A NOTÍCIA (sapo):
"O Partido Comunista Português (PCP) apresentou, na Assembleia da República, um projeto de resolução que recomenda a classificação da obra do músico José Afonso como de interesse nacional com vista à sua reedição e divulgação.
"Num documento datado de dia 4 de julho, que recorda que a Associação José Afonso (AJA) recentemente lançou uma petição com este mesmo objetivo (que hoje conta com mais de 11 mil assinaturas), o grupo parlamentar do PCP defende “que é urgente preservar e divulgar a obra de José Afonso, permitindo o seu acesso a todos, pelo que considera que o Governo deve envidar todos os esforços para recuperar toda a obra do músico, tendo em vista a sua reedição”.
Os deputados comunistas lembram que se vão cumprir 90 anos do nascimento do autor de “Grândola, Vila Morena” no dia 02 de agosto e que urge classificar “a obra de José Afonso como de interesse nacional”, bem como avançar com o “desenvolvimento das diligências necessárias para recuperar toda a obra do músico, tendo em vista a sua reedição e divulgação”.
A PEQUENA HISTÓRIA
Foi em 1964! Há 55 anos.
Eram 30 homens na sala 2 rés do chão de Caxias-Sul. A luta ganhara a entrada do gira-discos durante uma hora, ao fim do dia. Com os discos passados pelo crivo do PIDE destacado para a prisão. Entre eles, um 45 rotações, Fados de Coimbra, 4 canções pelo dr. José Afonso, Os Vampiros, Menino do Bairro Negro e mais duas canções.
Entrava o gira-discos, escolhia-se o programa e punha-se a música no ar. O auditório formava-se com os interessados que se acomodavam nos bailicos da dependência-dormitório enquanto outros se ocupavam de tarefas de faxina ou, desinteressados (se os havia), ficavam pela dependência-refeitório.
A faixa Os Vampiros, surpresa!, começava a ter lugar cativo no programa.
Aos terceiro ou quarto dia entrou, de supetão, o PIDE de serviço: "O guarda veio avisar-me que vocês estão p'raí a ouvir umas coisas esquisitas nos fados de Coimbra... ora ponham lá!"
O responsável pela tarefa (aliás, dono do gira-disco deixado pelos familiares), sem dizer palavra colocou as duas faixas de um lado, virou o disco e teve a perícia de pôr a agulha a tocar a faixa que
não era a de Os Vampiros.
O PIDE, já farto de ouvir o Zeca, resmungou "... não vejo mal (deveria ter dito ouço...)... só se for aquela coisa do menino do bairro negro... mas também... estes guardas às vezes!..." . e saiu porta fora.
E os 30 presos da sala 2 rés do chão de Caxias-Sul ficaram a ouvir Os Vampiros.
Era no verão de 1964!
Eram 30 homens na sala 2 rés do chão de Caxias-Sul. A luta ganhara a entrada do gira-discos durante uma hora, ao fim do dia. Com os discos passados pelo crivo do PIDE destacado para a prisão. Entre eles, um 45 rotações, Fados de Coimbra, 4 canções pelo dr. José Afonso, Os Vampiros, Menino do Bairro Negro e mais duas canções.
Entrava o gira-discos, escolhia-se o programa e punha-se a música no ar. O auditório formava-se com os interessados que se acomodavam nos bailicos da dependência-dormitório enquanto outros se ocupavam de tarefas de faxina ou, desinteressados (se os havia), ficavam pela dependência-refeitório.
A faixa Os Vampiros, surpresa!, começava a ter lugar cativo no programa.
Aos terceiro ou quarto dia entrou, de supetão, o PIDE de serviço: "O guarda veio avisar-me que vocês estão p'raí a ouvir umas coisas esquisitas nos fados de Coimbra... ora ponham lá!"
O responsável pela tarefa (aliás, dono do gira-disco deixado pelos familiares), sem dizer palavra colocou as duas faixas de um lado, virou o disco e teve a perícia de pôr a agulha a tocar a faixa que
não era a de Os Vampiros.
O PIDE, já farto de ouvir o Zeca, resmungou "... não vejo mal (deveria ter dito ouço...)... só se for aquela coisa do menino do bairro negro... mas também... estes guardas às vezes!..." . e saiu porta fora.
E os 30 presos da sala 2 rés do chão de Caxias-Sul ficaram a ouvir Os Vampiros.
Era no verão de 1964!
(se não foi bem assim,
foi mais ou menos...)
2 comentários:
Mais que justo,este projecto sobre a obra do Zeca!Conheci-o bem e a história aqui contada,de certa forma fez-me lembra-lo.Tinha sempre uma forma subtil e mordaz de dizer "as coisas".Era comum,o Zeca,trazer ao Círculo Cultural de Setúbal(o velho)cantores de intervenção e,claro,a pide estava sempre presente.O Zeca arranjava sempre forma de contornar o que pretendia transmitir.Bjo.
Deve mesmo ter sido mais ou menos. Adorável! Eles eram burros, mesmo!
Beijo.
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