sexta-feira, outubro 10, 2008

A "imprevisibilidade" do que foi previsto e prevenido...

O actual (e gravíssimo) pico de crise foi, digam o que disserem, tapem o sol com as peneiras que consigam desencantar, previsto e prevenido.
Assim, como aconteceu e está a acontecer? Claro que não! Aliás, quem se queira marxista tem de ter, além da humildade de que Marx e Engels deixaram tanto testemunho, o permanente cuidado de separar o que é previsível que aconteça de quando e de como vai acontecer. E procurar, sempre, que fazer?
Agora, não vou buscar o que há 160 anos foi publicado. Vou, agora, aqui, deixar um apontamento para que se lembre a quem possa estar a ser iludido pelo slogan publicitário da mudança, apresentado espectacularmente nesta fuga às responsabilidades que se atiram para o liberalismo de que sempre se foi cúmplice e, por vezes mais liberal que os ultra-liberais (estou a falar da capciosa dicotomia Estado-mercado), venho lembrar que, há menos de um ano, em Novembro de 2007, o PCP realizou uma Conferência Nacional sobre questões económicas e sociais, em que o mote não era o da mudança, era o da ruptura, em expressões ditas essenciais, e «cujo tempo é o da urgência, para abrir as portas a uma política económica e social alternativa, ao serviço do povo e do País:

  • «Ruptura com as opções pelos interesses do grande capital (...)
  • Ruptura com uma integração comunitária em que prevalecem os interesses estratégicos da grandes potências e do grande capital europeu (...)
  • Ruptura com a reconfiguração neo liberal do Estado que emagrece tudo o que é serviço público e conquistas de Abril (...)
  • Ruptura com a desvalorização do trabalho e dos trabalhadores (...)
  • Ruptura com a mutilação e subversão das políticas sociais (...)
  • Ruptura com a atribuição ao capital estrangeiro do papel que deveria caber em primeiro lugar ao Estado português e complementar ao capital privado nacional (...)
  • Ruptura com a supervalorização das exportações, quando a economia nacional é absorvida a 80% pelo mercado interno
  • Ruptura com políticas que atingem a soberania nacional (...)
  • Ruptura com a subversão da Constituição da República (...)»

26 comentários:

Anónimo disse...

A crise financeira global tem uma causa social: os baixos salários mundiais
por Emiliano Brancaccio [*]
entrevistado por Waldemar Bolze

O sr. sustenta que a crise financeira não é um fenómeno puramente técnico, mas tem uma causa social. Por que?

O ponto de partida é a fraqueza do movimento trabalhista, a qual tornou possível um mundo de salários baixos. Contudo, este muto é estruturalmente instável, o que estamos agora principiando a experimentar. Hoje todos os países tentam manter o nível de salário baixo, diminuindo portanto a procura interna, e têm de encontrar mercados externos para os seus próprios produtos.

Este mecanismo funcionou durante os últimos dez anos porque os Estados Unidos funcionaram como um "aspirador" para os produtos excedentes de outros países. E não porque os salários dos trabalhadores fossem demasiado altos e sim porque foi acumulada uma enorme dívida privada nos EUA. O sistema levou a trabalhadores a pagarem suas dívidas hipotecárias com novos empréstimos e a pagarem os juros dos empréstimos com novos cartões de crédito.

Poderia uma estrutura de crédito realmente tão frágil manter-se?

Isto não era senão um bomba relógio, a qual explodiu agora. As consequências são mais uma vez passadas aos trabalhadores e empregados, ao passo que os executivos da Wall Street, que fabricaram estes explosivos, podem até mesmo lucrar com isso.

Tome, por exemplo, o plano Paulson. Ele estipula que o governo vai comprar os activos arriscados dos bancos de investimento e em troca colocar dinheiro fresco à sua disposição, deixando a possibilidade de que os bancos, uma vez passada a tempestade, possam recuperar os seus títulos. Se o governo pagar preços bastante altos, os banqueiros podem finalmente embolsar um lindo lucro a expensas do orçamento do Estado.

Qual o impacto óbvio que terá esta crise?

Dependerá muito da sua duração e profundidade. Por enquanto, o establishment está a seguir uma estratégia que Giuseppe Tomasi di Lampedusa descreveu no seu livro O Leopardo: "Se quisermos que tudo permaneça na mesma, temos de mudar alguma coisa". O plano Paulson é um exemplo desta estratégia, porque consiste numa permuta de cash por dívidas, concebida para intervir o menos possível em termos de propriedade e de controle do capital bancário. O mesmo se aplica às vendas de acções preferenciais ao governo porque este restringe o direito de voto nas assembleias de accionistas.

Será que a ideologia do neoliberalismo fracassou e que os dias do capitalismo estão contados?

A ideia é divertida, mas seria ingénuo assumir um fim iminente do capitalismo. Não posso ver como tal coisa possa materializar-se. O grande ausente neste colossal estado de emergência é precisamente o movimento trabalhista. Ao invés disso, vejo a possibilidade de uma mudança no poder relativo dos lobbies das finanças para grupos de pressão política e também de lobbies ocidentais e americanos para outros asiáticos.

Podemos então falar do declínio do império americano?

Apesar da aparência e de todas as altas temporárias e dos acontecimentos a curto prazo, o declínio americano tem-se verificado de há pelo menos um quarto de século. Um sintoma deste declínio é o comportamento a longo prazo do dólar, cujo preço – convertido à divisa de hoje – em 20 anos caiu de 1,50 euro para cerca de 70 centavos de euro. Este declínio assegura desconfiança em relação ao dólar e provavelmente impedirá os EUA de desempenharem novamente o papel de "aspirador" para os produtos excedentes de outros países. Uma vez que não há um poder hegemónico internacional alternativo, há um perigo de que o sistema monetário internacional venha a encontrar-se num beco sem saída. Neste caso, o desenvolvimento desta crise poderia ganhar características realmente negras e imprevisíveis.
A entrevista original em alemão foi publicada em junge Welt , de 09/Outubro/2008.

[*] Professor de economia do trabalho na Universidade de Sannio, membro da Rifondazione Comunista, e conselheiro da maior federação italiana de sindicatos metalúrgicos, a FIOM-CGIL.

A versão em inglês encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/bolze091008.html

Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .

Sérgio Ribeiro disse...

Vê-se que este anónimo está preocupado e anda à volta das questões. Mas, bolas!, porque não vence os preconceitos e não procura em Marx? Não digo respostas, mas pistas, o enunciar de dinâmicas, o fundamento de mecanismos.
No meio de um oceano de dúvidas e de questões, afirmo peremptório:
a crise não é (puramente) técnica, as moedas são um instrumento (como a pólvora, as drogas-medicamentos, as facas), o sistema financeira não está separado das intenções sociais de quem o manipula, empola, através deles transfere mais-valias.
Obrigado pelas referências.

Anónimo disse...

E como o PCP previu e preveniu é preciso calá-lo seja de que maneira for.

Anónimo disse...

Acabei há pouco de ouvir mais uma ronda de noticiários nacionais e internacionais e, como é natural, tropecei em diversos comentadores opinando sobre as “saídas para a crise”.
Quase todos – ou mesmo todos, se bem me lembro – quando referem a “intervenção estatal” para apoiar, salvar ou resgatar instituições financeiras (quase sempre simplesmente bancos...), tocam todos pelo mesmo diapasão de “não serem os contribuintes a pagar a crise”.
Já foi assim com muitos dos Republicanos no Congresso dos "States", é assim com comentadores de centro-esquerda em França, é assim mo Reino Unido...
Em ideia, em si, parece correcta: porque razão há-de o comum dos cidadãos pagadores de impostos arcar com os prejuízos e custos resultantes das asneiras dos gestores daquelas instituições?
Só que tal como a acontece com a aparência da Terra ser plana e ser o Sol que anda à volta da Terra, também aqui se poderá dizer que as “aparências iludem”.
Em primeiro lugar, de facto, todos nós (sem excepção) beneficiámos da “especulação financeira”. De uma forma ou outra (e tirando os casos de fraude e crime de “colarinho branco”... e mesmo aí...) nós todos (mesmo os desempregados...) tirámos proveito da construção de casas (por exemplo...) em excesso e para as quais se veio agora a verificar que, em vez de “valerem 100”, afinal “só valem 50”. Enquanto essas casas (por exemplo) iam sendo fabricadas toda uma rede intricada de actividades económicas ia sendo mantida a funcionar, em todo o mundo, dando emprego a milhões de trabalhadores que, de outra maneira já tinham ido para o desemprego há mais tempo.
Onde está “casas” leia-se, por exemplo, automóveis, telemóveis, computadores, bicicletas, electrodomésticos ou, etc., etc., e ter-se-á uma ideia do significado da expressão “sobreprodução”. Não havia “poder de compra solvente”, recorria-se ao crédito e o assunto – o “ajuste de contas” - ia sendo adiado. Pois, chegou a altura de “pagar a factura”.
Em segundo lugar, mesmo sem as referidas fraudes e eventuais crimes de “colarinho branco”, mesmo assim teríamos chegado – se calhar já há mais tempo – a esta situação de “crise financeira”. A lógica intrínseca do sistema capitalista terá propiciado a emergência desta crise, na medida em que os banais sistemas de motivação e incentivo dos gestores dos fundos de pensão (e de quem quer que seja que tenha amealhado alguma pequena fortuna e tenha preferido passar a “viver dos rendimentos”), impuseram há muito tempo e a todos eles a necessidade imperiosa de “aplicar os seus capitais”. Aplicar em quê?... Em que “oportunidades” de investimento?...
Mas atenção! Não se trata de “passar uma esponja” sobre tudo aquilo que aconteceu nessa financeirização do sistema, à pala de que, por acção ou omissão “todos fomos e somos responsáveis”. Não. A questão é outra e é mais grave.
É que com o discurso politicamente correcto de que não devem ser os contribuintes a pagar a crise, passa às escondidas a ideia sub-reptícia de os “ricos (não) paguem a crise”... Sim, porque os ricos também são contribuintes!!!
A questão estará então em desenvolver mecanismos de aplicação e cobrança de impostos (para salvar os resgatar os bancos que seja preciso resgatar...) que incidam selectivamente sobre aqueles que mais aproveitaram com a “festa da financeirização”.
Ou seja, a título de exemplo e para que conste, eu não me importo de desembolsar 1% dos “rendimentos” (os ordenados e a reforma) que recebi ao longo dos últimos 10 anos (por exemplo) para “pagar a crise”, se estiver seguro de que os gestores de fundos de pensões e de bancos de investimentos e outros que tais, irão pagar 50% a 90% desses seus rendimentos, na medida em que cada um deles beneficiou, no mínimo, 100 vezes mais do que eu com a dita cuja “festa da financeirização”.
Por isso, por favor, não me venham mais com a conversa de que “não está certo que sejam os ‘contribuintes’, ‘les contribuables‘, ‘the taxpayers’ a “pagar a crise”...

Xô tôr Guilherme da Fonseca-Statter

Sérgio Ribeiro disse...

Xô tôr Guilherme da Fonseca-Statter, que não sei se é o mesmo anónimo que abriu esta série de comentários, li com atenção e interesse o seu longo comentário. Tem, na minha opinião, um "pecado original": desconhece a leitura da História que, a partir de 1848, tem vindo a ser apurada (e, quanto a mim, comprovada). Do ponto de vista "técnico", em muita coisa concordaria consigo, mas não há técnica neutra... Ainda ontem li, no Público, o editorial do seu incrível director, em que afirma o pragmatismo como ideologia (mais: ideologia das ideologias), e lembrei-me do que a esse respeito disse Amilcar Cabral sobre a vã, nalguns casos criminosa, tentativa de substituir o critério da prática social pelo pragmatismo.
Muito mais lhe diria (e direi por outras maneiras e em outras oportunidades... se as houver), apenas lhe deixando a observação de que considero absolutamente errada a perspectiva de que «todos nós (sem excepção) beneficiámos da "especulação financeira"». Que a Humanidade terá beneficiado do salto revolucionário que foi o ascenso da burguesia, sublinhei-o no último episódio do M.H. ontem publicado, mas já ouviu ou leu algo sobre pauperismo? Breve, tratarei deste tema que me (pre)ocupa há décadas.
Saudações

Fernando Samuel disse...

Ruptura com o capitalismo, origem de todos - todos! - os males que afligem a imensa maioria dos mais de seis mil milhões e habitantes do planeta.

Um abraço grande.

Anónimo disse...

-Que fazer...mediante as ameaças das perdas dos empregos - consequente perda dos salários... se acontecer o que aconteceu na Argentina...a habitação hipotecada à banca a impossibilidade de cumprir as prestações dos empréstimos da habitação a perda da mesma que representa para muitos trabalhadores, anos de trabalho e sacrifícios...como respondem os Comunistas aos seus amigos companheiros/as e camaradas, nos locais de trabalho nos clubes nos cafés etc , etc a estas questões! -Quando lhes é perguntado quais as respostas.. que faria o Partido por "Nós" quais as propostas? "concretas não queremos "Teses e politicas" queremos respostas aos nossos problemas..."
" Fiquei um pouco aflito sem saber o que dizer a não ser dizer-lhe ajudem-nos a tomar o Poder só assim podemos responder as vossas solicitações e perguntas.
Não sei camaradas que mais lhes havia de dizer... até porque eu próprio não sei o que dizer a mim mesmo. -Sinto que as pessoas querem respostas concretas.
-Lembrei-me de uma passagem no Livro da Engels sobre a "Família o Estado e a Propriedade Privada"( a culpa é tua Sérgio) quando este fala da queda dos reinos da Grécia antiga e de Roma que levaram ao poder outra classes e deram origem democracia Grega e a Republica Romana...
-Estará a acontecer algo semelhante ...mas para acontecer é necessário que alguém seja pai da criança.
Deixa lá sou eu a delirar.
aferreira

samuel disse...

As rupturas fazem doer... mas um dia destes vai mesmo ter que ser. Ninguém pode continuar a acreditar que um sistema que endeusa o lucro, o individualismo e a competição doentia, produz tantos canalhas... apenas por acidente!

Abraço

Anónimo disse...

Constituição da República Portuguesa Artº21º(Direito de resistência)Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos ,liberdades e garantias e de repelir pela FORÇA qualquer agressão,quando não seja possível recorrer à autoridade pública.

E não são já tantas as ofensas?

Guilherme da Fonseca-Statter disse...

A propósito da mensagem deixada em nome de "xô tôr Guilherme da Fonseca-Statter".
1. Começo por esclarecer que não fui eu - Guilherme da Fonseca Statter - quem aqui deixou aquele comentário.
2. Alguém achou por bem transcrever para aqui uma mensagem que eu deixara num sítio (www.dotecome.com) que costumo frequentar. Provavelmente na premissa que a mesma era digna da atenção e crítica de Sérgio Ribeiro.
3. No mesmo sítio (dotecome.com) tive já ocasião de prestar os esclarecimentos devidos às observações críticas (aliás legítimas e pertinentes) de Sérgio Ribeiro.
4. Pelo vistos caí numa esparrela do sr. A.Fagundes (presumo que seja ele o "anónimo"). Não vem daí mal ao mundo e sempre dá para mais uns esclarecimentos.
Guilherme da Fonseca Statter

Anónimo disse...

Xô tôr Guilherme da Fonseca-Statter.

É no mínimo deselegante vocelência, que não se assina como anónimo, presumir que o Xôr A.Fagundes o faz, aqui ou onde quer que seja.

É ainda mais deselegante vocelência afirmar que teria sido o Xôr A.Fagundes a transcrever para aqui os seus doutos escritos.

Ora, faxavor, Xô tôr! Vim parar a esta capelinha rural por mero engano, botei faladura há muitos dias atrás e, topado o engano, despedi-me cordialmente do Xô tôr pároco de aldeia. Tenho cá voltado esporadicamente apenas para escutar as liturgias e para observar as revberências ao Xôr prior, sem meter bedelho, que isto mete sermões originalíssimos e engraçadíssimos beija-mãos.

Ora, com franqueza, oh Xô tôres! Baboseirem à vontade. Estão em vossa casa.

A.Fagundes, um criado às ordens de vocelências.

Sérgio Ribeiro disse...

O senhor A. Fagundes, com a virtude que lhe reconheço de não-anonimato, veio de novo aqui ao canto deixar a sua prosa soberba e insolente. Cada um é como é. Por mim, não me sinto nem adulado por quem concorda comigo (mas não em tudo, obviamente), nem ofendido por quem não concorda - por razões ou não-razõe que serão as suas - e usa sobranceria e insolència à falta de argumentos e deum mínimo de civismo para ser capaz de discutir com quem discorda.

Aos outros interlocutores, responderei mais tarde mas apenas quero deixar dito qu não consigo entrar no dotecome.com.
'Inté.

Guilherme da Fonseca-Statter disse...

Peço desculpa mas, quando vi a resposta de Sérgio Ribeiro, foi quando a mesma foi transcrita para o "Dotecome.com".
Comecei por presumir - erradamente - que Sérgio Ribeiro tinha vindo ali fazer uma breve crítica do meu anterior escrito.
Como o sr. Fagundes tinha logo ali colocado um seu comentário "xocoso", presumi - mais uma vez, erradamente, (mea culpa mea máxima culpa) - que tinha sido ele a fazer a tal transcrição.
Mesmo com a promessa que ele faz de aqui não voltar, as minhas desculpas pela errada presunção.
De resto, e porque Sérgio Ribeiro não consegue entrar no "Dotecome.com", vou aqui deixar o comentário/esclarecimentos que ali deixei à breve crítica formulada por Sérgio Ribeiro.

Guilherme da Fonseca-Statter disse...

Extraído de Dotecome.com:

Um primeiro esclarecimento: não costumo assinar o que aqui escrevo como “anónimo”. Certo ou errado assumo as minhas asneiras que certamente serão muitas.
Em segundo lugar, terei exagerado/errado quando dizia “todos nós sem excepção”. Esclareço que fiz essa afirmação apenas no contexto em que o dinheiro fictício criado pela financeirização do sistema sempre acabou dando origem a algum trabalho socialmente útil, como a referida construção de casas. E muito consumo ostentatório (carros de topo de gama e férias de luxo) que por sua vez também deram trabalho e respectivo rendimento a muitos trabalhadores que sem isso há mais tempo que teriam ido para o desemprego.
Tenho consciência de que o processo de acumulação e de financeirização também tem contribuído, e de que maneira e até pela sua lógica intrínseca, para a pauperização crescente – relativa e até absoluta – de grandes camadas de população. Em particular em regiões como a África Subsahariana, onde aumenta a miséria de centenas de milhões de seres humanos.
Concordo com a sua observação acerca da não neutralidade da técnica, em particular no caso das técnicas de “engenharia financeira”. Ou dos biocombustíveis a partir de terras agrícolas. Concordo também com a crítica que faz à ideia do “pragmatismo como ideologia”.
Permita-me que volte ao segundo ponto acima. Como não acredito que os “danados da Terra” de que falava Fanon, frequentem estes sítios "internéticos", penitencio-me de algum “pecado” de elitismo. Serei talvez um membro da “aristocracia laboral” de que falavam alguns dos clássicos do marxismo. E era apenas desses (trabalhadores qualificados, que não têm rendimentos se não o da venda da sua força-de-trabalho) que eu falava quando dizia “todos nós”.
Não me passaria pela cabeça propor que quem não beneficiou – antes pelo contrário – com as actividades económicas (até por efeito do “trickle down”) viesse agora contribuir com o que quer que fosse, para "debelar a crise".
Sem querer entrar numa de "teoria da conspiração", confesso que o discurso recorrente de que "não devem ser os contribuintes a pagar a crise" me começa a cheirar a um discurso planeado do tipo "todos no mesmo saco": o desempregado que faz uns biscates e que - eventualmente - também é contribuinte, e o gestor dos "fundos de investimento" que tendo sacado uns milhões de euros com a "festa da financeirização" não queira agora contribuir com uns 90% do seu rendimento para "debelar a crise".
Em todo o caso esclareço que acabo de assinar mais um abaixo assinado mundial para exigir que em vez de “bail out” se faça “buy in” das entidades financeiras com problemas de liquidez.
Cordiais saudações,

Anónimo disse...

Xô tôr Sérgio Ribeiro.

Folgo em saber que ao menos me reconhece a virtude do não anonimato. Por minha parte, reconheço que a prosa é soberba; rejeito que seja insolente. É defeito de fabrico, dificilmente corrigível. Nada a fazer, portanto.

Vocelência está mal habituado ao sarcasmo e à rebeldia da liberdade. Não admira. O direito à liberdade que advoga é apenas para alguns, os iluminados pela graça da verdade revelada, no caso, os iluminados pelo marxismo-leninismo — que o mesmo é dizer, pelo materialismo-histórico, de que vocelência anda a escrever a novela em episódios — pertencentes ao Comité Central cessante.

Devido a essa limitação intrínseca, comum a outros crentes fundamentalistas, sagrados e profanos, confunde a falta de aquiescência com a falta de civismo. Se quiser terçar argumentos, por favor, faça um esforço. Já deixei dito que o seu materialismo-histórico não passa de idealismo-histórico. Para nos atermos apenas a este pormenor, responda demonstrando que a história permite fundamentar que o proletariado é a classe destinada a suceder à burguesia na direcção da sociedade e que o comunismo é o regime económico-social, o modo de produção, destinado a suceder ao capitalismo. É escusado argumentar com o estafado “Marx disse”.

Se quiser trocar argumentos sobre outros temas da profecia marxista, também estarei disponível. E se, porventura, estiver interessado em demonstrar outras baboseiras mais actuais, como a de que a burguesia não-monopolista faz parte do rol dos aliados na luta contra o capitalismo, como afirma nas teses do seu partido submetidas para aprovação pelo Comité Central cessante, de que faz parte, também estarei interessado em participar nessa interessante tertúlia.

Escolha vocelência o tema. Só depois poderá invocar fundamentadamente o que a destempo presume ser falta de argumentos.

A.Fagundes, um criado às ordens de vocelência.

Sérgio Ribeiro disse...

Guilherme da Fonseca Statter,
aqui estamos nós, conversando enviesadamente. Não tenho nada contra, desde que o enviesamento venha das vias e não das (des)conversas.
Eu estou, neste meu cantinho, fazendo o que gosto de fazer, e entendo dever fazer, que é pensar em "voz alta", comentar a realidade e, quando há quem aparece, conversar com. Não me meto com ninguém, mas também não costumo deixar sem resposta quem "se vem meter comigo".
No seu caso, como lhe disse, achei interessante o comentário aqui aparecido e - acho eu - procurei dialogar.
Desta nossa enviesada (repito) troca de ideias, ficou-me a vontade mais acerada de tratar da questão do pauperismo que vem no Manifesto, e que, como disse, me (pre)ocupa há décadas e que aflorei num artigo para o Militante (número de Junho), separata dedicada a Marx.
Continuarei na minha faina...
Saudações

Anónimo disse...

Xô tôr Guilherme da Fonseca-Statter.

A sua prosa é desinteressante e nos meus hábitos não está o anonimato. Perca qualquer dúvida de que fui o transcritor para aqui das suas baboseiras.

As suas desculpas, devidas pela errada presunção da autoria da transcrição que me atribuiu, foram anotadas. Mas já vai sendo tempo do Xô tôr perder esse seu mau hábito muito habitual de julgar por presunção. Atenha-se aos factos, faxavor.

Não prometi aqui não voltar. O que mais faltava era deixar de frequentar uma capela de aldeia com tão interessantes homilias e engraçadíssimos beija-mãos.

A.Fagundes, um criado também às ordens de vocelência.

Sérgio Ribeiro disse...

Participar em tertúlias, terçar argumentos ou trocá-los sobre temas à escolha, conversar, enfim, com quem, em nome do sarcasmo e da prosa que terá defeito de fabrico dificilmente corrigível, me trata por xô tôr, vocelência, iluminado, crente fundamentalista, estafado abusador do argumento “Marx disse”, autor contumaz de baboseiras, e me daria a premissa de escolher tema entre os que de antemão catalogou, soberba e insolentemente? Eu, dito pelo desafiador pároco de uma capela de aldeia onde proferiria homílias sarcasticamente(?) adjectivadas de interessantes e predisposto ou, quiçá, mendicante de engraçadíssimos beija-mãos?
Não, senhor A. Fagundes.
Passo! E – se me permite – dava-lhe um conselho “à Manuel Mendes”, a propósito do caso Luandino Vieira e do Prémio Camilo Castelo Branco: aperte a braguilha!

Mar Arável disse...

Li a novela dos comentários e digo-te que aprecio a tua paciência.
De facto os cães não dormem.

samuel disse...

Faço minhas as palavras do Mar Arável... e diria mesmo mais, aprecio a tua paciência.

Abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Meus caros, se calhar é o meu "idealismo" (ou "idiotismo"?): assim ganharei o céu...

Abraços... e obrigado pela vossa paciência e - também! - coragem por terem vindo ao "beija mão" (eh!eh!eh!)

Anónimo disse...

Xô tôr.

Vocelência (ou prefere que o trate por Voscência?) traçou um excelente auto retrato. Nem eu, com a insolência que me atribui, me atreveria a qualificá-lo de mendicante, abusador e contumaz quanto a alguns dos males de que padece.

Presumo que os pruridos causados pela linguagem, com os quais pretendeu justificar a recusa em debater, escondam a míngua de argumentos que lhe povoam o baú por baixo da cabeleira. Vocelência saberá dos seus minguados atributos e por certo não quererá que fiquemos conhecedores da calamidade.

Pode sempre mudar de ideias e decidir-se a terçar armas por sua dama, no caso, argumentar em favor do idealismo histórico. Não é Vocelência, com o seu partido, que diz que o comunismo morreu, mas não matou o ideal que o anima? De que vale, então, a materialidade da prática? Ora, vê como há sítios bem mais interessantes para onde orientar o olhar?

A.Fagundes, um criado às ordens de Vocelência.

Sérgio Ribeiro disse...

Encerrado em definitivo o incidente (ou terá sido acidente?), vou voltar-continuar a ocupar-me de coisas sérias. Quem tiver um mínimo de boa-fé perceberá que os meus argumentos (valham o que valharem) estão a ser explanados neste esforço de arrumar (e de "arrumar-me"), nesta série à medida de blog", pistas sobre materialismo histórico, e noutras coisas para que o meu incurável pendor pedagógico e auto-crítico me convida.
Um pouco fruste por o anterior episódio ter tido poucos comentário, espero que o de amanhã tenha mais eco.
Saudações

Anónimo disse...

Sérgio!
gostava tanto de ser como tu! ter paciênciaaaaa... acho que não tê-la, é mesmo um dos meus defeitos...
paciência, Amigo :)!
beijocasssss
vovó Maria

Maria disse...

Passei para te ler, e li-te.
Depois entretive-me com os comentários...
Assim sendo, e estando tudo dito (estará?) retiro-me, não sem antes pedir a tua bênção...

Haja paciência!

Abreijos, porque os mereces, todos

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado, Maria.
Abençoada estás... mas não com água. Com "piratas" do Bar Simões!

Abreijos