sábado, setembro 13, 2008

E uma migalha de honestidade intelectual?...

Lá terá que ser. O Expresso.
Nesta edição, a (relativa) surpresa de uma capa do caderno actual colocando “perante nós a grisalha moldura” de Marx de que falava o poema de Maiakovski.
Mas, logo na capa, o rabo do gato: “Qual a importância de Marx no século xxi? António Guerreiro, Daniel Oliveira e Henrique Raposo fornecem as respostas. O consenso permanece impossível.”
Lá dentro, o gato esparramado em quatro páginas, aliciantemente paginadas, com textos de António Guerreiro, licenciado em Letras e Literatura Moderna, critico literário do Expresso, acolitados por duas colunas de opinião dos opinantes Daniel Oliveira e Henrique Raposo, um, conhecido bloquista (parece que de esquerda), outro, o supra-sumo ou o sumo-sacerdote do liberalismo, tanto sumo deita a sua caudalosa verborreia.
Nos textos, a glosa sobre o momentoso problema do interesse intelectual relativamente ao pensamento de Marx, 160 anos depois da edição do Manifesto do Partido Comunista que ele publicou em co-autoria com Engels.
Não há dúvida: anda um espectro pela Europa! Não se pode resistir à enorme actualidade do que há 160 anos foi escrito e publicado por Marx e Engels. E há que procurar vacinas, choques profilácticos e imunitários. O Expresso vem na rebentação desta vaga e procura “surfar”, recorrendo ao crítico literário residente que, com o seu Walter Benjamin e outros , se esforça (de balde...) por manter “a coisa” no plano literário-intelectual, enquanto os outros dois dão as “cassetadas” que lhes competem, com o ar (inteligentíssimo) de quem está acima das políticas enquanto cozinham as políticas rasteiras, rasteirinhas, rasteiríssimas.
Não encontro as palavras. Talvez náusea…
Aqui, e em primeira reacção, chamo a atenção (de quem?) para o facto de O militante, revista do PCP, nos seus números de Maio-Junho e de Julho-Agosto, ter publicado dois cadernos-separatas sobre os 190 anos do nascimento de Marx e os 160 anos do Manifesto. Com originais de seus membros do Comité Central e da Direcção do Sector Intelectual e doutorados em filosofia e em economia – um deles, até há pouco Reitor da Universidade Clássica de Lisboa – e vária documentação. O que, evidentemente, foi ignorado – e ignorado se procurará que fique para sempre – nesta oportuna recensão do Expresso. Oportuna, oportunista e demonstração de que há quem esteja assustado com a evidente actualidade do Manifesto. Que, no seu bojo, trazia virtualidades incompreensíveis por alguns, decerto a abarrotarem de “inteligência”:
a capacidade de “arrumar” conhecimentos acumulados pela História e de abrir caminhos para o entendimento de dinâmicas sociais,
a humildade de se manter aberto às actualizações e à correcção dos erros de análise e prospectiva (ver, por exemplo, o prefácio de 1872, verdadeiramente exemplar para quem se queira marxista, e indispensável para quem queira escrever, com um mínimo de probidade intelectual, sobre Marx e marxismo).

12 comentários:

Crixus disse...

Sem duvida que o Manifesto continua, pelo menos, tão actual como à 160 anos. Quanto ao que o Expresso traz hoje escrito não posso referir-me porque não li, mas com essas personagens calculo... O que é certo é que para nós, marxistas que somos, o Manifesto deve continuar a ser a base de toda a analise social. Como tem feito o Sergio nest blog, por exemplo.

Anónimo disse...

Se eles tivessem essa "migalha de honestidade", não estavam onde estão!
O Manifesto é actual porque aponta à humanidade o caminho da prosperidade, e da honestidade, para todos, e eles são defensores do"toda a vida houve ricos e pobres".
O D.O. está no BEs talves por ser verde e ter luzinhas.

samuel disse...

Tinham decretado a morte do marxismo, estavam em plena festa do velório... e o "morto" resolve erguer-se e mostrar que não só não tinha morrido, como está a rejuvenescer e a reforçar-se em várias partes do mundo.
Deve ser aterrador :)))

Abraço

cristal disse...

HON... QUÊ???

Anónimo disse...

Aos sábados teasneiras expressas.mos

Justine disse...

Excelente des-construção do artigo do Expresso. O método que eles utilizam é o habitual: repetir incessantemente as inverdades, até que sejam aceites como verdades.
Nojo, sim!

Fernando Samuel disse...

Não há dúvida: o Manifesto é um espectro que anda pela europa e pelo mundo e que os faz tremer de medo...

Maria disse...

O Manifesto faz comichão a muita gente.
Pela primeira vez assisti na ilha a uma discussão sobre o M. e Karl Marx, e não deixa de ser curioso como as diferentes pessoas reagem a este tipo de discussão acalorada. E como tanta ignorância vem ao de cima e de forma tão clara...

Sérgio Ribeiro disse...

Uma discussão sobre Marx e o Manifesto na ilha? Aleluia. O espectro também aí chegou...
Do que tu (e o M e o M) são capazes! Posso ajudar?
Abreijos

Anónimo disse...

-há um texto a correr no dotcome,com que no meu parcer necessitava de tratamento.
a,ferreira

Sérgio Ribeiro disse...

Fui à procura do texto que referiste, a.ferreira e achei, na primeira leitura como interessante. Terei de o reler, com algum tempo (qu'é dele?), mas há ali ideias muito certas ao que me parece. Particularmente uma que eu acarinho muito: a da humildade do marxismo. Bem ao invés da pesporrância soberba e ignorante de quem o ataca. Leste o meu artigo no Militante sobre o Manifesto?

Anónimo disse...

-Bom dia camarada.
-Não, ainda não li-mas vou ler...Tou acabar de ler o teu livro e outro que ficou um pouco de lado, mal o teu filho entrou na minha casa...
um abraço
a.ferreira