terça-feira, fevereiro 25, 2020

Reflexões lentas - morte acompanhada, sempre!

Os direitos dos seres humanos e a morte antecipada

As propostas de legislação, o debate e a aprovação de 3 dos 5 projectos de legislação sobre eutanásia provocaram, quase surpreendentemente, o que de melhor temos tido em democracia, nesta democracia. Não isento, evidentemente, de manifestações pouco democráticas, de empolamentos manipuladores, de argumentação falsificadora, de aproveitamentos espúrios. Mas foi, no computo geral – e até agora – de reflexão serena, de debate respeitoso, de votação calma. Sem incidentes ou circunstâncias desagradáveis na Assembleia da República.
A posição mais controversa (e controvertida entre quem quer levar a sério questões sérias como esta) terá sido a do PCP. E sem dúvida que contribuiu para a seriedade com que foi encarada a questão, se não por todos os intervenientes por quase todos os intervenientes, a título individual ou em representação de colectivos ou de correntes de opinião.
Primeiro, o PCP fez alargada e clara fundamentação da posição que foi e seria tomada nas páginas do jornal partidário, abertas não só aos militantes (embora prioritariamente e como obrigação de leitura destes), mas a todos os que se quisessem informar sobre qual e porquê a decisão de não apresentar proposta própria, e do voto nas propostas apresentadas, analisadas com atenção e respeito.
Depois, no debate, merece(-me) destaque a intervenção em plenário do vice-presidente
António Filipe que considero, sem reserva ou rebuço, uma peça notável. Deixo-a aqui e juntaria, apenas, o destaque da preocupação com a banalização ou mercantilização comprovadas em casos adoptados com iguais (boas) intenções e contextos semelhantes.  

Nada acrescentaria ao que disse António Filipe, o que não significa que não tenha outras coisas (ou outra maneira) de as dizer sobre o tema. Mas, no entanto, antes de as passar a escrito, quero afirmar ausência de intenção de as ter como eventuais acrescentos a um texto e alocução que teve a medida certa e foi ajustada ao momento em que foi feita. E de que se recomenda a leitura ou visão-audição.
Apenas desejo – e com veemência – trazer para a consideração de tão vital tema mais uma pessoal e bem (em quantidade!, isto é, muito) reflectida posição sobre o assunto.
Tenho uma sedimentada concepção de vida e do ser humano, que resiste e se reforça com o passar de muitos anos e experiências de viver e pensar o vivido. Só isso vale, e só assim a quero exprimir.
Vivemos, incontroversamete, em sociedade, ajustamo-nos em convivência(s) temporais e espaciais. Há regras, como as da circulação automóvel (aqui pela direita, ali pela esquerda) que ilustram regras a terem de ser respostas a um necessidade de regular essa(s) convivência(s).
Há direitos que parecem incontroversos, assim como há normas e princípios transversais, independentemente do maior ou menor respeito que mereçam ao longo do tempo e ao largo do espaço universal.
O direito que melhor ilustra essa transversalidade será o direito à vida, embora não resulte ou nasça de uma unívoca e universal concepção de quando começa e de quando termina a vida do ser humano.
Mas esse direito à vida deve ser garantido pelas normas que regem a convivência, e será o primeiro dos direitos humanos. Depois, diria que todos os outros direitos são condicionados, não arbitrariamente mas pelas condições materiais das comunidades, pelas opções societais que se formam e predominam nos espaços-nações que se organizam como Estados ou conjuntos de Estados. Direitos societais como direito à saúde, como direito à educação, e outros, derivam desse direito à vida, mas dele não deriva um direito à morte, que é a inevitabilidade por se estar vivo. Quanto muito (e muito e inequívoco é) há a opção/direito individual de pôr termo à vida, que não se pode (não deve) transformar num direito societal cuja prática seria, sempre, administrativa para não ser um crime. O Estado define opções ao legalizar a antecipação da morte para acabar com sofrimento quando não se dota de instrumentos e meios possíveis (hoje e mais amanhã) para cuidados paliativos.
Poderia, ainda, argumentar-se que o suicídio, que resultaria dessa individual opção/direito de antecipar a morte, é punível, mas essa penalização ou é obviamente exclusiva de quem seja crente da existência de vida para além da morte ou é caricata.
Por outro lado e último – pelo menos para agora – bem diferente da eutanásia são a ortotanásia e a distanásia, sendo a primeira, em termos simples (que não quero simplistas), terminar a vida artificial mantida, com ou sem anterior consentimento do paciente, apenas por obsessão terapêutica, e a segunda o seu inverso: a manutenção da vida artificialmente por reconhecida e ineficaz obsessão terapêutica.
E há que ter sempre em atenção na legislação, ou na argumentação para a sua adopção a mudança dos tempos e das vontades. A que, neste nosso tempo, assistimos vertiginosamente

Estas não são mais do que reflexões a propósito de tema que as exigem de cada um de nós, reflexões pessoais sem qualquer resquício de ”arrogância intelectual” ou arroubo de ”superioridade moral”. Mas… coerentes. Certo que estou da inevitabilidade da morte, que encaro com lucidez e a possível dignidade, grato por ter vivido a vida que vivi até hoje. E, espero!, alguns amanhãs.

Gracias a la vida que me ha dado tanto!   

Reflexões lentas - sobre racismo e manipulações


Marega e racismo

O episódio Marega ganhou foros de acontecimento por demais relevante e suscitou (e continua a suscitar) uma onda de mediatização que exige reflexão e tomadas de posição. Que, pela dimensão e carácter apaixonado da campanha, têm de ser corajosas pois estremaram-se campos de consensualidade que, se por um lado, se simplificam com as etiquetas de racistas e anti-racistas, em certos pontos da apaixonada e superficial argumentação se confundem contraditoriamente.
Não que me esteja a assumir como paladino de uma posição arbitral, reflectida e de bom senso mas que, no contexto, teria de ser corajosa. É uma mera reflexão para uso restrito, “caseiro” e pouco mais.
Já assim não é com o Espaço Público, assinado
no sábado passado por José Pacheco Pereira. Que, com coragem – como não lhe tem faltado em outras oportunidades e temas – toma posição logo a partir do título É racismo ou é racismo no contexto da cultura de violência no desporto?, posição que subscreveria quase na totalidade.
Mas vou mais longe, talvez incendiado pela intervenção de deputada do BE na sessão comemorativa do 50º da Associação Caboverdeana, no painel “As novas gerações de luso-caboverdianos e/ou afro-portugueses e outros descendentes de caboverdianos e de outros africanos”.
Beneficiando da falta de comparência de outras deputadas, Joacine e outra (bem justificadas pela desmesura do número de painéis e total desacerto nos horários), a deputada deu um verdadeiro espectáculo (para mim) de demagogia, ilustrando o aproveitamento das questões fracturantes para propaganda partidária, na ausência ou apagamento das questões de fundo, ideológicas (fragilidade ideológica ou assumida esta como inutilidade, e que se transforma em apanágio…). Pegou no caso Marega e foi um… “ver se te avias” em propaganda do Bloco de Esquerda!
Ora o que me parece de imprescindível cerne da questão levantada pela atitude do profissional de futebol Marega começa pelo que está no texto do JPP e pode ir mais longe.
Diria que o fomentado até à exaustão lugar do futebol na sociedade em que vivemos se inscreve numa mais larga concepção do outro como i) o explorador ou ii) o explorado, iii) o individual não inserido no social, iv) o não-eu (e próximos ou familiares), v) os exógenos dos colectivos restritos e particulares, vi) as parcelas excluídas da soma.
Não se demonize o futebol, actividade lúdica e/ou espectáculo em que se reflectem especificidades das relações sociais, para além das baseadas na relação com a natureza como forças produtivas, as que nos satisfazem as necessidades de todos de forma desigualitária, por isso anti-social e desumana; não se demonize porque  corresponderia a amnistiar o que instrumentaliza o conjunturalmente privilegiado para manipulação de consciências, ao serviço de interesses que as querem abúlicas.
Explorar o outro, diminui-lo, valorizá-lo se nos serve, insultá-lo se nos contraria, insultá-lo para o desequilibrar como adversário, fazer dele o inimigo e, se com força para isso, eliminá-lo... eis o que prevalece no tempo que vivemos. Em que lutamos para que seja outro o tempo porque outra a maneira de ver o outro.   
Insultar o outro por ter outra cor? Pode ser ou não manifestação de racismo. E, entre parênteses, afirmo, convictamente, que nunca senti em mim qualquer mínimo sinal de pulsão racista e, racionalmente considero intolerável qualquer atitude que seja racista.
No entanto, vejamos…, há intenções que podem não ser de agredir alguém por ser de outra cor mas, só (!!!), por ser o adversário a vencer, a derrotar em competição em que apenas deveria haver parceiros. Como o insulto à mãe, ao coxo, ao careca, ao corcunda, a qualquer visível característica que identifique o outro como o não-eu, o não coevo, como o adversário a vencer, o inimigo a abater…
Ou… para o valorizar por ser um dos “eu-nossos”, ou por nos agradar, nos divertir, nos servir como artista, bufão ou servo !

(ah! g’anda preto que meteste o golo…, ah! filho da puta do puto que é endiabrado, ah! cabrão de gajo que tem muita piada, ah! raio da boa louraça!, canta como um rouxinol, ah! g’anda marreco! que escreves p’ra caraças, ah! g’anda coxo que bem que dizes o Melro do Guerra Junqueiro)

(podem ser) Interjeições! Reveladoras de uma cultura que importa corrigir, certo. Sobretudo quando não o são só. Não se aproveitem para servir de prova ou até de alimento para o que nos pode servir, para estímulo (em eventual boa fé) do que se aparenta e afirma combater.

Cave-se um pouco mais fundo, veja-se um pouco mais além!

terça-feira, fevereiro 18, 2020

As manigâncias dos maganões

páginas de um quase-diário em actualização:

...
ainda em Cabo-Verde (ou já no avião?) passou-me debaixo dos olhos uma notificação que me "informava" que uma sondagem fora feita e dos seus resultados.

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O PS descia, o PSD recuperava, o Chega subia, na esquerda só um não descia... qual seria?... por não dizerem o nome... adivinhei.

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Só ontem me foi possível comprar o Expresso e folheei-o já na cama (o que é exercício difícil!), e apanhei com isto:



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Só o Chega ??!!, então a CDU não subiria 2 pontos percentuais e mais deputados (e o IL não subiria 1 pp, que poderia não se traduzir em aumentos de mandato)?

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Eu nem quero saber de sondagens, mas esta manipulação a partir desta sondagem é excessiva de despudor, de desvergonha.

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E é útil!... porque denuncia quem é o inimigo, qual é a força a (a)bater, valendo tudo, usando e inventando o que "à mão".

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Mas, também, há que não nos queixarmos, não acontece assim porque nos estejam a perseguir... é porque somos o que somos e temos  que responder como somos.

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Não na "mesma moeda", não "olho por olho"; com a nossa maneira, com a nossa força.

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Com o que faz a nossa força: a nossa informação e esclarecimento.

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Como dizia Brecht, não somos perseguidos por ter razão (o que até seria saboreado se masoquistas fossemos...), somos atacados por ter razão e não ter força ou não a saber utilizar.

As "questões fracturantes" e os joguinhos político-partidários

páginas de um quase-diário em actualização:

Reflectir é preciso! Mas quem o faz? Quem o faz fora dos joguinhos político-partidários em que os cidadãos são... clientes e manipulados votantes ou abstencionistas (o que não é igual mas é o mesmo)?

 - Edição Nº2411  -  13-2-2020

Sobre a provocação da morte antecipada 
– «eutanásia» e «suicídio assistido»

REFLEXÃO A eutanásia, morte antecipada, ou morte medicamente assistida (como eufemisticamente surge designada) volta a ser debatida na Assembleia da República em 20 de Fevereiro na base de cinco iniciativas legislativas, as que estão entregues até hoje, que visam despenalizar essa prática.

LUSA

Vinte meses passados sobre a rejeição de iniciativas em tudo idênticas não houve factos novos. Nenhum país aprovou legislação semelhante, a legalização da eutanásia está circunscrita a uma ínfima minoria de ordens jurídicas.
As razões que levaram o PCP em 2018 a assumir uma posição contrária à legalização da provocação da morte antecipada permanecem inteiramente válidas. Subsistem, porém, incompreensões em torno dos fundamentos desta posição que se baseiam em equívocos que importa desfazer.
O PCP não despreza as razões individuais de quem, confrontado com um sofrimento insuportável em situação terminal, queira pôr termo à vida, nem pretende condenar ninguém ao sofrimento.
Bem pelo contrário. Só quem não conhece o profundo humanismo dos ideais comunistas pode pensar tal coisa. O que o PCP considera é que devem ser mobilizados todos os esforços e todos os meios técnicos e científicos disponíveis para evitar o sofrimento humano em todas as circunstâncias, respeitando a vontade do paciente, manifestada designadamente através do testamento vital, evitando a má prática médica designada por distanásia (prolongando artificialmente a vida através de obstinação terapêutica) e promovendo a assistência adequada às circunstâncias até ao momento inevitável da morte. Havendo a assistência médica devida, a morte é sempre assistida. Questão diferente é ser antecipadamente provocada.
Perante os problemas do sofrimento humano, da doença, da deficiência ou da incapacidade, a solução não é a de desresponsabilizar a sociedade promovendo a morte antecipada das pessoas nessas circunstâncias mas sim a do progresso social no sentido de assegurar condições para uma vida digna, mobilizando todos os meios e capacidades sociais, a ciência, a tecnologia para debelar o sofrimento e a doença e assegurar a inclusão social e o apoio familiar.
Para o PCP, a humanização dos cuidados assistenciais no termo da vida, e a diminuição ou eliminação do sofrimento, constitui uma parte substantiva das incumbências dos serviços públicos de saúde, e está contida nas próprias finalidades deontológicas da medicina. As sérias insuficiências existentes nesse domínio, em Portugal, só podem ser reparadas pelo reforço dos meios materiais e humanos no âmbito do Serviço Nacional de Saúde.
Falta muito para se cumprir o dever do Estado de garantir uma assistência condigna às pessoas no termo da existência, diminuir ou eliminar o sofrimento por meios médicos e de cuidados assistenciais gerais, em condições de igualdade, sem discriminações. A medicina tem hoje recursos eficazes para tratar a dor e diminuir ou eliminar o sofrimento.
A existência de uma rede de cuidados paliativos e a garantia de cuidados médicos adequados para evitar o sofrimento na fase terminal da vida estão muito longe de ser uma realidade no nosso país. Muitos cidadãos, particularmente os de menores recursos não têm acesso a esses meios. Como pode então o mesmo Estado, que não garante condições dignas de sobrevivência garantir condições legais para antecipar a morte?
No plano legislativo já existe hoje em Portugal um instrumento (Registo Nacional de Testamento Vital) que permite, dentro de limites determinados, a um indivíduo de maior idade e capaz, manifestar antecipadamente de forma autónoma a sua vontade, livre e esclarecida, no que concerne aos cuidados de saúde que deseja receber, ou não deseja receber, no caso de vir a encontrar-se incapaz de expressar autonomamente a sua vontade pessoal.
Esta manifestação antecipada de vontade, renovável de cinco em cinco anos, permite à pessoa alterar ou renovar essa sua vontade. São assim respeitados os direitos, quer do requerente, quer do médico, e de outros profissionais de saúde, bem como admitido o erro de prognóstico, possível apesar dos avanços das ciências biomédicas. Pelo contrário, a rápida consumação da morte pelo procedimento da eutanásia torna qualquer rectificação impossível.
O reconhecimento da autonomia e da vontade da pessoa do doente tem lugar no consentimento informado, no direito de suspender terapêuticas ou de não as iniciar e na concretização das directivas antecipadas de vontade.
A legalização da eutanásia é normalmente apresentada como o reconhecimento de um direito.
O direito a dispor da própria vida incluindo o direito a decidir da própria morte. Não é assim. O direito à vida é um direito fundamental, inalienável e irrenunciável. A morte é uma inevitabilidade que decorre da própria vida, não é um direito fundamental. Se assim fosse, não se justificaria o dever do Estado de proteger os cidadãos através de medidas preventivas e proibitivas de comportamentos que ponham em perigo as suas vidas. A autonomia individual é algo que deve ser respeitado, mas uma sociedade organizada não é uma mera soma de autonomias individuais.
Inscrever na Lei a provocação da morte antecipada não é um sinal de progresso mas um passo no sentido do retrocesso civilizacional, com profundas implicações sociais, comportamentais e éticas que questionam elementos centrais de uma sociedade que se guie por valores humanistas e solidários.
A aprovação de legislação que permita a provocação da morte antecipada, não é uma necessidade social ou assistencial. A discussão suscitada publicamente não resulta da reivindicação de direitos e necessidades para as pessoas gravemente doentes, no termo da vida e com intenso sofrimento, mas tem como principal sustentáculo um movimento de opinião com forte apoio mediático, visando consagrar o direito à morte na forma de eutanásia como se esta fosse mais digna.
O recurso à eutanásia é por vezes apresentado como uma garantia de dignidade. Para o PCP, a dignidade da vida humana não se expressa na decisão de morrer. O que está em causa na legalização da eutanásia não é a dignidade individual da opção de cada um sobre o destino da sua vida. É a dignidade de um Estado que pretende oferecer condições supostamente dignas para morrer a pessoas a quem nega condições dignas para viver.
As iniciativas legislativas apresentadas pretendem basear-se na decisão individual de alguém que, confrontado com uma situação de sofrimento insuportável, pretenda pôr termo à vida. Mas essa pretensão é, em todas as iniciativas, um mero pressuposto de uma decisão que não é tomada pelo próprio, a não ser no momento inicial. A partir dele, toda a tramitação e decisões são transferidas para um processo administrativo complexo, onde são chamadas a intervir múltiplas entidades.
Em boa verdade, a decisão da morte antecipada de um doente terminal em sofrimento insuportável não resulta afinal da decisão do próprio, mas de um acto administrativo que, como tal, não pode deixar de ser recorrível.
Está-se assim perante uma contradição insanável. O regime proposto não poderia prescindir de cautelas extremas, mas tais cautelas relegam para um plano secundário, quando não condenam à irrelevância, o sofrimento extremo em que o pedido se baseou.
A legalização da eutanásia é por vezes apresentada em analogia com a da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) que o PCP foi o primeiro partido a defender. Falso argumento. O PCP sempre considerou a despenalização da IVG como a resposta necessária a um flagelo social e um gravíssimo problema de saúde pública. O PCP não defendeu a legalização da IVG baseado em considerações individualistas ou como método de planeamento familiar. O PCP considerou sempre, em primeira linha, o perigo para a saúde e a vida das mulheres que constituía o recurso ao aborto clandestino, e manifestou-se junto dos tribunais quando as mulheres eram sujeitas a processos crime por interrupção da gravidez, mesmo quando outros faziam depender a despenalização dos resultados incertos de um referendo. O PCP defendeu a despenalização da IVG em nome da saúde e da vida. Não há nenhuma comparação com a defesa da antecipação da morte.
Também não é justo associar a posição do PCP sobre a eutanásia a concepções religiosas, pelo facto de as principais religiões a condenarem. As razões do PCP são diversas. As religiões baseiam a condenação da eutanásia na origem divina da vida. O PCP respeita quem assim pensa, mas baseia a sua posição em razões de ordem social: no respeito pela dignidade da vida e por considerar que é o dever do Estado tudo fazer para garantir condições dignas de existência até ao fim da vida.
Ao contrário do que se pretende fazer crer, não há nenhuma tendência internacional no sentido da legalização da eutanásia. Os países que adoptaram legislação nesse sentido continuam a ser casos isolados (apenas quatro em toda a Europa), e os efeitos dessa legislação têm vindo a causar sérias apreensões, tendo em conta que o número de «mortes assistidas» cresceu muito para além do que era suposto e previsível.
A Holanda é o país que mais a pratica, sendo uma percentagem significativa das causas de morte (cerca de 4,0%). A legalização da eutanásia levou a frequentes abusos e práticas para lá das disposições da lei cujo cumprimento se tem revelado difícil controlar.
Na Suíça, está instituída uma verdadeira indústria do suicídio assistido. Aí prolifera um «turismo da morte», baseado em empresas que oferecem os seus serviços recorrendo a um marketing agressivo destinado a aliciar potenciais clientes. Basta aceder aos sites dessas organizações para verificar o «interesse» com que acompanham a possibilidade de despenalização da eutanásia em Portugal.
A realidade dos países que legalizaram a eutanásia não é exemplo que deva ser seguido em Portugal. Não se trata de processo de intenções nem de aplicação da teoria da «rampa deslizante». É a simples observação de uma realidade que não queremos no nosso país.
Os projectos apresentados são idênticos nos procedimentos, com pequenas variantes. Provocar antecipadamente a morte a pedido do doente, administrando uma injecção ou facultando um comprimido de um veneno letal, não corresponde ao significado real da expressão «antecipação da morte» ou da expressão «morte medicamente assistida». Essas formas de dizer revelam a ocultação ao grande público do que se trata de facto: provocar a morte antecipada directamente, a pedido do doente. A morte provocada deliberadamente está fora da medicina.
O PCP reafirma a sua oposição a legislação que institucionalize a provocação da morte antecipada, seja qual for a forma que assuma, bem como a propostas de referendo sobre a matéria.
Num quadro em que, com frequência, o valor da vida humana surge relativizado em função de critérios de utilidade social, de interesses económicos, de responsabilidades e encargos familiares ou de gastos públicos, a legalização da provocação da morte antecipada acrescentaria novos problemas.
Desde logo, contribuiria para a consolidação das opções políticas e sociais que conduzem à desvalorização da vida humana e introduziria um relevante problema social resultante da pressão do encaminhamento para a morte antecipada de todos aqueles a quem a sociedade recusa a resposta e o apoio à sua situação de especial fragilidade ou necessidade.
Não se pode iludir assim os riscos, em particular numa sociedade determinada pelo capitalismo, de uma deriva economicista como forma de aliviar os encargos com a saúde ou a segurança social.
O PCP continuará a lutar para a concretização no plano político e legislativo de medidas que respondam às necessidades plenas dos utentes do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente no reforço de investimento sério nos cuidados paliativos, incluindo domiciliários; na garantia do direito de cada um à recusa de submeter-se a determinados tratamentos; na garantia de a prática médica não prolongar artificialmente a vida; no desenvolvimento, aperfeiçoamento e direito de acesso de todos à utilização dos recursos que a ciência pode disponibilizar, de forma a garantir a cada um, até ao limite da vida, a dignidade devida a cada ser humano.

É esta a concepção de vida profundamente humanista que o PCP defende e o seu projecto político de progresso social corporiza. Uma concepção que não desiste da vida, que luta por condições de vida dignas para todos e exige políticas que as assegurem desde logo pelas condições materiais necessárias na vida, no trabalho e na sociedade.

Texto demasiado longo para o tempo que corre?.
Talvez... mas não há tempo que se perca em reflexão séria e lenta
para quem terá, muito provavelmente, de vir a ter de se confrontar
com uma sua resposta responsável (e se o é!!!) a

eutanásia? >>> SIM - NÃO - ABSTENÇÃO

poderá ler melhor no avante!. 
e aproveitar - já agora - para ter outra informação...  


domingo, fevereiro 16, 2020

I VAmos a ver este caso - Para este domingo

Estivemos fora do País 2 semanas.Acompanhando o que por cá se passava porque, como canta a Melina Mercouri où que me porte mon voyage la Grèce le Portugal me blèsse.
Com as dificuldades naturais (e as de azelhice pessoal...) decorrentes da dependência da utilização dos meios de comunicação que a todo o momento nos informam, desinformam, deformam, fui sabendo do O.E. e doutros acontecimentos e evoluções q.b. e bem pouco era para a vontade de conhecer e participar, sempre comigo.
No regresso, algumas preciosas ajudas para a sempre necessária actualização:

avante! de 13.02.2020 (actual)
.(...)
No meio de tudo isto, emergia a proposta 13C. A tal que o PCP tinha apresentado na fase de especialidade do debate orçamental (foi a primeira das cerca de 300 que pela nossa mão deram entrada) e que visava, apenas e só, repor o IVA nos 6% para a electricidade, gás natural e gás de botija. Sem contrapartidas, faseamentos, modulações ou dependente de autorização de terceiros e que seria, como foi, a primeira a ser votada e rejeitada.
Ora o que é espantoso é como alguns jornais e comentadores, conseguiram transformar o único partido que, sem hesitações, tinha proposto a reversão do aumento do IVA, no principal obstáculo à concretização dessa proposta. Títulos como «PCP mata descida do IVA na luz» mostram até onde pode ir a manipulação.(...)

... e o coronavirus em versão caseira da campanha sinófoba, e a Venezuela segundo o MNE-SS, e a "eutanásia" (leitura que deveria ser obrigatória das páginas 12 e 13 do avante!)
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Mas... hoje é domingo e, sem prejuízo de trabalho que não tem descanso semanal, 
e recuperando o para este domingo:


sábado, fevereiro 15, 2020

UM VIRUS PELA CULATRA ?!


do DIÁRIO DE NOTÍCIAS;

Estudante de Leiria: 

"Só quando chegámos a Portugal é que vimos alarmismo"


“Na China o clima é de calma e tranquilidade. Só quando chegámos a Portugal, na segunda-feira [10 de fevereiro], é que percebemos o alarmismo". Rodrigo Mendes, 20 anos, aluno do curso de Tradução e Interpretação Português-Chinês/Chinês-Português, do Instituto Politécnico de Leiria, é um dos 21 estudantes portugueses que regressaram de Pequim na segunda-feira passada, por causa da propagação do coronavírus - cujo nome oficial é Covid-19.
A viagem de Pequim para Portugal estava marcada para o início de julho, mas a maioria dos estudantes portugueses acabou por regressar antecipadamente, "sobretudo porque os pais estavam preocupados e contactaram o IPL nesse sentido", contou ao DN o jovem estudante.
Natural de Leiria, Rodrigo Mendes faz parte do grupo de alunos que em setembro passado chegou à China para estudar durante um ano, tal como consta do protocolo assinado pelo IPL com as universidades chinesas. De acordo com o estipulado, os alunos do curso de Português-Chinês/Chinês-Português frequentam o primeiro ano em Leiria, o segundo em Pequim e o terceiro em Macau. No quarto ano regressam a Portugal, já para estágio.
Rodrigo veio passar o Natal com a família, em Leiria, e regressou à China a 6 de janeiro, pronto para iniciar o segundo semestre. Mas quando chegou percebeu que não haveria aulas tão cedo, à conta do vírus. Ainda assim, conta ao DN que ele e os amigos continuaram "a fazer uma vida normal", seguindo as indicações recomendadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde)sair à rua de máscara, lavar bem as mãos, e sujeitar-se ao controlo de temperatura que é feita em todos os locais públicos de maior afluência. "Numa das vezes assisti ao caso de uma pessoa que tinha temperatura mais alta que o normal, e imediatamente a polícia chamou uma ambulância que a levou para o hospital", conta Rodrigo, que porém não conheceu ninguém que tivesse sido infetado, ao contrário de outros portugueses que conhece, noutras cidades, e que foram relatando alguns episódios e estabelecendo contactos com a embaixada portuguesa para poderem regressar ao país.

"Vi um povo a mobilizar-se"
"O que eu vi foi um povo a mobilizar-se para controlar o vírus, sempre com tranquilidade. Não se vê uma pessoa sem máscara, percebe-se que as autoridades chinesas estão a fazer tudo para controlar o vírus. Só quando chegámos a Portugal é que vimos alarmismo, a começar logo pela nossa chegada ao aeroporto", acrescenta Rodrigo. O grupo, constituído por 21 estudantes, vinha de máscara. Já era esperado pelas autoridades e gerou-se todo um aparato.
"Pelo adiamento das aulas nas instituições chinesas, por tempo indeterminado, do início do 2.º semestre, os nossos estudantes, com o nosso apoio, decidiram regressar a Portugal", esclareceu ao DN fonte do Politécnico de Leiria, que confirma ter estado no aeroporto a receber os 21 estudantes, "tendo sido seguidas as recomendações das autoridades de saúde".
A cooperação do Instituto com as universidades chinesas teve início em 2006 e pressupõe a realização de programas de mobilidade de estudantes e de docentes. "Os estudantes podem sempre regressar a Portugal no período referente às pausas letivas existentes nas instituições de ensino superior chinesas, nomeadamente no contexto das celebrações do ano novo chinês", acrescenta a mesma fonte da direção.
Por causa do coronavírus, as aulas do segundo semestre ainda não se iniciaram na China. Por esta altura não há ainda data para esse recomeço. Porém, há cinco estudantes do Politécnico de Leiria que decidiram não regressar a Portugal "por sua vontade". Rodrigo sublinha que consegue perceber essas colegas. "Estudar e viver lá é uma boa experiência. Eu nunca pensei que fosse gostar tanto", conta ao DN, ele que partilha uma residência universitária com os colegas de Leiria mas também com outros, do mundo inteiro.
Entre os estudantes portugueses que não quiseram ainda voltar está também uma aluna da Universidade de Coimbra (UC). A jovem é aluna da Beijing Foreign Studies University, em Pequim. "A Divisão de Relações Internacionais tem estado em contacto frequente com essa estudante, que se encontra bem de saúde e não manifestou qualquer interesse em antecipar o regresso a Portugal", refere fonte da UC, que desde 1994 até hoje tem em vigor cerca de 50 protocolos de cooperação com instituições da República Popular da China.
Por esta altura o Ministério dos Negócios Estrangeiros (que tutela o Instituto Camões, ao qual está afetos os professores de português nos diversos países) com contabiliza 18 docentes portugueses na China, sendo que 17 estão em Macau e apenas um em Pequim.
Questionado sobre eventuais pedidos de ajuda para regressar a Portugal, o MNE esclarece que "não tem neste momento em curso operações excecionais de repatriamento de cidadãos portugueses da China, semelhantes à que foi realizada na cidade de Wuhan". De resto, "até ao momento, nenhum professor fez chegar ao nosso conhecimento a intenção de suspender as suas funções na China, regressando a Portugal".

Mário Lúcio, na nossa Grândola - o "pequeno pormenor"








compositor, escritor, pensador. É um dos principais artistas do país de todos os tempos, e o escritor mais premiado do país internacionalmente.
Participe!

Sabia disto?... além de todos os dados bio-curriculares do autor, divulgue-se o pequeno pormenor (não é redundância... é amarga ironia ao quadrado!) que o livro a apresentar tem por tema o Campo de Concentração do Tarrafal iniciado e "construído" pelos presos políticos portugueses (e onde tantos morreram), que mais tarde serviu para colónia penal na guerra colonial, tendo tido presos guineenses, angolanos e caboverdeanos, o que o livro de Mário Lúcio conta em romance extraordinário!

Sabia disto?

Mário Lúcio em Grândola para Concerto e Apresentação de Livro

Mário Lúcio em Grândola para Concerto e Apresentação de Livro
Regional 03 Fev. 2020



Mário Lúcio, cantor, compositor, escritor, pensador, e uma das figuras mais reconhecidas da cena cultural e musical cabo-verdiana vai estar em Grândola dia 22 de fevereiro, para um espectáculo, que tem início às 21h30 no Cineteatro Grandolense. Os sons quentes da Morna, Funaná, Batuque e Coladeira num espectáculo imperdível e intimista. Antes, às 17h, irá estar presente, no mesmo espaço, para a sessão de apresentação do seu livro “O Diabo foi meu Padeiro”.
Os bilhetes para o concerto custam 5€ e estão à venda em: https://ticketline.sapo.pt/evento/mario-lucio-48591
Mário Lúcio, nascido no Tarrafal e antigo Ministro de Cultura e Artes de Cabo Verde,  é um dos principais artistas do país de todos os tempos. É o escritor mais premiado do país internacionalmente, o poeta que marca a viragem na nova poesia cabo-verdiana, e um dos mais conceituados pensadores da sua geração.
Compondo nos principais estilos de música de Cabo Verde, como Morna, Funaná, Batuque e Coladeira, as músicas e arranjos assinados por Mário Lúcio encontram-se numa grande variedade de álbuns. È cantado e gravado por Cesária Evora e por uma gama de cantores emergentes e consagrados no país, como Mayra Andrade, Lura, Nancy Vieira, Lucibella, bem como por artistas do Brazil, Portugal, França e Itália.
Como um dos artistas mais solicitado de Cabo Verde, Mário Lúcio já actuou na América do Norte, América do Sul, Europa, Africa, Ásia, China, Macau e Coreia do Sul.
Ao longo da sua carreira tem recebido inúmeras distinções e prémios, como  Womex- Personalidade do Ano em 2014, Prémio Cubadisco do Melhor Álbum Internacional 2012  ou o Prémio PEN Clube de Literatura para melhor Romance em Português, 2016.

sexta-feira, fevereiro 14, 2020

CORONAVIRUS (Covid-19) - A incomensurável e perversa manipulação!



e-mail de 11.02, enviado "por nós"a um amigo, médico, a viver há mais de 40 anos em Macau:

Querido amigo.......
Temos estado a ser bombardeados diariamente com notícias sobre o estado de alerta na China devido ao coronavírus, e hoje surgiram as primeiras notícias de Macau.
Eu tenho sempre reservas em relação à veracidade do que se lê nos jornais, e quando se trata de acidentes ou tragédias, os jornais quase se tornam mórbidos. Contudo, alguma veracidade haverá, e hoje quando li o “Público” fiquei apreensiva e pensei em ti e na tua família. Como está a decorrer a vossa vida aí? Estão confinados a casa ou podem circular? Qual é a tua opinião como médico sobre esta epidemia?
Se não responderes começo a ficar mesmo inquieta...


Resposta do querido amigo, a 12.02:


Minha querida Amiga
Aqui estou eu escrevendo vivo e sem qualquer ponta de infeção viral.  É verdade que a cidade está vazia de pessoas na rua, mas com somente 10 casos de infeção e nenhuma morte.
Não há proibição de andar na rua, mas é aconselhado pelo Governo e bem que se deve por agora evitar aglomerações de pessoas. É mais exigente no uso da máscara para apanhar um autocarro ou um táxi. Sem máscaras vai-se a pé. Mas funciona. Os supermercados estão abertos e cheios de mercadoria e os mercados também. Pouca ou nenhuma gente nos restaurantes, mas estão abertos aqueles mais populares. Os pequenos e pouco conhecidos estão aflitos sem clientes. O turismo caiu a níveis de 80%. A função publica está em casa com o mínimo nos serviços de forma alternada. As escolas fechadas até ao fim do mês com aulas online. Os casinos fechados mas ninguém parece estar muito incomodado pois os vencimentos não foram cortados.
Mas está-se bem com algumas preocupações quando vai acabar.
Continuo a fazer a minha rotina de compras (supermercado/mercado) sem quaisquer problemas maiores para além de usar a máscara. Vou ao trabalho diariamente para casos necessários. É claro que acabei de ter muito mais preguiça que antes
Mas lá voltarei em breve ao dia a dia anterior. O importante é que há um sentido de responsabilidade com as pessoas cumprindo as regras, o que corresponde pelo menos sem novos casos desde a 1 semana.
Mas vai durar até ao fim de Fevereiro.
Fica descansada vai-se bem.
Novidades do teu filho e do Sérgio?
...

Exemplos destes ajudarão a entender a manipulação 
a que estamos a ser sujeitos
num caso de saúde pública 
- de que não se discute a gravidade -,
como a necessidade de vacinas e outras panaceias,
e a perceber a apresentação "oportuna" de "soluções"
tais como
A PRIVATIZAÇÃO (!) DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE,
tais como
 perguntas e respostas da "nossa" D-G de Saúde
sobre a perigosidade de "encomendar" produtos chineses.

No contexto internacional,
 na guerra pela manutenção da hegemonia do capitalismo,,
 não há peias nem constrangimentos éticos...
VALE TUDO!