segunda-feira, janeiro 28, 2013

"Questões de moral" - 4

E dizia ele, o dito senhor Karl Marx nos seus manuscritos de 1844, que 
«...a antítese entre Moral e Economia Política é em si mesma apenas aparente; há uma antítese e igualmente não há antítese. A Economia Política exprime à sua própria maneira, as leis morais.
A ausência de exigências, como princípio da economia política, é atestada da forma mais chocante em sua teoria da população. Há homens em demasia. A própria existência do homem é puro luxo, e se o trabalhador for "moralizado" , ele será económico ao procriar. (Mill sugere louvor público aos que se mostrarem abstêmios nas relações sexuais, e condenação pública aos que pequem contra a esterilidade do matrimónio; não é essa a doutrina moral do ascetismo?) A produção de homens afigura-se uma desgraça pública.
O significado da produção com relação aos ricos é revelado no que tem para os pobres. No alto, sua manifestação é sempre requintada, disfarçada, ambígua, uma aparência; nas camadas inferiores, ela é crua, franca, sem rodeios, uma realidade. A necessidade áspera do trabalhador é fonte de muito maior lucro do que a necessidade requintada do abastado. As moradias em porões de Londres dão mais aos senhorios do que os palácios, i. é, elas constituem maior riqueza no que toca ao senhorio e, assim, em termos económicos, maior riqueza social.
Assim como a indústria se reflecte no refinamento das necessidades, também o faz em sua rudeza, e na rudeza delas produzida artificialmente, cuja verdadeira alma é a auto-estupefacção, a satisfação ilusória das necessidades, uma civilização dentro da barbárie grosseira da necessidade. As tavernas inglesas, são, portanto, representações simbólicas da propriedade privada. Seu luxo desmascara a relação real do luxo industrial e da riqueza com o homem. Elas são, pois, adequadamente, o único divertimento dominical do povo, pelo menos tratado com brandura pela polícia inglesa. »

E se, numa outra tradução se pode retirar, simplificando, que 
«a moral da economia política é o ganho, o trabalho e a poupança, a sobriedade…», 
a actividade económica (da economia política) veio tornando-se uma actividade de gestão de recursos para acrescer esses ganhos (para uns) à custa do trabalho e da poupança, da austeridade (para outros).
Mas... gestão de que recursos? Dos directos?, dos que a natureza faculta e os seres humanos colhem e transformam incessantemente para satisfação das suas necessidades materiais, sejam elas "refinadas" ou "rudes"?

... a ver vamos.

2 comentários:

Olinda disse...

Muitas contradicoes.A "producao filhîcola",ê fomentada pelo
capitalismo,ao mesmo tempo que,cînicamemte,a criticam com argumentos morais.Bom, aprendi mais um pouco.Obrigada,camarada.

Um beijo



Graciete Rietsch disse...

Hoje a produção de filhos nem se discute, pois é impossível tê-los, dado o presente precário da juventude, o futuro incerto das crianças e as dificuldades de toda a espécie dos menos novos.
Cada vez mais é preciso organização e luta.

Um beijo.