de fazer uma guerra a sério. Em comunicado da Casa Branca, e apesar do «governo Obama estar profundamente dividido» (NYT, 13.6.13), o vice-conselheiro de segurança nacional de Obama avalizou as acusações contra o governo sírio. A máquina de guerra aquece os motores. Do infalível senador McCain, ao ex-presidente Clinton e ao inglês Cameron, cresce o coro que pede uma escalada da intervenção na Síria. E cresce a presença militar dos EUA na região – na
Turquia, Israel e Jordânia.
As verdadeiras causas de tanta movimentação não são armas químicas. Nem são difíceis de encontrar, mesmo na imprensa de regime: «os rebeldes sírios estão a perder terreno na sua luta contra o governo de Bachar al-Assad» (CNN, 14.6.13) e «depois das tropas do Sr. Assad – auxiliadas por combatentes do grupo militante Hezbolá – terem conquistado a estratégica cidade de Qusayr […] Washington receia que grande parte da rebelião esteja à beira do colapso» (NYT, 13.6.13). A cruzada imperialista no Médio Oriente arrisca uma derrota de enormes consequências. Et voilá les armes chimiques! grita Fabius, «o Químico».
A farsa é grotesca, mas ameaça transformar a tragédia em catástrofe. Desde há muito que a Síria está a ser destruída por mercenários armados, pagos e apoiados pelos EUA, Inglaterra, França, Arábia Saudita, Qatar, Turquia, Jordânia (e outros). Em Maio, Israel bombardeou Damasco. A Rússia ripostou reforçando o seu apoio ao governo sírio. O Hezbolá ripostou entrando em acção no terreno. O Irão já declarou repetidamente que, caso seja necessário, entrará em acção em apoio do aliado sírio. Uma escalada da aventura militar imperialista no Médio Oriente arrisca-se a incendiar, não apenas a região, mas todo o planeta.


Jorge Cadima

G8 ou Gquantos?

Esta foi a semana da reunião do G8, do grupo dos cabecilnhas de 8 países que, desde 1975, se junta informalmente para conversar e decidir coisas, primeiro a 6, logo a 7  e a 8 depois de 1995, quando a Rússia entrou no redil. Dos 8 que se consideram os maiores do mundo.
Olhando para os PIBs, o indicador mais usado para medir a "riqueza das nações", assim já foi, mas, aos poucos, as coisas vão mudando. Como já aqui se assinalou.
Tomando esse indicador apenas como referência, pois não pode merecer mais, e aproveitando os números do FMI relativos a 2011, em 183 países, o PIB  mundial é de quase 70 biliões de dólares, dos quais mais de 35 biliões são desses 8 países (mais de 51%).
Só que, rapidamente (para a nossa pequena escala temporal), o mundo vai mudando, e os 8 já não o que eram e o que, a partir do começo dos anos 90 (há duas pequenas décadas) parecia estabilizado em rota de globalização estava em rota de efémero (e perigoso) (des)equilíbrio. Comprovando as contradições do capitalismo, o não apagamento da luta de classes... a dialéctica, enfim.
Nesses números de 2011, do FMI (porque há outros), para as 10 maiores economias mundiais, os 8 têm a companhia da China, em 2º lugar e a subir enquanto os tais 8 estagnam ou crescem para baixo - segundo esse e outros indicadores -, e do Brasil, que amarinha por aí acima, já passou o Reino Unido e aproxima-se da França, que ainda é a 5ª economia mundial (assim medida).
Mas não se fica por aí. Nalgumas outras estimativas, a Índia - a grande colónia! - "concorre" no ranking com o Canadá, estanto num 11º lugar que é mais um 10º "ex-aequo".
Daqui resulta que, a fazer alguma sombra aos 8, os países ditos emergentes (os BRIC) que não são do grupo já terão mais de 16,5% do PIB mundial, que sobe para 19% se se incluirem os 2,5% da Rússia que pertence às duas "associações". De qualquer modo, a primeira dúzia de países em 183 (os 8 mais os 3 emergentes, mais - vá lá... - a Espanha, eterna candidata a "grande") têm quase 70% da "economia mundial", o que representa uma polarização que, já tendo sido maior, ainda reflecte um desequilíbrio que, ponderado pelas populações, continua a impressionar e a obrigar a tentar corrigir a afunilada óptica euro-atlântico norte com que se observa o mundo. A Humanidade no seu devir! 
Uma nota, para que a actualidade não fuja quando se valoriza a dinâmica das coisas.
Neste encontro informal dos G8 - para a fotografia são 10, com o nosso (salvo seja...) Barroso  e mais aquela outra figura cromática a representarem uma dita União Europeia, na perspeciva do G8 vir a ser G5 (EUA, Canadá, Japão, Rússia e UE)... o que nunca se virá a verificar -, pois deste encontro informal parece pouco ter saído, dadas as insanáveis contradições intestinas e o facto da Rússia não estará disposta a ceder sobre a Síria, que seria um relevante ponto da ordem de trabalhos em mangas de camisa que queria "arrumar" o assunto.
Mas há mais coisas. Evidentemente!
                        

quinta-feira, junho 20, 2013

Novos mercados - empreendedorismo

5º feira - dia de ir (e ler!) avante










G8... ou quantos (e o quê) são eles?

Todos os anos se reúnem.
Desde 1975, e não foi por acaso! No meio de crise. Do petróleo, do sistema monetário internacional. Numa curva na História. Com uma União Soviética como espectro materializado (mas a titubear, por perversa aplicação de um princípio, o da coexistência pacífica) e um sistema de países socialistas.
Agora são 8 os convivas, mas começaram, então, por ser 6 – França, Estados Unidos, Reino Unido (estes dois sempre mais ou menos unidos…), Itália, Japão e República Federal da Alemanha (porque havia outra) e por iniciativa da França (ou de Giscard d’Estaing).
Passaram rapidamente a 7, logo no ano seguinte, por cooptação do Canadá.
Depois de 1995 é que chegaram ao número actual, com a inclusão de uma Rússia, recuperada para fazer parte do Grupo dos maiores do mundo capitalista, ou seja, do capitalismo globalizado.
Ainda o serão?
Que fazem eles? 
Juntam-se, em nome dos países que representam democraticamente avalizados pelo voto popular, por vezes – quase sempre – com enormes reservas quanto à legitimidade dessa exclusiva e tão frágil representatividade, e juntam-se para, informalmente, isto é, com poucos conselheiros – mas muitos seguranças –, e em mangas de camisa, discutirem o estado (e o futuro) do mundo, de que se julgam senhores e donos.
Ainda o serão? 
Por quanto tempo?
Há quase 20 anos, em 1995 (primeira vez que a Rússia os integrou), os 8 seriam, no ordenamento da "riqueza das nações" – medida por essa coisa dos PIBs –, os maiores, com a China lá metida pelo meio mas como corpo estranho.
Agora, em qualquer dos rankings (!) usados – do FMI, do Banco Mundial, da CIA –, além da China estar em 2º lugar, infiltraram-se o Brasil, a disputar (e a ultrapassar) o Reino Unido no 6º lugar, e a Índia, numa compita para o 10º lugar com o Canadá, e a Espanha, desde sempre com veleidades a ser dos 8 maiores.
O mundo alterou-se nas suas hierarquias assim "pibmente" (pifiamente?) ordenadas.
Mas eles reúnem-se todos os anos. Para ditarem ordens ao mundo, com um sub-agrupamento, a União Europeia, que junta 4 desses 8, configurando uma dupla representação mas que está pelas “ruas da amargura”, até porque um desses 4 (o Reino Unido) tem sempre um pé dentro outro fora do projecto que tanto engoda os outros três (Alemanha, França e Itália, sobretudo os dois primeiros), numa estranha federalização continental semelhando um monstro com duas cabeças de directório em que só um é que manda porque o outro só vai tendo “grandeur” cada vez mais basofa*. E com essa basofaria (ah! aquela língua e o seu peso cultural!) faz barulho, sobretudo quando um português oportunista que teria a tarefa de  tentar congregar os sub-congregados diz coisas que lhe ferem o orgulho (ver reacção, no contexto do G8 deste ano, a uma dessas declarações), assim se  distraindo as massas. Que distraídas não estão, e vão descobrindo, por vezes de ínvias maneiras, que o tal G8 é uma das formas informais, ou das informes formalizações..., do capitalismo a procurar sobreviver, à escala do tempo histórico.
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* - isto é, um quarteto de três forma(ta)do por dois em que só um é que toca e o outro trauteia.


quarta-feira, junho 19, 2013

Quem é quem? E quem é que se autoriza a perguntar quem é quem?

Andam por aí uns jovens (de "cartão de cidadão"...) que, francamente, me causam repulsa e preocupam. São os obsoletos liberalões que se maquilharam de liberalíssimos, e se enfarpelam de modernismo intelectualoide
Escrevem "expressamente" e peroram onde são sempre bem-vindos, porque isto de haver esquerda e direita tem de ser remetido para o passado, e há que lançar nuvens de fumo para tapar a evidente luta de classes.
Entre os que mais avultam nessa fauna há um tal Henrique Raposo, em que se tropeça em cada revista ou página de... cultura (talvez com k). Teve, agora, uma resposta que bem merece, ao perguntar, irónica e acintosamente, quem é Mário Nogueira.
Com muito gosto (e gozo) a reproduzo: 


A MODO E A DESTEMPO 
(Com um agradecimento 
ao senhor Henrique Raposo)

Não vou perguntar quem é Henrique Raposo, simplesmente porque não me interessa conhecer quem, à falta de argumentos políticos, se dedica a ataques pessoais. Mas quero esclarecer o senhor Raposo, em primeiro lugar a propósito da pergunta que faz: quem sou eu; depois, sobre uma questão que, para ser compreendida, obriga a perceber o que é a democracia... mas tentar não custa.

Admitindo que não lhe interesse saber onde nasci, a minha filiação, as minhas habilitações académicas, a minha ficha clínica ou o nome do meu gato, limitar-me-ei a esclarecê-lo sobre três coisas:

1) A minha presença na atividade sindical decorre de processos eleitorais legais e democráticos, sendo que o cargo de Secretário-geral da FENPROF é por mim exercido há apenas dois mandatos. Iniciei o terceiro há pouco mais de um mês, na sequência de um Congresso Nacional que elegeu a direção da FENPROF. Dos 650 delegados presentes, 500 foram eleitos nas escolas pelos professores sindicalizados, tendo sido inequívoca a votação que elegeu esta direção.

2) A lei sindical a que a FENPROF e os seus dirigentes se sujeitam não é exclusiva para nós. É a mesma que se aplica a outras organizações respeitáveis como, no caso da Educação, a FNE, ou, num âmbito mais geral, as confederações sindicais CGTP e UGT;

3) A avaliação a que me sujeitei não se me dirige em particular. É a mesma que se aplica a todos os que, não estando na escola por desempenharem cargos fora dela, têm, contudo, de ser avaliados. Chama-se "ponderação curricular" e aplica-se aos dirigentes sindicais, aos deputados, aos membros do governo, aos autarcas, presidentes de câmara ou vereadores a tempo inteiro, e a outros docentes que em âmbitos diversos, exercem atividade fora da escola.

Feita a explicação, perguntar-se-á: pensaria Henrique Raposo que o país tinha uma lei especial para a FENPROF e, em particular, o seu Secretário-geral? Não parecendo ser assim, cabe então perguntar: por que não escolheu outro dirigente sindical, de outra organização, por exemplo, ou um deputado (há muitos que são professores), ou um presidente de câmara, ou um membro do atual governo ou até um dos seus muitos assessores que são professores?

A pergunta é retórica, claro, porque a resposta é óbvia: não lhe interessava. Em primeiro lugar porque, provavelmente, para si, a democracia só tem um lado, o do poder; depois, porque mesmo no que, eventualmente, considerará o lado oculto da democracia, eram a FENPROF e o seu Secretário-geral que pretendia atingir. Saiba o senhor Raposo que, sendo o ataque feito de forma tão pouco inteligente que deixa a nu o propósito, o que procurava ser um insulto acaba por ser deferência. A precisão da escolha significa que a FENPROF está a chegar onde era pretendido, pelo que, desorientados, os que se sentem atingidos deixam de reagir politicamente para desferirem ataques pessoais. São ótimos esses sinais e dão-nos ainda mais força para continuarmos. Fica, por isso, o agradecimento.



Ler mais (quem quiser): http://expresso.sapo.pt/mario-nogueira-responde-a-henrique-raposo=f814731#ixzz2WfsDaWE3

Ora toma!
Tau!, tau!
E hoje não tens sobremesa, ó Raposo!  

OUTRA INFORMAÇÃO - para ajudar a melhor perceber

de vermelho:

19 de Junho de 2013 

As ruas fazem soar o alarme 

para o PT e o governo

Um fantasma ronda o mundo petista. O da perplexidade. 
Apesar das importantes conquistas dos últimos dez anos e das pesquisas eleitorais favoráveis, a onda de protestos abala o principal partido da esquerda brasileira e aproxima-se do governo federal. 
Com o prefeito de São Paulo na berlinda e multidões de jovens nas ruas, tudo o que era sólido parece se desmanchar no ar.

Por Breno Altman*, no Brasil 247


Muitos se perguntam o porquê de tanta ira depois de uma década na qual a pobreza diminuiu, a renda foi melhor distribuída e chegou-se praticamente ao pleno emprego. É verdade que as manifestações estão gravitando, por ora, ao redor de uma agenda local. A revolta juvenil exige principalmente menores tarifas de transporte e direito de manifestação, contrapondo-se à violência das polícias estaduais. Somente um autista político, no entanto, deixaria de perceber que uma nova situação se instaurou no país.

Alguns petistas, estarrecidos, não hesitaram em vislumbrar, balançando o berço dos protestos, a mão peluda da direita, arrastando junto os infantes da ultraesquerda. Mas a narrativa conspiratória não resistiu aos fatos. Os centros de poder do conservadorismo – especialmente os veículos tradicionais de comunicação e o governo paulista – desencadearam reação feroz contra a mobilização, que desaguou na repressão implacável da última quinta-feira.

A truculência policial serviu de condimento para a escalada de protestos e sua nacionalização. A defesa de um direito democrático fundamental, diante da qual vacilaram, nos primeiros momentos, tanto o ministro da Justiça quanto o prefeito paulistano, foi assumida com energia e radicalidade pela juventude das grandes metrópoles. Partidos e governos da direita foram os responsáveis pela escalada repressiva, mas tiveram a seu favor a tibieza de setores da esquerda surpreendidos com fenômenos alheios a suas planilhas.

Parte do estado-maior reacionário refez suas contas, emparelhando discurso para disputar a rebelião e voltá-la contra o governo federal, provisoriamente arquivando a opção da violência. Até o momento, colheram um rotundo fracasso. Não apenas as manifestações e lideranças resistiram a abraçar suas bandeiras como foram frequentes cartazes e palavras de ordem contra o governador Alckmin e a própria imprensa, especialmente a Rede Globo.

Mesmo os alvos escolhidos pelos segmentos mais radicalizados – o Palácio dos Bandeirantes em São Paulo, a Assembléia Legislativa no Rio, o Congresso Nacional em Brasília – demonstram que os jovens não estão nas ruas a serviço da restauração antipetista. Tampouco parecem se sentir representados e incluídos, porém, no processo impulsionado a partir da vitória de Lula em 2002.

A imensa maioria dos manifestantes tinha abaixo de 25 anos, formada por filhos das camadas médias e também dos bairros periféricos. A julgar por suas palavras de ordem, cartazes e bandeiras, não estão contra as reformas empreendidas desde 2003. Mas querem mais, melhor e rápido.

Ninguém levantou a voz para criticar o bolsa-família, o crédito consignado ou o Prouni. Nenhuma faixa foi erguida para defender privatizações e outras políticas favoráveis aos interesses de mercado. Poucos eram os manifestantes que carregavam cartolinas contra o “mensalão” e a corrupção. A luta é pela ampliação de direitos políticos e sociais, demanda encarnada pela exigência de barateamento do transporte público.

Mas cansaram de esperar que estes avanços sejam patrocinados por governos e partidos, mesmo os de esquerda. Não parecem satisfeitos com a timidez e a lentidão para realizar novas reformas, mais audazes, que acelerem a melhoria de suas condições de vida. E resolveram, como ocorre em determinados momentos históricos, tomar a construção do futuro em suas próprias mãos.

A rejeição à presença de bandeiras partidárias pode ser analisada pela ótica corriqueira, como rechaço a instrumentos de organização coletiva ou despolitização. Mas também caberia ser compreendida, ao lado de outros ingredientes, como simbolismo de quem, avesso às correntes conservadoras ou ao aparelhismo de pequenos grupos, não se sente cativado ou vocalizado no projeto liderado pelo PT.

Provavelmente não se trata apenas de uma questão econômico-social, mas igualmente política. Uma parte da sociedade, mesmo com inclinação progressista, dá sinais de fadiga com a estratégia de mudanças sem rupturas. Há crescente mal-estar com uma equação de governabilidade que preserva as velhas instituições, depende de alianças com fatias da própria oligarquia para formar maioria parlamentar, abdica da disputa de valores e renuncia à mobilização social como método de pressão.

Antes esse cansaço se restringia a pequenos círculos de militantes mais enfezados. Afinal, muito pode ser feito mesmo sem reformas estruturais, a partir da reorientação do orçamento nacional, integrando dezenas de milhões à cidadania e ampliando conquistas sociais. O fato é que esse cenário pode ter atingido seu teto. E as ruas começam a gritar.

O movimento não é contra o PT, mas coloca a estratégia do partido e do governo em xeque. Há uma exigência de protagonismo popular e juvenil, explicitada nos últimos dias. A direção partidária e o Palácio do Planalto estão dispostos a considerar essa mobilização um fator de poder e refazer suas conexões com estes movimentos, impulsionando sua ascensão para construir forças rumo a uma nova geração de reformas?

Esta e outras perguntas estão embutidas no alarme que a revolta do vinagre fez soar. Diante do clamor, o petismo pode retificar sua estratégia e repactuar com a rebelião das ruas para aprofundar e acelerar reformas de base. Ou pagar o preço próprio das situações onde a esquerda e as ruas se divorciam.


* Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel