sexta-feira, dezembro 31, 2010

Igualdade em Lágrima de Preta, de António Gedeão

Ao escrever aquela coisa sobre a igualdade corporal (que também tem os seus odores, como por vezes se comprova, e um comentador oportunamente lembrou), tinha a intenção de que tal ousadia fosse a primeira de mais duas ou três. Sobre a igualdade de género, a igualdade de cor de pele, a igualdade de oportunidades (que anda por aí na moda e ao serviço...), e outras, até fechar com a igualdade social, e como a lei (a Constituição) deveria existir (e em Portugal existe, ainda que maltratada) para, face às reais desigualdades, reparar algumas, compensar outras, proteger, enfim, os mais desiguais entre os iguais.

Eis senão quando, sou confrontado com um outro comentador que sugere (sem quaisquer más intenções, diga-se) que aquilo que eu escrevera poderia ter tido "inspirado" em poema de António Gedeão. Como conheço razoavelmente o poeta, surpreendi-me. Fui à procura, não tivesse o meu subconsciente gravado alguma coisa sem autorização e, depois, ainda menos autorizado, eu a tivesse reproduzido. Não encontrei nada de que o culpe, nem ao sub nem ao inconsciente que também sou.

O que encontrei, isso sim, foi a velha e conhecida interpretação do meu amigo Manuel Freire do

poema Lágrima de Preta, que logo resolvi aproveitar para ver se acabo o ano melhor do que ele foi. Não no que respeita ao anónimo do séc. xxi, de que não tenho que me queixar, mas dos motivos que me foram sendo dados para o seu sustento.

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro
nem vestígios de ódio,
água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

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E fica a "ponte" para os ulteriores tratamentos do tema da igualdade, em vários registos. Desiguais, obviamente.

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BOM ANO NOVO OVO

IGUALDADE corporal

Pegue-se numa mulher. Ou num homem.
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Faça-se-lhe um corte longitudinal. Total.
(… é indiferente se dos pés à cabeça, se da cabeça para os pés…)
.
Corte-se o homem (ou a mulher) ao meio,
com todo o cuidado para que seja em metades,
à partida iguais:
além dos órgãos comuns,
nas mulheres, um seio para cada lado,
nos homens, para cada lado um testículo,
.
Depois veja-se, observe-se,
e verifica-se que nunca as duas metades ficam exactamente iguais…
que há casos de cabelo de risco ao lado, de uma orelha mais de abano que a outra,
de olhos vesgos e até de cores diferentes, de narizes tortos, de bocas à banda,
de mãos com seis dedos,
de uma mama mais descaída que a mana
(ou de um testículo mais volumoso que o parceiro*),
de um pé mais chato e outro mais ligeiro.
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Isto, no que é visível, e tudo ao natural,
ou seja,
sem falar (ainda) nos vários possíveis acidentes e operações,
de cosmética e outras.
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Ora, assim sendo, logo no visível se vê que as mulheres e os homens,
para além das diferenças entre eles,
não se dividem, de per si, em partes iguais, simétricas.
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Então no que não é visível nem é bom falar.
Só visto.
A distribuição dos órgãos internos pelo interior dos corpos
é mesmo uma coisa complicada, dir-se-ia até caótica.
O coração é ao meio (mais ou menos), mas com a ponta para a esquerda,
tal como o estômago que também se diz ao meio e é mais sobre a esquerda
(... inclinações…),
0 fígado é à direita, como a vesícula,
mas já o baço estará (se lá estiver), todo ele na metade esquerda.
Quer dizer, as duas partes iguais ficariam sempre desiguais uma da outra,
quer por fora, quer, ainda mais, por dentro,
para não falar das intestinas vísceras que se encaixam como podem, entre o grosso e o fino.
Sem se poder esquecer
(ah! esta memória...)
as circunvalações e os hemisférios cerebrais,
o cérebro, o cerebelo e obolbo raquidiano,
cada pedaço para seu lado,
com os seus comandos e alavancas para o resto do corpo. Quando uno e inteiro.
E vivo.
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Deve ainda ter-se em consideração as circunstâncias ocorrentes,
de que dependem muitas transformações,
que podem operar-se para além (ou por causa) da postura e do crescimento desequilibrado dos ossos e órgãos e daquilo que os compõe.
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Tudo tornará as metades iguais ainda mais desiguais.
Até há gente, homens ou mulheres, veja-se lá... só com um pulmão, ou apenas com um rim,
ou com um testículo ou com um ovário só de um lado das partes
(se, no caso destes, não se tiraram os pares).
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A moral da história está à vista, pelo que se vê e pelo que não se vê:
se um homem e uma mulher não são iguais nas duas partes iguais em que se podem dividir, como poderiam ser iguais entre si, uns iguais aos outros, umas iguais às outras, outras iguais a uns, uns iguais a outras?
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(*) – não há dois tomates naturais (nem os transgénicos) absolutamente iguais… só os artificiais!
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haverá outras igualdades...

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Fale-se um bocadinho a sério sobre o BPN e outras coisas

Falar a sério sobre o BPN e outras coisas?
Ao candidato Cavaco Silva sabe-se que é difícil, mas também a comunicação social parece que anda a dar voltas ao texto. Ou influenciada pela cavacal candidatura, ou por incompetência, ou por outras e desvariadas razões.
Ponto 1. Desde o seu projecto, no BPN, com gente chegada ao poder político, vinda do Ministério das Finanças e de outros dos seus órgãos, haveria intenção de fazer umas megalómanas operações, com o dinheiro nele credulamente depositado, e com outro que inventado fosse por imaginosas mentes e tortuosas plagas.
Ponto 2. Nessas manigâncias iniciais e parturientes, nasceram outros bancos e empresas, umas nascidas mesmo para serem placas giratórias, outras mal-criadas, outras em faz-de-conta-que… por causa das contas.
Ponto 3. Nesses entremeses, entre conhecidos e amigos (colegas, como se diz na tropa), houve favores, sob a forma de sugestões, indicações… palpites (compra-me hoje/amanhã vendes-me que eu compro-te), e ganhos colossais e aparentemente inexplicáveis. Deles beneficiou Cavaco Silva e família.
Ponto 4. Tarde e más horas, dado que todos os sinais de fumo só podiam existir se houvesse fogo (e grande!), descobriu-se que entre aquelas “engenharias” e “arquitecturas” algumas fugiam a sete pés da legalidade, e em tudo isto nem se fala de legitimidade (ou ética).
Ponto 5. Como um pequeno castelo de cartas em cima de um areialzito movediço (como gosto de caracterizar, em escala ampliada, o capitalismo), tudo ruiria não fosse o socorro da “nacionalização”, em operação de emergência bombeiral em que os prestimosos Governo e PR (e logo Cavaco Silva) foram mais que expeditos.
Ponto 6. Com as coisas nesse estado, tinham de entrar as polícias e os tribunais, confrontando o grande cuidado em separar águas e em procurar que só dois ou três veios canalizassem a poluição toda, enquanto o banco "nacionalizado",e a sociedade mais importante criada à sua sombra sobreviveriam.
Ponto 7. O que entretanto aconteceu é outra coisa, neste estado das ditas. A Caixa Geral de Depósitos administrar mal, o Governo não ser capaz de privatizar (encontrar forma de vender)aquilo de que se quer libertar porque se tornou num "poço sem fundo", não é a mesma coisa que a coisa que está em causa, e em tribunal, e para que a expedita “nacionalização” foi “solução”, não podendo servir de escapatória para a sua co-responsabilidade e apagar as suas “aplicações”, reduzindo-as a declarações de IRS.
Ponto 8. Há vários folhetins, podem repetir-se protagonistas mas os enredos são diferentes e este último, por que só a Caixa e o Governo são responsáveis, não serve para esconder o que o antecede. Aquele de que o candidato Cavaco Silva não pode fugir, mandando (autoritariamente) ler “sites” e a sua declaração de rendimentos.
Ponto 9. E não me venham com essa da campanha suja. É a campanha que o é? Quem não quer ser candidato não lhe veste a pele...

notas À SOLTA (num caderno ou em papeis avulso)

Enquanto se pratica a caça ao cêntimo
(tirando-os a quem um cêntimo tanta falta faz)
ajudam-se largadas de milhões
[aos que milhões “arranjaram” aos milha(f)res]

Cavaco “surpreendeu” pela agressividade no último debate
(dizem uns, embevecidos),
agora vai "dar a volta" – poupadinha… - aos abstencionistas
(acrescentam logo, os mesmos e outros, emparvecidos)



(hoje também almocei sozinho)

notas À SOLTA (num caderno ou em papeis avulsos)

Não ata nem desata, e cada vez mais aperta?
Tem de se cortar o nó. Por nós!
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Tudo estagnado, a apodrecer,
e gente a fingir que anda a correr.
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Parece a vida parada,
e há quem por aí ande à desfilada.
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Por aqui, tudo muito quieto...
pois!... a aldeia está um deserto!
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Mas que ambiente nos rodeia!
é um País doente, sem pé-de-meia
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A culpa é nossa, da malta plebeia,
não dos que têm barriga e bolsa cheia.
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A hipocrisia como pandemia,
a falta de ética como se fosse genética!

(enquanto almoçava ontem... são só migalhas e pingos)

quarta-feira, dezembro 29, 2010

IDH-2010 - continuação (Chipre e Portugal -1)

É dos trabalhos que (me) absorvem. Procurar encontrar, nos números, as realidades que eles deveriam representar. Procurar, através da sua análise, as realidades que quero conhecer.
O IDH ajuda-me... e absorve-me.
Chipre é um Estado-membro da União Europeia de que pouco se fala. E ainda bem... e ainda mal.
Ainda bem, porque é sinal de que não há coisas graves e que o País segue o seu rumo; ainda mal, porque em Chipre se vive uma situação em que não é admissível aceitar o statu quo da ocupação turca.
Também - e de que maneira! - porque tem um partido comunista, o AKEL, com mais de 30% de votos e um Presidente da República que é membro desse partido, e dele até foi secretário-geral.
Tudo motivos de muito interesse, e que melhor comentarei noutros "posts". Para este, apenas (!?) um trabalho de compilação e confronto (que bastante trabalho - com algo de lúdico... - me deu).

Em contrapartida...

... em contrapartida ... que tranquilidade,
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que confiança, que segurança dá ver um camarada cumprir assim uma tarefa. Com tranquilidade, com confiança, com firmeza. Não apenas para "honrar o Partido". Isso, muitos e muitos militantes o fariam. Também para nos mostrar (estou a falar entre-nós-outros... mas com paredes de vidro) que temos, entre nós, "desconhecidos" em condições de se candidatarem a qualquer lugar e de o ganharem se for esse o voto. E por isso lutaremos até 23 de Janeiro!

terça-feira, dezembro 28, 2010

Desabafo em fundo de dislates não ingénuos

Chega a ser patético ouvir alguns (ou quase todos) destes “crânios” a perorar.
Há um “modelo” que adoptaram e usam como se fosse a realidade. Ou convencidos, ou querendo convencer, que esse “modelo” é, e foi, a realidade.
O “modelo” é, simplesmente, irrisório. Risível. Em dois traços o desenham. “Nós” consumimos demais, “nós” gastámos acima das possibilidades, “nós” endividámo-nos sem conta nem medida e, agora, tudo isso ficou a descoberto. E sublinham o “nós” para nos flagelar, a nós todos, com a culpa que é, evidentemente, só de alguns, dos próceres e dos executores de uma política que tem três décadas e meia.
Depois, cada um deles, desses…, embrulha o “modelo” que lhes serve em papel colorido, com dominante rosa ou laranja, num discurso absolutamente balofo, vazio de conteúdo, quer técnico, quer político, quer sobretudo ético. Verborreico, diarreico.
O dito “modelo” confronta-se com um inimigo de estimação, têm um ódio visceral, paranóico, por aquilo que uns chamam “modelo social”, outros “socialismo”, sempre o trabalho e os trabalhadores, sempre com o objectivo de mercadorizar a força de trabalho.
Por outro lado, o “nós” deles exclui-os a eles no que respeita aos sacrifícios que afirmam fatalmente inevitáveis… para o nós-outros” (e não em arremedo de castelhano).
Por mais estúpidos que nos queiram fazer, o seu modelo é o capitalismo, seus estúpidos ou a quererem passar por que o são.

Voltando ao IDH... e a Chipre - (continuação)

Na reunião na Casa da Paz, entre a central sindical PEO, de Chipre, e o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), para além das informações históricas e genéricas (que reproduzimos algumas), houve notas de informação que são de útil divulgação, enquanto não se volta ao tema do IDH.

Voltando ao IDH... e a Chipre

É tempo de voltar ao índice de desenvolvimento humano, que tem estado de salmoura.
E a Chipre, que começou por ser referido quando iniciei as mensagens sobre estes relatórios do PNUD.
Entretanto, chegaram-me, do Conselho Português para a Paz e Cooperação, umas informações com dados que podem servir para "fazer a ponte".
Essas informações resultam de uma reunião que o CPPC teve com o PEO (a maior central sindical de Chipre, fundadora do movimento sindical mundial, em 1945, e representando mais de 80% dos trabalhadores cipriotas), e vou seleccionar algumas:
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continuará

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Com inverdades e "coimas" assim se faz a desinformação

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«Nota do Gabinete de Imprensa do PCP
Sobre a notícia do jornal «Público»
em torno das coimas aplicadas aos partidos
Segunda 27 de Dezembro de 2010

Face à notícia hoje publicada pelo jornal «Público» sobre coimas nas contas dos Partidos, que constitui aliás o tema da sua manchete baseando-se numa absoluta falta de rigor, o PCP tem a esclarecer o seguinte:

1 - Ao contrário do que o «Público» afirma - «como é a partir das despesas que o Estado calcula a subvenção concedida aos partidos, ao incluir as coimas nessas despesas, os partidos acabam por receber de volta, mais tarde, o valor monetário das coimas que lhe foram aplicadas.» - as despesas declaradas, incluindo naturalmente as das coimas aplicadas aos Partidos, em nenhum caso são contabilizadas para a subvenção anualmente atribuída aos Partidos. Ela é definida no artigo 5º da lei, «A subvenção consiste numa quantia em dinheiro equivalente à fracção 1/135 do valor do IAS, por cada voto obtido na mais recente eleição de deputados à Assembleia da República.», pelo que as coimas aplicadas aos partidos nada alteram à subvenção estatal.

2- A alteração (coimas) que se verificou na legislação – Lei de Financiamento dos Partidos e das campanhas eleitorais – no artigo 12º, nada tem a ver com subvenções do Estado, mas sim com as regras e obrigações dos Partidos em relação ao seu regime contabilístico, discriminando as parcelas, quer de receitas, quer de despesas, quer de património, que aí devem constar. Tratou-se apenas de inserir uma despesa que existe na realidade nas obrigações contabilísticas dos Partidos. Alteração aliás que está de acordo com legislação aplicada a qualquer associação, cujas multas aplicadas aos seus dirigentes – desde que no exercício das suas funções – podem ser assumidas pela própria instituição.

3- A notícia do «Público» refere-se apenas às contas anuais dos Partidos, sobre as quais versa o Acórdão do Tribunal Constitucional referido, e não às contas de campanhas eleitorais, onde, aí sim, a lei determina uma ligação entre as despesas e a subvenção. Mas nem que o «Público» se estivesse a referir às subvenções para campanhas eleitorais (e manifestamente não estava) a notícia teria fundamento, uma vez que nestes casos a responsabilidade cabe inteiramente ao mandatário financeiro de cada campanha, que responde pelas contas e pelas suas eventuais irregularidades.

4 - Finalmente, é significativo que o «Público» não tenha considerado no mínimo estranho que a aplicação de coimas a que se refere, signifique, nas mesmas circunstâncias, para o PCP um valor de 30 mil euros e para os restantes Partidos de 3 mil euros, confirmando assim uma situação claramente persecutória em relação ao PCP. Multas que em vez de serem pagas pelo Estado como erradamente o «Público» sugere, são pagas pela contribuição dos militantes, activistas e simpatizantes do PCP.

Na verdade, esta manchete e notícia do “Público” inserem-se numa campanha mais vasta para denegrir a actividade partidária como elemento essencial da vida democrática do país, da participação cívica do Povo português, reconhecida e valorizada pela própria Constituição da República.

Mas visa essencialmente atingir o PCP, Partido que se distingue de todos os outros, pela sua história em defesa da liberdade e da democracia, pela sua prática e o seu projecto, e que está na primeira linha da luta contra a política de direita e por uma mudança de rumo de que o País cada vez mais precisa.»

Reflexões lentas... em tempo já não/ainda natalício

Para me poupar (e a vós, eventuais e caros visitantes...), tinha resolvido não trazer para aqui as mensagens natalícias – são sempre em catadupa, do Presidente da República, do 1º Ministro, do Cardeal Patriarca, de outros poderes e deuses menores –, até porque, por outras paragens encontrei muito apropositados comentários, como em cravodeabril (este o elogio da pobreza, a que seguiu um outro, sobre a entrevista do CP ao DN, verdadeiramente de não perder: estoutro!).
Mas o comentário acabado de ler, em samuel-cantigueiro aqui, provocou, além do habitual sorriso ou riso, a vontade de dizer que sinto estarmos perante exibições de vaidades pessoais e auto-suficiências que chegam a incomodar de tão ostensivas. Que não há “massagens” (boa, Samuel!) que atenuem o incómodo. Antes o agravam!
Não surpreende que o(s) representante(s) da Igreja Católica traga(m) o seu Deus e os seus ódios para a chamada política, sendo os comunistas o alvo dos seus ódios, quando nós apenas dizemos, confirmando, que a sua/dele Igreja é um ópio, é narcotizante, e a combatemos no plano ideológico, vendo os crentes como outros-nossos-iguais e não como nossos inimigos.
Mas é excessivo que, quer o PR, quer o 1ºM da República Portuguesa pareçam “ter o rei na barriga”! Cada um à sua maneira (qual delas a pior…), com as suas idiossincrasias, a sua arrogante incultura, são o fruto de uma democracia que não o é, que o poder financeiro entrega a pragmáticos sem ética, a assimilados defensores de direitos humanos, cujos seriam confinados à liberdade condicional, ao voto intermitente, à aparentemente livre expressão de ideias com divulgação selectiva segundo os seus/deles interesses, ou seja, em última instância, dos mercados, cuja mão (e corpo) invisível tudo comandaria.

domingo, dezembro 26, 2010

Outra curiosidade... na Festa do Avante!

O buraco ao lado!
'
Passou-me uma fotografia (outra!) por debaixo dos olhos, e nela apanhei este pormenor de indisciplina partidária na construção da Festa...
O "chefe" escreveu que o buraco para o esquentador deveria ser naquela placa, e o "militante de base" abriu o buraco na placa ao lado!
Assim não vamos lá... ou demoramos mais um tempito.
O controle de execução das tarefas e a vigilância revolucionária são cada vez mais necessários!

Crónica domingueira – uma curiosidade

Passava por aquele recanto da casa, como o faço dezenas de vezes por dia (não estou a exagerar), e os meus olhos tropeçaram no que ali está na parede como se da parede, e da casa, já fizesse parte. Como se ali estivesse desde sempre, nesta casa em que o meu pai nasceu fará 113 anos a 21 de Janeiro.
Parei a ver as molduras em que coloquei as ilustrações do Luís Afonso para trabalhos publicados em o diário lá para os anos 80 há muito idos. Por acaso? Talvez… ou decerto que sim porque não sou de esoterismos.

O que aconteceu foi que fiquei ali, parado, a olhar os desenhos do Luís Afonso e a lembrar os textos (que nem sei onde reencontrar) que lhes tinham dado o mote. Eram duas séries, a que chamei à maneira de folhetim, em que tratei dois temas, o do desemprego (O mistério da D. População Activa) e o do CAME e da CEE (O romance das integrações).

Mas logo me apercebi que não fora por qualquer serôdio saudosismo que ali ficara preso às recordações (e às auto-críticas que delas decorrem).
Fora um desenho em particular que me atraíra e provocara a paragem e a viagem ao passado. Fora a lembrança de, no tratamento das integrações económicas, a então recente integração de Portugal (e da Espanha, e da Grécia um lustro antes) terem completado uma fase do percurso da integração capitalista europeia e terem motivado a criação de um símbolo para a CEE (Comunidade Económica Europeia) a transformar-se em CE (Comunidades Europeias) e a preparar o salto para UE (União Europeia), com passagem pela cidade holandesa de Maastrich: um logótipo de 12 estrelas, os 12 Estados-membros, formando um círculo fechado.
Ao contar essa história, conversara rapidamente como o Luís Afonso (que excelente colaboração!), trocáramos impressões e ele saiu-se com este desenho para uma constelação das 11 estrelas e um cavaco.
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Estava-se, então, nos primeiros anos do longo período de Cavaco Silva como primeiro-ministro num dueto com Cadilhe… porque há sempre um ministro das finanças e outros (alguns hoje a contas com a justiça) a ter por parceiros. Eram os anos em que a integração de Portugal nas CE se ia traduzindo no aproveitamento dos fundos comunitários para algumas obras de inegável importância no espaço português, em simultâneo com o desastroso menosprezo e abandono da economia produtiva, do mar, da terra, dos recursos adquiridos, e a entrega do País aos interesses financeiros transnacionais, à especulação bancária, à invasão das grandes superfícies sobre “terra queimada” das pequenas e médias empresas, do comércio e da distribuição tradicionais, no mais completo desprezo pela Constituição, num contínuo e continuado ataque às conquistas sociais, sempre contra os trabalhadores, as populações. Embora, por vezes, parecendo que alguma coisa estariam - os trabalhadores, as populações - a beneficiar com a política prosseguida, porque juros baixos, convenientes aos negócios bancários, apareciam, aliciantes, a compensar os ataques aos salários, e criavam, a par da ilusão, um muito concreto endividamento.
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Vou guardar, para uso actualizado, esta da constelação de onze estrelas e um cavaco, com mais de duas décadas de existência. Pois se eles continuam a querer escavacar tudo…

sábado, dezembro 25, 2010

Ora aqui estão...

... 5 minutos de boas festas (pelo corpo todo):



Obrigado, amigo!

Reflexões lentas... em tempo tudo/nada natalício

O galo teve a sua missa, o bacalhau fez a sua obrigação, e hoje é o dia do peru cumprir o seu destino nos lares que o alcançaram (e menos foram). Os desavindos das famílias também vieram e houve tréguas nas resistentes e crescentes desavenças.
Todos ceados, hoje de manhã é o tempo de, asseados, estrearmos roupa de prendas trocadas.
Mas...
Nestes dias do ano, o mundo não pára. Nem sequer desacelera. Embora pareça.
Tudo mexe. E muito.
Nestes dias do ano, olha-se para o vulcão como se ele estivesse em repouso. E talvez seja necessário. Talvez precisemos de relaxar. De fazermos de conta que o vulcão só está vivo quando deita a lava pela bocarra por onde esta rompeu, depois de incandescer, de se pôr ao rubro e de se atirar aos ares e ventos e pelas encostas abaixo.
Estou a pitonisar desgraças? Não. Apenas estou a viver a enorme contradição entre o muito - tanto! – que quero dizer às gentes que sou, delas conhecer e aprender, e este hiato em que as sinto desatentas, ou com as atenções distraídas, por necessidade e cautela.
Não me julgo obcecado, embora assim me julguem. É que não dão pausa os anúncios, explícitos ou escondidos, do que aí vem com o ano novo (que poderá ser, como todos, ano ovo).
Assusta (e, contraditoriamente como a vida, é espera nça) o 2011 que está para lá da porta já aberta. Escrevo isto depois de ter lido, no semanário habitual, notícias, artigos e comentários de revelação e confirmação. Como este do Nicolau Santos (que também começa a ser habitualmente citado):
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A culpa é toda do trabalho
De repente, o capital tomou a ofensiva. Os patrões recusam o aumento do salário mínimo para €500 em 2011, conforme tinha sido acordado em Concertação Social. Querem já a flexibilização do despedimento individual e a redução do valor das indemnizações a pagar. Como disse genialmente um dos envolvidos no processo, os patrões querem flexibilizar os despedimentos para aumentar a segurança no emprego. Supõe-se que se tudo se passar como o patronato deseja, a economia vai florescer. E porque não trocar trabalhadores por servos da gleba? Nessa altura, é seguro, o tigre lusitano espantará o mundo!

Alguém lhe terá oferecido, como natalícia prenda, um livrinho primeiro publicado em 1848 com o título que tanto diz de Manifesto do Partido Comunista? Se sim, vale dizer que uma leitura não basta. É preciso estudá-lo com cuidado e ao que depois dele veio.

Eleições presidenciais - episódios de uma luta

O que li aqui, convidou-me (ou convocou-me?... como quiserem...) a partilhar o que lido estava, e também a sugerir (ou a convidar para?... como quiserem...) uma reflexão sobre o que são eleições e para que servem.
Se só contassem os votos nas urnas, para muito pouco serviriam as eleições. Por isso, quero denunciar os falsos democratas que reduzem a democracia ao voto, que se confinam à democracia representativa como a formação social capitalista a impõe (com as condicionantes a que a relação de forças sociais a podem obrigar), que esquecem, ou escondem, ou tripudiam a democracia participativa, que faz de cada um de nós um cidadão, o que é bem mais que um eleitor!
Leiam, se fazem favor, e digam-me, se quiserem continuar a fazer-me o favor, se o Francisco Lopes, naquela noite de 21 de Dezembro, não ganhou mesmo as eleições, no quadro de uma luta que não se resume ao voto no dia 23 de Janeiro. Embora este voto seja muito importante. E em Francisco Lopes!

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para quem não conseguir "entrar"

A noite em que Francisco Lopes ganhou as presidenciais
por Ana Sá Lopes,

(publicado no i em 23 de Dezembro de 2010)

A batalha de Francisco Lopes nas Presidenciais é "honrar" o Partido Comunista. Derrotar o Presidente da República num debate é, só por si, um feito maior
As expectativas não eram brilhantes. Francisco Lopes, o candidato do PCP, que não se tinha destacado até agora - publicamente - por nenhuma intervenção política extraordinária ia confrontar o político mais popular do país, Aníbal Cavaco Silva. Já se sabia que o poder de Lopes dentro da direcção comunista era inversamente proporcional à sua popularidade fora de portas: excluindo o universo PCP, é preciso andar com uma candeia acesa para descobrir uma alma que saiba quem é Lopes e o que fez.

A situação não melhorou por aí além desde que Francisco Lopes foi entronizado candidato oficial do partido: nenhuma das suas intervenções públicas provocou especial assombro popular. Lá estava ele, certinho e sem história, a cumprir a tarefa de levar o PCP à campanha presidencial - tendo em conta a deserção do Bloco da dita, a tarefa partidária assumia um papel especial no universo à esquerda do PS, mas nem assim a estrela de Francisco Lopes luzia.

Mas, inesperadamente, no frente-a-frente com Cavaco Silva, a star is born. Francisco Lopes obrigou à entrada na campanha daquele que - em conjunto com a famigerada história das "escutas" - é o assunto mais incómodo para o candidato Cavaco Silva: a sua relação com o Banco Português de Negócios. E essa machadada sem piedade, logo no começo do debate, foi seguida por um indisfarçável nervosismo do Presidente durante o resto do tempo, incapaz de responder à acusação de que tinha feito "em quatro dias um acordo com o governo para cobrir uma fraude" [a nacionalização do BPN] onde estava envolvido Oliveira Costa "ex-colaborador de Cavaco Silva e financiador da primeira campanha"

À saída, Cavaco Silva foi obrigado a repetir, quase ipsis verbis, um famoso comunicado da Presidência, emitido a um domingo, onde afirmava que "nunca tinha comprado nem vendido nada ao BPN", como se isso constituisse qualquer património justificativo, tendo em conta que tinha comprado e vendido acções à Sociedade Lusa de Negócios, detentora do Banco Português de Negócios.

O desvario de Cavaco Silva foi tanto, que chegou ao ponto de, pasme-se, praticamente co-responsabilizar Francisco Lopes pela aprovação do Orçamento do Estado - na sua qualidade de "deputado". Tendo em conta que o PCP, e naturalmente Francisco Lopes, votou contra o Orçamento, ouvir Cavaco Silva dizer que "o Orçamento é feito pelo governo e pelos deputados e Francisco Lopes é um deputado" é tão absurdo que raia o patético.

Francisco Lopes foi inteligente e extremamente hábil na forma como co-responsabilizou Cavaco Silva pela aprovação do Orçamento, recorrendo inclusivé à ironia - a contradição de um Presidente que ao mesmo tempo em que se vangloria de ter conseguido o acordo PS/PSD se esforça por se distanciar do resultado final. Enquanto isto, Cavaco Silva recitava as suas qualidades ao país: "Os portugueses não esquecem quem criou o 14º mês para os pensionistas" e, entre outras bondades, quem "trouxe a Autoeuropa para Palmela". Mas isto foi noutro tempo, com outros poderes. Agora, a comoção só pode ser geral quando o Presidente enuncia ter escrito "dezenas de cartas" a chefes de Estado a pressionar para a eleição de Portugal para o Conselho de Segurança da ONU.

Francisco Lopes já ganhou as eleições presidenciais. A batalha dele era esta: "honrar" o Partido Comunista Português. Derrotar num debate o Presidente da República é, só por si, um feito maior.

Redactora principal

sexta-feira, dezembro 24, 2010

10 (e nem mais 1 cêntimo) e 326.100.000 (mais 49.999 menos 50.000 euros)

Dizem que ser economista é ser “homem de números”.
No entanto, eu, que há 52 anos tenho a “carta de economista”, após 5 anos de “escola de condução” (foi antes, muito antes…, de Bolonha), e depois ainda me aventurei, já entradote na contábil idade, a fazer um doutoramento que saiu “melhor que a encomenda”, confesso que há números com que lido mal.
Não que não goste de números. Até tenho alguma apetência para e gozo em jogos em que entram números, sou admirador indefectível de Bento de Jesus Caraça e dos seus “Conceitos Fundamentais da Matemática” (e de outras suas obra e vida), mas há números que me baralham. Sobretudo quando têm um cifrão a acompanhá-los.
Num extremo, ligo muito pouco a tudo quanto são unidades, dezenas e centenas. Se não parasse nas centenas – agora de euros, mas durante muitos anos foi de escudos – aceitava que me chamassem perdulário ou até me interditassem.
.
No outro extremo, fico perdido quando se passa a tratar de milhões, que depois são milhares de milhões (ou biliões?, qual foi a solução do Acordo Ortográfico?), biliões, milhares de biliões, milhões de biliões, milhares de milhões de biliões, triliões (é assim?).
.
Por isso, ora vejam só como eu me encontro hoje, véspera de natal, em que se confirma que o salário mínimo português vai subir de 475 para 485 euros e em que se conhece a detecção, pelo Tribunak de Contas, de umas irregularidadezitas da ordem dos 326,1 milhões na gestão dos tribunais portugueses, por os chamados “depósitos autónomos” – que são, agora, geridos pelo Ministério da Justiça – terem sido desviados das suas finalidades, e servido para tapar “buracos financeiros” de 2008 e 2009.
Perturbado como estou com estes números, e para ver se os trago para a casa dos milhares, onde me mexo bem, fiz contas e sublinho que as tais irregularidadezitas, trazidas à dimensão mensal, dariam para mais de um milhão e trezentos e sessenta mil aumentos dos tais 10 euros do salário mínimo.
Nem assim consegui trazer os números para a casa dos milhares, de tal modo grandes são os “buracos” e pequenos os aumentos nos salários mínimos.

Espelho meu, espelho meu...

- Espelho meu, espelho meu, há alguém mais honesto que eu?
- Não… só se alguém nascer segunda vez!
- Espelho meu, espelho meu, há alguém que saiba mais de finanças que eu?
- Não! Nem Jesus Cristo, "que não sabia nada de finanças”, como diz o Fernando Pessoa(*), que até era, como sabes do que dele leste nas sebentas do Instituto Comercial, um bom contabilista….
- Espelho meu, espelho meu, há alguém que tenha feito mais alertas que eu?
- Ninguém, Aníbal, nem os sentinelas que alerta estão… (Bom, os comunistas também se fartaram de alertar, de prever, de prevenir… mas esses não contam, não é ?!)
- Pois! Espelho meu, espelho meu, há alguém mais presidente que eu?
- Não, Aníbal. Presidente há só um, és só tu e mais ninguém. Por enquanto…

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(*) Que estúpido se não sabe que a infelicidade dos outros é dele
e não se cura de fora.
Porque sofrer não é ter falta de tinta
ou o caixote não ter aros de ferro!

Ex-citações: o que se ouve!

Dos noticiários da Antena 1 da RDP. Ouvi, e quero partilhar:

«“Discutir a utilização dos pobres” na arena política é “uma pouca-vergonha, até do ponto de vista cultural”. Quem o afirma é Januário Torgal Ferreira, ouvido pela Antena 1. O bispo das Forças Armadas distribui responsabilidades pelo Presidente da República, Cavaco Silva, e pelo primeiro-ministro, José Sócrates.

“Vamos ser muito objectivos. Até ao fim de Janeiro, Fevereiro, sem cair em fundamentalismos de base e de datas, se o Governo português não disser a verdade, se não apresentar alternativas, se não indicar apoios, se não apresentar ajudas e solidariedade, se não tiver uma atitude aberta e andarem com retóricas entre o Presidente da República e o primeiro-ministro a discutir a utilização dos pobres, que é uma pouca-vergonha, até do ponto de vista cultural, quer de um quer de outro, eu acho que eventualmente poderemos sofrer consequências e convulsões sociais muito graves”, vaticinou o clérigo à rádio pública.

A “calma” que agora se vive no país, reforçou Januário Torgal Ferreira,
“prova, por um lado, a civilidade do povo português”. Mas “não é de manter”: “Se isto continuar e se a lição não for bem explicada, a começar pelos principais representantes do país, uns dizem que são equilibristas no arame, outros dizem que os pobres são um abcesso que alguns querem lancetar, se isso não for bem explicado, eu não quero cair em exageros nem em profecias, mas desta forma nós não teremos paz”.

“As necessidades vão duplicar”

As preocupações do bispo das Forças Armadas são partilhadas pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. Jorge Ortiga não hesita em antever “uma situação social muito mais grave” no próximo ano, “com o desemprego, com o fundo de desemprego a chegar ao fim para muitas famílias” e o “rendimento social de inserção também com as condicionantes todas”. “Até agora nós verificamos que a sociedade portuguesa tem vivido, digamos, com calma. Será que isto é de manter?”, questionava-se ontem à noite o arcebispo de Braga em declarações à agência Lusa.

Convencido de que “as necessidades vão duplicar”, Jorge Ortiga manifesta dúvidas sobre a capacidade do Estado para “assumir a responsabilidade que tem de garantir qualidade de vida a todos os portugueses”. Isto quando ganham corpo
“fenómenos de exclusão social que poderão provocar outras coisas que não gostaria de ver”: “Quando não há o essencial para viver, o povo não se cala”.

À margem do jantar de Natal da Cáritas de Braga, o presidente da Conferência Episcopal deixou um apelo a “todos os portugueses” para que “tenham mais generosidade e maior partilha” e advertiu contra a persistência da “ostentação”, considerando que “é necessário aceitar agora uma vida com algum sacrifício para evitar fenómenos de exclusão social”. Num recado ao poder político, prometeu “denunciar situações que surjam” num ano em que “a política de austeridade vai criar mais pobreza”
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A política de austeridade ou a austeridade que nos trouxe esta política - e vai agravar!... se continuar !?

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Fitch - Um dos protagonistas de Inside Job

Logo depois de ter publicado a anterior mensagem, li isto numa notícia no sapo, sobre um "protagonista" deste filme em que não podemos ser "figurantes":

«Fitch corta ‘rating' de Portugal e prevê recessão em 2011
A Fitch baixou em um nível o ‘rating' de Portugal, de AA- para A+. O ‘outlook' é negativo, um aviso de que poderão haver cortes adicionais.»


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Sem deixar passar a errada construção da frase (poderão haver?) que, no meu tempo de escola primária, poderia ser caso para palmatoadas, é de perguntar que "mercados", e quanto, pagaram à Fitch para esta notação?

Inside Job... e o outside

Disse que voltaria a este filme... Aqui estou. Porque este filme tem muito que se lhe diga.

Porque diz muito. Embora, obviamente, não diga tudo.

Neste "trailer" do filme de Ferguson está uma frase que tinha tomado nota: é um governo da Wall Street.

Mas quantos mais governos não são os governos da especulação e das finanças... dos mercados? E não temos de sair de casa, de passar fronteiras. Que, aliás, o capital financeiro desconhece.

Diria que Inside vale a pena ver, deveria ser visto. Mas... mas tendo bem consciência de que há um Outside que são as consequências do inside tão bem denunciado, e que só este outside desse inside pode mudar o rumo das coisas, fazer mais do que denunciar, conseguir que uns "abusadores" sejam condenados (a quê?), enquanto as condições para os abusos são inerentes, intrínsecas ao sistema. Ao capitalismo.

Vejamos:

Por exemplo (e parece-me bom), Nicolau Santos titula que é o filme que todos os banqueiros deviam ver. Também acho, embora não espere desse visionamento quaisquer melhorias. Porquê? Porque o filme mostra "como a desregulamentação esteve na base da crise", diz NS mas não diz o que esteve na base da desregulamentação; porque diz que o filme mostra "a prova da perversidade e falta de honestidade dos reputados banqueiros" e "como as agências de rating -Standard & Poor, Moody's e Fitch - receberam milhões em comissões ao atribuir ratings AA ou AAA a produtos e instituições que um mês depois não valiam nada ou estavam na falência", mas não aproveita a embalagem para lembrar que essas mesmas agências que, fluorescentes, servem os "mercados" para estes destruirem economias de países soberanos; Inside Job - A Verdade da Crise mostra, e é verdade na crise!, "o papel catastrófico que o secretário de Estado do Tesouro Henry Paulson, teve no despoletar da crise" mas... esse secretário de Estado estava lá por acaso?

A partir do filme, escreve-se, indignadamente, de ganância que ultrapassou tudo, de hipocrisia que é tão absoluta que até dizem ao presidente do FMI que deveriam, eles, sermais regulados quando foram, eles, que tiveram o poder para acabar com as regulações, sempre ou quando lhes convinha.

Termina Nicolau Santos a escrever que Inside Job - A Verdade da Crise "mostra como milhões de pessoas em todo o mundo perderam as suas poupanças e os seus empregos por causa de muitos destes senhores importantantes que não passam de um bandalhos sem ética nem moral". Mas não nos quer explicar porque é que "a pílula amarga que o filme nos deixa é que muitos deles foram chamados pela Administração Obama para darem os seus conselhos".

Acabar, com uma "grande frase" - "o negócio segue dentro de momentos" - é muito. É um grand final!

Mas, perguntaria eu..., quantos desses senhores viram o filme, seguindo bons conselhos, sem que tal lhes tivesse feito a mínima mossa, a não ser, talvez..., suscitar um desejo de censura (e outras acções) mc-carthistas.

E dizer, com desalento, que o negócio segue, sendo muito, também é muito pouco porque falta aconselhar os que estão no desemprego e os que tudo perderam ou estão em risco de perder, a ver o filme, e a tomarem o futuro nas suas mãos. Porque se há culpados - e há! - a verdade da crise está no sistema que a cria, e não nos gananciosos e hipócritos que dele se aproveitam, e que são protegidos mesmo quando parece que os acusam fazendo esquecer que são as suas próprias dinâmicas que assim fazem funcionar.

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Porque será que não me sai da cabeça o título de um velho filme de Carlos Saura, Cria corvos (que eles te comerão os olhos)?

O debate que vale a pena "ouver"



O debate entre Francisco Lopes e Cavaco Silva foi esclarecedor. Para quem se quiser esclarecido. Tinham-me dito coisas, logo a seguir, tinha lido comentários. Por telefonemas amigos, nos blogs de consulta diária, no Diário de Notícias, por aqui e por ali.
.
Logo que possível, ouvi o debate. Para, para além dos juízos dos outros, fazer o meu próprio juízo, ter a minha "ouvivista" versão.

Deixo duas palavras. Quase de entusiasmo, embora a situação não esteja para entusiasmos.

O "desconhecido" Francisco Lopes "deu um bailarico" (para usar uma expressão popular). Começou sem tergiversar, a não fugir às questões, a procurar o confronto, com firmeza (e dureza), a falar na primeira pessoa do plural, na candidatura e não no candidato. Seguro, calmo, tranquilo, confiante em si... mas fazendo questão em sublinhar que essa confiança era dele nos trabalhadores, no povo, no futuro.

Ah! os nossos "desconhecidos"... o que eles poderiam dar a este País!

Quanto a Cavaco Silva foi igual ao que é. Com o mesmo discurso pobre, por vezes paupérrimo ("... como eu escrevi num livro, de forma muito clara... para alcançar objectivos que são objecto..." e etc.), tão cheio de si que, por isso, vazio. Quem quiser que veja, por exemplo em http://www.tvi24.iol.pt/galeria_nova.html?mul_id=13365862 como aqueles cantos dos lábios, já de si em postura normal descaída, foram acentuando o circunflexo da boca.

Ao que os mercados obrigam! E como tantos de nós nos deixamos apanhar nas ratoeiras, por desinformação, por medo, por permitir a manipulação. No entanto, e para resumir, só por estes debates, pelo que eles mostram de diferença - ainda que não imediatamente perceptíveis, e eficazes quanto seria desejável -, muito necessária e útil é esta candidatura do camarada Francisco Lopes.

Palavras por dizer

A vida é assim. Um constante recomeçar. Sempre a pegar em pontas deixadas sem se lhe ter dado o nó, ou a percorrer pontes em que não se chegou à outra margem.
Se a agenda estava carregada, mais se carregou. Há muito tema "em carteira". Que não quero deixar em "arquivo morto"... ou adormecido. O IDH (tanto ainda para aproveitar), o debate Francisco Lopes-Cavaco Silva, o filme Inside Job, são apenas três exemplos de temas em que se intrometeu um facto de natureza pessoal, em que uma Assembleia Municipal e a sua preparação e intervenção, e outras coisas se imiscuiram de forma absorvente e silenciadora. Mas é assim a vida.
No entanto, como de mim escreveu alguém por quem tive uma grande amizade, se faltarem palavras que devam ser ditas não será por eu não as ter tentado dizer. Assim vou continuar.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Quem vê caras, vê intenções...


Amanhã conversaremos sobre o debate...

terça-feira, dezembro 21, 2010

Inside job? Vale a pena!

Ela tinha uma consulta marcada e, no intervalo, ofereci-me uma ida sozinho ao cinema (preferia teatro mas, em Lisboa, ir ao teatro de sábado a quarta-feira... só a matinée de domingo!).

Fui ver Inside job - a verdade sobre a crise. Tão sozinho que era, naquela sala e naquele sessão, o único espectador. Pelo que me senti como se tivesse em casa, à secretária, a trabalhar, a recebere e a fazer chamadas pelo móvel e etc. Tinha era pouca luz, e algumas coisas que escrevi, como notas a não esquecer, estão difíceis de ler.
Logo se verá.
Também, por agora, apenas duas coisinhas:
  1. não percam... apesar da história ser de "dentro do negócio" e, por isso, lhe faltar o outro lado, o lado de fora do negócio, vale a pena ir ver e ouvir!

  2. a última frase do filme: há coisas por que vale a pena lutar!

Ano Novo = a aumentos de preços, privatizações, mais despedimentos?


Ler aqui a nossa posição de hoje sobre hoje e os dias próximos e o ano que aí está a chegar.

Há que reagir!

A vários níveis encontram-se sinais. Nós temos os nossos. Que são os da luta de sempre. Da luta contra as causas, de denúncia com previsão e prevenção, de esforços de esclarecimento e mobilização.

Nunca nos quisemos sozinhos. Mas sempre nos procuram isolar, silenciar, fazer de nós os "subversivos", os "sempre contra tudo", os "marginais" (ou a marginalizar), os não-democratas, os que não defendem ou atacam os direitos humanos (mormente a liberdade como um absoluto individual e indefinido).

Nunca nos quisemos sozinhos. E sabemos que não estamos. Embora muitos dos que, objectivamente, estão connosco, numa luta ao lado da nossa, aqui e ali, ontem e hoje, confundindo-se as lutas numa mesma luta porque é pela humanidade, por um viver melhor para as gentes que todos nós somos, subjectivamente nos rejeitem ou não nos queiram por companheiros. Por preconceito, por receio de não se sabe que contágios, porque não abdicamos do que somos, como não pedimos que outros deixem de ser o que são para ao lado deles, companheiramente, lutarmos.

E, tantas vezes, dizem-nos "venham connosco", ou "tomem esta posição", ou "assinem este papel", sem, antes , terem tido o cuidado de nos ouvir sobre o caminho a seguir, sobre a posição a tomar, sem a nossa participação na redacção!
A luta continua. E não dizemos que somos apenas nós a fazê-la! Leiam-se os sinais...

Ao princípio... eram eles

... depois, nasci eu!
E, neste dia, comia sopa de camarão e pasteis de massa tenra (ou lulas recheadas), e estreava meias novas e recebia prendas. Era bom! Continua a ser...

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Reflexões lentas... a uma semana de distância

Aproxima-se a hora em que, às 2ªs. feiras, espreito os “prós e contras”. Não sempre mas quase sempre. E, dessa espreitadela, resulta por vezes ficar a "ouver".
Assim foi a semana passada. Perguntava-me se o iria fazer hoje mas, ao ver a programação – para me programar no curtíssimo prazo –, vi o que esquecera, que o programa da semana passada fora o último deste ano.
Fiquei a lembrar-me desse “para compreender a crise” a que assisti há oito dias. Valeu a pena. Foi assim uma espécie de vitória por 3 a 2, o que não é folgado mas compensa as habituais “cabazadas” que se apanham naquele programa. Direi mesmo que sai da audi-visão com alguma satisfação. Calma, serena… mas satisfação.
Ouvira três homens cultos e educados, inteligentes, exporem as suas posições sobre a situação actual. Posições diferentes mas – pelo menos ali… – com a evidência de um grande respeito mútuo.
No entanto, não me parece que tivesse a ficar a compreender melhor a crise, quem essa intenção tivesse quando se detivera a ouvi-los. Faltou ali uma palavra: capitalismo. Dita e redita, e dito ser esse o seu funcionamento.
Por outro lado, de um deles, que tão bem falou, com tanto conhecimento e apropósito e pedagógica intenção que me suscitou, então, um agradecimento muito sincero, faltou saber muita coisa. Faltou (ou eu não ouvi!) que se soubesse uma de particular oportunidade: que José Barata-Moura, o Ex-celentíssimo Reitor da Universidade Clássica de Lisboa, é o mandatário de um candidato a Presidendente da República, o camarada Francisco Lopes, e é, de certo, o português mais íntimo do senhor Karl Marx.
Coisas que pouco ou nada se sabem e não é conveniente que se saibam.
Se algum dos outros interlocutores fosse mandatário de algum outro candidato não faltaria…

Uma ilustração (e injecções mais ou menos letais...)

«Governo vai injectar 500 milhões
no BPN
Hoje às 09:18

O Governo vai injectar mais 500 milhões de euros no BPN, através de um aumento de capital, avança o Público, segundo o qual a CGD vai abandonar a administração da instituição.
Falhadas as duas tentativas para a reprivatização do BPN, o Executivo vê-se forçado a aumentar o capital do banco, com vista a limpar a situação líquida negativa.

Esta medida contribuirá para um agravamento do défice orçamental (de cerca de 0,3 por cento do PIB) no ano em que for realizada, escreve o Público, segundo o qual a opção de liquidação também não teria custo zero para o Estado.

O BPN tem empréstimos concedidos pela CGD de 4,8 mil milhões de euros e depósitos de três mil milhões de euros.

De acordo com o jornal, a Caixa Geral de Depósitos vai abandonar a administração do BPN, onde está desde que o banco foi nacionalizado.

Contactado pela TSF, o Ministério das Finanças fez saber que para já não vai comentar esta notícia.»
-
Na verdade, esta notícia (tirada da TSF) nem merece comentário... É uma ilustração e legenda do capitalismo, nesta sua fase de demencial financeirização e bangsterismo, e como Portugal, com estes governantes, se afunda...

domingo, dezembro 19, 2010

Francisco Lopes, o candidato que marca a(s) diferença(s)



como em ocravodeabril: "... retenhamos na memória aquela que foi a frase do debate:
«Manuel Alegre está em melhores condições para mobilizar os que apoiam o Governo; eu estou em melhores condições para mobilizar todos os que são contra o Governo».

19 de Dezembro de 1961-19 de Dezembro de 2010

Com o nó na garganta, que se repete ano a ano.



A "guerra" do clima e o "clima" de guerra

Vale a pena ler aqui, o artigo de João Ferreira, com o título Clima... de guerra.
O deputado pelo PCP no Parlamento Europeu escreve, no avante!, um excelente texto sobre a 16ª Conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas e, numa segunda parte, um comentário a um Conselho, em Bruxelas, sobre "Desenvolvimento das Capacidades Militares".
Dois temas que se interligam e são verdadeiramente indispensáveis para a caracterização do "momento" do capitalismo, nas suas dinâmicas e nos riscos que ele representa para a Humanidade,

IDH-2010 - mais um apontamento


Diria que "ainda a procissão vai no adro". E nem sei se conseguirei levar "o andor" muito mais onge...

O que sei é que este índice IDH, e os relatórios que, ano a ano, vai justificando, merecem atenção. E que para ela pretendo chamar.

Não será com eles, com os IDH tal como estão, que mediremos por forma cabalmente comparável a "riqueza das nações", o bem estar dos povos. Nem se espera que alguma vez se consiga tal fazer, com exactas representações estatísticas das realidades. Mas são aproximações, e aproximações que fazem um esforço.

No relatório deste ano, acabado de publicar, sublinho a introdução de três novas ponderações com a intenção de aproximar às desigualdades e à pobreza. Se não se deve (nunca!) ficar satisfeito com o que se tem, pior seria não aproveitar os instrumentos que vão sendo facultados, e os que se vão "inventando" a partir do instrumental sempre em desenvolvimento (como as forças produtivas) de que se vai dispondo.

sábado, dezembro 18, 2010

IDH-2010 - o índice de não-rendimento (ou monetário)

Se já aqui se referiu o confronto entre as tabelas de crescimento económico (RNB per capita em dolares em ppc) e as do IDH compósito ou conjunto, o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2010 inclui uma coluna em que se lista o IDH de não-rendimento (ou não monetário, na tradução literal do francês), em que se calcula o desenvolvimento humano excluindo o indicador monetarizado.
Parece interessante que, sendo habitualmente avaliado o desenvolvimento humano por via de indicadores económicos (como o PIB ou o RNB), o PNUD, nos seus cálculos, autonomize as componentes relativas à saúde e à educação e ordene os países por índices não monetários mas referidos a níveis nessas vertentes tão significativas do viver (humanizado) das populações.

A lista que elaborei inclui os 45 primeiros países dos 173 arrolados (os 169 com IDH calculado mais 4 que, não estando incluídos nessa lista de IDH total, estão, no entanto, numa outra lista em que se referem os seus valores de IDH de não-rendimento).

Algumas notas de sublinhado:

  1. Cuba que foi excluido da lista de IDH total por "falta de dados internacionalmente compilados e verificados", só o terá sido devido a a dados relativos ao rendimento monetário pois no IDH de não-rendimento ocupa um verdadeiramente extraordinário: 17º lugar, entre a Espanha e a Grécia!
  2. Os países com posição entre os de mais elevado nível de desenvolvimento humano devido à disposição de matérias primeas estratégicas, sobretudo petróleo, desaparecem desta lista de IDH de não-rendimento.
  3. Os países europeus que viveram décadas de experiência de construção do socialismo têm subidas muito significativas, estando todos nesta lista, com excepção da Bulgária que, no entanto, estaria entre os 50 primeiros quando é o 58º no IDH compósito.
  4. Os países "de lavagem de dinheiro" (ou outro tipo de "paraísos"), como Liechenstein (19 lugares), Andorra (14), Singapura (12 lugares) e Luxemburgo (11 lugares) são os de mais forte queda, e até a Suiça, pelo seu papel no sistema bancário-monetário, desce 6 lugares nas componentes saúde-educação relativamente ao lugar que ocupa no IDH conjunto por efeito do peso da componente monetário-especulativa.
  5. A Islândia é o país de maior subida, mas por motivo da queda das componentes de crescimento dito económico, que ainda não teriam atingido as componentes saúde e educação, o que, ao que parece, os islandeses não estão muito dispostos a deixar que aconteça: se há algo que tenha que falir, que vão os bancos responsáveis pela crise à falência...
  6. Portugal desce 5 lugares, passando de 40º para 45º!



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(*) - outro país em idêntica situação é o Palaos, com um 36º lugar, mas não me parece relevante dadas as suas características: uma dimensão pouco superior ao concelho de Ourém e uma população de 20 mil habitantes, em país independente desde 1994 mas totalmente dependente dos Estados Unidos, até nas votações sobre o bloqueio a Cuba, em que o documento de rejeição desse bloqueio, votado este ano na Assembleia-Geral das Nações Unidas, teve apoio quase unânime dos 192 países que integram a ONU, já que 187 membros votaram a favor, dois contra (EUA e Israel), além de 3 abstenções (Ilhas Marshall, Palaos e Micronésia).

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Notícias que o não são...

... ou que só o são nalguns orgãos. De o avante! de ontem, uma notícia de que o "bangsterismo" dificulta a circulação (porque não o pode impedir):

Ajuda da UE a África acaba nos bancos

Centenas de milhões de euros em fundos europeus destinados a ajudar países africanos estão a ser dados, sem qualquer controlo, a bancos africanos e organizações humanitárias privadas que os depositam em paraísos fiscais.

A denúncia foi feita pela ONG Counter Balance, que investigou os 1,1 biliões de euros de ajuda anual do Banco Europeu de Investimento para a África e o Caribe (BEIAC), financiado com dinheiro dos contribuintes.

De acordo com as informações apuradas, o dinheiro desaparece em entidades de crédito africanas e numa congénere situada no Luxemburgo, país paraíso fiscal, sem que qualquer medida seja tomada, pelo contrário, alguns dos empréstimos avançados pelo BEIAC são, inclusivamente, avalizados pelos estados da UE.

Segundo o relatório da Counter Balance, em 2007, 50 milhões de euros foram entregues ao Banco Intercontinental da Nigéria (BIN), justamente quando o seu director executivo estava a ser investigado pelas autoridades por alegadas fraudes. O ano passado, o BIN acabou resgatado pelo governo nigeriano.

No mesmo sentido, um empréstimo de 15 milhões de euros ao Banco Nacional do Malawi foi anunciado oficialmente pelo BEIAC. Posteriormente, corrigiu-se a informação dizendo que o dinheiro foi entregue à sucursal maliana do NBS. Mais tarde, ainda, uma parte do montante total, cerca de 2,8 milhões de euros, acabou por aparecer na dependência do First Merchant Bank naquele país africano, ficando por esclarecer onde foram parar os restantes 12,2 milhões.

A Counter Balance adianta igualmente que os 7 milhões para o Gabão e os 5 milhões para o Ruanda ainda não foram gastos, e que 60 por cento dos investimentos da entidade europeia em fundos privados para África – qualquer coisa como 125 milhões de euros – se encontram num só país africano, a Mauritânia, onde, de acordo com o BEIAC, a legislação favorece o desenvolvimento do sector privado.

Também no âmbito dos fundos de investimentos privados, a referida ONG assegura que 4 milhões de euros destinados a Angola foram atribuídos a uma empresa sediada no Dalaware (um dos 50 estados norte-americanos), a qual se encontra registada no Luxemburgo. Neste país, está sediada do mesmo modo uma outra firma que manejou 5 milhões de euros destinados aos Camarões e ao Chade.

IDH-2010 - pequena pausa ou apeadeiro

Qualquer indicador ou índice tem a finalidade de representar a realidade. Essa representação deve ser tratada não como a realidade mas uma sua representação. No entanto, as estatísticas têm vindo a tomar tal importância que é cada vez mais frequente ver-se substituída a realidade pelas suas representações. Na política, no crescimento económico, no desenvolvimento humano, esta verificação chega a ser assustadora. Por ilustrarem a manipulação da informação, como arma perversa da luta ideológica. Refira-se, e apenas a título de exemplo, o uso que se faz de sondagens de intenções de voto nas "nossas democracias ocidentais"…
Mas passe eu adiante, que quero ir por outros caminhos menos enlameados ou minados (embora nem todos o sejam menos!).
As representações relativas à situação económico-social das populações têm de ter por base o factor monetário. A medida em PIB, ou em RNB, é indispensável. Mas em que valor? Não pode ser físico, em quilos, litros, metros, ou "paletes". Naturalmente (porque resultado de um real processo histórico) será em medida monetária, no equivalente geral. E assim nos encontramos no âmago da economia política. Na questão do valor e como o definir e medir(*). Uma unidade de medida comum é tão indispensável como se foi tornando cada vez mais um instrumento usado com fins que servem os interesses (de classe) dominantes.
Venhamos ao que, agora, importa. O nível de crescimento económico pode ser assimilado à riqueza das nações e medir-se em RNB per capita, numa moeda (dólar), com uma correcção técnica que se chama paridades de poder de compra. É muito, mas de modo nenhum é tudo e pode ser, e é, falseador. Porque é uma média, não entra com as desigualdades de distribuição pelas “cabeças”, alimentos e armas e petróleo "valem" o mesmo quando traduzidos em moeda.
79 mil dólares de RNB por habitante do Qatar são, sobretudo, galões de petróleo possuídos por uma pequeníssima minoria dos 835 mil habitantes da nação e não podem servir, como representação exclusiva da(s) realidade(s), para se comparar com os 22 mil dólares de RNB por habitante de Portugal.
Daí a importância do índice de desenvolvimento humano, como passo – e pequeno e tímido, mas muito importante – que, numa primeira aproximação, nos diz que, incorporando indicadores de saúde e de educação, o Qatar está em 38º, com um IDH de 0,803 e Portugal logo a seguir com um IDH de 0,795 (igual ao do Bahrein, que tem um RNB por habitante de 26,7 mil dólares em ppc), enquanto que, no indicador estritamente monetário, o Qatar seria o 2º em aparente riqueza das nações (o 1º seria o Liechtenstein, minúsculo país que é uma autêntica lavandaria de dinheiro.., onde vivem “principescamente” 30 mil habitantes), e Portugal guardaria o 40º lugar na lista dos 169 países para que o PNUD apurou dados.
É com estas prevenções que devemos usar as representações quantitativas. Trabalhando-as com… pinças.
E, a seguir, falarei de Cuba no IDH!
___________
(*) – Marx, numa carta de 27 de Abril de 1867, sobre O Capital:
«O que há de melhor no meu livro (e aí repousa toda a compreensão) é que
1º - como o sublinho desde o começo, o trabalho tem um carácter duplo segundo ele se exprime em valor de uso ou em valor de troca;
2º - a mais-valia, (que) é tratada independentemente das suas formas particulares, tais como o lucro, juro, renda financeira, etc. (...)»

Resumo... ou o desfiar de um rosário

Na senda
i) das medidas de promoção do emprego por via do embaratecimento do desemprego,
temos (ou teríamos)
ii) o pedido de desculpas dos EUA no caso de terem utilizado indevidamente autorizações não formais em respostas a pedidos informais,
e
iii) a necessidade de alterar o art. 136º do Tratado de Lisboa (a quintessência do porreirismo-pá), em vigor há um ano, para se adoptar um mecanismo e um fundo e umas outras coisas,
como
iv) o aumento do capital do Banco Central Europeu,
tudo
v) tudo para se fazer-de-conta que se domesticam os mercados,
se para tanto
vi) se conseguir o acordo da Ti’Ângela.
.
Isto ensandeceram todos?... com esta mercadopatia com que querem enganar a malta.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Os retratos das "cimeiras"

Os retratos das "cimeiras" fazem parte do "folclore" (no pobre, e não no popular, sentido da palavra).
Este Conselho Europeu que está a decorrer teve, no entanto, uma fotografia anterior. Como um sinal. Que Sócrates quis levar para Bruxelas.
Ela aí está. Vêem?, vêem? Vêem os parceiros sociais comigo?
Neste tempo de imagem, esta fotografia fica como... um sinal, pois!
Mas, ou me engano muito, ou é uma fotografia em que há quem não fique mesmo nada bem. Muito particularmente quando se anunciam medidas para incentivar a economia e o emprego... através do embaratecimento do desemprego! Enquanto, não pelo outro mas pelo mesmo lado, se faz boa cara ao que está a acontecer nas manigâncias relativas ao cumprimento de um compromisso claro: o do salário mínimo a 500 euros (com uma subida de 25 euros!).

Ele há cada uma... ou melhor; ele há cada um!

IDH-2010 - continuação

Sendo cada nação um caso, a “medida” da sua riqueza não pode ser simplificada e, menos ainda, redutoramente reduzida a um indicador de crescimento económico, seja ele o produto interno (PIB) ou o rendimento nacional (RNB), calculados por cabeça e em dólares (US$) e paridades de poder de compra (PPC).
Se esta consideração é irrefutável, os esforços do PNUD para que haja um caminho, uma procura, um trabalho consequente no sentido a levar à prática, é relevante. Não obstante todas as dificuldades, hesitações, decerto erros no percurso, decerto também distorções, fragilidades, ou até “leituras” de base ideológica (de sinal diferente ou contrário à que não nego que é a minha).
Retome-se a lista dos países que podem melhor ilustrar a discrepância nos ordenamentos por RNB e por IDH (isto é, com inclusão de componentes relativas a saúde e educação), entre os 169 países das Nações Unidas que foram arrolados, a que se juntam linhas com mais dois países que particularmente me interessam nesta abordagem (Portugal e Chipre) e os chamados BRIC, além de uma coluna com a evolução destes países no que respeita a IDH, entre 2005 e 2010:

O que posso dizer, por agora, é que esta tabela vai servir para muitos comentários. Aliás, espero que alguns comentários e dúvidas possa suscitar. E - mais! - estou aberto a pedidos de informação sobre países específicos que possam interessar a alguns vistantes em particular.
Além, claro, de ir continuar mais algum tempo com estes IDH e coisas que eles nos podem ensinar enquanto representação da realidade que vivemos.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Ex-tractos (pequenos) - 5

1.- Estamos a tropeçar frequentemente em “descobertas” do que nós “adivinhámos”, previmos e prevenimos porque estamos “armados” de uma base teórica que é o marxismo-leninismo. E, por vezes, não aproveitamos esta nossa “arma” com suficiente convicção porque não estudamos e não discutimos suficientemente entre nós.

2.- (...) Uma candidatura de um candidato diferente! Do camarada Francisco Lopes. Sem ambiguidades. Dizendo ao que vem, porque vem, para onde quer ir.
Francisco Lopes vem da luta, para fazer da candidatura um momento da luta, com a garantia segura de que, depois de 23 de Janeiro, vai continuar a mesma luta nas condições que resultarem do acto eleitoral. Nesta batalha, e a este acto eleitoral - afirme-se, mais uma vez, com toda a naturalidade e firmeza -, Francisco Lopes concorre para ganhar.
(da declaração como mandatário distrital na apresentação da Comissão Distrital de Apoio â Candidatura de Fernando Lopes, Santarém)

IDH-2010 - Todas iguais, todas diferentes

Adam Smith foi um homem e um momento histórico dos relevantes, dos decisivos. Como os há na música, na arquitectura, sei lá..., em qualquer actividade humana que se venha desenvolvendo ao longo dos milénios.

Adam Smith foi, talvez (há sempre que colocar um talvez quando se fala de um ou de o, porque toda a obra individual é colectiva...), o mais importante representante do ascenso do capitalismo, enquanto manifestação superstrutural do modo de produção e formação social a tornar-se dominante, com a "descoberta" da mão invisível do mercado (dos mercados...), e a sua obra "Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações", de 1776, depois de ter escrito uma década antes "A teoria dos sentimentos morais", em tempos em que os economistas também filosofavam e tinham preocupações morais.

Quase um século depois, Marx escreveu O Capital (maneira de dizer que exige que se acrescente que O Capital foi sendo escrito ao longo de uma seriíssima vida e investigação... e ainda está a ser escrito), que começa por "A riqueza das sociedades...", e em que, logo a partir das primeiras páginas, Adam Smith é visita permanente com quem Marx muito "conversa"...

Dito isto, voltemos a "A verdadeira riqueza das Nações: caminhos para o Desenvolvimento Humano" que é o título (talvez pretensioso...) do Relatório de Desenvolvimento Humano - edição do 20º aniversário, publicação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Apesar da atenção que estou a ter relativamente a esta investigação, que vai entrar na terceira década, e que há muito venho dedicando e continuarei a dedicar, não espero dela "milagres" parecidos com os de Adam Smith e de Karl Marx (da minha "vizinha" não falo porque é "santa da casa"...), mas considero os seus resultados como um instrumento imprescindível para o acompanhamento da realidade que vivemos. Mais: que, com esse instrumento, temos a possibilidade de acrescentar alguma coisa (dependendo das unhas de quem pegue na guitarra) à compreensão da realidade, escorados na base teórica que é a nossa.

Todas as nações são diferentes, sendo todas iguais no que é a sua riqueza. Como medi-la? Pelo PIB, isto é, Produto Interno Bruto? Não, até porque, na apresentação deste 20º relatório do trabalho do PNUD - e do seu índice de desenvolvimento humano (IDH) - se substitui o PIB per capita pelo Rendimento Nacional Bruto (RNB) per capita "para incluir o rendimento das remessas externas e do apoio internacional ao desenvolvimento". Será então o RNB per capita? Se assim fosse, a mais rica nação seria o Lietchenstein (menos de 35 mil habitantes) e a 2ª o Qatar (pouco mais de 800 mil habitantes.

É a procura de uma medida mais humana da "riqueza das nações" (Tévoédjrè escreveu, nos idos anos 7o, um interessante A pobreza, riqueza dos povos...) que está nas intenções dos criadores do IDH do PNUD. Será trabalho insano, ou seja, de gente sem juízo, procurar fazê-lo? Bem me parece que não, mas já tenho dúvidas sobre a sanidade de quem dedica algumas das suas horas a procurar aproveitar o que se vai avançando nesse caminho e a procurar divulgá-lo, quando o tempo parece ser de outras lutas. E a presumível insanidade estará na convicção de que essas outras lutas não podem prescindir destas procuras.

Isto anda tudo ligado... e estudar a riqueza das nações (todas diferentes, todas iguais porque gente com passado, cultura e futuro) com indicadores de saúde, de educação, de desigualdades, de desigualdade de género, de pobreza multidimensional, é por demais aliciante. E necessário.

Depois do 1º debate

O 1º debate entre os candidatos às presidenciais de 23 de Janeiro foi entre Francisco Lopes e Fernando Nobre.
Não justifica grandes comentários. Fernando Nobre exagerou no que poderia ser o seu "trunfo", a sua intervenção cívico-humanitária, e quis fazer - a meu ver canhestramente - a politização de um currículo a querer apresentar-se sem mácula político-partidária mas a que não faltam opções cidadãs de uma confrangedora fragilidade e volubilidade. A carta do apartidarismo, jogada com evidente falta de preparação e alguma irritabilidade, não me parece que o tenha favorecido. E não estou a falar deste debate mas da sua campanha.

Quanto a Francisco Lopes, surpreendeu-me a sua segurança, a sua calma, o seu à-vontade, o modo firme mas não agressivo como não deixou que lhe fosse tirado o minuto a que tinha direito. Foi um excelente ensaio para os próximos debates. Só terá de olhar menos para a dona Judite e mais para nós, que estamos aqui. Como seu mandatário, deixo-lhe o recado!

terça-feira, dezembro 14, 2010

PISA e repisa...

Foi foguetório e engalanação.

A atitude deste governo e deste PS é a valorizar as imagens, de fazer da confiança (neles...) a grande arma. Para isso tudo serve. Desde mentir com o maior descaro negando o que são evidentes fracassos e/ou obediências servis, como fazer de factos positivos motivo de despropositados festejos com ribombar de foguetes e com arcos engalanados - ou enga(la)nados.

O relatório da OCDE chamado PISA (Programme for International Student Assessment) veio servir para esses festejos espúrios. E para se dizerem as coisas mais absurdas, os elogios mais sem sentido para uns e os ataques mais desbragados contra outros. Exemplificando: o PISA serviu para se resgatar, endeusadamente, a ex-ministra da educação Maria de Lurdes Rodrigues, e para se atacar, até soezmente, o presidente de FENPROF Mário Nogueira e Santana Carrilho.

Mas afinal o que nos trouxe o estudo da OCDE? Informações positivas para 2009 no que respeita à evolução de alguns relativos à educação em Portugal? Sim, mas a partir de que evoluções anteriores?, por mérito de quê e de quem?

Pedras contra canhões, no seu blog autoridadenacional informa e esclarece. Quem se quiser esclarecer e informar-se pode fazê-lo aqui. E como o texto é longo, reproduzo a sua parte final:

«(...) É o próprio "jugular", blog de serviço ao governo que acaba por demonstrar que a principal lição a tirar de PISA não são os estrondosos sucessos de 2009, mas o descalabro de 2006, como se verifica no gráfico aí exposto por Palmira F. Silva. Na verdade, 2009 demonstra que recuperámos a trajectória regular do nosso sistema educativo. Apesar de tudo. Apesar do governo. Apesar de Maria de Lurdes Rodrigues. Apesar dos cortes no financiamento, apesar da precariedade entre professores, entre funcionários. Apesar dos baixos salários, das turmas sobrelotadas, apesar das escolas destroçadas, apesar das novas oportunidades e do desvio de miúdos para o ensino profissional.

»

A Islândia, um caso!

A Islândia é... um país. Com mais de 100 mil quilómetros quadrados e menos de meio milhão de habitantes.

Que já apareceu referido por duas vezes nas notas sobre o índice de desenvolvimento humano (IDH), merecendo uma paragem. E talvez..., uma visita (há mais de vinte anos, nas andanças militantes pela Paz, participei numa reunião em Reiquiavique, tendo gravada a lembranca de uma paisagem de neve e fogo e de gente... a viver a sua vida).

Numa dessas notas, mostrava a evolução do país sempre entre os de mais elevado nível humano passando de de 12º em 1990 a 14º em 1995, de novo 12º em 2000, com um grande salto para 7º em 2005 e uma queda ainda maior para 16º em 2010, em resultado das "aventuras financeiras-bancárias" que por lá se engendraram, sendo o primeiro país em que se falou de bancarrota, e melhor se diria que a banca (cor)rompeu.

Na segunda nota, a imediatamente anterior a esta, vê-se que a queda de 9 lugares no ranking de IDH, depois de um salto igualmente significativo de 5 lugares (apenas acompanhado - e ultrapassado - pela Irlanda), não foi paralelo na componente económica-monetária e no conjunto das componentes não-monetárias (non-monétaire na versão francesa, traduzida para português como não-rendimento, isto é, saúde e educação), pois está nos países em que é maior a diferença positiva (só com a Nova Zelândia acima com 30 lugares positivos, e a Irlanda com os mesmos 20 lugares positivos), estando no 5º lugar mundial, depois da Austrália, Nova Zelândia, Noruega e Irlanda.

Ora parece que o povo islandês reagiu com eficácia às medidas que foram delineadas para tirar um país da tal dita bancarrota através de forte ataque às componentes não-monetárias, a que chamaria sociais, e o facto é que se lêem notícias, em páginas interiores e sem grandes títulos, de que "a Islândia teria saído da bancarrota, e, claro, não por virtudo dessas medidas mas sim... "deixando os bancos falir"!

A situação não é muito clara. Ainda. Mas o facto é que está a merecer estudo e. como já li de fonte bem informada, o que tirou a Islândia da situação em que estava foi o facto de, através de intervenção sobre as taxas de câmbio, grande parte dos custos da financeirização excessiva da sua economia, da especulação desbragada, terem recaído sobre os credores estrangeiros dela agentes provocadores e não sobre contribuintes islandeses e o seu sistema social.

Exemplo a seguir? Cada país é um caso. E, dentro de um sistema ele sim em bancarrota, o que a Islândia, pelo seu povo, fez não pode ser seguido, exacta ou copiadamente, em países sem qualquer soberania sobre as taxas de câmbio, como é o caso dos países numa zona euro, de moeda comum ainda que não numa efectiva zona monetária.
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Tudo a desafiar estudo e reflexões, e a proibir que se diga que tudo é igual e fatal.