No tempo de Marx, e dos clássicos antecedentes, a economia era a Economia Política (pelo menos os conhecedores de alemão assim o dizem). E assim se percorreram décadas e séculos com as duas palavras umbilicalmente ligadas mesmo quando a “economia” de texto poupava a segunda. Subentendia-se que se falava do que assentava sobre um tripé por vezes semelhando mesa de pé-de-galo
– necessidades, recursos, trabalho.
Com o correr do tempo e as dinâmicas sociais, começou a distinguir-se, na Economia, com ou sem Política, as Finanças Públicas, indispensáveis para que o todo funcionasse. No processo de cientificação desta área do conhecimento, ela começou por se (tentar) libertar da tutela do Direito e da da Contabilidade - como registo de variações patrimoniais. Em Portugal, e disso posso falar porque vivi, a Escola do Quelhas, o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF), ganhou, com a reforma de 1949, o estatuto universitário, e só mais tarde apareceu a Faculdade de Economia da Universidade do Porto (1953), e muitos anos depois a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (1972), com um complexo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa também criado em 1972.
Neste(s) caminho(s), o ensino da economia passou por etapas que não tenho a pretensão de caracterizar mas de que deixo discutíveis notas. Para além do marginalismo, das "pontes" do neo-clássico com o keynesianismo, nota-se a crescente importância dos métodos quantitativos e o enfraquecimento e esquecimento da vertente necessidades, bem como a constante marginalização e centrifugação do marxismo, com excepção de períodos curtos… e de alguns docentes excepcionais.
A gestão monetarizada dos recursos ganhou foros de cientificidade, imune à consideração das necessidades a satisfazer, o que se transforma numa questão moral, e sendo ignorada uma racionalidade económica existente desde sempre e inerente à inserção do ser humano no meio de que colhe e transforma os recursos.
Ilustrando esta evolução, o ISCEF passa rapidamente por Instituto Superior de Economia (ISE) para logo acrescentar e Gestão (ISEG), e nascem proliferamente escolas de gestão e gestão em escolas. Com o resultado que se conhece, de se confundir economia com gestão e gestão com negócios.
Não é por acaso que, no avante! da semana passada, dois artigos em actual (de José Casanova e de Vasco Cardoso, e por outras formas) colocavam a questão pertinentemente, num caso sobre a gestão da EDP, que pouco tem a ver com a produção e fornecimento de electricidade e muito com a acumulação de capital monetarizado, e a gestão bancária que apenas tem a ver com esta acumulação, em total especulação desmaterializada (D-D’).
E pode acrescentar-se (como se fará em próximos textos) a ilustração da gestão nas áreas de alimentação, vestuário, habitação, transportes, saúde, educação, cultura, banca, armamento, tráficos de vária ordem, como “neutra”, apenas avaliada (avaliados os gestores dela intérpretes… e assim remunerados) por essa acumulação de capital monetarizado cada vez mais desmaterializado, e por isso idêntica para todas elas e a todos os níveis
2 comentários:
E ê devido ä perversao de D-D',que nos encontramos num "beco sem saîda".
Um beijo
E esquecendo cada vez mais as "necessidades" a Economia se vai transformando num acumular de capitais em grupos privilegiados.
Um beijo.
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