- Nº 2576 (2023/04/13)
Entrada de leão… saída de sendeiro?
Macron realizou uma visita à República Popular da China para a qual convidou Ursula Von Der Leyen. Tal decisão levanta no mínimo várias questões. A primeira porque Von Der Leyen não representa nenhum Estado, nem foi mandatada para tal. A segunda porque mesmo na arquitectura de poder da União Europeia não é a ela que compete a responsabilidade da «política externa» da UE. A terceira porque se o objectivo da visita era verdadeiramente matizar diferenças e afirmar alguma «autonomia» face aos EUA, dificilmente haveria pior escolha, tendo em conta a postura pública e notória de Von Der Leyen de quase total alinhamento com a estratégia dos EUA de crescente confrontação com a China.
Nas vésperas da partida para Pequim, Ursula fez um discurso elucidativo. Repetiu por outras palavras a tese norte-americana do «adversário sistémico»; afirmou, entre outros mimos, que «o objectivo do Partido Comunista Chinês é uma alteração da ordem internacional com a China no seu centro», uma «visão alternativa da ordem mundial em que os direitos individuais são subordinados à segurança nacional, em que a segurança e a economia se sobrepõem aos direitos civis e políticos»; e condicionou as relações da UE com a China à «forma como interage com a guerra de Putin» e à «demonstração de força militar chinesa» nas suas fronteiras terrestes e marítimas, com uma referência específica à «necessidade de paz e estabilidade no estreito de Taiwan», que, pasme-se, «afecta directamente os nossos parceiros [da UE] e os seus interesses legítimos». Pior preâmbulo de uma visita diplomática seria difícil.