domingo, junho 08, 2008

Centralidades

Leitor contumaz, este domingo está a ser de leituras. O problema (meu) é que não me poupo. E agora, no Expresso, há um colunista que particularmente me faz mal à saúde. Nem às colheres de chá e excipiente o deveria tragar, mas ainda não o arrumei em definitivo nos ilegíveis. Está quase…
Não que ache que os jornais não devam publicar opiniões diversificadas. Bem pelo contrário. Mas o facto é que se aparenta incluir um leque das opiniões, e este é muito redutor porque exclui "certas" opiniões, ou apenas as tolera (e muito selectivamente) lá de quando em vez para leitor ver, e pelo excesso de cambiantes do rosa ao negro sem na verdade mudar de cor.
Ora este opinativo, Henrique Raposo de seu nome, escreve como quem perora. Com uma “imensa graça” – assim se deve achar e, talvez, também lá em casa haja quem se ria… – e sempre definitivo. E o problema não é o de poder estar em desacordo com a sua opinião – há tanta e tanta gente com que não coincido... – ou o de abominar o seu estilo. O problema é que este plumitivo é, também no que respeita a objectividade, absolutamente primitivo. Termina o grosso do seu texto (que tem ainda uma “graciosíssima” adenda sobre “populismo caviar”) agradecendo ao mundo por lhe ter dado razão (nem o mundo existiria para outra coisa…) por estar provado, comprovado e incontroverso que “a globalização era benéfica para o mundo”. Tiraram-se os balancetes e o balanço final, e o resultado do exercício está apurado: ele tinha razão! Mas alguma vez não teve?!
No entanto, há um pequeno óbice. É que esta “opinião” (qual opinião?... esta sentença sem direito a recurso), inserta na última coluna da pág. 53, está cabalmente desmentida (humildemente corrijo: está posta em dúvida) a páginas 44-5 do mesmo jornal e caderno, em trabalho sobre o encontro da FAO (agência das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) com o seguinte título genérico:

Alerta No terceiro mundo podem surgir novos conflitos armados devido à escassez de alimentos
GUERRA PELO PÃO.
A tese de H.R., acintosamente proclamada, é a de que, por virtude da globalização (capitalista, digo eu…), "vivemos num mundo pós-europeu” porque há a (escondida) “ascensão económica da China, Índia, Malásia, etc.” e “a Europa e o Atlântico-Norte perderam a sua velha centralidade”.
Se a tais “alturas” chegasse este escrito, recomendaria ao convencido colunista que pensasse o que chama centralidade não apenas em termos geográficos, mas também em termos de capital financeiro. Recomendação de certeza inútil, mas tenho esta mania…
Desabafei, pronto. E "isto" é sério, hem.

10 comentários:

samuel disse...

1. O plumitivo não lê o próprio jornal em que "coluna".
2. O primitivo, como lhe chamas, é, como qualquer primitivo, um "grutamontes" (adjectivo do Fanhais).
3. A globalização é uma coisa muito boa... para ele e como não consegue ver além...
4. ...
5. ...
Tantas hipóteses! Hesito...

Fernando Samuel disse...

Os raposos tiveram e tem razão SEMPRE - mesmo que a não tenham: a globalização capitalista é o milagre... anunciado pelos raposos...

Anónimo disse...

Ele e "eles" conseguem ver além... mas não lhes convem que "os outros"
vejam.

Campaniça

Guilherme da Fonseca-Statter disse...

Na "mouche", como soe dizer-se...
Os plumitivos deste mundo descobriram "agora" um palavrão novo para um fenómeno velho e vá de bater palmas.

amigona avó e a neta princesa disse...

É por essas que já não leio o Expresso...mas se calhar faço mal...já nem sei!!!

Anónimo disse...

O homem é plumitivo porque assumiu essa condição, se não fosse pelo facto de influênciar, os menos informados, não viría mal ao mundo, -o pior é que...-pode ser que não!

Justine disse...

De plumitivos opinativos e "vozes dos seus donos" desonestos está infelizmente este mundo cheio! Toca a "malhar-lhes"...

Anónimo disse...

-o plumitivo é um serviçal e tá tudo dito.

Anónimo disse...

Esse saco com papel a que chamam expresso ainda existe? Eu pensava que só tinha ficado o Expresso do Oriente.

Sal disse...

A minha cadela gosta muito do Expresso...

E o plumitivo não lê o jornal onde escreve, efectivamente (como o Samuel afirmou..)

beijinhos pelo teu bom post, e pela tua opinião sempre lúcida e atenta.