-
Edição Nº2171 - 9-7-2015
O legado
Um dia depois de Passos Coelho
se gabar, nas jornadas parlamentares de PSD/CDS, de não ter «desiludido» os
portugueses, e de se congratular pelas «conquistas» alcançadas pelo seu Governo,
eis que o País acordou ontem com a confirmação de que o nível de vida dos
portugueses recuou, em 2013, para valores de 1990, ficando 25 por cento abaixo
da média europeia. A informação consta do estudo «Três Décadas de Portugal
Europeu: Balanço e Perspetivas», encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos
Santos, que confirma o que há muito o PCP vem dizendo: quase quatro décadas de
política de direita deixaram o País mais pobre e mais dependente e sem
perspetivas de futuro.
Não se pense que o estudo é obra de alguma perigosa
força de bloqueio. Longe disso. A coordenação esteve a cargo do economista
Augusto Mateus, antigo ministro de Guterres e pai do famoso plano Mateus de
perdão (à época, em 1996, chamou-se regularização) de dívidas fiscais, a quem o
Executivo, por acaso, encomendou no ano passado um estudo sobre o futuro do
Arsenal do Alfeite.
O relatório, arrasador para os sucessivos governos
PS/PSD/CDS, reconhece que a partir da segunda metade da década de 90 Portugal
entrou numa rota de divergência dos seus parceiros europeus, tendo hoje um nível
de vida 20 a 30 por cento abaixo do padrão europeu. Mais, no período de que
Passos e Portas tanto se gabam, entre 2010 e 2013, o PIB per capita
português caiu sete por cento face ao padrão europeu e o nível de vida das
famílias regrediu mais de 20 anos. Em 2013, o consumo de bens correntes e
serviços recuou dez anos; o consumo de bens duradouros não chegou a dois terços
do volume de 2007/2008. Mas ainda não é tudo: trinta anos depois da adesão à
CEE, a precariedade aumentou de forma brutal – um em cada cinco assalariados
tinha contrato a prazo. Em 2013, os precários ascendiam a mais de 700 mil, ou
seja 21 por cento do total dos trabalhadores por conta de outrem, o que
representa um crescimento de 50 por cento face a 1986.
Este é o legado que PS, PSD e CDS deixaram aos
portugueses. Esta é a realidade que leva Passos a falar da «confiança que hoje
temos quando olhamos para a Zona Euro, da confiança que temos quando olhamos
para o nosso País». Este é o futuro que têm para nos oferecer. Se os
deixarmos.
Anabela Fino
1 comentário:
Ainda nao tinha lido!Anabela Fino,sempre tao exacta!
Bjo
Enviar um comentário