quinta-feira, junho 03, 2021

Sobre dislexias e luta de classes

 A regalar-me com a esclarecedora opinião de Jorge Cordeiro, que de tão esclarecedora me exigiu divulgação, assaltou-se uma reflexão que me toma frequentemente sobre a questão do léxico e seus escaninhos. A ela me devolvo, após a leitura e divulgação da opinião de Joge Codeiro, que vivamente recomendo 

 - Nº 2479 (2021/06/2)

Dislexia política

Opinião

Manda a prudência que se não extraiam ilações precipitadas do que à primeira se pode ser levado a concluir. O rigor conclusivo de fenómenos, políticos ou não, é sempre mais exigente e menos linear do que neles é dado observar.

Rui Rio proclamou no conclave que uniu a nata do grande capital e dos seus representantes políticos e económicos de que só ali estava porque aquilo, onde havia desaguado, não era um congresso da direita. Se assim fosse, acrescentou lesto, ali não estaria porque o PSD não é de direita.

Espíritos mais abertos ou juízos de almas mais compreensíveis sempre predispostos a conclusões benévolas remeterão a questão para o foro psíquico. Na verdade, a confusão entre esquerda e direita é uma das três dezenas de expressões da sintomalogia disléxica. Em concreto, um problema com reflexos no plano da inteligência espacial, sem implicações na inteligência cognitiva. Sem a gravidade, em termos de consequências, de outras expressões. Tirando a maçada de ter de dar umas voltas a mais a uns quarteirões para se chegar ao destino desejado sempre se acaba por lá ir ter.

Como se pode ver teria sido isso que sucedeu a Rio. Trocando as mãos, virando para o lado contrário para onde havia feito sinal e, zás!, quando deu por isso estava onde julgaria não estar. E como Rio tratou de acrescentar já que ali estava, não sendo de direita, porque se de direita fosse ali não estaria, aproveitaria para unir as direitas! Confuso e para lá da dislexia? Arredada a imprudência de olhar os factos pelo que aparentam o que emerge é, no plano político, o que se sabe.

Rui Rio tem para o País um projecto antidemocrático e de perversão do regime que a Constituição consagra, projecto que rivaliza com os seus pares, originais ou sucedâneos, que enxamearam aquele espaço, sejam Passos Coelho, Francisco dos Santos ou André Ventura.

                                                                                                                                                        Jorge Cordeiro


Ora, dizem os especialistas da neurologia que a dislexia é uma disfunção neurológica, que se manifesta ao nível da dificuldade de aprendizagem da leitura, em pessoas com inteligência normal ou acima da média. O que, a mim que sou leigo (em quase tudo), bem me parece que a questão também tem a ver com o léxico, ou seja, com o dicionário em uso e, por vezes, imposto ideologicamente. Assim sendo, aceitando sem rebuço o uso no léxico político da distinção direita-esquerda, também considero de juntar outras distinções, mais esclarecedoras ainda, e que têm a ver com o posicionamento político-partidário dos cidadãos e de como se agrupam partidariamente. Diria, nesse sentido dicionário, que num léxico mais ideológico, que adopte a separação entre interesses de classes sociais, me parece claro que há um tratamento na comunicação dita social que, se aplica e fomenta uma abordagem que coincide com a divisão direita-esquerda, vai mais ao fundo da questão social e exclue da equidade de tratamento direita-esquerda aquela esquerda que, sendo esquerda, também é ideologicamente de classe. Com maior clareza: o PCP não tem o (des)tratamento que tão evidentemente lhe é dado na dita comunicação social por ser de esquerda mas por ser de classe, de onde tantas vezes haja quem se perturbe com o tratamento privilegiado que tem uma certa esquerda que, como tal se afirmando, faz o mesmo "jogo" da direita, na perspectiva - claro! - da classe que esta representa e defende. 

1 comentário:

Justine disse...

Excelente texto de JC, excelente reflexão tua sobre o texto dele. Completaram-se.