sexta-feira, outubro 31, 2008

Sabia desta votação?

Pela 17ª vez consecutiva, as Nações Unidas votaram, de forma esmagadora, uma resolução que condena o bloqueio a Cuba.
Dos 192 Estados-membros da Assembleia-Geral, 185 votaram a favor da resolução que exorta ao fim do bloqueio económico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América a Cuba. A resolução contou apenas com 3 votos contra – EUA, Israel e Palau – e com a abstenção da Micronésia e das Ilhas Marshall.
Sem comentários!

Antologia

Da intervenção de Catarina Pires no lançamento do livro "Encontro do PCP sobre os direitos das mulheres", retiro, com prazer e proveito, o (grand) final:
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«... Temos, portanto, que mudar o mundo primeiro. Esta ideia não me desgosta, já que o mundo, tal como está, não está bem. Mas enquanto ele não muda e o homem novo - e já agora a mulher nova - não chegam, é preciso mudar as mentalidades. Bem sei, porque li e ouvi, Rui Fernandes, do Secretariado e da Comissão Política do PCP, afirmar que remeter tudo para aqui é outra das linhas de ofensiva ideológica contra os direitos das mulheres. Será. Mas como o próprio reconhece é necessário alterar as mentalidades.
Passo-lhe a palavra: "Temo-lo afirmado e afirmamos não só no que respeita aos vários aspectos de índole social, mas também, com a frontalidade e a fraternidade que nos caracteriza, no que respeita a aspectos do nosso trabalho partidário. Mas não nos iludamos, a alteração de mentalidades é que conduz à consciência de que é no sistema de exploração que está o problema e que sem a sua substituição perdurarão as condições de perpetuação da discriminação e da desigualdade." É um facto, mas pelo sim, pelo não, vou continuar a ensinar o meu filho João, de quatro anos a cozinhar e a fazer a cama e a arrumar os brinquedos. E a olhar para a irmã Rita, de dois anos, como sua companheira de luta por um outro mundo. E vice-versa. Porque a luta tem de continuar. »
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É a dialéctica na vida, camaradas, ou a vida na dialéctica!

quinta-feira, outubro 30, 2008

Materialismo histórico - 31

Não. Não acabou. Tem é havido muito pouca disponibilidade relativamente à disponibilidade que esta série me exige. Aproveito um trecho (adaptado) de uma intervenção pública para continuar:


“… a possibilidade de ocorrência de sobressaltos na circulação começa com a transformação de M-M (coisa trocada por coisa) em M-D-M (mercadoria trocada por mercadoria por intermédio de moeda, na designação genérica de dinheiro). Com o modo de produção capitalista, a circulação passa a ser D-M-D (dinheiro trocado por mercadorias para serem trocadas por dinheiro), e as crises começam a fazer parte do funcionamento do sistema pois a circulação exige que as mercadorias se troquem por dinheiro e a finalidade dela deixou de ser o de satisfazer as necessidades sociais, com M (coisas), mas o de realizar mais dinheiro, com D’ (mais dinheiro) no final da circulação económica e, para essa realização, não são suficientes as potencialidades de procura para consumo criadas na esfera produtiva.
Na viragem da década de 70 para a de 80 do século passado, tudo se complicou ainda mais com a ultrapassagem, no quadro da luta de classes, de um pico de crise (monetária com inconvertibilidade do dólar, do petróleo) pela via neo-liberal, monetarista, com expressão no maior papel da circulação D-D’ (dinheiro trocado por mais dinheiro, sem passar pela criação de bens, de riqueza). Chamemos-lhe especulação (bolsista e outras).
Mas esta foi uma forma, precária, instável e desestabilizadora, de ultrapassar uma contradição. Agravando-a. E, ao mesmo tempo, relevando a crise como inerente ao sistema, pois servindo para o capitalismo tentar superar, dentro dos seus parâmetros de classe, a contradição fulcral no seu funcionamento, cuja é a do desenvolvimento incessante e sem limites (até os que deveria ter!) das forças produtivas em oposição às dificuldades e aos limites da valorização do capital, enquanto valor sob forma monetária.
Daqui resulta a necessidade, para a sobrevivência do sistema, da destruição de forças produtivas excedentárias (maxime, de seres humanos), excedentárias para a reprodução do e acumulação do capital por não permitirem o processo de sua valorização como valor monetário.
Capital cada vez mais concentrado e menos valendo porque, mantendo-se a necessidade vital de criação de mais-valia e agudizando-se o desenvolvimento da contradição entre a capacidade de produção e a capacidade de consumo, esse capital monetário está cada vez mais empolado pela desmesurada circulação D-D’ (dinheiro --> dinheiro), mais acrescido desmesuradamente pelo crédito, também face às pulsões das necessidades e insuportáveis travões na evolução dos níveis salariais.
Por isso mesmo, no actual e gravíssimo pico de crise, a injecção de dinheiro pelo “moderno poder de Estado (que… lê-se no Manifesto) é apenas uma comissão que administra os negócios comunitários de toda a classe burguesa”, é solução precária para a situação estrutural, sistémica, agravando-a a prazo, prazo cuja dimensão temporal é imprevisível - e só esta o é, na "leitura" do materialismo histórico.

A importância dos "rascunhos"...

É muito significativo o actual “ressuscitar” de Marx. A realidade deste pico de crise faz com Marx regresse às editoras, à comunicação social, aos colóquios e iniciativas “bem pensantes”, aos que querem interpretar o mundo. Para o transformar? Isso já é outra conversa…
Não só as edições e vendas de originais de Karl Marx (e Engels) sobem em flecha (é negócio…), como se assinalam efemérides marxianas. Exemplos aqui à mão do computador: um historiador conceituado como é E. Hobsbawm dá uma entrevista que é divulgada profusamente; à semelhança do que vem sucedendo noutros países, realiza-se em Lisboa um congresso internacional que “visa alargar o espaço de debate intelectual em torno dos marxismos” (dos marxismos, note-se).
O que é igualmente significativo é que, quer da entrevista de Hobsbawm, quer do congresso tão oportunamente organizado, se poderia ser levado a pensar que os Grundrisse (planos, esquemas, rascunhos) são o contributo mais importante de Marx, e deles se assinalam os 150 anos.
Isto no ano em que se também se assinalam os 160 anos da publicação do Manifesto do Partido Comunista e os 190 anos do nascimento de Marx, tendo o PCP feito de 2008, e continue fazendo, o ano dessas efemérides. Com um cordão sanitário de silêncio em volta.
Os “rascunhos” é que são! Parece-me interessante.
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Marx, depois do direito, do jornalismo, da filosofia, da intervenção política, ao dedicar-se ao aprofundamento do estudo da economia política, começou por fazer esses planos, esquemas, rascunhos, antes de se lançar a O Capital.
O que está a acontecer é como se mais merecessem ser assinaladas as datas dos esboços para um quadro de Picasso que o quadro de Picasso, se tivessem maior valor musical as notas de Beethoven para a 9ª Sinfonia que a 9ª Sinfonia, se o making-off de um qualquer Chaplin fosse de preferível visionamento relativamente ao filme que dele resultou.
Os Grundrisse são documentos do maior interesse. Para estudar a obra de Marx, o seu percurso, o que realizou e o que ficou por realizar, os caminhos que abriu. Mas, ao que parece, também servem para “ressuscitar” Marx quando se comprova que ele está vivo. E bem vivo porque muitos e muitos o têm tentado continuar, não só na interpretação do mundo (e das suas crises) como, sobretudo, na luta para a sua transformação. Para o socialismo.

Quanto? e quem paga? A democracia do dolar!

EUA/Eleições (Lusa)

Obama divulga hoje vídeo de trinta minutos
nas principais televisões.

O candidato à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama, gastou vários milhões de euros para que um vídeo da sua campanha eleitoral apareça hoje no horário nobre dos principais canais de televisão norte-americanos.

terça-feira, outubro 28, 2008

«De pé, ó vítimas da fome!»

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de joelhos

que reservará a vida
a quem vive com os mortos,
ajoelhado aos lamentos
de marinheiros sem portos?

que sorriso se espera
a quem vive contente
onde o engano reina
e o desespero impera?

ajoelha-te, fiel,
aos pés frios de ouro,
do meu altar condenado,
então voarás aos céus,
eterno, jamais enfermo,
finalmente libertado.

pedras contra canhões

O "ambiente"

Em vez da simpática e/ou condescendente atitude, por vezes explícita verbalmente, «é pá! deixa-te disso...» , sinto uma atitude de aproximação preocupada e inquieta, por vezes explícita verbalmente, «tu, que és comunista e economista, explica-me lá o que está a acontecer e onde é que "isto" vai parar...»
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Bem... Eu, que sou comunista e economista, bem tento. Mas não é fácil (então a quem não sabe e, às vezes, parece ter raiva a quem sabe o b - á bá do marxismo-leninismo...)
Vamos por partes:
Não tenho grande dificuldade em dar a (minha) explicação sobre o que está a acontecer.
Onde vai isto parar, respondo convicto: ao socialismo!
Agora o como e o quando é que (me) é difícil, diria mesmo impossível, responder . Depende da tomada de consciência. De todos. E da luta!
Já lá dizia o outro: que fazer? (esta é a questão!)

domingo, outubro 26, 2008

Um exemplo!

Acabo de receber, de um camarada, este comentário a um dos meus posts:
"Há pouco, fazendo zapping na tv, acabei por cair nos comentários do prof. sabe tudo, Marcelo, que sabendo tudo foge de tudo que o responsabilize, que teve a ousadia de dizer que de todos os líderes partidários só Louçã falou da crise internacional. Não sei se devo classificá-lo como distraido ou desonesto. Na passada 5ª Feira houve um debate em Lisboa em que tu participaste assim como o Sec. Geral do PCP Jerónimo de Sousa. Na próxima 2ª Feira reune o CC do PCP para discutir a crise. Que outro partido político se preocupou em discutir a crise, as suas causas e consequências. Já agora aproveito para te dizer que com o Pedro Carvalho estive em dois debates na Póvoa de Varzim e em Vila do Conde sobre a crise, neste fim de semana, com excelente participação quer em quantidade quer em conteúdo, promovidos pelas respectivas comissões concelhias do PCP. Quem não discute? Certamente os outros. Nós há muito, mesmo há muito, vinhamos alertando para a situação que está a ocorrer. Mas que interessa isso aos comentadores pagos para venderem o peixe que lhes encomendam.26/10/08 22:57
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Reproduzo o comentário, transformando-o em post. Com um abraço para o autor. Amanhã lho darei na reunião do CC sobre a crise... que nós não discutimos!

sexta-feira, outubro 24, 2008

Às mudanças nas políticas de direita
para que o capitalismo continue capitalismo
há que opor a luta por rupturas com políticas de direita
e a luta por uma ruptura com o capitalismo.

A ponte mentos

No regresso de um périplo em que saltei de Lisboa, à tarde, para Viseu, à noite, preenchi o tempo de "expresso" a ler jornais. Os ditos de referência...
Passo por tanto que me convida a comentar - o tempo não dá para tudo... -, e pelo que nem por isso, como a prioridade dos critérios jornalísticos que são as orientações sexuais do fascista austríaco que morreu alcoolizado em acidente de automóvel, e fixo-me em dois apontamentos.
O Público consegue ignorar a iniciativa do PCP de um debate sobre o actual pico de crise, com 4 dos seus membros, o secretário-geral, o anterior secretário-geral, que é economista, e mais dois, sendo ambos doutorados em economia e que tiveram muitos anos de tarefa no Parlamento Europeu, e com o vice-reitor da Universidade de Coimbra. É simplesmente vergonhosa a omissão.
Já o Diário de Notícias dá notícia do acontecimento, cumprindo o que é a sua obrigação. Mas fá-lo à sua maneira e, sob fotografia de três dos intervenientes e o título PCP debate resposta à actual crise, consegue escamotear o mais significativo dessa resposta que é a necessidade e urgência de ruptura com a política de direita que há muito o PCP vem exigindo, prevendo e prevenindo o que está a acontecer, e a luta pelo socialismo. Esta palavra, qual espectro, não aparece no texto.
Depois, ainda acho curioso e merecedor de comentário (leve) a coluna de Ferreira Fernandes. hoje com o título A coisa está preta para os vermelhos, em que, pretendendo fazer graça com as eleições nos Estados Unidos, onde os "republicanos" têm a cor vermelha e os "democratas" a cor azul, termina reforçando a intenção de ter graça com outra conotação implícita na cor repetindo o título, e fechando com a tirada de que isso da coisa estar preta para os vermelhos "é tradição na América".
Na América?, mas qual América?, ou os Estados Unidos são a América? E para quem é que a coisa está preta neste momento de grave pico de crise do capitalismo? Para os vermelhos do espectro político?

terça-feira, outubro 21, 2008

Desigualdades (uma das manifestações de pauperismo)

"Crescimento e desigualdades:
Portugal está entre os países mais injustos da OCDE – relatório

(…)
No seu relatório "Crescimento e Desigualdades", hoje divulgado, a OCDE afirma que o fosso entre ricos e pobres aumentou em todos os países membros nos últimos 20 anos, à excepção da Espanha, França e Irlanda, e traduziram-se num aumento da pobreza infantil.
Os autores do estudo colocam a Dinamarca e a Suécia à frente dos países mais justos (...) e o México no topo da tabela dos mais injustos (...) seguido da Turquia (...) e de Portugal e dos Estados Unidos (...).
"Em três quartos dos 30 países da OCDE, as desigualdades de rendimentos e o número de pobres aumentaram durante as duas últimas décadas" - lê-se no relatório.
(…)
"As famílias ricas melhoraram muito a situação" em relação às mais pobres e, por outro lado, "o risco de pobreza deslocou-se das pessoas idosas para as crianças e os jovens adultos".
A OCDE define como situação de pobreza quando os rendimentos são inferiores a 50 por cento da média de cada país.
A pobreza das crianças, que aumentou nos últimos 20 anos, "situa-se hoje acima da média geral" (...).
(…) embora o trabalho seja "um meio muito eficaz para lutar contra a pobreza", não chega para a evitar: "mais de metade dos pobres pertencem a famílias que recebem fracos rendimentos de actividade" (...)."

excertos de um "despacho" de hoje da Lusa

Materialismo histórico - 30

Do ponto de vista da economia política, na leitura materialista histórica que (se) integra (n)o materialismo dialéctico, o valor não existe nas coisas em si, a não ser como potencialidade, como recurso a ser.
Um “fruto”, na árvore ou pousado na terra ou nesta enterrado, não “vale nada”. Só se o braço se estender para o colher, se o ser humano se curvar para o levantar ou arrancar do chão, é que passa a ter valor. Ou de uso, se consumido por quem o colheu, ou de troca se directamente trocado por outro “fruto” ou levado ao mercado.
E há, também, os recursos adquiridos. Os que, estando na natureza, recursos a ser, se lhes acrescentou valor pelo trabalho de colher, levantar, arrancar E transformar. Como um ramo a que, pelo trabalho, se limpou o que estaria a mais, se aguçou e afeiçoou a instrumento. E o ramo poderia ser a pedra, ou outra coisa, e outras coisas entre si ligadas pela força de trabalho que, de transformação em transformação, as tornaram instrumentos, ferramentas, máquinas, máquinas-ferramentas, aparelhos sofisticados em que dificilmente se descortina o que lhes está na origem, o trabalho.
Por isso se diz, nesta perspectiva, que o valor tem origem no trabalho. Porque este, com a sua força, foi acrescentando, às coisas, valor de uso, pelo uso que se lhe dá para satisfazer necessidades dos seres humanos, valor de troca, pelas trocas que possibilita.

As moedas, que começaram por ser sal, conchas, peles, são uma mercadoria especial. Equivalente geral, o seu valor consiste em exprimir o valor de todas as mercadorias, representando o trabalho social na sua forma mais geral e reflectindo as relações de produção entre os produtores das diferentes mercadorias.
O capitalismo, como sistema, modo de produção e formação social, foi-lhe dando outros usos. Além da forma-valor de equivalente geral, a de medida de valores, de meio de circulação e reserva, de entesouramento, de especulação. Dinheiro será o termo que designa quer todas as formas de moeda, logo todas as variedades concretas de equivalente geral, quer a própria substância da riqueza. A designação cobre, de facto, aspectos independentes: 1. a “mercadoria especial” criada e destinada 1.i) a facilitar as trocas, 1.ii) a ser colocada de reserva para trocas futuras (num “pé de meia” ou em guarda mútua ou de outros), 2. uma das formas do capital como valor, o capital-dinheiro, 3. a unidade de medida da riqueza.

Especular (na Bolsa e algures) consiste em passar de dinheiro a mais dinheiro

sem atravessar o ciclo produtivo, onde se cria a riqueza real e as mais-valias, correspondendo tão-só a transferência de real riqueza, que apenas muda de mãos. O que pode acontecer por i) haver quem fique com menos dinheiro, ii) aumento artificial de dinheiro*, da moeda que passou a ser chamada “fiduciária” (aqui se incluindo todos os “produtos” de crédito), que não é mais que promessa de “moeda legal”, ou seja, com base material, e que apenas existe porque há confiança em que essa “promessa” se concretize.

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* - o que, para os que não perdem dinheiro, tem o mesmo efeito pois o "mesmo dinheiro" passa a valer menos como equivalente uma vez que passa a ser necessário "mais dinheiro" para ser trocado pelas "mesmas coisas".

segunda-feira, outubro 20, 2008

Com (ou sem) licença...

Vale a pena ler este texto de pedras contra canhões.

Fim de semana galego (e a crise?)

Ir ali, ao lado de lá do Minho, não é bem sair de cá. Deste lado.
Numa conversa em A Coruña (e assim escrevo para que consiga sentir que sai deste País), ouvi e aprendi muito sobre a História de Portugal, dos portugueses. Muito mais do que aprenderia em livros e livros que lesse sobre a saga da emigração dos anos 60. E, com os sentidos mais para o Sul e para os Açores, ia folheando jornais à disposição dos locais onde se bebia a caña... porque os meteorologistas nos enganaram, ou nós enganámos a meteorologia.
A crise, ou o pico da crise, nos jornais da Galiza. Não diria da Espanha porque, em Espanha se fala com insistência de fusões das "caixas", e parece haver forte resistência da Galiza relativamente à fusão das suas, das que são da Região. A autonomia afirma-se alto e bom som.
Em contrapartida, o orçamento do Estado espanhol foi "salvo" ("Zapatero salva las cuentas" é um título) por partido autonómicos, pois os 169 deputados do Partido Socialista (PSOE) mesmo com os 6 do PNV (Partido Nacionalista Vasco, que está em coligação com o PSOE) não chegavam para o aprovar e foram necessários os 2 deputados do Bloco Nacionalista Galego para se conseguir mais de 175 deputados. Uma espécie de "queijo limiano", que tornou o Bloco no centro das atenções. com a pragmática "recompensa" do reforço de 200 milhões de euros para a região, e primeiras páginas a mostrarem grandes fotos do vice-presidente do BNG reunido com idosos que reivindicavam a abertura de discotecas sem escadas...
O título de um dos jornais entrevistos (El correo gallego): "O peso real de 2 deputados".
Um excerto (do editorial de José António Perez): "... fizeram com que a Galiza seja um pouco mais forte hoje. E menos que amanhã?"
Sempre a aprender!

sexta-feira, outubro 17, 2008

Materialismo histórico - 29A (ou anexo)

Um escândalo, uma ilustração, um destaque
e uma leitura materialista dialéctico-histórica

Do muito que se vai lendo e ouv”e”ndo, retém-se o que se pode chamar escândalo e que é o facto, evidente (e escandaloso!), de se fazer uma verdadeira barragem ou conspiração do silêncio à volta de quem, colectiva ou individualmente, previu e preveniu sobre o caminho por onde ia a economia, ao financeirizar-se sem medida ou mesuras. Ignorando pela calada quem previu e preveniu, partidariamente, sindicalmente ou individualmente, e defende rupturas com o sistema como única alternativa que não a de desastre ou de avanço de contradição em contradição até à catástrofe, dando todas as palavras e imagens aos que, ou não previram, ou, tendo previsto, não preveniram, ou não previram e muito menos preveniram.

A ilustrar, uma coisa chamada “conselho dos 12” no semanário Expresso mantém a “selecção” com ex-ministros das finanças, directores de bancos e de grandes empresas e reputadíssimos técnicos de formação (digamos) conservadora, sem permitir que qualquer dos “tais” diga qualquer coisinha sobre o que previram e preveniram. E é curioso que esses 12, em perfeita consonância, em total unanimidade, “votariam” Obama, agora usado como esperança/ilusão para os tempos próximos, como é de uso ao ir buscar-se ao stock personagens que se apresentam como vindo mudar as coisas para que tudo fique na mesma, perdão, nos mesmos, sendo estes cada vez menos.

Destaque: Teodora Cardoso disse: “Aquilo a que estamos a assistir é antes o fim de um ciclo político longo assente na ideia da redução do peso do Estado e da perfeição dos mercados, que tinha surgido como reacção às ideias opostas. Agora importaria não esquecer essas experiências, confiar menos na ideologia (ainda que mascarada de ciência) e aceitar que o mundo global exige regras globais, a par com o respeito da diversidade, um grande programa político.”

Deixando para outra oportunidade a questão da ideologia “mascarada de ciência”, veja-se a afirmação de TC numa perspectiva dialéctica, de materialismo histórico:
1º tempo deste "ciclo" (tese) – grande peso do Estado e imperfeição dos mercados
2º tempo (antítese) – perfeição dos mercados e diminuição de peso ao Estado (muito particularmente das suas funções sociais e de regulação da economia)
Tempo futuro (para que tenha futuro… a caminho do socialismo) (síntese) – reforço e aperfeiçoamento do papel e da intervenção do Estado, integrando o funcionamento dos mercados, ao serviço do colectivo e do social.

terça-feira, outubro 14, 2008

Adenda aos a ponte mentos

De repente, veio-me à memória... não uma frase batida mas uma frase para ser batida:

"Eles" sabem uma coisa que nós não sabemos, é que tudo depende de nós!
(Mas cuidado!, estão a abusar...)

Caderno de a ponte mentos

Enquanto ouvia/via

  • o tema e o lema: vamos lá dar confiança a esta gentinha!
  • aqueles quatro senhores não têm crédito mal-parado, eles
  • nenhum deles é neo-liberal (foram quando era oportuno)
  • todos acham que o Estado deve intervir
  • ah! a regulação, a regulação
  • aliás, subentende-se (implícita ou explicitamente) que a culpa maior é do Estado porque não interveio…
  • (mas o Estado, intervindo ou não intervindo, não são eles?!)
  • "estamos todos no mesmo barco" (só que o barco deles são iates e o barco dos “outros” são "cacilheiros" ou nem isso)
  • “o banco é coração da economia” (ainda me dá um ataque cardíaco, a mim que sou da escola que me ensinou que a economia era a ciência dos recursos, das necessidades a satisfazer, do trabalho, da produção e da distribuição, em que até as finanças se destinavam a satisfazer necessidades, Teixeira Ribeiro dixit)
  • “podem confiar nos bancos”, i.é., podem confiar na banca, podem confiar nos banqueiros, podem confiar em nós (eu? um manguito…)
  • fusões? agora não, não é a altura de fazer/falar nisso, agora “cada um para si”… mas não faltaram piscares de olhos
  • os países emergentes são uma grande saída (ah!, Angola); os BRIC, grande invenção de um banco (dos falidos?) com o requinte de um lugar predestinado para cada "emergente" – o Brasil e a Rússia fornecedores de matéria-prima, a Índia e a China fornrcrdores de mão de obra e de consumidores – (ah! e a “família portuguesa”...)
  • e Obama e olé!, a grande carta de trunfo do momento (em 12 do painel do Expresso, totalidade pró-Obama!)
  • é sempre preciso alguém para dar confiança/ilusão (luta/confiança/esperança é outra coisa), é sempre preciso falar de mudança para que se adie a inevitável ruptura.

Materialismo histórico - 29

Assim se chegou ao capitalismo, como modo de produção e como formação social. Não como fim da História. Simplesmente como o patamar em que nos calhou viver. E procurar perceber a vida que vivemos.

Mas… o que é o capital? O capital não é uma coisa nem uma relação entre coisas, o capital é uma relação social de produção que se estabelece em determinado momento histórico imposta por uma classe, a burguesia – detentora dos meios de produção –, a uma outra que ela própria faz nascer no seu bojo, o proletariado, e é, igualmente, um valor que permite a essa classe, em determinadas condições históricas, a apropriação de mais-valias por via da exploração do trabalho assalariado.
O seu aparecimento temporal coincide – e não por acaso – com a discussão do conceito de valor, que, nas suas várias formas de se exprimir, assenta na propriedade específica de um bem ou produto (a partir de certa altura, mercadoria) satisfazer determinadas necessidades sociais, isto é, de necessidades dos seres humanos no momento histórico que vivem.
Depois de ter sido atribuída a origem do valor à natureza, à “terra” de onde se colhiam os “frutos”, os clássicos da economia política (David Ricardo, sobretudo) deram um importante passo ao considerarem estar essa origem no trabalho e, com Marx, ao fazer a distinção entre trabalho abstracto e trabalho concreto, entre valor de uso e valor de troca, o estudo da teoria do valor e das suas formas foi desenvolvido. E tem de o continuar a ser. Por outros lados e ocasiões se procura fazê-lo.

Enquanto valor, o capital é um valor monetário que se investe com vista a reproduzir-se, na sua génese e essência através da exploração dos trabalhadores.

Este gráfico procura ilustrar como se reproduz o capital sob a forma monetária, tendo por base a criação de valor pelos trabalhadores na produção de mercadorias.
Com D (dinheiro) os capitalistas compram M (mercadorias: por exemplo, fios, botões, pano, máquinas de costura, energia – troca igual – e força de trabalho – troca desigual), em (…P…), processo produtivo, produz-se M’ (mercadorias resultantes de M, a que se somou valor: por exemplo, camisas) e que se troca por D’ (mais dinheiro).
A mais-valia apropriada resulta de o valor acrescentado pelas horas de uso de força de trabalho não terem sido todas trocadas por salário, sendo este insuficiente para que os trabalhadores, proprietários dessa mercadoria-força de trabalho, possam ter acesso ao produto que produziram, a que acrescentaram valor, mas apenas ao que lhes possibilita a satisfação de algumas das suas necessidades.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Mais (outras) teses

Mas muito úteis. (Também) fazem pensar. Haja quem. E quem aja. (isto digo eu).

Séries ii e iii:

Teses sobre um regime, ii. A igualdade é um princípio do processo democrático, não é um fim. Nicky Florentino.

Teses sobre um regime, ii.i. Sob o alcance do processo democrático, para a igualdade concorrem tanto as políticas públicas quanto as iniciativas privadas. Nicky Florentino.

Teses sobre um regime, ii.ii. Sob o alcance do processo democrático, a igualdade é consequência, quando é consequência, também da dinâmica política, não efeito ou propósito do regime. Nicky Florentino.

Teses sobre um regime, ii.iii. Por si só, o processo democrático não garante a reprodução dos seus princípios, entre os quais a igualdade. Nicky Florentino.

Teses sobre um regime, iii. O processo democrático é um processo condicionado e contingente. Nicky Florentino.

Teses sobre um regime, iii.i. As garantias do processo democrático não são exclusiva ou necessariamente democráticas. Nicky Florentino.

Teses sobre um regime, iii.ii. Por si só e mesmo que integralmente, o povo não é o suporte do processo democrático. Nicky Florentino.

Teses sobre um regime, iii.iii. As garantias do processo democrático são institucionais - isto é, suportadas por corpos e procedimentos formais - e difusas - isto é, assentes em atitudes, orientações e valores com densidade cultural e nas acções e práticas individuais ou concertadas. Nicky Florentino.
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"pescadas", desta vez com a devida autorização (e vénia)
em albergue dos danados

Medidas do Governo para a banca


Medidas do Governo PS para a banca esquecem o país

Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

Face ao anúncio do Governo PS da decisão de instituir garantias do Estado à banca no valor de 20.000 milhões de euros o PCP considera o seguinte:
1 - É absolutamente inaceitável que, ao mesmo tempo que dá garantias de 20.000 milhões de euros para operações entre os bancos sediados em Portugal, não haja uma única palavra, medida ou intervenção da parte do Governo PS que dê resposta ao gravíssimo problema, à situação de verdadeiro sufoco no plano financeiro, com que estão confrontados milhões de portugueses com o agravamento das taxas de juro e o pagamento das mensalidades nos empréstimos à habitação, quando aquilo que se impõe, tal como o PCP defende, é um programa de emergência que contemple a descida das taxas de juro e a limitação do spread.
2- É por si só revelador, da natureza, das preocupações e dos objectivos deste Governo que, mostrando disponibilidade para ajudar os grupos financeiros, não tenha uma palavra para o necessário aumento dos salários, reformas e pensões, medida indispensável para a melhoria das condições de vida da população, para a dinamização do consumo interno e para o necessário estímulo económico de que o país necessita face a esta crise do capitalismo.
3- É significativo que na presente situação o governo continue a ignorar o quadro em que se encontram milhares de micro, pequenas e médias empresas, que representam 95% do tecido empresarial do país, não se conhecendo nenhuma medida de fundo e com efeitos imediatos que possa contribuir para a resolução dos muitos problemas com que estão confrontadas.
4- É também necessário que o Governo PS esclareça em que condições é que a Caixa Geral de Depósitos concedeu um empréstimo de 200 milhões de euros ao Banco Português de Negócios, quando é evidente que aquilo que se impõe, é o reforço do Estado neste sector.

sexta-feira, outubro 10, 2008

A "imprevisibilidade" do que foi previsto e prevenido...

O actual (e gravíssimo) pico de crise foi, digam o que disserem, tapem o sol com as peneiras que consigam desencantar, previsto e prevenido.
Assim, como aconteceu e está a acontecer? Claro que não! Aliás, quem se queira marxista tem de ter, além da humildade de que Marx e Engels deixaram tanto testemunho, o permanente cuidado de separar o que é previsível que aconteça de quando e de como vai acontecer. E procurar, sempre, que fazer?
Agora, não vou buscar o que há 160 anos foi publicado. Vou, agora, aqui, deixar um apontamento para que se lembre a quem possa estar a ser iludido pelo slogan publicitário da mudança, apresentado espectacularmente nesta fuga às responsabilidades que se atiram para o liberalismo de que sempre se foi cúmplice e, por vezes mais liberal que os ultra-liberais (estou a falar da capciosa dicotomia Estado-mercado), venho lembrar que, há menos de um ano, em Novembro de 2007, o PCP realizou uma Conferência Nacional sobre questões económicas e sociais, em que o mote não era o da mudança, era o da ruptura, em expressões ditas essenciais, e «cujo tempo é o da urgência, para abrir as portas a uma política económica e social alternativa, ao serviço do povo e do País:

  • «Ruptura com as opções pelos interesses do grande capital (...)
  • Ruptura com uma integração comunitária em que prevalecem os interesses estratégicos da grandes potências e do grande capital europeu (...)
  • Ruptura com a reconfiguração neo liberal do Estado que emagrece tudo o que é serviço público e conquistas de Abril (...)
  • Ruptura com a desvalorização do trabalho e dos trabalhadores (...)
  • Ruptura com a mutilação e subversão das políticas sociais (...)
  • Ruptura com a atribuição ao capital estrangeiro do papel que deveria caber em primeiro lugar ao Estado português e complementar ao capital privado nacional (...)
  • Ruptura com a supervalorização das exportações, quando a economia nacional é absorvida a 80% pelo mercado interno
  • Ruptura com políticas que atingem a soberania nacional (...)
  • Ruptura com a subversão da Constituição da República (...)»

Materialismo histórico - 28

De uma forma um pouco diferente, sob a inspiração do momento da escrita, ter-se-ia chegado, no último passo, ao capitalismo. Como modo de produção e como formação social.
Se no feudalismo a terra era a força produtiva nuclear, dela se procurando tirar tudo o que era possível com a ajuda dos meios adquiridos, dos instrumentos de trabalho que sobre ela, enquanto objecto de trabalho, agiam, no capitalismo a força produtiva nuclear passou a ser os instrumentos de trabalho.
E se no feudalismo a relação social fulcral era entre os senhores da terra e os servos da gleba, no capitalismo passou a ser entre os detentores dos meios de produção, sobretudo dos instrumentos de trabalho, e os trabalhadores, sobretudo os operários, os que operam com esses instrumentos.
Eram estas as linhas dinâmicas gerais e repete-se (até à exaustão, de quem lê e de quem escreve) a prevenção de que não se pretende estar a escrever História mas tão-só a que este caminho de que se procura dar notícia não seja mais que o de grandes etapas por que passou a Humanidade.
O arado de madeira dera lugar à charrua de ferro, a tracção por animais cada vez melhor domesticados e com melhores aparelhos passou a ter outros propulsores, como com a máquina a vapor, as ferramentas tornaram-se máquinas-ferramentas, criaram-se debulhadoras, empilhadoras, tudo o que continuava uma evolução imparável no aproveitamento da natureza e das transformações nela introduzidas pela força de trabalho para complementar a força de trabalho.
“A burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário”. Quem o escreveu foi Marx e Engels no Manifesto, e são páginas que se devem ler como autênticas lições de objectividade. “Tudo o que era dos estados (ou ordens sociais – ständish) e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessagrado, e os homens são por fim obrigados a encarar com olhos prosaicos a sua posição na vida, as suas ligações recíprocas.”

Há que não perturbar a escrita (e a leitura) com juízos de valor escorados em condições, princípios, valores enfim, de hoje e de aqui. Na ruptura com o feudalismo como modo e formação social predominantes, o capitalismo caracteriza-se por

  • grande aceleração do desenvolvimento das forças produtivas
  • trabalho assalariado
  • relação fundamental capital-trabalho, em que o primeiro termo significa a propriedade dos meios de produção e de troca por uma classe, e o segundo termo a força de trabalho tornada mercadoria
  • a lei fulcral da produção acrescida da mais-valia proveniente da exploração do trabalho assalariado.

Como é evidente, tudo isto tem de ser muito explicadinho, com a certeza de que a todo o momento há mudanças, quando não convulsões. De crises se falará…
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Foto (Vitral) de João Santiago

quinta-feira, outubro 09, 2008

Antes que acabe o dia, o dia 9 de Outubro

Brel e Che!
Sempre.

As linhas com que nos cozem

Cruzam-se:
  • a linha de atirar as culpas para os EUA (ai! aquela administração...) e o neo-liberalismo, fugindo a socialdemocracia (pela esquerda...) com o que-quer-que-seja à seringa;
  • a linha de restaurar a confiança da opinião pública, do "povo", que, na verdade, está à beira do desespero.
Assim se deitam carradas de poeira para os olhos que se vão abrindo, para esconder a única saída, defendida pelos que, continuamente, previram, preveniram e lutaram por ela: outras políticas. Pelo socialismo (mas não o dos que invocam o seu nome para continuarem e reforçarem as políticas de direita).

O dito e os feitos

Não (julgo eu...) pelo prazer narcísico e condenável da auto-citação, mas porque (acho eu...) terei conseguido traduzir em palavras o que queria dizer, e estes dias vêm confirmando, aí vai:

"Assembleia Municipal de Ourém, 26.09.2008
Senhora Presidente da Assembleia Municipal
Senhor Presidente da Câmara e senhores vereadores
Caros profissionais da comunicação social,
Público presente,
Caros colegas,

Da última sessão para esta, no curto espaço de dois meses, para mais com Agosto pelo meio, o que então me levou a falar do “horror económico”, citando Forrestier e Rimbaud, confirmou-se e agravou-se.
Há grandes bancos estado-unidenses que se nacionalizam (e não por boas razões…), há seguradoras de dimensão transnacional que vão à falência, há injecções de dinheiro dos bancos centrais, como quem mete para a veia de drogados mais droga como se isso pudesse levar à recuperação do que está doente, muito doente.
O capitalismo está em crise, em grave crise. Não que augure o descalabro, a hecatombe. Não. O sistema tem mais fôlegos que o gato mais resistente e há formas de o fazer sobreviver, e de preservar os interesses cada vez mais polarizados, mais concentrados, formas que, se assustam – e muito! – se sabe também que há próceres que não recuarão perante o seu uso, mesmo que isso ponha em risco a Humanidade.
Existe latente um ambiente que chega a aproximar-se do desespero. Nos cidadãos e famílias que se endividaram para ter acesso à satisfação de necessidades que – quantas vezes? – lhes foram artificialmente criadas e para que os salários nunca são suficientes e cada vez menos; nos pequenos e médios empresários que menos vendem e que mais tempo, e cada vez mais, levam a receber o que teriam conseguido vender, além de que a novidade dos pagamentos por conta não perdoa e os juros e outras alcavalas só aumentam. (...)"
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Já volto...

Atenção!

Neste momento (histórico) há que esquecer a importância que pode ter o "sexo dos anjos".

quarta-feira, outubro 08, 2008

Já que...

Já que tanto se fala de Marx nestes últimos dias, não seria de lembrar que, para este ano de 2008 (que está na recta final), houve quem (o PCP) tivesse decidido, há largos meses, assinalar os 190 anos do seu nascimento e os 160 anos da publicação do Manifesto (com Engels), e tenha preparado, cuidadosamente e com diversa e qualificada colaboração, dois cadernos-separatass de uma sua revista (o militante) dedicados a essas efemérides, e tenha feito uma exposição itinerante que anda aí pelo País sobre o personagem e a sua vida, e que alguns dos seus militantes tenham tido a tarefa de animar sessões sobre o Manifesto e os seus autores, e que mais coisas tenha feito e continue a fazer, continuamente?!
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"a grisalha moldura" (Maiakovski)

segunda-feira, outubro 06, 2008

Materialismo histórico - 27

Ao princípio, era o corpo. Como acontece com os animais (outros) que não se domesticam, que não são domesticáveis, que não são postos em cativeiro. Que assim sobrevivem. Apenas com o seu corpo, procurando mantê-lo vivo. E reproduzindo-se. Como acto natural, repetido, sazonal.
Ao princípio, era o corpo. O corpo seu, e o que o pudesse prolongar. Um ramo, uma pedra. O que o ajudasse a tornar a natureza, a que também o corpo pertencia, mais acessível à satisfação das suas necessidades. Fazendo, aos poucos, milénio a milénio, século a século, ano a ano, dia a dia, do que lhe prolongava o corpo, objecto e instrumento de trabalho.
Depois, corpos tornaram corpos de outros seu objecto e instrumento, puseram-nos a trabalhar para si como tinham feito com os ramos, as pedras e o que se lhes seguira e juntara. Dividiram-se: uns donos e outros escravos.
Mas era a terra que trabalhavam, o corpo, o que o prolongava, os corpos de outros, semelhantes, feitos coisas possuídas, instrumentos e objectos, meios de produção. Era a posse da terra que determinava, que dividia uns em senhores e outros em servos.
Os meios de produção foram ganhando crescente importância. Substituindo o corpo e o que o prolongava. Aparentemente, separando-se dos corpos de que eram complemento. Fazendo dos corpos a aparência de que, eles sim, eram o complemento dos meios de produção. Dos instrumentos e objectos. De trabalho.
O que importava possuir deixou de ser o outro, que de escravo em servo se tornou e de servo se liberta, já não é tanto a terra, que ela parece só produzir o que as máquinas a fazem produzir, substituindo a força dos braços, dos corpos escravos e dos corpos servos, dos animais domesticados, de tracção e de lavra. O que há que possuir são mesmo as máquinas e, assim, os produtos das máquinas que transformam as matérias primas daqui para ali transportadas por outras máquinas, por vias criadas pela força de trabalho e seus meios de complemento, ou talvez – dizem uns... – o seu inverso. Vias de caminhos abertos, de serventias a auto-estradas, de caminhos sobre ferro, de caminhos sobre as águas, de caminhos em voo como as aves, de caminhos por túneis feitos à imitação de toupeiras e outros.
Uns, apropriando-se do que a Humanidade foi conquistando gesto a gesto, passo a passo, conquistas que – é verdade! – fizerem crescer enormemente; outros, despojados de tudo menos da sua força de trabalho e da tarefa de concretizar as conquistas, as de antes, as de agora, as de sempre. Despojados de tudo, menos do regateado acesso, em troca de horas de utilização dessa força de trabalho, às necessidades que foram crescendo, e sendo diferentes, e sendo novas, como resultado do caminhar pelos caminhos feitos.
Ao princípio, era o corpo, como hoje é o corpo, desde os braços única força, e fio de vontade e alavanca e tudo, até à força dos dedos que carregam em botões, à força do conhecimento acumulado em dias, anos, séculos, milénios de aprendizagem, de ver, reter, transmitir aos outros.
E assim continuou o caminho dos seres humanos. E assim continuará.

Vale a pena ler...

... este artigo de António Vilarigues sobre A teoria de Pavlov aplicada à política, em o castendo.

domingo, outubro 05, 2008

Teses para op XVIIIº Congresso do PCP

O que está proposto para discussão nas bases do Partido como projecto de resolução política no XVIIIº Congresso. Por exemplo:
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1.0.1. O XVIII Congresso realiza-se numa situação internacional de grande instabilidade e incerteza em que avulta, como traço particularmente marcante, o desenvolvimento de uma crise económica e financeira do sistema capitalista de grandes proporções que está a assolar o mundo.
(...)
1.1.4. A financeirização do capital continua a acentuar-se. A própria dinâmica da exploração gera uma massa de capitais sob a forma de dinheiro, excedentária e em crescimento que, na busca de rápida reprodução, se desloca para a esfera financeira e especulativa, em detrimento do investimento produtivo, contribuindo para a transferência e concentração das mais-valias geradas. Uma tal situação é acompanhada da criação e crescimento de mercados cada vez mais distantes da economia produtiva (como os de "futuros" e outros instrumentos financeiros) que, no quadro da livre circulação de capitais, das deslocalizações e criação artificial da procura pelo crédito fácil, acentuam a irracionalidade e a anarquia do sistema capitalis, e se tornam factor maior da instabilidade monetária, bolhas especulativas e colapsos bolsistas, e tendem a tornar as crises ciclicas de sobreprodução mais frequentes, mais globais e mais destruidoras.
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Como é evidente, as teses fazem parte de um conjunto (de 92 páginas compactas) e não se devem apreciar isoladamente, mas parece oportuno apresentar alguns exemplos.

Teses para o XVIIIº Congresso do PCP

O que está proposto para discussão nas bases do Partido como projecto de resolução política no XVIIIº Congresso. Por exemplo:


3.10.4. O PCP, reafirmando o seu empenhamento no diálogo, na convergência e cooperação das forças, sectores e personalidades democráticas que, séria e convictamente, estejam empenhados numa ruptura com a política de direita e na construção de uma alternativa de esquerda no quadro do actual regime democrático e constitucional, não está, nem estará, disponível para ser instrumento ou cúmplice de um governo ou políticas que mantenham orientações estruturantes da política de direita.
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Como é evidente, as teses fazem parte de um conjunto (de 92 páginas compactas) e não se devem apreciar isoladamente, mas parece oportuno apresentar alguns exemplos.

sábado, outubro 04, 2008

as coisas que a gente lê...

Isto hoje está bonito, está.
Fui almoçar lá abaixo. Antes, comprei uns jornalecos, isto é, umas "toneladas" de papel, e, enquanto comia o bacalhau com grão no Zé do Raul, fui lendo. Primeiro, aquela coisa do tal Henrique de Sousa, que teve o seu dia de glória de 1ª página no Público; depois, o Expresso possível em cima da pequena mesa e com os grãos a saltarem da travesssa para o prato com passagem pela fronha do sr. Henrique Raposo.
A gente lê cada coisa... Escusa de me ser lembrado que já (me) prometi não comentar este cavalheiro. Não o vou fazer. Apenas recomendar o seu artigo porque pode ser muito útil, como se vê pelo título Capitalismo: manual de instruções. Ora aí está, só quem não quiser é que não aprende. E transcrever a causa (social, claro) da crise segundo Raposo: "um modo de vida assente no crédito barato e numa taxa de poupança nula". Para que, como se descortina, nada tiveram a ver as políticas (associais, claro) do capitalismo financeiro e os níveis salariais das massas trabalhadoras confrontados com os direitos e as necessidades emergentes e publicitadas.
Meus caros, segundo HR tudo é uma questão de "auto-regulação moral que cada indivíduo deve possuir perante a tentação do crédito". E, claro, há os que a têm porque o berço (e a educaçãozinha em casa) lhes deu e os que a não têm... e a tumba (e a tentação) os leva.
Palavra que não comentei. Apenas transcrevi.... Porque se comentasse estas e outras coisas que li, não respondo por mim e pelas palavras que empregaria. Sairia vernáculo.

As últimas...

Acabo de ser informado, ao passar pelas primeiras páginas dos jornais (só os de "referência"...), que "Henrique Sousa - ex-dirigente sai do PCP em ruptura". Fiquei verdadeiramente pasmado. Como é que esta "notícia" vem para a primeira página de um jornal!
Alguém terá dado ordens à direcção e redacção para se descobrirem coisas sobre o PCP, dada a pertinência e receptividade das suas posições, porque se está em trabalho (colectivo, democrático) de vésperas de Congresso, e há quem ande, como li algures, na "pesca à linha". Mas só estão a ter "sapatos velhos" no anzol. Não importa, põem-se na primeira página.
Até coro. Não sei se de vergonha, se de vontade de rir...

Um título e dois trechos para ler hoje

Este texto foi escrito em Setembro de 1917, a menos de dois meses da Revolução de Outubro (7 de Novembro de 1917).
Compunha-se de 13 capítulos e os 5 últimos tinham os seguintes títulos (tal como nesta edição da estampa):

- O governo sabota a actividade das organizações democráticas
- A bancarrota financeira e os meios de a combater
- Será possível avançar receando caminhar para o socialismo?
- A luta contra a desorganização económica e a guerra
- A democracia revolucionária e o proletariado revolucionário


Dois trechos do capítulo sobre a bancarrota financeira, segundo Obras Escolhidas (A catástrofe que nos ameaça e como combatê-la) de edições avante! :

«(…)Toda a gente reconhece que a emissão de papel-moeda é a pior forma de empréstimo forçado, que ela agrava sobretudo a situação dos operários, da parte mais pobre da população, que ela é o principal mal da desordem financeira.
(…)
Para uma luta séria contra a desorganização das finanças e a inevitável bancarrota financeira, não há outro caminho senão romper com os interesses do capital e organizar um controlo verdadeiramente democrático, isto é, “de baixo”, o controlo dos operários e dos camponeses pobres
sobre os capitalistas, um caminho de que fala toda a nossa exposição anterior.
A emissão ilimitada de papel-moeda estimula a especulação, permite aos capitalistas ganhar milhões com ela e cria enormes dificuldades à tão necessária expansão da produção, porque a carestia dos materiais, das máquinas, etc., se agrava e avança por saltos. Como remediar a situação quando as riquezas adquiridas com a especulação são escondidas pelos ricos?»

sexta-feira, outubro 03, 2008

Materialismo histórico - 26

Nestes períodos históricos torna-se predominante a produção mercantil, isto é, a organização da economia social em que os produtos não se destinam ao consumo de quem os produz mas à troca. Assim surge o “reino” da mercadoria, um produto que, se produzido para satisfazer necessidades dos seres humanos, é produzido, não para ser consumido imediatamente – no sentido temporal e no sentido de ausência de agentes mediatos, intermediários –, mas para ser trocado.
Começa a haver circulação de mercadorias entre produtores e consumidores, que por sua vez são produtores de outras mercadorias de que os outros produtores são consumidores, e lugares de encontro, feiras e mercados.
Aqui chegados, resolveu-se ir à “fonte”, beber um pouco de água que saciasse um pouco a sede permanente.
Abriu-se O Capital (na pág. 101 do livro 1º, tomo 1) e ficou-se saboreando: «Na troca de produtos imediata[1], cada mercadoria é meio de troca imediata para o seu possuidor[2] e equivalente para o seu não-possuidor, mas apenas na medida em que é para ele um valor de uso. Assim, o artigo em troca não recebe ainda qualquer forma-valor independente do seu próprio valor de uso ou da necessidade individual daqueles que trocam. A necessidade dessa forma desenvolve-se com o número e a diversidade crescentes das mercadorias que entram no processo de troca. O problema surge simultaneamente com os meios para a sua solução. Um intercâmbio[3] em que os possuidores de mercadorias troquem e comparem os seus próprios artigos com diversos outros artigos nunca se verifica sem que diversas mercadorias de diversos possuidores sejam, no interior do seu intercâmbio, trocadas por uma e mesma terceira espécie de mercadorias e comparadas como valores. Essa terceira mercadoria, na medida em que se torna equivalente para diversas outras mercadorias, recebe imediatamente, se bem que dentro de limites estreitos, a forma de equivalente geral ou social. Esta forma de equivalente geral nasce e perece com o contacto social momentâneo que lhe deu vida. De modo alternado e passageiro advém a esta ou àquela mercadoria. Porém, com o desenvolvimento da troca de mercadorias, ela fixa-se exclusivamente a espécies particulares de mercadorias ou fixa-se na forma-dinheiro.» Gado, peles, sal, conchas, o próprio homem na situação de escravo. Mas, como Marx sublinha (e foge-se, agora, à tentação de recomeçar a transcrever), nunca a terra foi usada como essa terceira mercadoria, equivalente geral, pois essa “solução” apenas surgiu na sociedade burguesa desenvolvida, na parte final do século XVII, quando as relações sociais que definem o feudalismo já estavam na sua fase de inadequação ou de não-correspondência com o desenvolvimento das forças produtivas, para o que a circulação e o dinheiro, com novas funções, muito contribuíram.
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[1] Insisto nas duas formas de entender o vocábulo imediato, questão em que laboro há décadas e que, nesta transcrição, significativamente me assaltou. Adiante, e a propósito do saber como força produtiva - quando/se lá chegar - ,se verá a razão inicial desta (para mim) magna questão
[2] - Não se tratou (ainda?!) da questão da propriedade que teria começado com os escravo e passa para a terra e as mercadorias.
[3] - Relativamente ao episódio 24-anexo, os tradutores para edições avante! de O Capital, com a sua justamente reconhecida qualidade e exigência, encontraram as formas troca e intercâmbio para o que, nesse episódio, se designou por troca-troc e troca-échange, até porque o original não é francês...

quinta-feira, outubro 02, 2008

Teses

Contributo (ou não) involuntário (ou não) para outras teses:


«Teses sobre um regime, i. A democracia não existe. Nicky Florentino.
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Teses sobre um regime, i.i. No que tem de existência, a democracia existe sob duas formas apenas, a projectada (ou intangível) - isto é, enquanto ideal - e a tentada (ou tangível) - isto é, enquanto ensaio desse mesmo ideal. Nicky Florentino.

Teses sobre um regime, i.ii. A democracia não existe enquanto regime concretizado ou consumado. Nicky Florentino.

Teses sobre um regime, i.iii. Na sua dimensão estrita, o processo democrático é animado pela tensão decorrente do atraso entre o regime tentado - materializado em instituições e procedimentos - e o seu projecto - que define o horizonte da tentativa, sobre o caso e o tempo dessa mesma tentativa. Nicky Florentino.

Teses sobre um regime, i.iv. Na sua dimensão estrita, o processo democrático é o mais que existe da democracia. Nicky Florentino.
Teses sobre um regime, ii. A igualdade é um princípio do processo democrático, não é um fim. Nicky Florentino.
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Teses sobre um regime, ii.i. Sob o alcance do processo democrático, para a igualdade concorrem tanto as políticas públicas quanto as iniciativas privadas. Nicky Florentino.»

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("pescadas" em albergue dos danados)
parece que continua...