terça-feira, agosto 15, 2006

Contar contido

Ao loooongo de 4 semanas de internamento, tomei notas, escrevi pequenas frases, procurei guardar fundas impressões e comoções. Podia guardar tudo isso para mim, e muito de isso para mim ficará guardado, mas gosto de contar. Vou aqui trazer algumas "coisas passadas a limpo":

Sem palavras! Como se diz quando a emoção (real ou requerida) não encontra as palavras que a traduzam. “Não tenho palavras!”
Então… recorro às "cem palavras".
Para contar e conter. Para que o contado seja contido.


Passagem a empijamado

Chegamos de mala de cartão ou de “bobby” de contrafacção invasora chinesa. Perdidos e dependentes. Enfraquecidos pela fragilidade, fragilizados pela fraqueza.
Acompanhados por uma incomparável solidariedade, muitos e juntos, mesmo que só dois. Assustados.
Depois, num ápice, sem se saber como, o que fica fica sozinho, miseravelmente sozinho.
E a enfermeira que passa pergunta com a possível bonomia: “Então?!... ainda não vestiu o pijama?... é a primeira coisa a fazer assim que aqui chega… tem de tirar análises, fazer RX, está a chegar aí o doutor…”
Empijamamo-nos.
Passei a ser o da cama 4 da enfermaria 4.

2 comentários:

Anónimo disse...

Experiências de vida!
Situação tão singular, deves ter pensado:” Isto não está acontecer comigo!”
É quando damos conta que “estamos” «sozinhos, miseravelmente sozinhos!».

Bjs,

GR

Anónimo disse...

O pior não é estarmos sozinhos!
O pior é deixarmos os que amamos sozinhos...
Um abraço e rápida recuperação