quarta-feira, outubro 31, 2007

Princípios... - 8

4. - O princípio e os seus usos
ou
a falta de rigor no (ab)uso da aparência do rigor
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o princípio do rigor (continuação e final)
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Porque se faz isto?
Para a imagem. Para que se fique com a ideia que se dominam, até ao mínimo pormenor, saberes e técnicas inacessíveis ao comum dos mortais (ou aos mortais comuns), e assim se fundamentar políticas que só os “sábios” estão em condições de definir e prosseguir.
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Saindo da consideração em abstracto – embora a referência ao mítico défice orçamental, e aos 3,00%, já seja “ponte” para a realidade concreta da nossa política – não fujo a dizer que Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, ilustra esta postura do “rigoroso sem mácula”, sempre com “números certos” na manga ou debaixo da gravata.
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Do cadeirão onde foi colocado como supra-partidário – ele que foi secretário-geral de um dos partidos que alternam no poder –, com o seu ar sério (alguém viu o homem rir?), atira-nos com o seu rigoroso rigor, com o “número certo”, nos momentos apropriados, e o que diz ecoa como se fossem verdades indesmentíveis. Ai do “ignorante” que se atreva a pôr em causa a sapiência de quem tão sapiente é, ou o mostra pelo ar e postura.

Mais depressa se apanha um “rigoroso” que um coxo…
No entanto, as coisas estão a correr mal, ilustrando também como tudo é efémero, e não há “número certo” que resista ao confronto sério com a realidade.
Nem venho aproveitar as escorregadelas das faltas de rigor que se descobriram em documento ou relatório que não as poderia ter para poder ser o que queria apresentar-se como sendo. Venho, só, trazer dois episódios que me parecem elucidativos.
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Tem o Banco de Portugal (BP) a tarefa de anunciar previsões quantificadas da evolução da economia portuguesa. O que é muito necessário, e se vai tornando indispensável.
Tem, o BP, os dados todos, alguns que só dele são. Pois a penúltima previsão de crescimento do tal PIB português era de 1,6% e a última, um trimestre depois, passou a ser de 0,5%. A previsão de um indicador passa, num trimestre, a ser de menos de um terço do que foi! Que credibilidade se pode dar a quem se nos apresenta como sendo a credibilidade em pessoa?
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Depois, outro episódio que é mais para o caricato.
Quem, Vítor Constâncio, se toma os ares que lhe fazem a imagem e afivela a postura da intangibilidade, reage mal a que se lhe pergunte se pensa aplicar a si a contenção salarial que defende (sempre!) que seja aplicável aos que ganham em 3 a 4 anos o que ele ganha num mês, e, perturbado, dá uma prova de ausência de rigor onde o rigor seria possível e fácil.
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Na verdade, argumentar que o preço do barril de petróleo é de “50 e tal dólares” (!?), mostra total ausência de rigor quando se podia (e devia) dizer, naquele dia, esse preço em número exacto, esse sim certo, e que conhecido de SEXA. deveria ser[1].
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É isso, mais depressa se apanha um “rigoroso” que um coxo!

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[1] - às 10.45 de 13.07.2005, o “barril de brent" para entrega em Agosto subia 22 cêntimos face ao fecho da véspera, para 59,04 dólares no mercado electrónico de Londres; em Nova Iorque, o barril de referência transaccionava-se a 60,65 dólares, em alta de 3 cêntimos em relação ao fecho da véspera.

O meu rico dinheirinho é "dinheiro em caixa" ou é "dinheiro em caja"?

- 'Inda não se sabe... estão a negociar... mas não lho deste a guardar?
- Ó pus dei!...*
- Atão não te queixes...
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* esta não é original mas acho-lhe muita graça... da dos sorrisos amarelos.

Que é que andam a fazem com o meu dinheiro?

Q'é q'andam a fazer c'o meu dinheiro?
Abri contas, com o meu dinheiro, num banco "de referência" (isto agora é assim: há bancos "de referência", há jornais "de referência", há gente "de referência", há autores "de referência"... embora não se saiba muito bem que é que isto quer dizer), para mais com a garantia subliminar que o meu dinheiro estaria seguro temporalmente. Que seria para o milénio.
Afinal. Parece que é para ser "dinheiro em caja". Ou talvez não. Nuns noticiários, si; noutros noticiários, não.
"Eles" andam por aí em grandes negociatas. Com o meu dinheiro. Com o meu "dinheiro em caixa".
E não me dão satisfações. A única preocupação parece ser com a Bolsa (mas não com a minha...) e com os accionistas. Cheira-me a abuso.
Q'andam "eles" a fazer c'o meu dinheiro?

segunda-feira, outubro 29, 2007

Princípios...- 7

4. - O princípio e os seus usos
ou
A falta de rigor no (ab)uso da aparência do rigor

O princípio do rigor

Ser rigoroso é uma preocupação que se associa ao respeito pelos outros. Esse respeito apenas existe se, na política – entendida no sentido restrito, isto é, como actividade específica – como em qualquer outra actividade – no ensino, por exemplo –, houver o cuidado de se ser rigoroso no que se transmite aos outros.
É um princípio.

O que se transmite aos outros
Se aquilo que se transmite aos outros é escolhido com a finalidade de os influenciar para que se atinjam certos objectivos, e se alcançar esses objectivos prevalece sobre o rigor da informação transmitida, o princípio é secundarizado, ou até ignorado.
No entanto, a aparência de rigor, ou depois o apregoar de rigor sem que ele exista como prioridade ou preocupação, podem – e muitas vezes estão a – servir como instrumentalização para os objectivos que se pretendem alcançar, de ajuda à sua consecução.
Assim se engana, ou se pratica a demagogia mistificadora, através dessa aparência ou desse apregoar de rigor … sem se olhar ao rigor anunciado ou abusivamente insinuado.

O rigor dos números aparentemente exactos
Sendo os números, a matemática, a estatística, uma representação da realidade, e o resultado de uma abstracção que vai acompanhando o processo histórico, são muitas vezes utilizados – os números, a matemática, a estatística – como uma prova de excelência e rigor para convencer incautos da justeza dos objectivos.
O “número certo”, levado até às unidades, ou até aos centésimos de unidade e de percentagem, conforme os casos, tornou-se uma ilustração da tal aparência de rigor instrumentalizada.
Dizer que a população de um País é de 10.927.823 habitantes (ou será de residentes?), ou que o desemprego é de 7,2% da população activa, ou que o PIB por cabeça crescerá 1,6% no ano corrente, ou que o défice orçamental será de 6,83% do PIB, só pode ter a finalidade de impressionar… pelo aparente rigor. Que é só aparência e sempre falso!

A falsidade do que é “certo” …
Só uma casualidade poderá levar a que o número de habitantes (ou residentes?) seja exactamente aquele que se anuncia até à unidade. A população será de cerca de 11 milhões porque não pode haver a pretensão do recenseamento ser rigoroso, e justifica-se a indicação do “número certo” com a reserva de que ele apenas poderia estar certo num momento. Como o relógio que apenas quando parado se tem a certeza de que está rigorosamente certo… duas vezes por dia.
Ser de 7,2% da população activa exige uma definição e uma quantificação do que é “população activa”, o que é muito controverso, e uma definição e quantificação do que é desempregado, o que muito controverso é, pelo que o rigor exige, para que rigorosa se seja, que se diga que o desemprego (os centenas de milhar de desempregados registados ou estimados) será superior a 7% da população activa, segundo um conceito (estatístico) desta.
Afirmar-se, sapientemente, que o PIB por cabeça crescerá 1,6% é uma demonstração de falta de rigor por excesso do dito. O Produto Interno Bruto é outro conceito que tem de ser muito bem explicadinho, querendo traduzir o valor acrescentado num ano (se for o PIB de um ano que se confronta com o de outros anos), e se se diz que é por cabeça esse valor deve ser dividido pelas cabeças que formam a população a que se refere. Mas ainda há muitas coisas a saber, além dessas, do que entra ou não entra para o cálculo da “riqueza” produzida”, de qual a população que serve de denominador, como se é a preços fixos ou correntes, ou em “paridades de poder de compra”. Isto para dizer que afirmar que cresceu 1,6% é…pouco rigoroso apesar do manto diáfano das décimos (às vezes centésimos) de percentagem.
Por último, de cátedra, peremptório, vir afirmar-se que o défice do orçamento do Estado será de 6,83% do PIB (não acima de 6,5%, não de perto de quase 7% que são números mais... “redondos”, menos centesimais) ilustra o uso do “número certo”, mostrando um rigor que é falso por não poder ser rigoroso. Mas impressiona o estimado ouvinte!

domingo, outubro 28, 2007

Cada vez mais patético... e perigoso!

Bush: apelo à ingerência
Enquanto Bush fazia um apelo aos aliados para que o apoiassem na sua cruzada contra Cuba, este país era eleito por 157 votos em 175 possíveis para o Conselho Executivo da UNESCO, como já tinha sido eleita por dois terços dos votantes para o Conselho dos Direitos Humanos da ONU (os EUA não concorreram por temerem não ser eleitos) e preside ao Movimento dos Não Alinhados cuja política anti-imperialista foi aprovada por 183 dos 192 membros das Nações Unidas. Por tudo isto, o apelo de Bush à ingerência e subversão internacional em Cuba comandadas por Bush é patético.
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no diário mexicano La Jornada, de 25 de Outubro de 2007

Princípios... - 6

3.- O princípio e a conversa repetida
ou
Disseram os banqueiros e respondemos nós
(continuação)


Mas… temos mais para dizer
Mesmo esse “viver melhor” é em relação a quê, a quem?
Nestes 20 anos, passámos a ter outras e novas necessidades satisfeitas. Mas não nos aproximámos dos níveis “europeus” (sublinham-se as aspas)!
Melhor dizendo, alguns extractos reduzidos da população (como os banqueiros e afins) até os ultrapassam, mas os trabalhadores comuns, os micros, pequenos e médios empresários não! Todos os indicadores (e todos eles, ou quase, são médias) denunciam, há anos sucessivos, divergência dos níveis “europeus”.
O que significa que, se nós – portugueses “médios” – nos afastamos da média “europeia”e uns que entram para a “nossa” média se aproximaram ou até ultrapassaram essa média “europeia”, os outros (nós!), que também entramos para a “média” portuguesa, estamos muito mais, mas mesmo muito mais afastados.
O que quer dizer que o nosso “viver melhor” além de aparente e inseguro, é mais que relativo.
E estamos endividados. O que complica imenso o nosso futuro. Sobretudo porque estamos sem aparelho produtivo a que possamos juntar a produtividade que nos exigem com mais baixos salários, menor protecção social... e menos tempo na praia.

Em resumo
Quer dizer, estamos pior, endividados e mal pagos.
E os culpados, que estão melhor, a quem teríamos ficado a dever a nossa aparente melhoria vida e que são bem (muito bem) pagos para serem culpados, dizem que é por culpa nossa
Porque é evidente que a culpa é destas políticas e de quem as tem imposto. Sempre alternando. Sempre alternando maiorias e governos, pedidos de sacrifícios com promessas frustradas, governos e maiorias, sacrifícios reais com ilusões para logo desiludirem. É preciso avivar as memórias. Por princípio e não só.
E que tal pensarmos (e agirmos para) nas alternativas políticas… e num pontapé no traseiro de banqueiros e afins?

Princípios... - 5

3.- O princípio e a conversa repetida
ou
Disseram os banqueiros e respondemos nós

O princípio da boa memória
(com começo noutro estilo… mais teatral, quase vicentino)

Disseram eles
Disse um dos barqueiros (perdão...) dos banqueiros:
«Isto está muito mau, são precisas soluções. E nós temo-las!
Há que fazer um corte de 10% nos salários!
Há que acabar com os privilégios dos trabalhadores!
Há que pôr fim às regalias a que "eles" se habituaram!
… Mas também temos um problema, é que o que “eles” querem é passar mais tempo na praia!»
Isto disse o primeiro dos banqueiros.
Logo o segundo banqueiro veio em pronto-socorro, no papel de optimista:
«Tens toda a razão.
Estamos a viver do endividamento (pessoal e nacional) e corremos o risco de nos tornarmos uma província habitada apenas por reformados e estrangeiros.
Isto só lá vai com uma redução dos salários!
Mas “eles” irão compreender.
Até esquecerão as férias e a praia para começarem a trabalhar mais e a ganhar menos. E a pagar o que nos devem com o dinheiro d"eles" que lhes emprestámos.
Nós obriga-los-emos a esquecer essas e outras coisas que uns dizem que são conquistas...
Já há 20 anos e há 30 anos foi assim.
Explicaram-se-lhes as dificuldades económicas e as pessoas colaboraram.»

Respondemos nós
Para começar, não teria sido bem assim…
Há 20 anos (e há 30), e em muitas ocasiões nestas décadas de democracia, apelou-se ao sacrifício dos trabalhadores, com as promessas alternantes (banqueiros por detrás) de que viriam depois as compensações.
E algumas, aparentes, vieram para alguns. Para muitos. Como é comum ouvir-se (ou pensar-se) “não há dúvida que se vive melhor: carros novos, casa nova, mais férias, aparelhos de televisão espalhados pela casa, a cores e com tvcabo, telemóveis quase desde o berço, os meninos e as meninas nos colégios e nos ginásios e nas músicas…”
Mas, nestes 20 anos (a começar antes), destruiu-se o aparelho produtivos, escancaram-se as portas para que de fora viesse o que satisfaz as necessidades, as de sempre, a comidinha e essas coisas básicas, e as novas, algumas capciosamente introduzidas nos hábitos dos portugueses.
Esse “melhor viver” foi assente sobre uma economia a ser substituída pela finança e num endividamento desregrado que os banqueiros promoveram jogando com as taxas de juro ao serviço dos desideratos seus (e de mandantes ou comparsas transnacionais). Tudo sobre pés-de-barro!
Agora, os endividados compulsivamente são apontados (e pelos banqueiros!) como culpados da política prosseguida (e pelas facilidades "dadas" pelos banqueiros...) de que foram alvos e vítimas.
E não falamos só dos trabalhadores. Também dos micros, pequenos e médios empresários.
No entanto, põe-se a questão: se isto está tão mau, e se é verdade que se “vive melhor” que há 20 anos, que se vive acima das possibilidades, não há que fazer sacrifícios?
No momento de hoje, vive-se, na verdade, melhor que no momento de há 20 anos. Aparentemente. Porque é tudo relativo e viver não é só o momento. Tem de ser também a segurança (não aquela com que nos massacram…) nos momentos que se seguem ao momento e no que os rodeia. E há um sentimento de salve-se-quem-puder. Até se diria de susto.
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(este princípio ainda continua
... para que não se esqueça)

sexta-feira, outubro 26, 2007

Ah!, esqueci-me de dizer...

Em nenhum caso a inscrição e a continuidade como membro do Partido Comunista Português são obrigatórias.
Só lá está quem quer!
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E, já agora, pergunto: não é assim em todo o lado?

As iliteracias repentinas e contumazes...

A leitura dos estatutos do Partido Comunista Português parece, por vezes, desencadear, ataques de iliteracia em quem muito letrado/a é.
Permito-me pedir que se leia o que diz o art. 54º, nº1:
"Os membros do Partido eleitos para cargos públicos (...) têm o dever político e moral de prestar contas da sua actividade e manter sempre os seus cargos à disposição do Partido".
Se me dão licença, ajudo:
são os membros do Partido (que ao serem aceites como tal se pressupõe que tomaram conhecimento dos estatutos), e só eles, que têm "o dever político e moral" de manter sempre os cargos para que teriam sido eleitos à disposição do Partido. E o Partido não o esconde dos eleitores, pelo que os eleitores sabem, ou deveriam saber, que, ao votarem numa lista promovida ou participada pelo PCP, com candidatos em sua representação, votam em candidatos que têm esse compromisso, o que reforça a posição de que as candidaturas são de listas, programas, projectos e não de indivíduos representando-se a si próprios, com objectivos e projectos pessoais.
Por isso, quem, sendo membro do PCP, esquece o que teria lido, ou é atacado de iliteracia repentina, e falta ao dever político e moral que assumiu, não pode continuar a merecer confiança política e moral. E se, depois, sendo-lhe isso lembrado, sem que o Partido tenha o direito de lhe retirar o mandato a que se candidatou em sua representação, este/a entra em rota de colisão e em escalada de provocação, necessariamente que tem de cair na alçada da disciplina do colectivo que continua a integrar. Sempre de acordo com os estatutos. Com os procedimentos que estes exigem para defesa dos direitos dos membros. De todos.
Será isto tão difícil de perceber?... e de perceber que quem se faz desentendido dos compromissos que assumiu, além de ignorar deveres morais, está a fazer política, no mau (no pior!) sentido da palavra, que outros sentidos, e excelentes, tem?

Princípios... - 4

2. O princípio e a sua progressiva adulteração
ou
O elogio do Tratado de Roma...
(continuação)


De deturpação em deturpação até ao apagamento final e “constitucional”
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Assim se adulterava o princípio resistente no artigo 117º, pois se poderia aplicar uma metodologia aritmética, em que uns níveis subiriam até essas prescrições mínimas mas outros, praticados noutros Estados-membros, poderiam vir a descer desde que não até abaixo desses mínimos.
A igualização no progresso continuava como afirmação, mas tinha de coexistir com uma prática que a contrariava. No entanto, em 1997, no Tratado de Amsterdão tudo ficou esclarecido. Pela negativa. A igualização no progresso foi substituída por harmonização, sem referência ao progresso… É o que está no artigo 136º (ex-artigo 117º)!
O princípio começou por não ter política, teve de coexistir com uma política que lhe era contrária até tanto o deturparem que o apagaram. A dita Constituição "constitucionalizou" copiando o artigo 136º do TA.

O ataque aos trabalhadores da função pública à luz da igualização no progresso
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Quando se atacam os trabalhadores da função pública pelos seus “privilégios” relativamente aos outros trabalhadores e se acirram rivalidades, dividindo para reinar, ou melhor, para continuar a explorar, também é esse princípio do TR que se deturpa, põe em causa, apaga.
Porque ele está na essência do processo histórico. Os seres humanos caminham no sentido da igualização no progresso. Isto é, não são iguais, cada um é um, mas o sentido da História é o de se irem aproximando as situações sociais.
Uma conquista da Humanidade é para a Humanidade e não para uns melhor explorarem outros. Quanto mais rapidamente cresce a riqueza, maior pode ser a aproximação dos que estão mais desfavorecidos dos que já tiveram acesso aos benefícios dessa conquista.
Em Portugal, em 25 de Abril de 1974, os funcionários públicos – “triados” e vigiados por critérios fascistas – eram, de certo modo, privilegiados. Porque tinham condições sociais de que não usufruíam outros trabalhadores.

Com o 25 de Abril não se harmonizaram as condições sociais, diminuindo o nível dos “privilégios” dos funcionários públicos e aumentando o dos outros trabalhadores, mas instituiu-se uma certa igualização no progresso. Que, por não ter feito todo o caminho, hoje alimenta a campanha contra a função pública, contra as funções sociais do Estado, através do ataque aos “privilégios” dos trabalhadores da função pública.

Assim se deturpam princípios e arrepiam caminhos da História. Que, por isso, sofre hiatos e marchas-atrás.
Tentar ir além da espuma dos dias, da superfície das coisas, é essencial na luta ideológica. Mesmo recorrendo a, e elogiando, princípios do Tratado de Roma que só lá estavam impostos pelo estádio de então da luta de classes…
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(continua
... mesmo na ausência de comentários)

quinta-feira, outubro 25, 2007

Princípios... - 3

2. -O princípio e a sua progressiva adulteração
ou
O elogio do Tratado de Roma…

O princípio da igualização no progresso

O título III do Tratado de Roma (TR) era A política social, e o seu artigo 117º afirmava o princípio da igualização no progresso.
O que, se traduzia um determinado estádio na relação de forças na luta de classes, não tinha correspondente definição de políticas e calendários para a sua concretização.
Assim não acontecia com a “política aduaneira” e com a “política agrícola comum” (PAC), que tinham, uma, a finalidade de criar a união aduaneira, outra, a finalidade de recuperar a economia produtiva agrícola devastada pela guerra, particularmente a francesa.
A política social comunitária ficava dependente da evolução da relação de forças (de classe), e a afirmação de tal princípio era um reflexo e, de certo modo, uma conquista dos trabalhadores e das populações contra o “império económico”.

Aproximar progressivamente ou harmonizar?
Se foi fácil adoptar médias para se chegar a uma pauta comum, já difícil seria, então, fazer com que os trabalhadores aceitassem que as suas diferentes conquistas sociais se harmonizassem através de critérios aritméticos.
Um exemplo: se as trabalhadoras de um Estado-membro, após um governo “de esquerda” e sob pressão social, tivessem conquistado 12 semanas de licença de parto, e um governo de um outro Estado-membro, também saído do pós-guerra, tivesse decretado, nas condições sociais do seu país, 8 semanas, como harmonizar? Poder-se-ia, por exemplo, passar ambos para 10 semanas, com as/os trabalhadoras/es do primeiro país a oporem forte resistência a perder duas semanas enquanto as/os do segundo beneficiariam da harmonização aritmética de mais duas semanas?
O que o artigo 117º, pelo princípio da igualização no progresso, consagrou foi que o tempo de licença de parto das trabalhadoras do segundo Estado deveria aproximar-se, progressivamente, do regime das 12 semanas das trabalhadoras do outro Estado-membro, se fosse esse o de mais elevado tempo de licença de parto, ou os dois Estados daquele que o tivesse, mais elevado socialmente na “comunidade a 6”, um Estado com 14 semanas, por exemplo.

De princípio sem políticas a política sem princípios
Quando, a “comunidade” já não era a 6 mas sim a 12 e, na sequência da adaptação do TR que foi o Acto Único, se avançou para o Tratado de Maastrich (TM), a “Europa Social” foi um dos mais reclamados e propagandeados objectivos. Para convencer os povos, sobretudo os que, no respeito pelas suas normas constitucionais, seriam chamados a referendar a ratificação do acordado entre os governos. Alguns aspectos vieram reforçar essa argumentação, nomeadamente a inclusão de uma “política social”, que se reconhecia ausente do TR.
Como no novo tratado, entre os artigos que permaneciam com a mesma formulação, estava o artigo 117º, podia dizer-se que se juntaria, ao relevante objectivo/princípio, uma “política social”.
Assim não veio a acontecer, mas o artigo 117º manteve-se.
No entanto, mesmo sem uma “política social” inscrita no Tratado, no protocolo anexo dava-se um passo para uma “política social” embora se introduzisse o mecanismo das “prescrições mínimas progressivamente aplicáveis, tendo em conta as condições e as regulamentações técnicas existentes em cada um dos Estados-membros”. O que, contraditoriamente com o artigo 117º, correspondia a, em vez de se tomar como fasquia o nível social mais elevado, se virem a adoptar como fasquias, os níveis mais baixos praticados nos Estados-membros… abaixo dos quais se não poderiam aplicar as prescrições sociais.
É bem diferente ou até o contrário. É passar do objectivo de aproximar os níveis sociais dos mais elevados, nivelar pelos mais baixos.
(continua,
até porque vem aí a mal dita Constituição refundida em Tratado)

Com a devida vénia (e alguma confessada emoção...)

Do blog avezdopeao.blogspot.com:
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Lembram-se do mito da gesta marítima colado aos Painéis de S. Vicente, do infante D. Henrique, etc. e tal? Esqueçam. Esqueçam e ponham-me os olhos neste que é um dos livros sensação do ano: Onde estava vossa mercê nos painéis?, de Gonçalo Morais Ribeiro, numa cuidada edição da Som da Tinta.
A obra tem todos os ingredientes e mais alguns em seu abono: inventividade, sedução, rigor histórico e interpretativo, impressionante trabalho de imagem enquanto prova e acervo documental, uma invulgar atenção cirúrgica ao detalhe aliada a uma viva capacidade de contextualização e de problematização. Humor na forma e em forma. E, sobretudo, ousadia, muita ousadia para avançar por terrenos convencionalmente tomados pelo peso da tradição interpretativa e com muitos guarda-mores ciosos da coutada. Isto, ainda por cima num país propenso ao conservadorismo mental e comportamental, é obra.
O grosso do texto é um conjunto de 6 "entrevistas polípticas" (é o subtítulo da obra), numa simulação de contributos de algumas das personalidades da época: Diogo Gonçalves, Isaac Abravanel, D. Jorge da Costa, D. João D’Almeida, D. Leonor e D. Manuel I. Por eles tomamos contacto com muitos detalhes relativos à produção dos painéis, ao seu contexto político e social, bem como ficamos a saber a tese principal do autor, a de que os painéis foram um tributo do rei português D. Afonso V a Deus, como gratidão e desejo de manutenção da paz com Castela, e à sociedade, uma tentativa de apaziguamento das clivagens entre os poderosos.
Como nos ‘confessa’ o sacerdote Diogo Gonçalves, falando pelo autor, a chave do quadro está na clarividência do rei D. Afonso V e de seus próximos:
"O Espírito Santo indica o bom caminho para a Paz, num tempo de dificuldades para o reino, durante a guerra com Castela por causa da sucessão no trono. E o rei e o príncipe regente estiveram de acordo no princípio para fazer guerra, mas depois tiveram que estar de acordo para fazer a paz. E foi em nome de D. Afonso V mas quem ditava era D. João [II] que já era jurado e era como rei. E os dois estavam muito unidos para fazer e pedir para salvação destes reinos, porque como dizia o Boca Dourada, São João Crisóstomo, o Espírito Santo é um pacto: «Quando depois de uma longa guerra se estabelece a paz, as partes trocam prendas e reféns em sinal de amizade e de garantia. Nós também trocamos as nossas prendas com Deus, entregamos-lhe a nossa natureza humana para que Cristo a elevasse ao Céu, e Ele, como garantia, enviou-nos o Paráclito.»
E assim com a ajuda do Céu e garantia do Espírito Santo fizeram os homens a paz. Os portugueses e castelhanos em Alcáçovas do Alentejo assinavam o tratado e concordavam nas garantias escritas nas terçarias de Moura, e isto foi feito e assinado em 4 de Setembro de 1479, e em 6 de Março, em Toledo, confirmado no ano seguinte [por eles outros, e a 8 de Setembro, dia de Nossa Senhora, pelos nossos, porque logo a 16 era festa da chegada de S. Vicente e ele protegia o Infante D. Afonso na sua partida para Moura, como cativo em reféns" (p. 16).
Só um homem da Renascença conseguiria fazer isto, e o autor é mesmo alguém que foi autenticamente catapultado da Renascença para os dias de hoje, sem tirar nem pôr. Ele escreveu o texto como se fora em português dos séculos XV/XVI (mellhor seria dizer em galaico-português); ele viajou, por igrejas, museus e livros para comprovar todas as associações possíveis, incluindo a identificação de praticamente todos os figurantes nos painéis; ele ilustrou a obra com imagens quase em filigrana, como se fora um ourives antigo; ele misturou cousas antigas com cousas novas (começa logo pelo título, recriando o enigma dum livro-charada recente, Onde está o Wally?, num contexto antigo); etc., etc..
Foi preciso esperarmos 500 anos para termos um livro assim, desmistificador, ao mesmo tempo leve e sério. Valeu a pena esperar: longa vida à obra! Venham de lá, então, outras extracções.
O lançamento é na próxima 5.ª feira, às 18h30, no Bar A Barraca (Cinearte, Lg. de Santos, Lisboa). Se aprouver, segue-se uma ida ao Museu Nacional de Arte Antiga, ali mesmo ao lado, para uma visita comentada pelo autor aos Painéis de S. Vicente (na última 5.ª feira de cada mês o MNAA está aberto até às 22h).

quarta-feira, outubro 24, 2007

A propósito de princípios... só para lembrar

Estatutos do Partido Comunista Português
Capítulo VIII - Os eleitos do Partido para Cargos Públicos
Art.º 54º
1. Os membros do Partido eleitos para cargos públicos (Assembleia da República, Assembleias Legislativas Regionais, orgãos das Autarquias e das Áreas Metropolitanas, Parlamento Europeu e outros orgãos ou instituições) em listas promovidas ou apoiadas pelo Partido (...) têm o dever político e moral de prestar contas da sua actividade e manter sempre os seus cargos à disposição do Partido.
(...)
4. No desempenho dos cargos para que foram eleitos, os membros do Partido não devem ser beneficiados nem prejudicados financeiramente por tal facto.

Princípios... - 2

1 (continuação e fim). Os princípios e os seus atropelos e perversões
ou
Em democracia não há… classe política

Uma concepção de democracia representativa e participativa
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Em democracia, as vidas individuais (familiares, profissionais) dos cidadãos não só estão dependentes da forma como a sociedade está organizada, e como essa organização evolui, como estão condicionadas pela sua participação no viver colectiva.
Cada cidadão tem (na minha concepção) direito a uma profissão e a trabalho no emprego dessa sua qualificação profissional.
A actividade política de um cidadão, enquanto mandatado, ou seja, quando escolhido/eleito para representante de outros, não pode ser considerada como substituindo a sua actividade profissional.
Daqui decorre que, tendo cada cidadão de dispor de meios para continuar a (sobre)viver, a retribuição que recebe por estar em actividade política de representação dos concidadãos não tem analogia (não deve ter!) com a de um salário devido por exercício de uma actividade profissional.
E o cidadão representante/eleito cumpre mandatos com prazo certo, devendo sempre colocar-se o horizonte do regresso à actividade profissional que, sendo anterior à eleição, era e, naturalmente, voltará a ser a sua.

Como remunerar os eleitos

Há pelo menos duas maneiras de calcular e atribuir essa retribuição.
Uma, é a de colocar os mandatados na hierarquia das funções ou tarefas derivadas (directa ou indirectamente) de eleição – PR, deputados, membros do governo, autarcas –, através de uma tabela democraticamente estabelecida.
Outra, é a de se considerar que o cidadão/representante dos concidadãos, não deve ter vantagens ou prejuízos materiais por efeito da eleição, e por isso o seu estatuto remuneratório deve acompanhar o que teria se não tivesse sido eleito. É o princípio – e princípio é! – adoptado, estatutariamente, pelo Partido Comunista Português.
De acordo com esse princípio, o representante/eleito, ao terminar o mandato, retomaria a sua actividade profissional sem qualquer sobressalto, ao menos no que respeita aos seus rendimentos.
No outra forma, já pode ocorrer que, no final do mandato, ao retomar a actividade profissional, passe a receber menos do que recebia enquanto cidadão representante/eleito, embora, nalgumas circunstâncias, o termo do mandato até possa ser provocado para não prolongar situações de estatuto remuneratório inferior (houve um cidadão que disse que o seu salário de ministro não lhe chegava para o que gastava em charutos, lembram-se?…). E não falo em acumulações e outras coisas, que mais não são que privilégios (ou abusos) inaceitáveis em democracia.

No termo dos mandatos, o regresso, a reintegração

Em qualquer dos casos, após mandatos, sobretudo se mais que um, a retoma da actividade profissional, o regresso à situação social anterior, implica uma alteração no estatuto profissional e material de quem os cumpriu que deve ser tida em consideração.
Defendendo a inexistência de vantagens ou de prejuízos, mesmo na prática coerente com esse princípio, o cidadão, no final dos mandatos, ao retomar a actividade profissional ou situação anteriores, confrontará inconvenientes vários na sua actividade profissional ou estatuto social, por ter estado afastado da actividade profissional.
Decorre deste facto que haja uma compensação com o objectivo de facilitar a reintegração do cidadão na sua situação profissional, de activo ou do que for (reformado, pensionista, na reserva), cujo cálculo deveria ter como norma a resposta a prejuízos advindos e/ou dificuldades de (re)adaptação.
Não parece atropelo ao princípio se essa compensação tomar a forma de subsídio (de reintegração) único ou, por escolha do interessado, for calculado como subvenção vitalícia.
No entanto, mais do que atropelo, já é perversão tomar-se esse subsídio de reintegração, único ou vitalício, como equiparado a reforma ou pensão, e atingir níveis que possam ir para além dessa finalidade de apoio à reintegração.

O que quero sublinhar é que não se pode atacar o princípio por aquilo que são os seus atropelos e as suas perversões. Que tantas são!
_______________________________
Quem conheça um pouco da minha vida perceberá porque foi importante para mim esta reflexão em 2005, como já o fora em 1999.
(os "princípios" continuarão
- a ver vamos como e quando...)

Na verdade, isto só com ironia é suportável...

... e, para isso, ninguém como um tal de Florentino, sempre albergado nos danados:

Ditados democráticos. Se percebi, no juízo de Vital a hipótese de realização de um referendo sobre o tratado europeu novíssimo depende da literacia política que os gentios revelam em relação a tal matéria. Está bem. Mas, atendendo à raça dos gentios lusos, ele devia ter sido mais consequente e perguntar: não será tempo de deixar de brincar às eleições? Porque o problema é um problema para todos os sufrágios, não exclusivo dos referendos. Para o resolver, tem que começar a fazer-se ditados e exames escritos. Apenas os habilitados poderão votar. E sete não dará acesso à salvação por oral. Porque o voto é escrito. Nicky Florentino.

Ah, Vital, vital... quem te (ou)viu e quem te (ou)vê, tu que tanto (e com tanta - a mesma - prosódia) defendeste referendos noutras alturas do campeonato!

terça-feira, outubro 23, 2007

Princípios... - 1

Princípios de vida.
Princípios devidos à vida.
Princípios que, na vida, são pervertidos, distorcidos, privatizados, adulterados, derrogados.
Princípios de que alguns usam e abusam, pervertendo-os, distorcendo-os, privatizando-os, adulterando-os, derrogando-os, contra os… outros, contra a imensa maioria de quem esses princípios são direitos.
Princípios que são os nossos valores.
Pelos quais lutamos. Porque são os nossos princípios de vida.
Por agora, são cinco, e foram escritos em 2005, quando a minha vida fazia mais uma curva. E que, hoje, mais de dois anos passados, me vieram “ajudar”… e pedir publicação.
.....- O princípio do dever de participar na actividade política
.....- O princípio da igualização no progresso
.....- O princípio da boa memória
.....- O princípio do rigor
.....- O princípio do direito à cultura

1. Os princípios e os seus atropelos e perversões
ou
Em democracia não há… classe política


O princípio do dever de participar na actividade política

Numa democracia tal como a entendo, um cidadão tem o direito de escolher os seus representantes e tem o dever de estar disponível para ser candidato à representação dos seus concidadãos.
Este direito e este dever têm de ser acompanhados do direito, para todos os cidadãos sem excepções ou discriminações, à informação. E, no concreto, a uma informação objectiva, e também plural, isto é, das várias candidaturas à representatividade. Não de quem é o candidato mas do que pretende fazer se e quando estiver nas funções de representante.
Para ser democrática, esta face representativa da democracia, tem de ser acompanhada do direito (e do dever) dos cidadãos escolhidos/eleitos para representantes manterem, entre-eleições, o contacto permanente com os representados, informando-se e prestando contas da sua actividade, e os representados têm o direito (e o dever) de se informarem e de participarem na vida social em sintonia (ou não…) com os seus representantes.

A diferença (de que os portugueses beneficiam)
entre Ser e Estar
.
Ninguém é, ou deverá ser, candidato a representar os outros individualmente, pelos “seus lindos olhos”, mas pelo que se propõe fazer, pelo partido que tomou na vida (mesmo que seja apartidário), e que só em colectivo poderá concretizar.
Pelo que os mandatos não pertencem a uma “classe política” que entre si os reparte, como não são propriedade deste ou daquele cidadão individualmente eleito.
Porque todos os eleitos o são num grupo, numa lista, numa proposta… mesmo quando o cargo é individual. Até o candidato a PR não o pode ser sem uma lista de proponentes e sem um programa que apresente a quem se propõe representar num mandato, logo, não pode ser candidato sem um compromisso que ultrapassa a individualidade. O que impede qualquer eleito de se julgar proprietário do lugar para que foi mandatado, ou de ter passado a ser aquilo em que passou a estar.
Ninguém poderá dizer “votem em mim”, sempre terá de dizer “votem no que defendo, e no que represento, para que vos possa representar”.
Por isso, aproveitando a riqueza da língua portuguesa, insisto muito na formulação de que nenhum cidadão representante/eleito é – ou passou a ser – o que resulta da sua eleição mas está – e só enquanto estiver – a cumprir um mandato. Não há quem seja PR, deputado, presidente da Câmara, vereador, presidente da junta, eleito em suma.
Qualquer eleito está em!
continua (vamos a ver quando...)

segunda-feira, outubro 22, 2007

Parece que há!



.
.
Cuba: elecciones municipales

Fernando Ravsberg BBC Mundo, La Habana

Más de 7 millones de cubanos elegirán a sus representantes barriales este domingo.
Cuba va a las urnas este domingo para elegir a los delegados del Poder Popular, que son la base de la pirámide de gobierno en la isla, a partir de la cual se constituirán los Consejos Municipales (pequeñas alcaldías).
El sistema electoral cubano comienza en los barrios donde los ciudadanos proponen los candidatos a delegado entre sus propios vecinos y las candidaturas son apoyadas a mano alzada.
Este domingo las personas propuestas se someten a las urnas, mediante voto secreto, en el que participa más del 90% de la población.
A pesar de que votar no es obligatorio, no hacerlo es visto como un acto contestatario.
La propaganda política está terminantemente prohibida, la única referencia sobre los candidatos es una pequeña biografía, escrita por la comisión de candidatura, y una fotografía que son colocadas en el centro de votación.
Uno de los propuestos, Lenka Pérez, del municipio Cerro, dijo a BBC Mundo que estas elecciones son "totalmente democráticas, son sobre las ideas, nosotros elegimos al pueblo, a los delegados nos propone la misma población desde la base".
Críticas opositoras
Cuando me dicen que la disidencia es enorme en algún lugar yo les pregunto ¿pueden presentar un candidato?, y si me responden que no, entonces concluyo que no es verdad lo que me dicen.
Gerardo Sánchez, disidente
Sin embargo, la mayoría de la oposición se niega a participar en los comicios sosteniendo que estas propuestas a mano alzada son antidemocráticas porque la gente tiene miedo.
El disidente Gerardo Sánchez, hermano del presidente de la Comisión de Derechos Humanos, se presentó en su barrio como candidato, "obtuve 5 votos en un centenar de personas, el 5% del total".
Sánchez cree que se debería participar en las elecciones, "cuando me dicen que la disidencia es enorme en algún lugar yo les pregunto ¿pueden presentar un candidato?, y si me responden que no, entonces concluyo que no es verdad lo que me dicen".
La mayor parte de los grupos opositores han optado por llamar a la población a anular su voto escribiendo un "no" en la boleta, de tal forma que se pueda contabilizar el apoyo real que tiene la disidencia.
¿Quién será el presidente?
Sin embargo el gobierno no parece preocupado, el ministro de relaciones exteriores de Cuba, Felipe Pérez Roque, dijo a BBC Mundo que las cosas "van muy bien, pienso que habrá una presencia masiva y orden y transparencia como siempre".
Pienso que habrá una presencia masiva y orden y transparencia como siempre.
Felipe Pérez Roque, canciller de Cuba
Donde evitó una respuesta directa fue sobre la postulación de Fidel Castro como candidato en la segunda fase del proceso electoral, cuando se eligen los diputados, paso imprescindible para poder ser presidente del Consejo de Estado.
"Bueno ahora hay elecciones para elegir a los dirigentes locales, el no es candidato a delegado de circunscripción, como la mayoría de nosotros no lo somos. Esas son las elecciones que hay el domingo", expresó Pérez Roque.
La segunda fase de estas elecciones, para elegir los diputados de la Asamblea Nacional, está prevista para los primeros meses del próximo año.
Ellas serán determinantes de cara al futuro político del país.
Los cubanos parecen divididos, están quienes creen que hay que mantener a Fidel Castro como presidente aunque este convaleciente porque este es una especie de símbolo para muchos revolucionarios.
Otros piensan, por el contrario, que estas elecciones son una excelente oportunidad para legalizar en el cargo al General Raúl Castro, que en la actualidad sigue siendo presidente interino.

Onde estará Vossa Mercê no dia 25 de Outubro?




sexta-feira, outubro 19, 2007

Diálogo dos "tratantes" (isto sem ofensa)

“Tratante” nº 1 - Então parabéns, pá!
“Tratante” nº 2 – Então parabéns, pá!
Nº 1 – Não foi fácil…
Nº 2 – … já os houve mais difíceis, até podíamos ter puxado um bocado mais pelo “suspense”.
Nº 1 – Aquela do presidente do Parlamento não contar para o número total dos deputados para que a Itália possa ter mais um deputado foi bem achada…
Nº 2 – … n’é para me gabar!
Nº 1 – O chato é se os gémeos polacos e os ingleses continuam a pedir mais coisas…
Nº 2 – Dá-se-lhes a volta… é preciso perceber que eles também têm de mostrar serviço lá à malta deles.
Nº 1 – Pois!, o opting out ou outra coisa que se invente.
Nº 2 – Agora aquela manifestação temos de reconhecer que ultrapassou as expectativas.
Nº 1 – Foram os comunistas...
Nº 2 – Mas não serão demais?...
Nº 1 – Pois são, mas temos de bater nesta tecla… já que não podemos bater neles.
Nº 2 – E agora, em frente… nada cá de referendos e essas coisas…
Nº 1 – Mas tu prometeste…
Nº 2 – Era preciso fazer promessas, fi-las… e filei-os.
Nº 1 – Eu percebo, longe de mim estar a criticar-te.
Nº 2 – O que me preocupa é o que li no Finantial Times com tanta gente por tanto lado a querer referendos.
Nº 1 – Também li... é o joranal que leio... e não se pode dizer que são comunistas?… ou, sei lá... exterminá-los...
Nº 2 – É difícil, é difícil.
Nº 1 – E, ainda por cima, há para aí uns gajos a gritar a luta continua.
Nº 2 – Pois… são os comunistas.
Nº 1 – Além disso, parece que há também um engraçadinho que nos chama tratantes.
Nº 2 – É um comunista… ainda se nos chamasse tratadores… sim, porque nós estamos a tratar dos interesses de uns poucos e dos nossos… e da saúde de todos.
Nº 1 – Cala-te lá que isso não é para se dizer.
Nº 2 – Isto é cá entre nós.

Nº 1 e nº 2 – Vai uma taça de espumoso… sempre a bem da nação!

... mas já outros (só mais de 200 mil!) tinham chegado a acordo antes...


Os "tratatantes" chegaram a acordo!

Um conjunto de senhores chegou a acordo, ou seja, acordaram no seu “tratado”, e por isso lhes passarei a chamar os “tratantes” (sem ofensa…),
Parece que não terá sido muito fácil, na recta final por uma questão de pataca a ti, pataca a mim, perdão, um lugar para ti, um lugar para mim, mas os “tratantes” valeram-se da prática adquirida no jogo do(s) monopólio(s), alguns desde os juvenis tempos, outros mais recentemente mas muito zelosos na recuperação do que terão perdido com devaneios de tenras idades.
Além dessa dificuldade terminal que deu para criar “suspense” e justificar a espumosa euforia, se outras ficaram pendentes resolver-se-ão pelo já experimentado expediente “se não queres, ficas de fora nessa matéria…”, ou seja opting-out.
Sempre rodeados de todas as mordomias e seguranças correlativas, os “tratantes” vão agora prosseguir na sua missão de fazer com que o seu acordo não sofra sobressaltos sequentes, eventualmente motivados por haver veleidades de fazer passar o por eles acordado pelo crivo da aprovação popular (t’arrenego). Para mais, por mais autistas que os “tratantes” se mostrem, aquela amostrazinha de mais (ah!, mais de!) 200 mil pessoas na rua a manifestarem-se, tem de os assustar e há que impor o tratado aos milhões mesmo que milhões não o queiram. Desde que sirva os patrões…

quinta-feira, outubro 18, 2007

Obsessões...

Há verdadeiras obsessões, isto é, segundo o dicionário, "atormentações por sugestões diabólicas, ideias fixas".
O PCP tem problemas na Marinha Grande. Tem, sim senhor, ninguém nega, e o “presidente em exercício na Câmara da Marinha Grande” (membro da concelhia partidária) dá uma entrevista de duas páginas ao Jornal de Leiria, que escolheu para título “As coisas com Barros Duarte não correram bem”. Li a entrevista com cuidado e preocupação, com a responsabilidade de militante e dirigente, e também com a sobrecarga afectiva de uma velha amizade com Barros Duarte.
Pois no editorial do mesmo jornal e na mesma edição, quem assina com as iniciais JN faz um desbragado ataque ao PCP sob o título “Disciplina do silêncio”, que só se pode entender como manifestação de uma obsessão. Aliás, muito comum…
Que o Partido Comunista “não se consegue adaptar às regras democráticas”, que “a disciplina do silêncio continua a vigorar no PCP”, que “o que mais evidencia o desajustamento da forma de actuar do PCP em relação ao que é de esperar de um partido que exerce política em democracia, é o silêncio…”, que “esse silêncio pode ser normal nos países onde o comunismo ou outro regime totalitário qualquer ainda perdure…” e acaba o textozinho com um estranho “Abençoado 25 de Novembro…”. Abençoado, porquê?, ou por quem?
Tenho simpatia pelo Jornal de Leiria, que me é enviado todas as semanas e todas as semanas leio, e não me lembro de qualquer comentário parecido aquando de recentes problemas autárquicos de outros partidos que tiveram uma dimensão muitíssimo maior (também no que respeita a informação…). Confesso que este editorial e as incoerências resultantes de obsessões provocaram-me desconsolo, e não digo mais que desconsolo para aproveitar a oportunidade para chamar a atenção de JN que aquilo que, segundo ele, “cedo se percebeu que Barros Duarte não iria ter” seria um consulado calmo e não um “consolado calmo”
Ele há cá cada erro! Será que quando a cabeça está atormentada por sugestões diabólicas e ideias fixas, o léxico é que paga?

Tópicos de intervenções - sobre a "cimeira UE-África"

Na reunião do GEUE/EVN; sobre a “cimeira UE-África”:

  • antes de “europeu” entre aspas - porque sempre o fui por aqui ter nascido -, fui “africano”, e particularmente “caboverdeano”, no âmbito da cooperação pela CNUCED e pela OIT;
  • mas, agora, não se fala de OIT mas sim de OMC, com os seus mercados e os seus critérios exclusivos, absolutos, de avaliação de tudo;
  • e se, agora, se fala de Cairo e de Cotonou, lembro Iaoundé e Lomé, e a criação dos países ACP;
  • e também os princípios enunciados, porque a isso obrigava a relação de forças (de classe) existente (como o da “igualização no progresso” do Tratado de Roma);
  • e o princípio do stabex e outros;
  • princípios que, decerto, não serão acolhidos nos “acordos de parceria económica”;
  • não lembro por saudosismo mas porque o futuro não está na OMC como tal, como instrumento do imperialismo, do império da economia de mercado;
  • cabe à esquerda afirmá-lo e lutar, mesmo que se saiba que não se vai vencer no curtíssimo ou no curto prazo;
  • só na luta quem se diz de esquerda é o que diz ser.

Tópicos de intervenções - sobre o dito "tratado reformador"

O Grupo da Esquerda Unida Europeia/Esquerda Verde Nórdica do Parlamento Europeu, que é composto por 41 deputados de 12 nacionalidades, reuniu-se em Lisboa, nos dias 16 e 17, para debater três temas:

  • Trabalho e flexisegurança (ou flexigurança?, ou só flexi sem segurança nenhuma?)
  • “Tratado Reformador”
  • Cimeira UE-África

Fui convidado a estar presente e a participar.
Tópicos do que disse sobre o “Tratado Reformador” (a imaginação ao serviço do embuste logo na designação…):

  • este “tratado” assusta ainda mais do que assustou a mal dita constituição, pela forma como se procura aprová-lo passando pelas “malhas” da democracia, da informação e participação dos povos;
  • reitera as características de neo-liberal, militarista e também federal, cada vez mais federal para impor o neo-liberalismo e o militarismo:
  • a ser aprovado, consagra o processo iniciado pelo relatório estratégico de Tindemans, do final da década de 70, com as várias velocidades, o centro e as periferias (entretanto criadas e agravadas);
  • as questões sociais são essenciais… mas pode falar-se de questões sociais sem referência e sem se centrar na questão do trabalho e da exploração?;
  • a esta ausência ou menosprezo chamaria, sim, défice ideológico (bem superior a 3%!...), que exclui da esquerda, tal como a entendo;
  • uma certeza: a luta continua e continuará seja em que condições for por mais difíceis que sejam.

Será isto jornalismo?

Primeiro, foi a fotografia. De um amigo.
Depois, claro, o assunto.
Logo, o título.
Saltei sobre a notícia-entrevista.
Estranhando o título, para mais entre aspas, o que queria dizer que o Pedro teria dito aquilo assim.

Afinal, não.

O que o Pedro disse, segundo o texto publicado abaixo daquele título, e em resposta à pergunta "E como vê o alerta de Cavaco Silva para apressar este processo relacionado com as mais recentes denúncias na Casa Pia?", foi "A minha única esperança é que o Presidente da República possa exercer a sua influência de forma a que este processo não seja abafado. Outra vez."

É bem diferente!

Será isto jornalismo?

Hoje!

segunda-feira, outubro 15, 2007

Não me calo! - 2

Não consegui passar para outras... Fui ver o site da RTP e encontro a "apresentação" do filme que tiveram a sem-vergonha de apresentar. Reproduzo e sublinho:


"O MILAGRE DE FÁTIMA

O milagre de Fátima numa produção do início dos anos 50, onde se reflectem os grandes males do Mundo dos tempos da Guerra Fria na visão de Hollywood de um universal caso de Fé.
A 13 de Maio de 1917, num vale da Serra de Ourém, a Virgem Maria aperece junto a uma azinheira a três pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco. Recomenda penitência e oração para a salvação do Mundo e promete regressar todos os dias treze durante seis meses. Os três garotos transformam-se numa sensação e são alvo de terríveis interrogatórios, continuando a proclamar firmemente a mensagem divina para a salvação dos homens.
Produzido no início dos anos 50 pela Warner, Milagre de Fátima, é uma reconstituição dos acontecimentos de Ourém em 1917 que deram origem ao fenómeno de Fátima. Com realização de John Brahm, esta produção norte-americana é, curiosamente, muito mais anti-comunista que pró-católica e o caso do Milagre de Fátima bem como o pesadelo de interrogatórios a que foram sujeitas as três ingénuas e inocentes crianças acabaram por se transformar num pretexto para reflectir sobre os grandes males do Mundo, que nessa época de Guerra Fria estavam claramente a Leste."
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E onde estão, hoje, os "grandes males do Mundo" para quem fez filmes destes, para quem, hoje, continua, descaradamente, a servir o que é o "grande mal do Mundo", uma sociedade de exploração e desumanidade, servida por uma "informação" de mentira?

Eu não calo!

No seu blog, Vitor Dias diz-me que a RTP passou aquela coisa chamada “The Miracle of our Lady of Fátima ” e termina com um desafio quem cala, consente!
Por mim, não me calarei. E lembro a reacção do meu Pai quando, há tantos anos..., no cinema S. Jorge, fez um escândalo ao ver esse filme (de 1952), levantando-se aos gritos de que era mentira, que aquilo era tudo falso.
Tinhamos ido, a família, ver o filme - porque o meu Pai a nada faltava que se relacionasse com Ourém! -, e a sua indignação e protesto vinham da surpresa perante a versão holywoodesca do que acontecera na Cova da Íria em 1917, e de que ele fora testemunha, mas, muito mais, pelos "terríveis interrogatórios" a que teriam sido sujietas os patorinhos e pelo enquadramento socio-político feito aos acontecimentos, como a referência ao 5 de Outubro de 1910 como uma "revolução socialista". Ao serviço da "guerra fria" e muito agradando ao fascismo em que vivia Portugal, e que fez, à família assustada, segurar a indignação que o meu Pai não conseguiu calar em público. Lembro-me, ainda, que a tal propósito escrevi um artigozito para o Notícias de Ourém. Que vou tentar recuperar...
Chega a parecer-me inacreditável que a RTP, passado todo este tempo, vá passando esse filme! Mas assim se quer fazer a História...

domingo, outubro 14, 2007

Transcrevo e subscrevo...

A MORTE DE JULIETA GANDRA NÃO FOI NOTÍCIA

Não foi notícia, na comunicação social portuguesa, a morte de Julieta Gandra, a médica portuguesa incriminada pela PIDE em 1959 e condenada no primeiro julgamento político do nacionalismo angolano moderno, o chamado “processo dos cinquenta” onde a par de muitas militantes angolanos figuravam alguns portugueses como António Veloso, Calazans Duarte e Julieta Gandra, que foram deportados para cadeias em Portugal, tendo os angolanos sido deportados para Cabo Verde, onde ficaram internados no campo de concentração do Tarrafal que assim reabria as suas portas em 1960, agora para outros presos políticos, os angolanos.

O falecimento de Julieta Gandra não foi notícia para jornais, rádios ou televisões de Portugal. Apenas a SIC passou em rodapé uma breve informação. Outras pessoas, alguma de bem menor envergadura que Julieta Gandra preencheram o obituário da comunicação social portuguesa.

Nos anos 50 do século XX, Julieta Gandra, ginecologista (especialidade raríssima na Luanda de então) atendia no seu consultório da Baixa as clientes da sociedade colonial, tirando daí os seus proventos, e, nos musseques, atendia em modesto consultório, a preço simbólico, as mulheres desses bairros suburbanos. Simultaneamente participava em actividades do Cine-Clube e da Sociedade Cultural de Angola realizando também actividade política em organização clandestina do nacionalismo angolano. Por isso foi presa pela polícia do regime salazarista, condenada a pesada pena de prisão, internada em cadeias de Portugal. Quer nos interrogatórios da PIDE, quer nas cadeias, portou-se com uma dignidade exemplar. Em 1964 foi considerada a presa do ano pela Amnistia Internacional

Esta breve resenha da vida cívica de Julieta Gandra cabia em qualquer jornal ou bloco informativo de rádio ou televisão mas os profissionais da comunicação social, sem brio nem remorsos, omitem uma curta e última referência a esta médica portuguesa que foi marco na luta pela liberdade da Mulher e dos Povos.

Lisboa, 10 de Outubro de 2007
Adolfo Maria

sexta-feira, outubro 12, 2007

Como e onde?

Enquanto o "chefe" fala e gesticula, cada um dos figurantes pergunta-se:

nesta posição, como e onde é que pomos as mãos (e os pés)?
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Um, cruza os dedos, a maioria põe a direita sobre a esquerda (aqui o "chefe" tem voto de desempate) e só um faz ao contrário, e o mais atrapalhado abstém-se, deixando os braços cairem ao longo do corpo e as mãos ficam... assim, ao lado das coxas.
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Quanto aos pés, estão todos com eles para fora para não parecerem parvos, uns às 10 para as 2, outros às 10 e 10, e o das mãozinhas "une valise à chaque main" (Brel, claro...) quase quase no meio dia (ou na meia noite).
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"O Rui Pereira e o José Magalhães têm que regulamentar isto", pensam (?) todos, menos o "chefe" que quando fala, só fala.
(...) de manhã, apanhei o expresso das 9 e 30, para Fátima-Lisboa.

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Foi na manhã de hoje, 12 de Outubro de 2007, dia do 90º aniversário do “grande milagre” na Cova da Iria.

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Também da multiplicação não dos pães mas do orçamento da basílica nova, a inaugurar hoje.

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“Integrei”-me na bicha caótica e procurei não ser pisado nem pisar, não ser agredido nem agredir… nem nas palavras.

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A falta de educação… cívica foi gritante, em vários tons mas predominantemente trocando os vês pelos bês.

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Há um excesso de necessidade metafísica, ao nível do ópio, da morfina, da droga.

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Assusta o egoísmo ao de cima, esmagando os ares pios e bondosos.

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Fere a hipocrisia beata mascarando o “salve-se quem puder”… a caminho do céu ou do melhor lugar no autocarro.

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E por causa dos devotos, e sobretudo das devotas, e da confusão dos lugares, o expresso saiu muito atrasado!

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Por momentos, vi abalada a minha confiança na espécie e no género humanos!

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Puxei do Ávante!, a provocar o preconceito que sobrenada no vazio dos conceitos, e no pavor do castigo divino.

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Vim a ler os jornais gratuitos pagos pela publicidade (e talvez não só, ou também por outras publicidades/propagandas não explícitas), e confrontei esta nova e imposta realidade.

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Nela se pode ler a informação que se lê noutra imprensa, passar pelos artigos de opinião dos que opinam em todo o lado (o César das Neves de nãoháalmoçosgrátis, este gajíssimo, este devoto da senhora da Cova da Iria), fazer os sudokus iguais aos outros com variados graus de dificuldade.

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Aleluia! Aleluia!, o défice será de 3%. Avé, Sócrates!

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Ministério das Finanças, 2,4% - FMI, 1,8% (ganhámos ou vamos perder?)

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Vamos todos cantar o hino nacional à maneira dos do rugby.

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A pátria em bola oval?

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Uma ova!

terça-feira, outubro 09, 2007

A revolução

A revolução não é o revolucionário
.....e a sua luta
.....e a sua coragem
.....e a sua entrega
.....e a sua dádiva
.....e o seu sacrifício

A revolução é os que a fazem
.....com a sua luta
.....com a sua coragem
.....com a sua entrega
.....com a sua dádiva
.....com o seu sacrifício

A revolução não é o protagonista
.....e os seus ideais
.....e os seus gestos
.....e as suas palavras
.....e os seus poemas
.....e os seus actos

A revolução é a luta de todos
.....com as suas ideias
.....com os seus gestos
.....com as suas palavras
.....com a sua poesia
.....com os seus actos

A revolução não é hoje
.....como não foi ontem
.....como não será amanhã

A revolução é todos os dias!

E há os “imprescindíveis”
.....os que assumem e cumprem as tarefas revolucionárias
.....os que fazem as greves anónimas
.....os que não faltam às manifestações
.....os que resistem às prepotências
.....esquecendo o seu “tempo livre”
.....perdendo dias do seu salário tão curto
.....arriscando a repressão surda
.....sofrendo a violência cega e bruta


que ninguém falte à manifestação de 18 de Outubro!

segunda-feira, outubro 08, 2007

No dia em que

Transcrevo dois trechos do A talhe de foice, de Anabela Fino, no Ávante! de 4 de Outubro:

«... ostenta o nome de "Operação Milagre" o programa cubano de assistência médica oftalmológica gratuita a pessoas de parcos recursos em diversos países da América Latina, que já devolveu a vista a milhares de pessoas. (...)»

«(...) Em Santa Cruz, a segunda maior cidade boliviana, o ex-sargento Mario Teran recuperou a vista após ter sido operado às cataratas por médicos cubanos.
O caso nada teria de excepcional se Teran não fosse o homem que há 40 anos assassinou Che Guevara com uma rajada de metralhadora, a 9 de Outubro de 1967, um dia depois de ter sido preso e encerrado numa escola a algumas centenas de quilómetros de Santa Cruz. Teran não se apresentou com a sua identidade, receoso talvez de não ser atendido. Mas o filho - por ventura mais visionário que o pai alguma vez foi - considerou dever expressar o seu reconhecimento aos médicos cubanos numa declaração ao jornal local El Deber (O Dever). (...)"

domingo, outubro 07, 2007

O noticiário do meio-dia

Estou aqui a trabalhar (sim, porque trabalhar não é só vender a força de trabalho!) enquanto ouço a rádio.
O Mário Nogueira diz que quer entregar ao 1º Ministro uma carta dizendo-lhe, em nome da Fenprof, que os sindicatos são necessários, os maus governantes não.
Acho feliz a fórmula-resposta e apetece-me aplaudir (aliás, os professores-sindicalistas até dizem que aplaudirão o governante, se isso for preciso para poderem entregar a dita carta... pois parece apenas serem consentidas as presenças de quem ali vá para aplaudir o 1º Ministro).
Mas logo me irrito. Então não é que a jornalista de serviço decidiu fazer o resumo da situação e, em vez de repetir a fórmula já ditada pelo professor-sindicalista, substituiu governantes por governadores?! Não terá havido quem, nos seus estudos para vir a ser profissional da comunicação, lhe tenha explicado a diferença? Talvez tenha tido professores não sindicalizados... Dos bons, segundo o critério do sr. 1º Ministro.

Aconteceu sim, senhores!

Tenho a sensação de estar a viver cercado por um cordão sanitário. De silêncio.
Não que seja novidade este silêncio em volta do que participo, ao redor redondo do que faço. Mas acontece que, nestes dias, se concentraram as situações e, talvez, a dimensão delas.
No dia 25 de Setembro, participei numa audição do Partido Comunista, no âmbito da preparação da Conferência Económica.
Muitos convidados, muitos não do Partido.
Lá estive, participei, disse umas coisas que me pareceram adequadas.
Mas, sobretudo, ouvi e terá ouvido quem mais precisava de ouvir – era uma audição… Não no sentido de mais precisar do que eu de ouvir o que foi dito, mas de mais responsabilidades ter.
E todos ouvimos coisas que deveriam ser sabidas pelos que lá estavam e pelos que lá não foram. E que não irão à Conferência.
Um exemplo? Que as ineficiências do Serviço Nacional de Saúde são intencionais, provocadas. Que 66% dos custos resultam de serviços externos. Que são possíveis poupanças imediatas de 600 milhões de euros. Dito e comprovado. E tanto mais!
Da reunião, ficou muito material para ser trabalhado e incluído nos documentos a discutir na Conferência. Assim preparada, com muitas iniciativas e trabalho, regional e sectorialmente.
Destas iniciativas, na comunicação social passam – quando passam – breves trechos do discurso no final dos trabalhos, do secretário-geral, quando este está presente – e muitas vezes está –, se possível uma frase que dê “ponte” para especulações, para falar de tudo menos do que se acabou de se passar e que o secretário-geral comenta e a que dá fecho.
Logo, não aconteceu…
No dia 28 e 29 estive num Encontro Europeu em Defesa da Paz, num hotel de Lisboa.
Organizado pelo Conselho Português para a Paz e a Cooperação, pelo Conselho Mundial da Paz, pelo Grupo da Esquerda Unida Europeia/Esquerda Verde Nórdica do Parlamento Europeu.
Participantes de muitas nacionalidades, deputados, ex-generais, cientistas, sindicalistas, militantes da Paz.
Intervenções muito diversificadas, de grande valia, quer informativa quer de intenção pacifista e solidária, comunicações e colaboração de “ex-soldados (generais) para a Paz”, do grupo “mayors for peace”, que foi iniciado pelos presidentes das municipalidades de Hiroshima e de Nagasaki, e já chegou a 128 países. E muito mais.
Mas a comunicação social não ligou ao evento, não esteve, não viu, não ouviu, não comunicou, fez como se não tivesse acontecido.
Logo, não aconteceu…
A 5, 6 e 7 de Outubro, promovido pelo jornal da net odiário e a revista Vértice, reuniu-se em Serpa, Vale de Vargo e Vila Nova de São Bento, gente que pensa e põe a debate o que pensa, no 2º Encontro Civilização ou Barbárie (o 1º foi em 2004 e há publicações).
Foi um encontro em que estiveram pessoas com nomes que são conhecidos universalmente. Cito apenas um, o franco-egípcio Samir Amin, autor de livros de referência, por exemplo sobre desenvolvimento desigual, desde a década de 60 – economista que, aliás, nunca teve a minha concordância e, agora, não tem a minha simpatia, valham elas o que valerem –, e muitos outros poderia citar, vindos da Hungria, da Argentina, do México, da Venezuela, do Brasil, de Cuba, dos Estados Unidos.
Três dias de intenso e rico debate.
A comunicação social? Ignorou!
Logo, não aconteceu…
Mas, (des)enganem-se, tudo isto aconteceu nestes dias que vivemos, e foi muito importante.

sábado, outubro 06, 2007

Olá!

Durante a minha ausência por terras do lado de lá do Guadiana (Serpa e Vale de Vargo) isto por aqui teve alguma animação.
Ainda bem...
Mas, confesso, fiquei um pouco cansado com a correria para vir ver o Juventude perder com o Candelária (aquilo esteve mal no início, mas os 0-3 espicaçaram a "malta", que reagiu bem e o final foi empolgante com o Juventude atrás do empate e o Candelária a segurar o resultado...) e só amanhã porei "a escrita em dia".
Até porque o encontro sobre "Civilização ou Barbárie", com aqueles "trutas" de várias nacionalidades (gente que pensa e diz coisas), merece ser falado, e muito. E como noutros lugares nem uma linha, nem uma imagem, aqui não faltará alguma informação.

quinta-feira, outubro 04, 2007

Mui respeitoso pedido de esclarecimento...

Eu, abaixo assinado, cidadão deste País, cuja Constituição e mais leis, acordos e concordatas julgo conhecer minimamente - pelo menos o chamado, bem ou mal, espírito das leis -,
sempre relativamente atento aos noticiários que entram em casa minha e de todos os meus compatriotas, e em que raro ouvejo o que desejaria e o que verdadeiramente me informaria,
venho, mui respeitosamente, pedir que o Exmo. Senhor Ministro da Saúde (que, segundo o Exmo. Senhor Primeiro Ministro, será quem) me esclareça se, vindo a ser hospitalizado ou pior ainda ou ainda pior, terei de, por escrito (e em que papel, de que cor e com quantas linhas), declarar que dispenso que me seja prestada assistência religiosa.
Pede deferimento este que se assina
Sérgio Ribeiro

Mistificar, segundo Aquilino

"Mistificar, na vera acepção, seria pois enganar mercê de processos escuros, pela calada, abusar da boa fé do próximo por artes de berliques e berloques. Quando os oráculos da antiga Roma recolhiam aos santuários e voltavam a dizer que os deuses lhes haviam comunicado tal ou tal desígnio, aqueles que por interesse ou auto-sugestão se não houvessem identificado com a pantominice eram vítimas de uma autêntica mistificação segundo a lei e a forma."
(em No cavalo de pau com Sancho Pança, pág. 327)

Para começar o dia...

Ao abrir o Sapo apanhei com esta. Como eu vivi este dia, há 50 anos! Festejámo-lo!


"Sputnik
Primeiro satélite foi lançado há 50 anos (DD)

Em 4 de Outubro de 1957 foi lançado o primeiro satélite espacial. Passados 50 anos do soviético Sputnik (...)"

quarta-feira, outubro 03, 2007

Para começar o dia a sorrir

Definição de sociedade anónima por um aluno de uma disciplina de contabilidade:
"grupo de pessoas que não se conhece".

terça-feira, outubro 02, 2007

Mais que anúncios, denúncias...

1.
2.

PROCURASSE

PROFEÇÔRA QUE SEIJA JÀ TITULADA OU DAS PRIMÀRIAS
(das antigas, com menina dos 5 olhos e tudo)
PRA CORRIJIR ERROS DE PORTUGUÊS
EM ANÚNCIOS DE EMPRESA DE PRESTÌGIO

não averá estájios purque é pra entrar logo em funsões

Este "exercício" não pode...

... não, não pode ficar ali, escondidinho, no albergue dos danados:

Exercício de compreensão. Por sofrer deveras, por conta sua e dos outros, o enteado do carpinteiro andava cansado. Ser profeta é tolerável, dizem-se umas frases bonitas, contam-se umas parábolas, fazem-se uns números de ilusionismo - a multiplicação de víveres escassos, o alívio de moléstias de foro vário ou a ressurreição de mortos resultam sempre -, e as pessoas exultam e bradam aleluias. Mas ser mártir, isso, cansa. Cansado por sofrer, porém obstinado com uma missão dolorosa e fatal - redimir todos os pecados do mundo -, missão que ninguém lhe havia atribuído, ele decidiu comparecer a uma consulta de um especialista em maleitas da cabeça, para ver se havia reparação para o seu mal. Levou credencial, foi à vaga. E o diagnóstico do seu mal foi ditado nestes termos, existe em si mais alguém - outrem, pode dizer-se. Não é gravidez, é grave apenas. O resto da história, já se sabe, foi a confirmação de tal gravidade. O Marquês.

segunda-feira, outubro 01, 2007

No dia do idoso


A democracia deles...

A legislação sobre o financiamento dos partidos políticos, ao ser cozinhada e aprovada, mereceu o repúdio de quem tem da democracia uma outra concepção que não a de um conjunto de regras e formalidades que, ou escondem a realidade, ou ignoram a realidade por serem impraticáveis no quadro real e, também, constitucional, e que servem, quando oportuno, para atacar o "inimigo de classe".
Recentemente, na oportunidade da Festa do Ávante!, a questão veio a Público, com todo o ar de ameaça. E como ameaça foi recebida e teve resposta pronta e adequada.
Agora, a propósito da fantochada das quotas e directas do PSD, torna o tema a Público, talvez para mostrar a neutralidade que (não) os caracteriza, com o presidente da "entidade fiscalizadora das contas e financiamentos políticos" seraficamente a afirmar que as quotas e outras contribuições têm, segundo a legislação, que "deixar rasto", isto é, que ser pagas por cheque, multibanco ou quejanda operação bancária, O que revela, além de desprezo pela realidade, a inconstitucionalidade da legislação adoptada pelo PSD e PS pois tal implicaria que só pudesse tomar e ter partido - direito dos cidadãos - quem tivesse conta bancária, o que não pode ser condição para se ter direitos cidadãos.
Essa "lembrança" não foi sentida como ameaça pelo PSD (nem pelo PS) também porque o seu financiamento é, nas formas visíveis, predominantemente assegurado pelas comparticipações do Estado, como de conluio decidiram legislar, sendo os partidos, na democracia deles, partes do aparelho do Estado.
Mas é ameaça, de novo, para o Partido (e os partidos) que têm como principal - quantitativa mas também qualitativa - fonte de financiamento as contribuições dos militantes e iniciativas partidárias, que até podem atingir dimensão artística e cultural que os transcenda, como é o caso da Festa. É uma outra democracia. Que não é a deles...
(ver post de Vitor Dias em tempo das cerejas)