terça-feira, dezembro 25, 2012

aponta mentes - trabalho

Nesta pausa natalícia que o ambiente nos impõe, tenho lido, na comunicação social, coisas sobre trabalho que, francamente, me indispõem. Até porque é um conceito-chave.
Ali, diz-se que os portugueses escolhem (!) trabalhar depois dos 65 anos porque a reforma não chega, acolá, uma "figura pública" diz que continua a trabalhar, apesar da idade que tem, porque senão não comia, e é evidente a confusão instalada entre trabalhar e vender a força de trabalho.
Sinto necessidade de deixar um "aponta mentes". Muito pela rama, mas dirigido às raízes do que somos.

O trabalho é uma actividade racional do ser humano que tem por fim transformar os recursos da natureza em que o ser humano se integra, com a finalidade de os adaptar à satisfação das suas necessidades.
Se, como esceveu Marx, o trabalho é "um acto que se passa entre o homem e a natureza", esse acto condiciona toda a vida material da sociedade, pelo que é uma condição primeira, absoluta, da existência das sociedades humanas.
O trabalho é também, como actividade racional, apanágio exclusivo do ser humano. Ao modificar a natureza, ao frui-la, o ser humano modifica-se, humaniza~se (embora, em determinadas condições históricas, se possa desumanizar). Como escreveu Engels "o trabalho fez o homem".
Sendo um acto, uma actividade, o trabalho não é isolado, no espaço e no tempo, é uma relação, faz o ser humano um ser social. Se, como já escrito, é uma relação do ser humano com a natureza de que é parte (com os objectos e meios de trabalho), é também uma relação com os outros, divide-se o/coopera-se no trabalho, com-vive-se.
Embora em formas de relação diferentes, o trabalho é uma necessidade absoluta em todas as sociedades humanas. 
Nas sociedades divididas em classes, há os que fornecem a sua força de trabalho aos que dispõem, como sua propriedade, dos meios e objectos de trabalho, que se apropriam do resultado do trabalho e, em troca, facultam aos trabalhadores parte do por eles produzido ou lhes pagam um salário.
Só num modo de produção em que haja propriedade social dos meios de produção o trabalho deixará de ser um constrangimento, um sacrifício, para se transformar numa necessidade em si-mesma, expressão específica da personalidade humana.
Um reformado, porque enquanto vendeu a sua força de trabalho descontou do seu salário, pode (ou deveria poder...) viver uns anos a trabalhar sem ser constrangido, sem sacrifício, satisfazendo uma necessidade da sua personalidade humana. 
É isso que nos querem tirar: viver em capitalismo, numa formação social de exploração do trabalhador, e poder trabalhar apenas para satisfazer a necessidade humanamente intrínseca de trabalhar.

E ninguém diga que não estive a trabalhar
enquanto escrevinhei isto que está pr'áqui! 

1 comentário:

trepadeira disse...

Ora aí está a razão porque vou cooperando todos os dias,com prazer.

Abraço,
mário