Na contracapa de A armadilha da dívida externa, editado em 1974, pode ler-se que o livro mostra “os esforços desenvolvidos pelas nações pobres para conseguirem algum controlo sobre as suas economias e o papel desempenhado pelo Fundo Monetário Internacional para frustrar esses esforços.”
Se o(s) programa(s) de “ajuda” (salvo seja…) se mantém quase inalterado(s), as condições e, sobretudo, os alvos desse “modelo” (ou estilo) de programas passaram a ser outras e outros, sem terem deixado de ser “condições de classe” e sem se ter desistido de perseguir os anteriores alvos, muitos já exauridos, alguns a arrebitar, a abrir caminhos e, destes, uns (talvez) novos.
O “centro europeu” veio criando a própria periferia. E é sempre de lembrar o relatório Tindemans, da segunda metade dos anos 70 (lustro de grandes decisões após as unilaterais dos EUA), com a proposta de criação do núcleo super-integrado e das duas velocidades, proposta que não se meteu na gaveta mas que se foi, paulatinamente, concretizando com os alargamentos (Grécia, Espanha e Portugal a juntar à Irlanda), com fundos estruturais e cofinanciamento nacional (condicionador de estratégias nacionais de aproveitamento de recursos e provocador de endividamento), Tratado de Maastrich, UEM (com a criação de uma moeda única com taxas cambiais muito penalizadoras para a periferia em estaleiro). Tudo sobre a batuta crescentemente hegemónica do capital financeiro procurando compensar a baixa da taxa de lucro na sua tendência natural (por relação social material) com a especulação e o banksterismo.
Por cá, o que parecia ser uma certa consensualidade classista à volta de um "técnico" vindo dos corredores e gabinetes banqueirocratas, com aura de grande rigor e qualificação, terá tido o mais vertiginoso volte-face, e Vitor Gaspar (logo identificável como retinto ideólogo a praticar luta de classes) será, numa política desacreditada, o mais desacreditado dos protagonistas. Para tudo dizer coloridamente, o "homem do rigor", o que viria pôr tudo nos eixos "custasse o que custasse" (Passos Coelho dixit) “não acertou uma”, descarrilou sempre. Nem um número, cedo corrigido, nem um dito, logo contradito, às vezes pelo próprio. E "todo o mundo" já está certo que não irá acertar, que "ninguém" acredita no OE13, que já falhou antes sequer de ser promulgado por um seu antecessor no ministério co-responsável do desastre, e agora PR-por-mal-dos-nossos-pecados-ex-votos.
Na sequência de anteriores edições, e de outras fontes, o 2º Caderno do Expresso do fim-semana findo é verdadeiramente cruel para o ridicularizado dr. Gaspar. Mas o "pobre" até nem será o único ou o maior culpado, isto é, tem parceiros de infortúnio e desacerto sistemático, que bem se precatam do protagonismo que ele atrai.
Depois de ter sido o treinador bestial que levaria o “clube” à “liga dos campeões”, é a "besta" que o lançou irremediavelmente na despromoção. E dá jeito ter quem expie individualmente as culpas que são de um sistema, este sim em estertor bestial (de besta).
Ontem, reproduziu-se aqui a chamada de 1ª página do referido 2º Caderno para uma espécie de “bombeiro” enviado pelas Nações Unidas para vir aconselhar (!) os “troikolentos”, mas sempre com Gaspar como alvo (isolado ou em colectivo governamental PSD-CDS), embora, para animar as hostes, com anterior alv(ar)o em recuperação ou convalescença.
E esse "bombeiro" conselheiral, que ainda por cima é português e fala debaixo do chapéu das Nações Unidas, anda por aí a dizer coisas em várias paragens e começa a ser ouvido e transcrito e entrevistado, coisas como essa de que “Portugal negociará de joelhos em seis meses” ou "se Portugal não negociar agora irá fazê-lo daqui a seis meses de joelhos" (título a toda a largura da página interior).
Os conselhos NU ficam para amanhã
… e são muito interessantes
2 comentários:
Li os post todos sobre o assunto,mas confesso que não com a suficiente atenção para os entender totalmente.A ideia que me ficou foi que os países ricos estão a dar, hipocritamente, um aparente auxílio aos outros países com poucos recursos e mesmo aos emergentes, "auxílio" esse que reverterá a seu favor com a utilização dos eternos cúmplices como,p.e., Gaspar e a colaboração de muitos governos. A política atual na maior parte do mundo é a política de uma classe que se opõe a um verdadeiro processo de evolução com base numa luta de classes tendeno para o bem estar da classe trabalhadora. Mas certamente entendi tudo mal.
Hei de ler com mais atenção. Agora ando cansada.
Um beijo.
A culpa ê ,indiscutîvelmente,do sistema,mas os defensores do mesmo e,desta forma fundamentalista ,teem uma responsabilidade enorme e,deveriam prestar contas ao povo.Deveriam ter a lucidez e dignidade para nao terem que se ajoelhar.
Bjo
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