sexta-feira, maio 19, 2023

Ferida Calo


OS FERIDA CALO

Ensemble poético-sónico

 

"Numa junção que se vai tornando costumeira nas salas mais distintas do país, a palavra dita e a electricidade encontram-se neste novo projecto.

Textos de fino recorte e melodias maviosas debatem-se numa harmonia conflituosa.

Demasiada reverberação ou excesso de volume poderão deitar tudo a perder quando a intenção é a poesia, mas estes dois heróis cá estarão, do mesmo lado da trincheira, acolhendo de braços abertos quem vier por fusão. A matéria tem sempre razão.

Em conjunto soarão como uma pilha de rádios transistores, cada um sintonizado numa estação diferente. E procurarão apaziguar as dores de quem ande em risco de expulsão universal.

Depois da ferida, das duas uma, ou a crosta ou o calo."

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                                    Palavras de José Agostinho Baptista; Pedro Coelho; Hans 

MagnuEnzensberger; Albertine Sarrazin;

Lou Reed; João de Deus;

 Marighella, entre outros

 

                                                                                    Selecção de textos e voz - JP Patrick

                                                                 

   Composição e instrumentos - Jarvis Shämlock

 


 ... ensaiaram tanto que o risco de despejo se pode universalilizar




 


 

25 de Abril e depois no Zambujal

 


quinta-feira, maio 18, 2023

O direito à Saúde - uma luta que continua

  - Nº 2581 (2023/05/18)


O direito à Saúde defende-se sábado na Marcha Nacional

Em Foco

Defender o direito à Saúde tendo no SNS o instrumento da sua concretização, como consagra a Constituição, é a consigna de uma marcha nacional descentralizada que ocorre sábado, 20, no Porto, em Coimbra e Lisboa.

A iniciativa, convocada inicialmente pela CGTP-IN, pelo Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos (MUSP), pela Federação Nacional de Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS) e pelos sindicatos dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), dos Enfermeiros Portugueses (SEP) e Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde (STSS), está agendada para as 11h00, em Coimbra, frente ao Centro de Saúde Fernão de Magalhães, e para as 15h00 no Porto e em Lisboa, com concentrações de arranque no Hospital de São João e Campo Pequeno, respectivamente.

Ao protesto têm, entretanto, manifestado a sua adesão muitas outras organizações representativas de trabalhadores, comissões de utentes, associações, movimentos e autarquias locais. O mote é contestar a «degradação» e «enfraquecimento» do SNS, que «pode levar ao [seu] colapso em áreas fundamentais», responsabilidade da «política de vários governos», afirmam os promotores.

Em texto divulgado numa petição pública lançada para apoiar a marcha, adverte-se, também, que«o SNS está na mira do avanço dos interesses dos grupos económicos privados com crescente influência nas decisões políticas».

«Degradam-se os direitos dos profissionais e as condições de trabalho. Restringe-se o investimento e o financiamento. Limita-se a autonomia e a democraticidade da gestão. Enquanto isso, uma parcela cada vez maior dos recursos públicos são transferidos para os grupos económicos, empobrecendo o SNS», sublinha-se. Afirmou-se ainda a necessidade de «mais SNS, para com isso garantir o acesso a toda a população, em condições de igualdade, a todos os cuidados de saúde», como consagrado na Constituição, que lhe atribui o papel de «instrumento para a concretização do direito à saúde dos portugueses».

É, por isso, «preciso defendê-lo!», apela-se no referido texto, difundido a propósito da iniciativa.


Alerta geral!

Noutro material de divulgação e mobilização para a marcha, alerta-se que «assistimos à degradação do SNS na resposta às populações e nos direitos e condições de trabalho dos seus profissionais» e que «enquanto os trabalhadores da Saúde ganham cada vez menos e os trabalhadores pagam cada vez mais a Saúde do seu bolso, o Governo transfere crescentes recursos do Orçamento do Estado para o sector privado», o qual, sublinham, não garante o direito dos portugueses à Saúde.

Por isso, não é aceitável «que o Governo continue a não contratar os profissionais suficientes para a prestação de cuidados de saúde aos portugueses», que «desvalorize as suas remunerações, carreiras e condições de trabalho e que lhes imponha uma carga laboral cada vez mais pesada, empurrando-os para fora dos hospitais e centros de saúde públicos, favorecendo os interesses dos grupos privados».

Não é aceitável, insistem, a manutenção de uma política de saúde «que tem como consequência 1 milhão e 600 mil utentes sem médico de família, o encerramento de serviços de Saúde, a manutenção de extensas listas de espera para consultas, cirurgias e tratamentos, a carência de camas de internamento nos hospitais, bem como de cuidados continuados, e o congestionamento das urgências hospitalares por falta de outra alternativa para as populações».

Por isso, apelam a «uma forte resposta de toda a população e dos trabalhadores, a começar pelos profissionais de Saúde», e exigem «condições de trabalho, carreiras e remunerações dignas» para estes, «mais investimento na modernização do SNS», que sejam assegurados «a toda a população os cuidados de saúde, independentemente dos seus recursos económicos, em particular às crianças, grávidas, doentes crónicos e idosos», uma «política de promoção da saúde e prevenção da doença».

Em suma, reclamam «uma política que respeite os profissionais e garanta o direito à saúde», que «recupere e valorize o SNS, conquista de Abril» e «a única garantia do direito de todos os portugueses à Saúde».


Médicos de família e especialistas hospitalares

  • Existem 5395 médicos de família para os 8 864 134 utentes com médico de família, o que corresponde a um rácio de 1643 utentes por médico de família.

  • Aplicando o mesmo rácio, precisamos de mais 1021 médicos de família para os utentes sem médico de família.

  • O Governo abriu concursos com 900 vagas para os centros de saúde e 1500 vagas para especialidades hospitalares, mas afirma que já será um sucesso contratar 250 médicos de família e 600 ou 700 especialistas hospitalares, pouco mais de um quarto e menos de metade das vagas respectivamente anunciadas.

  • Este ano e nos próximos, estima-se quase aposentem anualmente 300 a 400 dos actuais médicos de família.

  • Governo opta por deixar os cerca de 1300 recém-especialistas, que terminaram a formação até Março, à mercê da ofensiva do sector privado para a sua contratação.


Utentes em listas de espera nos hospitais

  • 600 mil pessoas aguardam uma primeira consulta de especialidade pedida através do centro de saúde.

  • O número dispara se considerarmos os referenciados nos hospitais a partir de outra especialidade ou depois de uma cirurgia ou um internamento.


Faltam milhares de profissionais

  • Apesar do aumento estatístico do número de profissionais no SNS, são evidentes as carências, quer porque o número de profissionais não corresponde a um aumento de horas de trabalho global, quer porque as necessidades são muito superiores tendo em conta o envelhecimento da população e a crescente complexidade dos cuidados de saúde.

  • Para além de médicos e enfermeiros, as carências profundas incluem a falta de psicólogos, dentistas, terapeutas, nutricionista, técnicos de diagnóstico e terapêutica, farmacêuticos, administrativos e técnicos e auxiliares de acção médica.


SNS é melhor e mais barato

  • Porque aposta na promoção da saúde e na prevenção da doença;

  • Porque permite a articulação dos cuidados e não a sua individualização, que só serve a mercantilização.

  • O SNS tem melhores resultados com menos recursos, quer em comparação com a média da UE, quer, por exemplo, com a Alemanha, já que a despesa pública com saúde em % do PIB e per capita em Portugal é inferior à média da UE e pouco mais de metade da alemã.

  • Os níveis de mortalidade evitável e tratável em Portugal são dos melhores, inferiores à média e aos da Alemanha e as taxas de sobrevivência em 5 anos após cancro também.


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Na VÉRTICE de há 50 anos - Maio de 1973
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Muito mudou! Muito há que mudar!


sábado, abril 15, 2023

DIPLOMA CIAS


  - Nº 2576 (2023/04/13)


Entrada de leão… saída de sendeiro?

Opinião

Macron realizou uma visita à República Popular da China para a qual convidou Ursula Von Der Leyen. Tal decisão levanta no mínimo várias questões. A primeira porque Von Der Leyen não representa nenhum Estado, nem foi mandatada para tal. A segunda porque mesmo na arquitectura de poder da União Europeia não é a ela que compete a responsabilidade da «política externa» da UE. A terceira porque se o objectivo da visita era verdadeiramente matizar diferenças e afirmar alguma «autonomia» face aos EUA, dificilmente haveria pior escolha, tendo em conta a postura pública e notória de Von Der Leyen de quase total alinhamento com a estratégia dos EUA de crescente confrontação com a China.

Nas vésperas da partida para Pequim, Ursula fez um discurso elucidativo. Repetiu por outras palavras a tese norte-americana do «adversário sistémico»; afirmou, entre outros mimos, que «o objectivo do Partido Comunista Chinês é uma alteração da ordem internacional com a China no seu centro», uma «visão alternativa da ordem mundial em que os direitos individuais são subordinados à segurança nacional, em que a segurança e a economia se sobrepõem aos direitos civis e políticos»; e condicionou as relações da UE com a China à «forma como interage com a guerra de Putin» e à «demonstração de força militar chinesa» nas suas fronteiras terrestes e marítimas, com uma referência específica à «necessidade de paz e estabilidade no estreito de Taiwan», que, pasme-se, «afecta directamente os nossos parceiros [da UE] e os seus interesses legítimos». Pior preâmbulo de uma visita diplomática seria difícil.

Mas a paciência e sabedoria chinesas lá lidaram com esta dupla para a qual só encontramos três explicações: ou a imagem do polícia bom e polícia mau, mais um sinal das contradições que se acumulam para os lados de Bruxelas ou… ambas. Apesar das aparências, da saída de sendeiro de Von Der Leyen, e da frase de Macron de que a Europa deve resistir à pressão para ser um vassalo dos EUA, inclinamo-nos para a terceira hipótese. A recente notícia de uma possível visita de deputados franceses a Taiwan comprova que não se pode confiar muito nas palavras de Macron… nem no agora silêncio de Von Der Leyen.

Ângelo Alves



sexta-feira, abril 14, 2023

passo-a-passo para se chegar aos saltos

depois da posse de DILMA como presidente  Novo Banco de Desenvolvimento - BRICS+ 

(+ de 40% da população mundial e de 1/4 PIB)

Na China, Lula critica uso do dólar 

no Banco do Brics

O presidente defendeu o uso de uma moeda única do Brics. 

Publicado em 13/04/2023 - 10:49 Por Priscilla Mazenotti - Repórter da Rádio Nacional - Brasília

No primeiro evento da viagem à China, a posse de Dilma Rousseff no comando do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do Brics, o presidente Lula fez críticas ao modelo tradicional de financiamento das instituições financeiras internacionais e à conduta do FMI no que chamou de “asfixiamento de economias”

Ele também fez críticas ao dólar, disse que se pergunta porque todos os acordos devem ser feitos na moeda norte americana, e defendeu o uso de uma moeda única do Brics. 

Lula ainda destacou o papel do banco como instrumento de combate às desigualdades atendendo aos mais afetados por questões econômicas e climáticas e disse que, após um período de ausência internacional, o Brasil está de volta. 

Lula também falou da importância de Dilma Rousseff no comando do banco. Pela primeira vez, a instituição será presidida por uma mulher. E no discurso de posse, a própria Dilma falou em oportunidades para os países emergentes. 

Depois de passar por Xangai, o presidente chegou nesta quinta-feira (13) à Pequim, onde terá encontro com o presidente Xi Jinping e fará assinatura de acordos bilaterais em diversas áreas. 

sexta-feira, março 31, 2023

A DIPLOMACIA DE ARMAS EM PUNHO

"Mãos ao ar!"

 - Nº 2574 (2023/03/30)

(Im)parciais

Opinião

«A diplomacia em primeiro lugar», prometida por Biden ao chegar à Casa Branca, parece uma piada de mau gosto quando se assiste à escalada desenfreada do dito orçamento da «Defesa». Depois de terem aprovado para 2023 o maior orçamento militar da história, os EUA preparam-se este ano para romper todas as barreiras e alocar mais de 950 mil milhões de dólares às despesas militares, o que coloca a fasquia da corrida para a guerra à beira de 1 bilião de dólares.

Segundo o órgão online Truthout, citando dados do Projecto Custos de Guerra da Brown University, na origem da escalada desenfreada de custos está uma estratégia de superação militar global, incluindo 750 bases militares dos EUA espalhadas por todos os continentes, excepto na Antártida; 170 000 soldados estacionados no estrangeiro e operações «antiterroristas», agora rebaptizadas «de combate ao extremismo violento», em pelo menos 85 países.

Com cerca de 100 ogivas nucleares armazenadas na Europa, em bases aéreas na Bélgica, Alemanha, Itália, Países Baixos e Turquia; com bases militares da NATO na Estónia, Letónia, Lituânia, Noruega e Polónia – todos fazendo fronteira com a Rússia –, e com a adesão da Finlândia e a Suécia na calha, os EUA classificam de «perigosa e irresponsável» a decisão de Moscovo de colocar armas nucleares na Bielorrússia, enquanto a União Europeia considera que tal facto seria uma «escalada irresponsável e uma ameaça à segurança europeia». O busílis da questão, como se comprova, não é a arma, mas o dono: o nuclear é bom se for americano e mau se for russo. E isto apesar de os EUA continuarem a deter o exclusivo de um ataque nuclear.

A mesma lógica preside à desvalorização e menosprezo das iniciativas de paz, como a apresentada pela China para pôr fim à guerra na Ucrânia, em contraponto com o entusiástico acolhimento ocidental da decisão do TPI de emitir, no curto espaço de um ano, um mandado de detenção contra o presidente russo, Vladimir Putin, acusando-o do crime de guerra de deportação ilegal de crianças.

No calor do aplauso «esqueceu-se» que o Promotor Kan responsável pela medida é o mesmo que em 2021 abandonou a investigação dos líderes americanos e seus aliados por crimes de guerra no Afeganistão. O inquérito preliminar foi iniciado em 2007, mas a autorização para a investigação oficial demorou 13 anos a chegar. O TPI reconheceu que havia motivos razoáveis ​​para acreditar que tinham sido cometidos crimes de guerra, incluindo tortura, ultraje à dignidade pessoal, estupro e outros tipos de violência sexual nos centros de detenção, no entanto, em 2021, depois das sanções de Trump, «investigação imparcial» passou a visar só talibãs e membros do ISIS. É a «Justiça» Ocidental.

Não há guerras limpas, bem sabemos. Mas por isso mesmo é que não se pode pactuar com a hipocrisia.

Anabela Fino