Enquanto almoçamos, cada um na sua mesa, com a televisão lá por cima de todos nós, chega o noticiário da uma.
Os acompanhados conversam, outros, sozinhos - como eu -, lêem - só eu -ou apenas comem trocando graças com as empregadas - também eu -; ao bruá-á-á calmo e baixo (com picos...), sobrepõe-se a voz de quem tem a profissão de nos dar as notícias relevantes.
Aparentemente, nada de especial. A "golden share" é vedeta de que se ouvem, com indiferença, os (des)envolvimentos; ficamos a saber, distraídos, que teriam morrido mais uns tantos no Afeganistão (ou foi no Médio Oriente?), aí umas centenas ou uns milhares a somar aos muitos milhares acumulados dos dias e semanas anteriores.
Sei que, quando chegarem as notícias dos estágios na Suiça e da transferência do Moutinho e outras, vai haver alguma atenção... mas... eis que nos dizem que, em Fátima, uma criança de 3 anos caíu de um 4º andar! Tudo se cala, nem o ruído de mastigar perturba a audição, pregam-se os olhos ao écran!
E, antes de voltar o noticiário ao normal (?), e de se regressar aos talheres e pratos, ainda haverá alguns comentários...
Sempre que isto acontece, com uma criança de 3 anos que cai de um 4º andar em Fátima, com um assalto cá no burgo, com um crime em aldeia ou vila do concelho, o efeito é o mesmo. De proximidade!
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Lembrei-me do Mandarim, do Eça!
2 comentários:
E eu também me lembrei de um conto de Eça de Queiroz em que se descreve uma situação análoga, mas aqui bem mais grave porque se trata de um acidente grave com uma criança.
Beijos
Camarada Graciete - estou de acordo contigo no sentido da morte daquela criança não dever servir para especulações e analogias.
Mas fica a questão de se sentir profundamente o que é grave perto de nós, como neste caso, e se ficar indiferente ao que não é menos grave (haverá medidas?...) e se passa a dezenas, centenas o milhares de quilómetros.
Beijos
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