quinta-feira, janeiro 08, 2009

Um... caso de estudo

A entrevista do primeiro-ministro, na véspera do anúncio da “recessão técnica” pelo governador do BdeP, é, pelos antecedentes, pelo contexto, pelo discurso que pretende deixar e em que se vai insistir, um caso de estudo. Daqueles que não dão gosto fazer mas que é imprescindível que sejam feitos.
A tecla da surpresa da crise (de todos, disse ele!... quando foi só dos que quiseram ignorar por serem ignorantes ou por quererem mentir, e que surdos e/ou estigmatizadores se fizeram dos que previram e preveniram) e da culpa da dependência externa [quando a(s) dependência(s) foi(ram) decisão política prosseguida e apresentada como promessa de “melhores dias, que “alguns” se atreveram a denunciar como danosa para os interesses pátrios, isto é, dos portugueses], essa dupla tecla é, apenas, manifestação de coerência no desrespeito pela inteligência dos outros.

O que há que sublinhar é o que vem aí, é o discurso “no estaleiro” para se tornar a versão a impor, é a opção a transformar em único pensamento, é a mentira a repetir para ser aceite como verdade ou consenso. Duas linhas mestras:
  • animem-se que vai melhorar o poder de compra dos assalariados (porque se caminha ou tende para a deflação, pelo que qualquer acréscimo ou até estagnação de salários é melhoria de poder de compra)
  • preocupem-se porque só assim será para os trabalhadores que mantiverem os empregos pois o desemprego vai, inevitavelmente, aumentar... apesar – não se assustem demais – da maioria ainda continuar com emprego (ser maior o número de desempregados que o de empregados insinua-se como um cenário a ter em consideração, o que é uma verdadeira monstruosidade).

Daqui, a política social, na sua base consistente que é a do trabalho com direitos, passa a inexistente ou a justapor-se ao assistencialismo. A grande preocupação passa a ser o subsídio de desemprego e não o salário, e menos ainda os direitos, a começar pelo de se uma coisa obsoleta chamada horário de trabalho.

Adicionalmente, para certas camadas com actividades empresariais, reais ou potenciais, acena-se com a grande frase ou fórmula de que a crise é fonte de oportunidades. Para quantos e sobre o sacrifício de quantos, deveria perguntar-se?

A luta ideológica toma nova acutilância na luta de classes.

6 comentários:

André Levy disse...

Viva Camarada
vem este comentário não a propósito da tua entrada, mas porque te queria enviar uma compilação que fiz das ~40 entradas no Anónimo do tema Materialismo Histórico. Se me poderes mandar um mail para andrelevy arroba gmail ponto com, enviava-te com muito gosto o ficheiro. Abraço e bom trabalho

GR disse...

Já agora,
Com todo este desemprego, reformas principescas (poucas) outras vergonhosamente de miséria (a grande maioria), com todo este desemprego e mais que já nos prometeram, quanto tempo sobrevirá a Segurança Social?
Onde vão ele buscar o dinheiro, se cada vez há menos trabalhadores a descontar?
Como sobrevirão os portugueses?
Já agora,
É legítimo um 1º Ministro poder enganar tão descaradamente, o povo do seu país?
Vamos ter um ano 2009,muito trabalhoso e confuso.
Grandes lutas nos esperam.

GR

samuel disse...

"A luta ideológica toma nova acutilância na luta de classes."

Passaremos a ter novamente debates e conversas de café (e outras...) mais inteligentes, informadas e elaboradas?
Dá mais trabalho, mas é bastante mais interessante.

Abraço

Anónimo disse...

Viva, aproveito o comentário do André Levy para dizer algo que estou há tempos para aqui deixar.

Também ajuntei os posts do MH num ficheiro, para poder lê-los durante uma viagem que fiz de mini-férias. Posso, caso o Sérgio Ribeiro não se oponha, colocar por aqui o link que permitirá a qualquer um baixar o ficheiro.

Posso também tentar envia-lo por mail, julgo tê-lo algures nos registos lá no "meu" blog.

O André Levy fez o mesmo! Esses posts do MH têm muitos fãs :-D

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Ainda não tive oportunidade de ver a entrevista do "nosso" primeiro ministro!!!...

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado, amigos.
Este "post" foi o resultado de um impulso, por nada ter ainda dito sobre a entrevista de Sócrates e a situação tal como se define, e como a querem tratar. Saiu assim...
Tive a compensação dos vossos comentários, e sublinho os de André Levy e do Bruno que me deram a satisfação de me dizerem que valeu a pena o que aqui coloquei sobre m.h. (que não pretendo tenha sido mais que um contributo útil... e que não terminou). Espero oportunidade para retomar essa abordagem. Entretanto, o vosso estímulo exige-me que o faça.
Abraços

(Ó Bruno, faz o que quiseres do meu blog. Obrigado.)

duarte disse...

e que tal um Bordalo Pinheiro para essa "gente"...
Eu quero ver onde isto nos vai levar...
Isto parece uma peça de teatro(mediocre)prestes a começar, aos actores principais: muita m...
Eu da plateia , vou guardando ovos e tomates!
Mas cuidado tb hà chumbo...nas mesas de voto.
abraço do vale