domingo, setembro 14, 2008

Carta aberta a um comentador

Nesta forma de comunicação, os comentários são desejados. Há, no entanto, vários tipos de comentadores: i) os de complemento, dúvidas, apoio; ii) os de crítica a que, à falta de melhor, chamaria de “boa fé”; iii) os de ataque desbragado, caceteiro, insultuoso. A estes, não devia ligar nenhuma mas, por vezes, não resisto; aos primeiros, agradeço o estímulo e com eles, tal como com os segundos, gostaria de conversar, à volta das dúvidas (que também não me faltam) e das críticas.
Um comentador, que assina José Manuel, nos últimos “posts" ilustrou o segundo tipo e descortinei dúvidas (todas legítimas), preconceitos (alguns na fronteira da tal “boa fé”), pressupostos (vários e de vária origem). Fazendo afirmações e tocando temas que me desafiam a esta carta aberta.

Não vou ser muito longo, porque aqui não é o lugar para largos textos, mas aqui quero deixar umas notas. Com uma questão prévia: não escrevo em nome do PCP, apesar de ser do CC e da responsabilidade que isso implica.

  1. “política de esquerda” é expressão controvertida, e é difícil que o JM, ou quem quer que seja, a encontre em actuais textos programáticos do PCP.
  2. Para o 18º Congresso, a formulação nas teses em discussão por todo o Partido (que é aberta a quem queira participar… de “boa fé”) é a de alternativa de esquerda (ou alternativa política de esquerda), no quadro claro de luta de classes.
  3. Para este Congresso, o projecto de resolução política tem o título proposto de por Abril, pelo Socialismo – um Partido mais forte, sem qualquer ambiguidade quanto ao objectivo-socialismo, que o JM quer descobrir não sei onde.
  4. A distinção entre anti-monopolismo e anti-capitalismo – a que JM parece dar tanta importância –não tem qualquer significado se o anti-monopolismo é integrado na luta anti-capitalista.
  5. O capital é uma relação social definida há 160 anos, com duas classes antagónicas – a burguesia que, no seu bojo, cria o proletariado de que se alimenta –, nas condições concretas historicamente mutantes e uma complexidade social que não pode ser encarada redutoramente.
  6. É no quadro da luta de classes, tendo tomado partido insofismável por uma classe – a do proletariado – que tomo posições relativamente à situação de micro, pequenas e médias empresas (muitos delas de falsos empresários, que se desconhecem explorados).
  7. Não confundo classes com os “estados médios” ou "intermédios" (“Os estados médios (Mittelstände) – o pequeno industrial, o pequeno comerciante, o artesão, o camponês -, todos eles combatem a burguesia para assegurar, face ao declínio, a sua existência como estados médios. Não são, pois, revolucionários, mas conservadores. Mais ainda, são reaccionários, procuram fazer andar para trás a roda história. Se são revolucionários são-no apenas à luz da sua iminente passagem para o proletariado, e assim não defendem os seus interesses presentes, mas os futuros, e assim abandonam a sua posição própria para se colocarem na do proletariado.”), tal como está no Manifesto (e muito mais poderia transcrever) e subscrevo inteiramente.
  8. Também é preciso ter presente que o Socialismo não se construirá sobre “terra queimada”, que “a burguesia desempenhou na história um papel altamente revolucionário” (Manifesto) e que não seria revolucionário deitar fora o bebé com a água suja do banho.
  9. A luta é muito dura, mas também é vital para a Humanidade, o voluntarismo e a especificidade na escolha de palavras e slogans pode ser perniciosa se não se escora na acção permanente, na reflexão e no estudo, e bem me parece que JM tem poucas (e más) leituras arvorando-se em avaliador encartado do marxismo-leninismo dos outros.

Ainda assim, fica um abraço

4 comentários:

Anónimo disse...

De alguém que não precisa de provar nada a ninguém só recomendo ao Zé Manel,a leitura do "50 anos de Economia e Militância".Claro que é obrigatório estar de boa fé!

Um abraço solidário!

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado pelo abraço e pela solidariedade.
Aliás, este meu esforço é, exclusivamente, de divulgação (de ideias que julgo serem as que servem os trabalhadores e as populações) e de didactismo (com intenção de ajudar à tomada de consciência... para a luta).
Acredito, veja-se lá, que JM - e tantos e tantos outros - merece esse esforço.
Reitero o abraço.

Anónimo disse...

Boa explcação, Sérgio, para quem estiver de boa fé.

Anónimo disse...

Claro que queria dizer explicação.