Mail amigo fez-nos chegar este esclarecedor artigo. Transcrevemo-lo, com os agradecimentos a quem no-lo enviou e a quem o escreveu:
O erro do FMI abalou a confiança nos “ajustamentos” — Anis Chowdhury
Alguns dos mais inclinados para aceitar os baixos multiplicadores orçamentais
do FMI tinham uma determinada “ideia fixa”, refere-nos Chowdhury, “ideia que
permanece ainda”. Jean-Claude Trichet, quando presidente do Banco Central
Europeu, e grande parte dos membros do ECOFIN (reunião dos 27 ministros das
Finanças da União Europeia) ficaram profundamente influenciados pelas opiniões
expostas pelo economista de Harvard Alberto Alesina em abril de 2010.
Estávamos ainda no período inicial da crise das dívidas soberanas na zona
euro. Nesse momento crucial, os políticos europeus e os banqueiros centrais
retiraram a ideia de que, em regra, a austeridade era expansionista e de que os
ajustamentos eram bem-sucedidos. Conclusão apressada que ia contra a própria
evidência da investigação de Alesina, que apontava apenas para sucesso em 19%
dos 107 eventos estudados em países da OCDE entre 1970 e 2007 e para 25% em que
se verificou efetivamente expansão posterior. É este o intervalo de
“probabilidade que a experiência histórica sugere”, alerta Chowdhury.
As diferenças de contexto
Um estudo do académico Adam Posen realizado para a Comissão Europeia em 2005
– antes da crise – concluía que 50% dos casos de sucesso de programas de
austeridade “foram acompanhados por uma política monetária expansionista que
permitiu ao crescimento ser sustentado”. Além do mais, recorda Chowdhury, há um
conjunto de fatores complementares que são decisivos, e nomeadamente o
contexto.
Os episódios estudados por Alesina e muitos outros académicos aconteceram em
períodos, desde 1970, em que não ocorreu nenhuma grande crise financeira e
económica global e em que não se observava a simultaneidade de programas de
ajustamento em países que são parceiros comerciais e partilham inclusive a mesma
moeda. “Ajustamentos estruturais ou as chamadas políticas de reformas
pró-crescimento não são muito eficazes quando as mesmas políticas são aplicadas
nos principais parceiros comerciais. Neste caso, não há procura que compense
durante a fase de declínio, o que acaba por agravar o declínio por todo o lado.
Ora isto ainda fica mais agravado quando as autoridades monetárias – os bancos
centrais – por medo da inflação mantém políticas de contração”, conclui o
economista.
Quem responde pelos erros?
O erro do FMI ficou famoso em outubro passado quando Olivier Blanchard,
conselheiro económico do fundo e diretor do Departamento de Investigação,
reconheceu no “World Economic Outlook” que o multiplicador orçamental era muito
mais elevado do que se pressupôs no desenho dos programas de gestão da crise das
dívidas soberanas nos países da zona euro, onde o FMI interveio integrado na
troika.
“Não foi dito que as estimativas eram derivadas de uma metodologia informal.
Pelo contrário, foi dada a impressão de que se tratavam de estudos rigorosos
confirmando resultados empíricos de que os multiplicadores orçamentais eram mais
pequenos”, prossegue este economista nascido no Bangladesh, que, em setembro
passado, contestou a robustez da evidência empírica da convicção da “austeridade
expansionista” na “Economic and Labour Relations Review”. Antes da Austrália,
Chowdhury já lecionou em vários pontos da Ásia e da América do Norte e é membro
do Center for Pacific Basin Monetary & Economic Studies, do Banco da Reserva
Federal de São Francisco.
O erro do FMI foi entretanto “esquecido” e sobretudo acantonado na ideia de
que se tratou de um “erro técnico” separado das políticas em que se inseriu.
Chowdhury é particularmente crítico desta postura: “Não é possível separar os
erros técnicos das políticas mais amplas. Quem é que assume a responsabilidade
dos erros?”.
O economista asiático discorda da estratégia de gestão da crise das dívidas
seguida pela troika, tanto pelo FMI como pelos europeus: “Não seguiram o melhor
caminho. Deveriam ter começado com um plano de alívio da dívida em vez de
imporem mais empréstimos com a condicionalidade dos ajustamentos estruturais.
Querer fazer reformas profundas durante uma recessão é como pedir a uma pessoa
que se está a afogar para aprender a nadar, em vez de a salvar
primeiro”.
No entanto, insiste-se!,
citando:
"não é possível separar os erros técnicos
das políticas mais amplas."
1 comentário:
Insistir no erro,ê ainda mais grave!
Um beijo
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