Do muito que li, ou por onde passei os olhos, nesta
semana de tanto para ler, ouvir e ver, houve uma frase que retive e que, de
certo modo, se impôs às minhas reflexões:
Uma das evidências é que as
regiões mais castigadas têm elevada dependência da indústria, comércio e
turismo.
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Era conclusão de um estudo sobre a evolução do
desemprego registado nos concelhos
do continente de Portugal, o que não é o mesmo que desemprego real, até porque a malha e pentração
dos serviços de inscrição dos desempregados não é homogénea, mas serve para
aproximações à evolução do desemprego.
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O que fez reter-me nessa frase, ou o que se me
agarrou, foi poder servir para síntese de uma evolução da economia (e da
sociedade) portuguesa que é questão que me ocupa e preocupa.
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No contributo de Collin
Clark para a análise macro-económica, haveria um sector primário (agricultura,
pesca), um sector secundário (de transformação ou industrial) e um sector
terciário (o de construção, comércio e outros serviços).
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A evolução económica
geral passaria por uma secundarização,
ligada à industrialização, para uma terciarização, com predominância dos
serviços, onde se inclui o turismo.
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Não se trata de estar a rever “matéria dada”, mas de
(me) ajudar a ir ao âmago dessa constatação em estudo sobre a evolução do
desemprego quando a economia (a sociedade) leva um abanão (ou abalo) como o que
estamos sofrendo.
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Portugal já
foi o País da arte de empobrecer alegremente (alegre para poucos, bem triste
para muitos…) enquanto outros se industrializavam, numa autarcia estagnada até
à guerra de 1939-45.
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Depois, com a resistência, com interesses e gente como
Ferreira Dias, Jor. (Linha de Rumo), com as conservas dos produtos do sector
primário, com os têxteis, com uma C(ompanhia)U(nião)Fabril, com os cimentos,
com a metalurgia, com a S(iderurgia)N(acional), avançou alguma relevante
industrialização quebrando a estagnação e a misantropia salazarenta (antes
mesmo de cair da cadeira ou, em nova versão, escorregado na banheira)
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Ainda, e muito, a guerra colonial, o enorme surto
emigratório dos anos 60 que levaram a abrir mais o fechado e cinzento País.
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O 25 de Abril chegou a Portugal trazido pelos
portugueses, no ano de 1974, que era o ano em que se deveria iniciar o já
projectado 4º Plano de Fomento Nacional.
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O 1º fora o de 1953-58, o 2º fora de 1959-64 e tanto
mexera que um grupo de economistas que nele trabalhara foi preso pela PIDE, a
seguir veio o Intercalar – por hesitações causadas pela guerra colonial e os
processos de integração europeus em curso – de 1965-67, 3º foi o de 1968-73 e,
na sequência, o 4º deveria ser o de 1974-79…
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… e seria (se viesse a ser) o primeiro pós-Salazar,
que não vira essa coisa dos planos de fomento com muito bons olhos (modernices
tecnocráticas…), e impôs muita coisa como a de que fossem hexagonais para não
se confundirem com os quinquenais das… terras do Demo, lá de Leste.
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Em vez desse 4º Plano, onde estavam equacionadas
coisas como a necessidade de regionalização(em 1973!), trabalhou-se para que
houvesse um outro plano, com outras intenções, e refiro o Plano de médio prazo, de 1977-80 – de emprego e necessidades básicas –, de que não me canso de contar a
história e a criminosa (para mim!) decisão do Governo PS (1º constitucional e
minoritário), de – após tê-lo aprovado no executivo – não o levar à Assembleia
da República, que se seguira à Assembleia Constituinte, que nos deixara a
Constituição que ainda temos (com 7 rombos mas ainda a navegar).
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Aliás, e salta-me agora dos dedos a afirmação que esse
tal Plano de médio prazo emparceiraria na perfeição com a Constituição para se
fazer um caminho bem diferente do que levou ao FMI, à divida, à “Europa
connosco”, às privatizações do começo dos anos 90 (e que se têm prosseguido),
cujas consequências têm dado bastante trabalho à P(olícia)J(udiciária) P(rocuradoria)G(eral)daR(epública), embora tardem os
julgamentos.
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Em
contrapartida à secundarização-industrialização nacional seguiu-se uma
apressada desindustrialização.
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A Auto-Europa
não é argumento, pois trata-se de significativo e quase isolado investimento produtivo
externo enquanto se desindustrializavam siderurgias, estaleiros, e se
empreendedorizava num vazio produtivo.
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O avanço pela terciarização foi a via, com a
construção especulativa (para que se avançou com vistos dourados) e o turismo à
cabeça, porque há sol e praias, e pessoal a habilitar para servir os reformados
do norte carentes de calor, areia e mariscos (ou outras especialidades com que
a natureza nos prodigalizou ou portugalizou).
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Nas ruas de Lisboa e do Porto, nas praias do Algarve e
onde mais as há (fluviais em quantidade, e tenho uma excelente aqui à porta),
sentíamo-nos estranhos ou estrangeiros na nossa terra, e era chocante, para
quem se sente português nas entranhas, passar por tanto sítio do nosso espaço
ocupado, com a ajuda de uma hospitalidade que nos apraz (e apraz aos hóspedes
que se sentem “em casa”) mas que nos
custa cara.
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E, de súbito, veio a epidemia cavalgar a crise económica
que ensaiava o trote e
“Uma das evidências
é que as regiões mais castigadas têm elevada dependência da indústria, comércio
e turismo”.
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É a descoberta
do lado negativo de opções estratégicas (de quem, para quem, porquê, contra
quais), a descoberta surpresa do que foi previsto, prevenido, e agora
confirmado.
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Curiosamente (é uma maneira de dizer), e com alguma
esperança, sente-se um regresso ao primário, ao produtivo, há alguma crescente economia informal, da que não
passa pelo que leva aos PIBs e quejandos mas nos traz à soleira da porta e à
mesa legumes, hortaliças, galinhas e outra criação, queijos caseiros, produtos
de uma pequena agricultura reanimada e fortalecedora de relações de boa
vizinhança.
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E receio
publicar isto, não vá alertar o fisco e o seu policiamento, mas o que também é
certo é que torna menos certeira, ou acertadas, outras estatísticas.
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Somos, na
verdade, cada vez menos, mais velhos, desempregados e mal pagos, mas
sobrevivemos manejando o digital com dificuldade mas com os nossos dedos.
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E têm de
contar connosco, mesmo que as estatísticas não nos contem.