segunda-feira, dezembro 29, 2014

Lançamento de A Luta Sindical-II


Retomando após... férias de natal

- Edição Nº2143  -  23-12-2014


Férias de Natal


Depois de um ano inteiro a olhar o televisor e a ver nele, dia após dia, imagens (ainda que muitas vezes desfocadas e sempre insuficientes) de um País empurrado para a penúria e de um povo condenado à miséria por um punhado de gente a mando do estrangeiro, fica-se cansado. E, porque se fica cansado, a apetência de uns dias de férias a coberto da quadra natalícia surge como uma miragem convidativa. Não, neste caso, umas férias como são costume, esvaziadas de tarefas, com horas e horas aparentemente livres: aliás, isto de fingir saber do País e do mundo através da televisão, mesmo com a certeza de que se está a usar uma fonte inquinada, torna-se uma espécie de vício que subsistiria até para lá de um eventual fim da obrigação. Mas, pelo menos, uns dias de escolha mais livre, desobrigada de seguir as peripécias do caso BES, da escandaleira dos submarinos, da desvergonha provocatória do depósito de um milhão de euros na conta do CDS-PP a coberto de um pseudónimo literalmente porcalhão, coisas assim. Seriam então uns dias em que fosse possível optar por programas apetecíveis, que também os há embora pouco nos pareça: as emissões do «Visita guiada» na RTP2, entrevistas em «Palavra de escritor» na TVI24 ou no «Ainda bem que viestes» na RTP Informação, decerto outros mais, embora não nos canais chamados abertos e de maior audiência, estes em princípio especialmente dedicados ao despejo de telelixo em nossas casas mas, reconheçamo-lo, com momentos de abrandamento e até de excepção, pois a graça dos céus pode descer até aos recantos mais fétidos. Seriam, pois, umas férias caracterizadas não pelo lazer puro e simples, mas sim por uma espécie de selecção higiénica e saudável, o que já não seria nada mau nos tempos que vão correndo e no chão que vamos pisando.

Uma triste partilha
Acrescente-se um pormenor: até já havia sido feita a escolha de uma espécie de prato principal para essa depurada dieta televisiva. Tratava-se de «A Taxista», uma série transmitida pela RTP2 em quatro dias consecutivos ao longo da passada semana. «A Taxista» é uma série italiana agora em transmissão repetida, injustamente desprezada quando da estreia entre nós, que exibia uma dupla qualidade pouco frequente na televisão portuguesa: ser europeia e ter qualidade. Não se dirá que é uma obra-prima, mas nem a vida em geral nem o quotidiano do telespectador pode ser feito de obras-primas: «A Taxista» tem a frescura da ligeira comoção, um certo sabor a autenticidade que se diria ainda herdado do cinema italiano do imediato após-guerra, e as ligeiras pinceladas com que nos remete para o quotidiano de uma Roma de classe média baixa, de gente de trabalho, são convincentes. No episódio final tem concessões, mas paciência!, ainda assim «A Taxista» seria um bom momento das tais projectadas férias. Bem se repete, porém, que o homem põe e alguém dispõe: cedo aconteceu o desastre. Na passada quinta-feira, quando incautamente se passava por um noticiário depois de se haver evitado o depoimento de um dr. Sobrinho, mais uma declaração do dr. Passos, mais uma bazófia do dr. Portas, eis que sobre nós salta a notícia: numa localidade lá para Viseu (e decerto noutras mais, é de crer) as férias escolares de Natal não são inteiramente cumpridas, os garotos continuam a ir lá, dia após dia, para comerem uma refeição que ali continua a ser servida. Assim evitam a fome que os ronda. Mas há mais. E pior. Com eles vão também muitos pais que desse modo, e provavelmente só desse modo, conseguem aceder a uma refeição diária. Tenta-se, mas não se consegue imaginar, entre outras coisas, o que essa tristíssima camaradagem entre pais e filhos pode resultar na relação específica entre eles, agora e no futuro. Tenta-se adivinhar com que sentimentos os pais vão com os filhos partilhar o que é de facto uma esmola. Tenta-se perceber qual o grau de infâmia que caracteriza quem conduz o povo a situações destas. E arrepia pensar em férias de Natal assim.


Correia da Fonseca

quinta-feira, dezembro 11, 2014

Esclarecimento


'inda me espanto!

Depois de ter assistido a (quase) toda aquela  "cena" de ontem, em que R. Salgado tentou, com grande "profissionalismo" e em desavergonhada estratégia, impor a sua versão absolutamente inverosimil da queda do BES/GES, que logo a seguir Ricciardi mostrou à exaustão que o era, ainda me consigo espantar por o Excelentíssimo Senhor Governador do Banco de Portugal venha escrever cartas a refutar o que o que o terá incomodado.
A entidade reguladora não só não funciona como não tem nenhum respeito por si própria, na interpretação do seu alto reponsável. Está ao nível do que, em democracia, é o mais alto responsável por isto tudo, do PdaR. Ou seja, ao nível rasteirinho.
Não seria de chamar este último à comissão de inquérito? Isso é que era giro: o PdaR a ser auditado na AdaR!!!

quarta-feira, dezembro 10, 2014

Que insuportável mundo!, este dos banqueiros...(remake)

Ontem foi um dia a que chamaram várias coisas. Foi um dia-chave, embora não daqueles que abrem portas. Pelo meu lado, dediquei-o, quase por inteiro (e por solidária camaradagem...) a acompanhar os trabalhos da comissão parlamentar de inquérito ao BES. Das 9 horas da manhã de ontem às 2 já de hoje. Com curtos intervalos, que também "eles" os tiveram.
Gosto da expressão, que não teria inventado mas que não tinha lido ou ouvido antes, de autópsia do capitalismo regulador, e este teria sido um episódio dos mais significativos. Mas nada de mórbido me "agarra" ao televisor e me prende à cadeira. Só o desejo de melhor conhecer as entranhas do sobrevivo para melhor ajudar - microscopicamente - à transformação do mundo.
E, enquanto via e ouvia, folheava um caderninho que há uns meses organizei, arrumando alguns "posts" que aqui coloquei. Para uso pessoal e oportuno. Como foi agora o caso.
Faço o "remake" de dois extratos:

QUARTA-FEIRA, MAIO 25, 2011

 Que insuportável mundo!,

este dos banqueiros...

Uma noite sem tarefa(s). Calma. É como quem diz...
Ao terceiro dia de campanha (e só neste me detive face ao televisor), o aparelho está em sérios riscos!
Ainda por cima, apanhei com uma insuportável entrevista com o insuportável dr. Ricardo Salgado.
  
Como este "mundo dos banqueiros" é insuportável. Coexistir nele só em luta contínua.
É insuportável. Dêem-me tarefas ou ainda faço um disparate!

(...)

TERÇA-FEIRA, JULHO 08, 2014


(...)

Foi a financeirização da economia.

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O BESCL, agora BES, “devolvido à família Espirito Santo”, entrou no jogo todo, tomou lemes e rédeas.

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E fez disso alarde em certos momentos, como foi o de chamar a"troika" para nos invadir explicitamente, sem pensar no ricochete, sem pôr as barbas de molho.

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Bem pelo contrário.

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O médio e o longo prazo deixaram de contar (Keynes, se relembrado, diria que amanhã estaremos todos mortos… e não lhes importa os que nasçam depois de amanhã).

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Especular, especular, especular sempre e cada vez mais.

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A opção deixou de ser entre o pão e a ”pastilha elástica” para passar a ser entre o nada e a coisa nenhuma, para o que dê maior dividendo ou cotação na Bolsa, ou o “off-shore” mais rentável e/ou menos fiscal izado.

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Está a dar-se o esperado.

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Está a dar-se o previsto, o prevenido e… o inevitável na correlação de forças dominante sempre, aqui e ali, mais ou menos moderado pela resistência… porque nunca nenhuma força está sozinha, toda a força tem o seu contrário.

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O que está a acontecer ao “meu” BES, se diferente nas formas, nasce do mesmo que aconteceu ao PBN, ao BPP, ao BCP.

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Entretanto, pode comprar-se hoje a 0,6 o que amanhã se pode vender a 1, transferindo riqueza (das nações) de mão em mão sem que nada se crie, e sem que se recuperem os milhares de milhões volatilizados.

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Filme de terror?, estou de acordo com a designação do género, embora me interesse muito mais o genérico e a ficha técnica!

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E fico-me por aqui, apenas com mais uma nota. 
Já li, hoje de manhã, no sapo-expresso, um interessante resumo da audição de ontem de R. Salgado (Um homem sem confissões, nem de Santo Agostinho, de Filipe Santos Costa), mas a que faltou a 2ª parte das audições de ontem, a das "confissões" de S. Ricciardi, que mexeram mesmo nas entranhas do "bicho" em autópsia, e que, entre as 19 e as 26 (24+2) horas, puseram a nu muito do que R. Salgado tapou, com grande "profissionalismo", contenção e contensão, entre as 9 e as 19. horas.

tem continuação! 
  

terça-feira, dezembro 09, 2014

domingo, dezembro 07, 2014

E venho eu e digo POIS!

Num fim-de-semana (ainda que prolongado) cheio de deslocações, lendo a imprensa e enquanto se aguarda com alguma expectativa a audição dos "primos" Espirito Santo na Assembleia da República (que o esCAVACadO PdaR já dispensou... democraticamente como é seu timbre), tinha alguma ansiedade por uma paragem aqui à secretária (e computador) para reproduzir e divulgar esta "pérola":

Embora possa ser lido clicando sobre a imagem, não resisto a copiar o texto que me fez gargalhar (embora amarelamente), com algum arranjo gráfico e sem fotografia porque outros mereciam tal "distinção". além do Vitor Bento (que cada eventual leitor escolha a sua ilustração).

Vem o governador do Banco de Portugal e diz: há investidores privados interessados no BES!
Vem Vitor Bento, ex-presidente do BES, e diz: "Ainda hoje não sei se houve ou não investidores interessados no banco".
Vem a ministra da Finanças e diz: "Nunca foi apresentado ao Governo qualquer pedido de rcapitalização pública do BES."
Vem Vitor Bento e diz: pedi ao Governo uma declaração pública de que poderia vir a fornecer liquidez ao banco em caso de necessidade.
Vem o vice-governador do Banco de Portugal e dá 48 horas à administração para apresentar um plano de recapitalizaçãodo banco. 
Vem Vitor Bento e diz  "Recapitalizar em dois dias era impossível."
Vem o Banco de Portugal e não exige provisões para o empréstimo de €3,3 mil milhões do BES ao BESA.
Vem o Novo Banco e exigem-lhe que provisione a 100% o empréstimo.
Vem Mário-Henrique Leiria e pergunta:
"O que aconteceria se o arcebispo de Beja fosse ao Porto e dissesse que era Napoleão?
Toda a gente acreditava que era. O presidente da Câmara nomeava-o Comendador. Iam buscar a coluna de Nelson, tiravam o Nelson e punham o arcebispo lá em cima. E davam-lhe vinho do Porto.
Então o arcebispo dizia: Sou a Josefa de Óbidos.
Ainda acreditavam que era, embora menos. O presidente da Câmara apertava-lhe a mão. Iam buscar o castelo de Óbidos, tiravam os óbidos e punham o arcebispo na Torre de Menagem. Além disso, davam-lhe trouxas d’ovos.
Nessa altura, convicto, o arcebispo de Beja afirmava: Sou o arcebispo de Beja.
Não acreditavam. Davam-lhe imediatamente uma carga de porrada. E punham-no no olho da rua. Nu."! 

TLIM!


sexta-feira, dezembro 05, 2014

Que vergonha!

um mail amigo mandou-me esta notícia. fiquei envergonhado!


EUA, Canadá e Ucrânia 

rejeitam na ONU moção 

contra “glorificação” do nazismo


Ao todo, 115 de 173 países votaram a favor da moção, enquanto 55 delegados – em sua maioria embaixadores dos países da União Europeia – se abstiveram
26/11/2014
Por Archille Lollo
De Roma (Itália)
(Ver art.º completo emhttp://www.brasildefato.com.br/node/30649 )

QUADRO DAS VOTAÇÕES NA ONU
Numa moção contra "a glorificação do Nazismo, neo-nazismo e outras práticas que contribuam para incentivar contemporâneas formas de racismo, discriminação racial e correspondente intolerância" , Portugal, obedecendo à União Europeia, absteve-se!