quarta-feira, março 16, 2011

Informações "expressamente" interessantes

O Expresso iniciou, na sua última edição, uma página interessante a que deu o título países como nós. Nessa página, há a intenção de comparar indicadores de alguns países com indicadores de Portugal, comparação acompanhada por pequenos textos.
Fez-me lembrar uma iniciativa que, há mais de 40 anos (entre 1967 e 1970), levei a cabo, no Diário de Lisboa, no suplemento Economia, com a publicação semanal de dois tipos de fichas, a que me lembro de ter dados dois títulos genéricos – o que é e como é –, exactamente na dimensão de uma ficha, e com o convite a recorte e colecção, em que, por exemplo, numa semana se dizia, o que era a EFTA, e nas semanas seguintes se dizia, com dados estatísticos, como eram os 7 países que formavam essa zona de comércio livre, e, depois, o que era a CEE, e nas semanas seguintes, como eram os 6 países que compunham essa união aduaneira e PAC (política agrícola comum). Boas recordações, apesar de tanta má, como tudo isto ter de passar pela censura fascista! Era uma luta na luta.
Poderá imaginar-se como esta iniciativa do Expresso me interessou. Levou-me a estudá-la e provocou-me umas observações a partir do confronto primeiro, em que o país escolhido para iniciar a série foi a Bélgica.








  • Quase a mesma população (entre 10, 6 e 10,8 milhões de habitantes). E ficam-se por aí as semelhanças.
  • Enquanto o/as belgas têm um PIB por cabeça de 31,4 mil € o do/as portugueses/as é de 15,8 mil €, ou seja, cerca de metade; os salários mínimos são, respectivamente, 1.415 € e 485€, ou seja, eles recebem de salário mínimo, num mês, o que nós recebemos num trimestre.
  • De acordo com os dados publicados, a Bélgica tem o consumo das famílias de 52,4 % do PIB belga, ou seja, 178 mil milhões de €, e as famílias portuguesas consomem 66,8% do PIB português, ou seja, 112 mil milhões de €.
  • A poupança global é de 74 mil milhões de € no caso belga, e de apenas menos de 17 mil milhões de € no caso português, mais de quatro vezes inferior.
  • As informações estatísticas mais relevadas são as da dívida do Estado, sendo de 98,6% do PIB para a Bélgica e de 82,8% para Portugal, enquanto o endividamento das famílias (em % dos respectivos rendimentos) é de 84% nas belgas e de 129% nas portuguesas.
  • Contrariando uma insistente imagem de desmesurado peso relativo do Estado no PIB português, os “gastos do Estado” na Bélgica são de 54,2% do PIB belga e de 48,2% no PIB português em Portugal, e as "receitas do Estado" são de 48,1% e de 38,8%, respectivamente.
  • No meio de outras informações, ainda se destaca a de que o rendimento das faixa de 20% dos belgas é de 3,9 vezes superior da mais alta relativamente à mais baixa, enquanto nos portugueses, esse ratio é de 6 vezes.
Mais informações se podem encontrar, mas acho significativo que, também neste confronto, se ignore o indicador de desenvolvimento humano (IDH), elaborado anualmente desde há 20 anos pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), ponderando o indicador económico monetarizado com indicadores de saúde e de educação, e outros, em que a Bélgica é 18º país com um valor de 0,867. e Portugal o 40º com 0,795.


Acresce, e por aqui me ficaria, que este IDH, ajustado com as desigualdades, ou seja, corrijindo as médias com as dispersões, baixaria para 0,794 na Bélgica (-8,5%) e para 0,700 em Portugal (-12%).

E não termino com um voto pio, como o do comentador escolhido pelo Expresso, Diogo Freitas do Amaral, de que "atingir os níveis belgas poderia ser um objectivo mobilizador para Portugal", mas sublinhando que os rendimentos da população portuguesa que trabalha são muito inferiores, que as famílias se endivida(ra)m para ter um consumo (nível de vida) aceitável, que há uma muito maior desigualdade de distribuição de rendimentos em Portugal, que quem poderia poupar e investir não o fez/faz, que o Estado recebe e gasta menos proporcionalmente mas que, decerto, muito pior distribue a arrecadação da receita e ainda pior aplica os gastos. Somos a "periferia", e como tal nos querem manter os "centrais".

4 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Importante a tua conclusão.

Um beijo.

Anónimo disse...

Números que revoltam e entristecem.

Campaniça

José Rodrigues disse...

E a Bélgica está sem governo há uma "porradoria" de meses...e nós por cá com tantos "íconemistas" do capital,sempre a afundar.Qualquer dia...qualquer dia...


Abraço

sérgio ribeiro disse...

Graciete - sempre procurando, sempre a começar de novo.

campaniça - e animam para a luta!

José Rodrigues - pois!... qualquer dia... desde que todos os dias!

Beijos e um abraço