quinta-feira, junho 29, 2017

Leituras oportunas

                                                                                                       

AS MÃOS E OS VENTOS

Das palavras amordaçadas em nossos lábios roxos
nascerão ventos, nascerão ventos

E nascerão mãos
para conduzir os ventos


Edição de 1952,
um livro a ler
de vez em quando


terça-feira, junho 27, 2017

Uma semana completa, inteirinha, sem aqui vir, sem vos visitar!
Mas não se preocupem os amigos, os que teriam dado pela falta.
De boa saúde, com muito trabalho. Algum abusivamente absorvente!
Até já!

11ª MEIA MARATONA DE TEATRO - Apollo






domingo, junho 18, 2017

Para este domingo

Vida activa!

O dia de ontem foi, em grande parte, dedicado ao 1º encontro distrital da FARPIR-Federação dos Aposentados, Reformados, Pensionistas, Idosos do Ribatejo, em Alpiarça (Casa dos Patudos). Talvez seja útil destacar algumas reflexões para debate. Na minha participação, procurei contribuir com algumas considerações e gráficos sobre a evolução demográfica, em que tentei expor a falácia das estatísticas e a necessidade de corrigir conceitos operativos como o de idade activa e de o substituir pelo de vida activa.


% população residente
(15-64; -15; +65)

        estimativa +65; -15                                                                                                      



«(...) Por último, mas não por fim ..., há que nos libertarmos de conceitos de pensamento único como é esse, verdadeiramente castrador, de que trabalhar é vender a força de trabalho;
há que recusar o conceito que lhe que está associado de que a reforma é um peso para a sociedade porque quem a recebe não contribui para o que lhe seria oferecido por se manter vivo, ou sobrevivo, mas é, sim, o receber parte do que foi conquistado por e para todos, também por si, pelos idosos, reformados e pensionistas.
Numa organização social que tenha o ser humano como começo, meio e fim (e medida) de tudo, uma peça ou aparelho que prolonga ou substitui parte do corpo humano, não pode provocar desemprego, porque tais peças ou aparelhos foram criado pelos seres humanos para lhes permitir tempo livre;
o que se ilustra pela necessidade de, pelo menos, dividir em duas ou três parcelas a população acima dos 55 anos:
i) uma, mantendo-se inteiramente activa embora fora do mercado da força de trabalho (agriculturando, carpinteirando, ensinando, aprendendo, escrevendo, pintando, fazendo o seu comércio por conta própria, dando consultas médicas – outras – por voluntariado, cumprindo tarefas que só avós e avôs);
ii) outra, mantendo alguma actividade parcial e condicionada;      
iii) outra ainda, inactiva por incapacidade física e exigindo cuidados continuados.
Seres humanos a que conquistas da humanidade prolongam a vida não são (e não se podem tratar como) um fardo, um peso para os seres humanos seus contemporâneos. Não se está a pedir nada! 


Estamos a aprende-lo, à nossa custa. Lentamente. Seguramente.»
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Referência bibliográfica citada:
«Quando se considera um determinado país, 
sob o ângulo da economia política, 
começa-se pela sua população(…). 
No entanto, vendo mais de perto, este método pode falsear tudo. 
A população é uma abstracção se se deixa de lado, 
por exemplo, as classes de que ela se compõe.
Estas classes são, por sua vez, 
palavras vazias de sentido 
se ignoro os elementos sobre que assentam, 
por exemplo, o trabalho assalariado, o capital, etc.
 Estes pressupõem a troca, a divisão do trabalho, o preço, etc.
Assim, 
se se começasse e ficasse 
pela população como um todo, 
ter-se-ia uma representação caótica do conjunto…»

Dizia Marx 
(mais ou menos… 
em alemão traduzido do francês em 
karl marx-oeuvres choisies1, idées nrf,
1963, Editions Gallimard)


sexta-feira, junho 16, 2017

Socialismo, exigência de actualidade e futuro



O PCP promove no próximo sábado, 17, o Seminário «Socialismo, Exigência de Actualidade e do Futuro», um dos pontos altos do seu programa de comemorações do centenário da Revolução de Outubro. O seminário realiza-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na Cidade Universitária, durante todo o dia, com início às 9h30 e encerramento às 19h00. Para além de Jerónimo de Sousa, intervirão cerca de duas dezenas de oradores convidados, entre os quais Albano Nunes, António Avelãs Nunes, José Barata-Moura, Manuel Loff, Maria da Piedade Morgadinho e Ruben de Carvalho.


Numa nota emitida pelo Gabinete de Imprensa do PCP, no dia 12, sublinha-se que «cobrindo um amplo e variado leque de temas, o Seminário propõe-se evidenciar a extraordinária importância histórica daqueles “dez dias que abalaram o mundo”, na feliz expressão da célebre obra de John Reed, que as Edições Avante! reeditarão nesta ocasião, as realizações e conquistas do empreendimento de construção da nova sociedade a que deu lugar, a influência determinante do sistema socialista nos avanços progressistas e revolucionários do século XX, o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo e a exigência cada vez mais actual e urgente da sua superação revolucionária com a construção do socialismo e do comunismo».

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Um muito relevante seminário!

Bem gostaria de estar presente
- e eventualmente participar, lembrando 1848
e os vários "socialismos" que Marx e Engels 
(d)enunciam no Manifesto
reaccionário 
(feudal, pequeno burguês, alemão ou "verdadeiro"), 
conservador ou burguês - 
mas outros caminhos, tarefas... e idade mo impedem.

Paciência!...
 que, como diz Jerónimo de Sousa,
é revolucionária.

terça-feira, junho 13, 2017



Lá estaremos!



"of course"...

     
Breve aponta mentes, em Expresso curto, por:


Valdemar Cruz
Jornalista

Enquanto Lisboa Dorme

13 de Junho de 2017


Valdemar Cruz
Valdemar Cruz
Jornalista

Enquanto Lisboa Dorme

13 de Junho de 2017



Hoje é o dia! Eis chegado o momento de proclamar a gloriosa máxima dos idos de 1975 e outros quentes verões, quando bombas explodiam e matavam a Norte, onde, dizia-se, se trabalhava, enquanto no Sul se gastava o dinheiro. Está encontrada a deixa, porque é de dinheirinho que quero falar nesta manhã trabalhosa, chuvosa e de grandes trovoadas, a Norte, enquanto no sul lisboeta se faz gazeta. O dinheiro vem à colação a propósito de um acalorado debate ontem travado na Assembleia da República. Por isso, é este o momento em que apetece dizer, não apenas por tique reacionário, que Lisboa anda mesmo a dormir. Entenda-se aqui Lisboa como metáfora do poder político sediado na capital e que não sabe, não pode, ou não quer lidar com esse monumento à livre iniciativa e ao capitalismo solidário – contradição nos termos? – que dá pelo nome de “off-shore”.

PSD e CDS atiraram-se ao Governo por, ao excluir o Uruguai e as ilhas de Man e de Jersey da lista negra de paraísos fiscais, ter cometido uma ilegalidade. Ripostou o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais para dizer que aqueles partidos estão a criar “uma floresta de fantasias e falsidades”. Sobre o que está em causa neste debate, nada como ler o detalhado trabalho do Adriano Nobre com 15 perguntas capazes de dar resposta a algumas das questões essenciais sobre um tema que ao longo dos anos tem aproximado, mais do que distanciado, sucessivos governos com a participação do PSD, CDS e PS. Em causa estão paraísos de acesso restrito, onde nem a lei fiscal, nem as autoridades judiciárias ou a supervisão financeira entram, decidem, ou controlam o que quer que seja. São muitos e estão espalhados pelo mundo, como o mostra este trabalho da Economist Intelligence Unit.

São milhões, biliões de euros a circular em roda livre, ao ponto de, num estudo bem mais antigo daquela estrutura ligada à insuspeita The Economist, sintomaticamente intitulado “Lugares ao Sol”, se afirmar, após o sub-título “parasitas ou pioneiros?” que estes centros “são frequentemente retratados como parasitas financeiros que sobrevivem desviando impostos e outras receitas da economia ‘real’, oferecendo um paraíso para fraudes fiscais e lavagens de dinheiro. Em parte isto continua a acontecer – mas acontece de igual modo nas grandes economias”. Pois. Valha-nos Stº António, que não tem culpa nenhuma disto e só está à espera do S. João para tomarem juntos um copo com o S. Pedro. Até porque já perceberam que, não obstante estes ocasionais e trepidantes desaguisados, tudo vai continuar na mesma no que às “shores” que são “off” diga respeito. Porque Lisboa prefere continuar a dormir.

(...)
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"Acordai!" 
enquanto tanto há quem cante e dance...
 (e não é só em Lisboa!)
          

domingo, junho 11, 2017

Que se (lhe) faça justiça!

Há pouco, na madrugada insomne para que me deu a procura de informação (informar-SE, informar-SE!), corria e aproveitava a Economia do Expresso quando deparei, na discutível coluna dos "ALTOS E BAIXOS", com uma cara que pouco tem aparecido e com uma notícia que, se não me deu alegria, me trouxe algum conforto:

Este ca valheiro é, como é bem dizer, um caso paradigmático. Depois de uma participação governamental "exemplar", que terminou com esse "negócio já de si bastante polémico" de "ajuste directo a um mês das eleições legislativas", teve logo logo o prémio de ser contratado para o Banco de Portugal para liderar a venda do Novo Banco, onde não se terá poupado a esforços negociais evidentemente muito bem remunerados. 
Face a este "sinal" vindo da PGR, sei que é esperar muito... mas que se (lhe) faça justiça!


“Entregues aos bichos…”

… ou quando campanhas de classe se identificam – evidente, inequivocamente! – com posições patrióticas, de luta por “um futuro de Portugal minimamente independente”.
As campanhas do PCP sob os lemas de Produção e soberania, de combate à submissão de Portugal à União Europeia têm-se sucedido, e encontraram uma indesejável evidente justificação na recente evolução que denuncia claramente uma estratégia em que se inserem os casos de “resolução” de problemas em unidades do “sistema bancário português”, sempre a fugir ao indispensável controlo público.
Nicolau Santos, na sua página 5 do caderno Economia do Expresso de hoje traça, em Banca: A agenda escondida da CE e BCE, uma clarificadora síntese da situação, a partir da compra do Banco Popular pelo Santander, anunciada esta terça-feira
 É, no entanto, de lamentar que, sendo o artigo esclarecedor, seja tão sintético que ignore campanhas e posições que esclareceriam mais e melhor. Como as comissões de inquérito da Assembleia da República, e particularmente os livros de Miguel Tiago e Ana Goulart, o possiblitariam. Ao menos, a referência a trabalho sério, responsável, atempado… e anterior aos ora sintetizados desenvolvimentos.


sábado, junho 10, 2017

Em velho ser com direitos

Conversaremos sobre isto...



terça-feira, junho 06, 2017

Adenda ao "post" anterior

“Não se brinca com empresas cotadas”, diz Eduardo Catroga

O representante dos accionistas da EDP diz que estão a ser ponderados processos contra os autores da denúncia anónima que motivou as investigações do Ministério Público.

Mexia arguido?... ao qu'isto chegou!

Ao tentar esclarecer-me sobre isto que me confunde (e contribuir para o esclarecimento de outros, por ínfimo que seja o contributo...), acabei de me informar d' "disto" na RTP:

Para além do Presidente da EDP, são também arguidos outro administrador da EDP e dois administradores da REN.
Em causa estão os Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC), que substituíram os Contratos de Aquisição de Energia (CAE), a partir de 2004.
"Houve uma queixa anónima e uma queixa identificada sobre o mesmo processo. A Comissão Europeia, em 2013 e no mês passado, arquivou os processos afirmando estar totalmente esclarecida e considerando que os processos eram os expetáveis numa economia de mercado", explicou António Mexia em conferência de imprensa.
E acrescentou que quando essa decisão foi conhecida foi pouco comunicada. Disse ainda que as pessoas em causa, que foram constituídos arguidos, "estavam a agir como representantes legais dos órgãos" e refere que "as decisões foram colegiais".
Processo "escrutinado ao longo de décadas"
António Mexia referiu ainda que a EDP teve acesso ao processo na segunda-feira e aproveitou para prestar esclarecimentos públicos dizendo que o que está em causa “é um processo antigo que tem décadas. É um processo que foi amplamente escrutinado ao longo de décadas, pelo Parlamento, pelos vários Governos e pela Comissão Europeia”.
Em conferência de imprensa, António Mexia lamentou não ter podido esclarecer o objeto da investigação, em que é um dos quatro arguidos, logo na sexta-feira, dia em que foram realizadas buscas na EDP e na REN.
"Temos pena de não ter podido fazer isto na sexta-feira ou ontem, mas só ontem tivemos acesso ao processo. Por isso, só hoje podemos explicar o que está em causa".Recorde-se que a EDP e a REN estão no centro de uma investigação por suspeitas de corrupção envolvendo os polémicos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC). Uma designação que os portugueses se habituaram a associar às rendas recebidas pela EDP.
Processos arquivados pela Comissão Europeia
O gestor salientou ainda que a Comissão Europeia "em 2013, sobre um dos temas, e em 2017, o mês passado, se considerou totalmente esclarecida, arquivando os processos".
"As pessoas querem saber o que está em causa. São dois temas e para os perceber é preciso perceber o timing, como evoluíram ao longo do tempo", disse Mexia.
"Começando pelos CMEC (Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual), em 2004, os contratos CAE não era compatíveis com as regras comunitárias, no quadro da liberalização e foi preciso alterar os contratos com o objetivo de assegurar a neutralidade financeira. O processo de fixação das regras não teve o envolvimento da EDP. Foi uma negociação entre o Governo da altura e a Comissão Europeia que auditou o processo e o aprovou em setembro de 2004. Na altura estabeleceu um montante máximo de compensações que nunca foi atingido até hoje.
O regime dos CMEC seria mais favorável do que os CAE?, questionou Mexia. E explicou que "tinha associados novos riscos. Prova é que os outros operadores recusaram a adoção deste mecanismo que era obrigatório por lei. A EDP cumpriu. Fomos obrigados e fizemos. É claro que o Estado era o maior acionista".
"Não me parece um benefício"
O segundo tema diz repeito ao prolongamento do prazo de concessões das barragens. "Foi confirmado que a EDP teria direito a 1,35 mil milhões de euros se entregasse as hídricas ao Estado. Sobre os valores da remunerações pós 2007 para a EDP, não foram fixadas em 2007, mas sim em 1995 e revistas em baixa em 2004 para cumprir a lei. O que se faz em 2007, mantendo o espírito da neutralidade, foram feitas alterações do valor inicial a receber pelos CMEC da EDP de 3.356 milhões de euros para 833 milhões, o montante inicial foi reduzido em 75 por cento. Não me parece um benefício".
Já no domínio hídrico, o gestor explicou que o que estava em causa era o fim dos contratos. Aí a EDP teve de entregar 2.115 milhões de euros, dos quais 759 milhões de euros adicionais, face ao que estava previsto nas regras de 1995.
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Esclarecido? Nem por isso... 
Mas se "os processos eram os expetáveis numa economia de mercado" ("espetáveis"?!), se a Comissão Europeia arquivou os processos, e se não parece a Mexia que tenha havido um benefício, se mais se quer?... quem se atreve a pôr em causa tais pressupostos com pressuposições espúrias?
Só pode haver boa gestão e méritos pessoais e intransmissíveis (de Mexias, Pinhos & Cia., Lda.).

segunda-feira, junho 05, 2017

A candidata nº 1 da lista à AM de Lisboa

Sobre Ana Margarida de Carvalho, apetece escrever (depois de a ter lido e das boas notícias), como se pode ver pela prova junta (haveria muito mais):


quarta-feira, agosto 31, 2016

"Não são os deuses que dormem, nós é que os sonhamos"

de  factos i relevâncias:
31.08.2016
Antes passar às coisas terrenas, do chão e do céu, da natureza e dos seres humanos, da vida e da luta, um pequeno (porque grande seria a obscenidade) desabafo sobre o que acabo de “ouver” do Brasil.

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julgamento linchamento político da Dilma (que não idolatro nem odeio, que nem conheço pessoalmente de lado nenhum) é um episódio asqueroso, insuportável.

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Há alguns personagens dessa ignomínia à democracia que fazem discursos que parecem retirados, palavras ocas ou cheias de peçonha, discursos tristemente irónicos, do que estou a ler – como obra literária de enorme valia – em que estou a fazer, como escreve Domingos Lobo, no avante! , uma viagem “…pelo mais obscuro e silente da nossa condição em conjunções de abismo, de caverna, de esconjuros…” ,discursos que nele se incluiriam “… como uma missa negra, lírica e grotesca, a que preside, com o terror do silêncio e da ausência (Não são os deuses que dormem, nós é que os sonhamos, pág. 229)”. 
 
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É curioso como nesse livro – Não se pode morar nos olhos de um gato, de Ana Margarida de Carvalho –, de que saboreio gostosamente a escrita e onde, por vezes, me arrepio e sofro pelo que fomos e somos, já anotara (na página 73), entre meia dúzia de frases, aquela que Domingos Lobo cita da página 229, e que é o título do “capítulo amarrado” (o 6º), numa escrita em que algumas delas serão como que uma coluna vertebral de uma escrita em língua portuguesa rica, prolixa, fecunda.


(...)
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Mas não é apenas pela literatura (aliás, a CDU já teve um primeiro da lista à Assembleia Municipal de Lisboa - e que foi presidente dela - que foi Prémio Nobel da Literatura) que me congratulo com a notícia. A jornalista e escritora Ana Margarida de Carvalho não "cai de para-quedas" no estranho (para alguns insólito) mundo da intervenção política:

Discurso de Ana Margarida de Carvalho,
no Encontro de Jerónimo de Sousa 
com as Mulheres, na Casa do Alentejo 
(Setembro de 2015)

Bem-vindas e bem vindos!
Obrigada por terem vindo; para mim, acreditem, é uma grande honra estar aqui.
Eu, enquanto jornalista e escritora, gosto muito de palavras mas, sem querer parecer a Maria Luís Albuquerque, nem querer maçar-vos demasiado, venho aqui falar-vos de números.
(só para estabelecer o cenário dos últimos 5 anos, e que me faz acreditar que vivemos hoje num país em estado de emergência, fruto de um ciclo recessivo e de uma maldição que não nos abandona, a da dança das cadeiras PS/PSD, e que em tão pouco tempo empobreceu o país e o fez regredir em termos sociais, em termos de direitos laborais, de igualdade de direitos, e culturais também, de mentalidades… enfim, em termos civilizacionais teremos regredido uma década e meia: Vamos ver os anos que demorará a nossa sociedade a sarar, a cicatrizar, e esta geração hipotecada a recompor-se…)
E os números são estes:
-meio milhão de empregos destruídos,
-meio milhão de emigrados,
-800 mil portugueses em estado de pobreza,
-600 mil crianças a quem foi retirado o abono de família,
E mais: famílias assaltadas, famílias amputadas, capital social delapidado, cortes trágicos na cultura, na educação e na saúde, e uma quantidade de jovens, não só jovens, adultos também, que vivem a ilusão de um emprego, em estágios não remunerados, ou remunerados a níveis atentatórios da dignidade, em situações abusivas, numa espécie de escravatura consentida. Que é como quem diz, «olha, mais vale isto que nada»… «mais vale andar entretido»…. Não! O «antes isso que nada» não pode ser admitido, com o paternalismo com que dantes se dizia «olha, pelo menos não se mete na droga».
Os nossos patamares estão tão rasteiros, nivelaram-nos tanto por baixo, que já se toleram raciocínios destes como se fossem normais. E não, não é normal.
 Noutro dia, uma colunista dizia que não se devia falar de desemprego mas de «entre-projectos». E não se esqueçam de outros léxicos, novas semânticas, expressões ultrajantes: quando nos chamaram «piegas», quando nos mandaram «sair para fora da zona de conforto» (isto queria dizer emigração), quando aquele caridosa senhora veio falar dos «profissionais da pobreza». Tudo isto aconteceu. E não, o «antes isto que nada» não é normal. Assim como não é normal, passados 41 anos de democracia, termos de voltar a insistir e a defender o óbvio.
Não valem a pena os eufemismos, nem estas requalificações, reajustamentos (lembram-se que se usava esta expressão «reajustamento» quando se queriam referir a diminuição de salários): agora somos nós que dizemos não aos vossos reajustamentos lexicais e aos vossos inconseguimentos. O que está em causa tem nome e vem no dicionário: chama-se desemprego, chama-se pobreza, chama-se indigência, chama-se miséria, chama-se afronta à dignidade.
O trabalho é uma coisa muito séria, não se trata de uma entretenga, ou de um hobby nem de um passatempo, é fonte de riqueza de um país, deve ser encarado como um direito: à realização pessoal de cada um, um direito a uma realização colectiva. Ora, eu queria incidir a minha intervenção na questão das mulheres neste mundo de precariedade. E desse bem raro que é um emprego, sobretudo quando é digno, estável e compatível com a nossa formação e habilitação.
Muitas vezes me têm perguntado como é ser jornalista e mulher, como é ser escritora e mulher? E o que me parece inadmissível e me deixa com um desgosto considerável é como é que, no século XXI, em plena Europa, num Estado de Direito, esta questão ainda se coloca. Mas coloca. E o que eu posso dizer sobre isso é que as mulheres, neste mundo de precariedade, têm de esforçar o dobro para conseguir metade.
E apercebi-me disto justamente quando cheguei ao mercado de trabalho. Até aí tinha andado distraída, não fui educada assim, na minha família, eu e os meus primos, rapazes e raparigas, tínhamos as mesmas tarefas e andávamos todos calçados com botas iguais. Agora basta ver: nos jornais, redacções maioritariamente femininas, e raramente ouvimos falar de uma directora de jornal, quanto muito editoras e subdiretoras. Os directores são homens.
Antes do 25 de Abril, as mulheres ganhavam menos 40% do que os homens. Há 41 anos, não foi assim há tanto tempo (o salto de duas gerações), as mulheres não tinham direitos de cidadania, eram impedidas de coisas tão básicas que, hoje, nos parecemos transportados para tempos ainda mais remotos ou para outras latitudes…O marido podia proibir que a mulher trabalhasse fora de casa, podia rescindir-lhe o contrato; por mais que estudassem elas não tinham acesso à carreira da magistratura, diplomática, militar, polícia… A carreira de enfermeiras ou hospedeiras implicava limitações e restrições de direitos, como o de casar… Podia ser repudiada pelo marido no caso de não ser virgem, o marido tinha direito de lhe abrir a correspondência, mães solteiras não tinham protecção legal, havia a distinção de«filhos ilegítimos», se o marido apanhasse a mulher em flagrante adultério e a matasse podia até não ir preso…
E falamos de taxas de analfabetismo, nos anos 70, na ordem dos 33, 6%. Passo a ler, com bastante repugnância e sei que vai ser doloroso, algumas palavras de Salazar. Referia-se ele aos países e aos lugares onde a mulher casada concorria com o trabalho do homem (vejam só, tamanho atrevimento…): «a instituição da família, pela qual nos batemos, como pedra fundamental de uma sociedade bem organizada, ameaça ruína. E Portugal é um país conservador, paternalista – e Deus seja louvado – atrasado, termo que eu considero mais lisonjeiro do que pejorativo».
E são verdadeiramente terríveis estas ressonâncias, estes ecos que ficam do discurso de agora, o discurso do país dos pobrezinhos, do sacrifício, dos obedientezinhos…
O famoso artigo 13ª da Constituição (todos são iguais perante a lei) chegou em 1976. Pois, mas não: a trabalho igual continua a não corresponder salário igual- um princípio que nos parece tão elementar.
E no entanto, mais números: - em média as mulheres ganham menos 18% de remuneração base do que os homens (na EU, as mulheres ganham menos 16,2% do que os homens)
E podem até perguntar: Estas disparidades salariais são mais elevadas entre profissões de menor qualificação? Não, pelo contrário. Mais estudos equivalem a menos salários. As disparidades aumentam entre os quadros superiores, e entre licenciados. Aqui as mulheres auferem, segundo dados recentes, menos 27,8% a 30,2% do que os homens.
Claro que nos cargos de níveis salariais muito altos as mulheres estão sub-representadas (refiro-me aos cargos de decisão nas empresas). Apenas 9% de mulheres ocupa, por exemplo, cargos de administração nas empresas do PSI 20. Muito menos de chefia.
Para ganhar o mesmo que os homens ganham num ano, as mulheres teriam de trabalhar mais 65 dias.
Porém: O número de doutoradas duplicou; subiu em flecha, a partir de 2001, sensivelmente ao longo da primeira década do anos 2000, o número de investigadoras 120% (são hoje 45% do total nacional).
As desigualdades salariais agravaram-se.
E no entanto: O ensino superior é frequentado em 57% por mulheres e 42 % por homens.
No ranking mundial de igualdade de direitos entre homens e mulheres, Portugal encontra-se em 34º lugar. Nada de que nos possamos orgulhar.
Como vêem, não é só a Luísa, a tal a do António Gedeão, que continua a subir a calçada, sobe, que sobe, Luísa, sobe a calçada. A doutora Luísa, a engenheira Luísa, a professora doutora Luísa também sobem a sua rampa. E nunca, mas nunca (se continuarem estas políticas e esta mentalidade) chegarão lá acima.
E estas minhas palavras são um pouco amargas e um pouco zangadas. Mas é impossível não ficar zangada ou revoltada com o estado em que deixaram um país com tanto passado, e agora um presente tão precário, como um chão carunchoso onde que não se pode pisar... Eu não queria terminar assim. Até porque acredito numa alternativa, e acredito na importância, e até na urgência, em alargar e fortalecer o grupo parlamentar do PCP: temos muito tempo a recuperar, muita energia, muito património, muito optimismo perdido, muitos direitos a resgatar…
E, há pouco tempo, estive a ler umas palavras de Álvaro Cunhal sobre a importância da alegria, de nunca perder a alegria, de como a alegria é fundamental para um povo. E sobre o humor, em A Arte, o Artista e a Sociedade: «Faz falta permanentemente à sociedade como elemento de descontracção de tensões e silenciamentos, como elemento promotor da reflexão, como incisiva chamada crítica, rompendo constrangimentos, hesitações e temores».
 E há um cantautor, que agora está na moda citar em discursos, que tem uma música chamada Dias Úteis: «Por pretextos talvez fúteis a alegria é o que nos torna os dias úteis».
Portanto, não percam a dignidade; não deixem que vos roubem a alegria…

Uma boa notícia!


















Logo,
direi mais!

Para esta 2ª feira (em resposta a um comentário)

domingo, junho 04, 2017

sábado, junho 03, 2017

Manifestação CGTP de hoje



À partida do Marquês de Pombal, em Lisboa, o secretário-geral da central sindical, Arménio Carlos, sublinhou a centralidade da luta dos trabalhadores e a necessidade de dar um sinal ao Governo para que não fique «à sombra dos resultados que tem obtido».
Porque há questões na vida dos trabalhadores – das quais a CGTP-IN destaca a necessidade do aumento dos salários e do salário mínimo nacional, de dar força à contratação colectiva ou combater a precariedade –, a central anunciou no 1.º de Maio a convocatória das acções de hoje.
Nos últimos meses têm-se desenvolvido acções reivindicativas em várias empresas e sectores, algumas delas já com resultados obtidos.
«Não basta dizer que se muda, é preciso mudar», afirmou Arménio Carlos, referindo ainda a necessidade de serem alteradas as normas introduzidas na legislação laboral nos últimos anos, particularmente no período da troika, classificadas como gravosas para os trabalhadores pela CGTP-IN.
Integrando uma delegação do PCP, Jerónimo de Sousa considerou que a ideia de que «é preciso ter calma», utilizada pelo Governo para justificar o adiamento e o faseamento de várias medidas esbarra na necessidade de ir mais longe. Como exemplo, lembrou que há trabalhadores sem aumentos salariais há dez anos, nomeadamente na Administração Pública, e com as carreiras congeladas.
Esse «não é um bom caminho», sustentou,«porque leva a desilusões, leva a protesto, naturalmente, leva à luta».
Sobre o direito à contratação colectiva, o secretário-geral do PCP considerou que este deve ser reconhecido «sem constrangimento» – um direito «conquistado a pulso», lembrou.
A coordenadora do BE, Catarina Martins, disse compreender «que a CGTP sinta a necessidade de sinalizar este momento», afirmando ainda que o seu partido vai continuar a intervir no Parlamento.