de vermelho:
19 de Junho de 2013
As ruas fazem soar o alarme
para o PT e o governo
Um fantasma ronda o mundo petista. O da perplexidade. 
Apesar das importantes 
conquistas dos últimos dez anos e das pesquisas eleitorais favoráveis, a onda de 
protestos abala o principal partido da esquerda brasileira e aproxima-se do 
governo federal. 
Com o prefeito de São Paulo na berlinda e multidões de jovens 
nas ruas, tudo o que era sólido parece se desmanchar no ar.
Por Breno 
Altman*, no Brasil 247
Muitos se perguntam o 
porquê de tanta ira depois de uma década na qual a pobreza diminuiu, a renda foi 
melhor distribuída e chegou-se praticamente ao pleno emprego. É verdade que as 
manifestações estão gravitando, por ora, ao redor de uma agenda local. A revolta 
juvenil exige principalmente menores tarifas de transporte e direito de 
manifestação, contrapondo-se à violência das polícias estaduais. Somente um 
autista político, no entanto, deixaria de perceber que uma nova situação se 
instaurou no país.
Alguns petistas, estarrecidos, não hesitaram em 
vislumbrar, balançando o berço dos protestos, a mão peluda da direita, 
arrastando junto os infantes da ultraesquerda. Mas a narrativa conspiratória não 
resistiu aos fatos. Os centros de poder do conservadorismo – especialmente os 
veículos tradicionais de comunicação e o governo paulista – desencadearam reação 
feroz contra a mobilização, que desaguou na repressão implacável da última 
quinta-feira.
A truculência policial serviu de condimento para a escalada 
de protestos e sua nacionalização. A defesa de um direito democrático 
fundamental, diante da qual vacilaram, nos primeiros momentos, tanto o ministro 
da Justiça quanto o prefeito paulistano, foi assumida com energia e radicalidade 
pela juventude das grandes metrópoles. Partidos e governos da direita foram os 
responsáveis pela escalada repressiva, mas tiveram a seu favor a tibieza de 
setores da esquerda surpreendidos com fenômenos alheios a suas 
planilhas.
Parte do estado-maior reacionário refez suas contas, 
emparelhando discurso para disputar a rebelião e voltá-la contra o governo 
federal, provisoriamente arquivando a opção da violência. Até o momento, 
colheram um rotundo fracasso. Não apenas as manifestações e lideranças 
resistiram a abraçar suas bandeiras como foram frequentes cartazes e palavras de 
ordem contra o governador Alckmin e a própria imprensa, especialmente a Rede 
Globo.
Mesmo os alvos escolhidos pelos segmentos mais radicalizados – o 
Palácio dos Bandeirantes em São Paulo, a Assembléia Legislativa no Rio, o 
Congresso Nacional em Brasília – demonstram que os jovens não estão nas ruas a 
serviço da restauração antipetista. Tampouco parecem se sentir representados e 
incluídos, porém, no processo impulsionado a partir da vitória de Lula em 
2002.
A imensa maioria dos manifestantes tinha abaixo de 25 anos, formada 
por filhos das camadas médias e também dos bairros periféricos. A julgar por 
suas palavras de ordem, cartazes e bandeiras, não estão contra as reformas 
empreendidas desde 2003. Mas querem mais, melhor e rápido.
Ninguém 
levantou a voz para criticar o bolsa-família, o crédito consignado ou o Prouni. 
Nenhuma faixa foi erguida para defender privatizações e outras políticas 
favoráveis aos interesses de mercado. Poucos eram os manifestantes que 
carregavam cartolinas contra o “mensalão” e a corrupção. A luta é pela ampliação 
de direitos políticos e sociais, demanda encarnada pela exigência de 
barateamento do transporte público.
Mas cansaram de esperar que estes 
avanços sejam patrocinados por governos e partidos, mesmo os de esquerda. Não 
parecem satisfeitos com a timidez e a lentidão para realizar novas reformas, 
mais audazes, que acelerem a melhoria de suas condições de vida. E resolveram, 
como ocorre em determinados momentos históricos, tomar a construção do futuro em 
suas próprias mãos.
A rejeição à presença de bandeiras partidárias pode 
ser analisada pela ótica corriqueira, como rechaço a instrumentos de organização 
coletiva ou despolitização. Mas também caberia ser compreendida, ao lado de 
outros ingredientes, como simbolismo de quem, avesso às correntes conservadoras 
ou ao aparelhismo de pequenos grupos, não se sente cativado ou vocalizado no 
projeto liderado pelo PT.
Provavelmente não se trata apenas de uma 
questão econômico-social, mas igualmente política. Uma parte da sociedade, mesmo 
com inclinação progressista, dá sinais de fadiga com a estratégia de mudanças 
sem rupturas. Há crescente mal-estar com uma equação de governabilidade que 
preserva as velhas instituições, depende de alianças com fatias da própria 
oligarquia para formar maioria parlamentar, abdica da disputa de valores e 
renuncia à mobilização social como método de pressão.
Antes esse cansaço 
se restringia a pequenos círculos de militantes mais enfezados. Afinal, muito 
pode ser feito mesmo sem reformas estruturais, a partir da reorientação do 
orçamento nacional, integrando dezenas de milhões à cidadania e ampliando 
conquistas sociais. O fato é que esse cenário pode ter atingido seu teto. E as 
ruas começam a gritar.
O movimento não é contra o PT, mas coloca a 
estratégia do partido e do governo em xeque. Há uma exigência de protagonismo 
popular e juvenil, explicitada nos últimos dias. A direção partidária e o 
Palácio do Planalto estão dispostos a considerar essa mobilização um fator de 
poder e refazer suas conexões com estes movimentos, impulsionando sua ascensão 
para construir forças rumo a uma nova geração de reformas?
Esta e outras 
perguntas estão embutidas no alarme que a revolta do vinagre fez soar. Diante do 
clamor, o petismo pode retificar sua estratégia e repactuar com a rebelião das 
ruas para aprofundar e acelerar reformas de base. Ou pagar o preço próprio das 
situações onde a esquerda e as ruas se divorciam.
 
 
2 comentários:
Para mim ainda é um pouco confuso.
Um beijo.
Ê uma contribuicao para entendermos um pouco melhor o que se passa np Brasil.O que motivou o descontentamanto,nao foi propriamente o aumento dos transportes,mas a falta de condicoes dos mesmos.A brutalidade da polîcia foi equiparada ä repressao policial no tempo da ditadura.Nao se campreende,nem se aceita.
Um beijo
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