quinta-feira, maio 14, 2009

Cabo Verde - Maio de 2009 - 3

3. Entre ditaduras, a democracia

As viagens ensinam. Nelas, quando há guias, são estes que teriam a obrigação profissional de ensinar. Acontece é que, por vezes, alguns desaprenderam. Digo isto sem qualquer animosidade pessoal relativamente ao “provocador” desta croniqueta. O rapaz que nos acompanhou na ida ao Tarrafal nem seria profissional, o autocarro não tinha amplificação de som, ele percorria o corredor esforçando-se. "Ali é a casa onde Amílcar Cabral viveu com os pais". Era perto da Assomada, em Santa Catarina. E disse-o com respeito. Só. E as máquinas dispararam guardando o lugar e a memória: E por aí se ficariam as suas informações políticas. Explícitas. Porque no meio das falas, entrecortadas, às tantas vieram as palavras ditadura e democracia e referiu-se ao “novo PAICV”.

Faço o "resumo da História" misturando o dito e as palavras-“etiquetas” com dados objectivos:
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Depois do colonialismo, com a independência, a República de Cabo Verde teria entrado num regime de ditadura! Porquê? Porque havia só um partido, porque não havia eleições em que o povo tivesse a opção de vários partidos para escolher os seus representantes; depois, por obra e graça de muitas influências, desde a Internacional Socialista a divinas providências, e a "quedas de muros", houve eleições “democráticas”, em que o PAICV, no poder, criou as condições para o "atestado de democraticidade" com que mantinha os apoios que tão bem geria, um outro partido, o MpD, ganhou as eleições em 1990 e o sistema multipartidário foi constitucionalizado. Nas eleições legislativas de 2oo1, o PAICV voltou ao poder, com maioria absoluta na Assembleia Nacional. Nas eleições presidenciais sequentes, o primeiro-ministro até 1990, pelo PAICV, Pedro Pires, venceu. Nas eleições de 2006, o PAICV obteve de novo a maioria, que reforçou, e Pedro Pires também foi re-eleito para segundo mandato.
O que impressiona – e assusta… – é esta “globalização” em que a democracia é de “modelo único”: crescentemente
representativa, até à exclusão de formas históricas, “naturais” e participativas.
Os passadores de atestados de democraticidade (e de "outras coisas" e negócios) vão veiculando as suas versões da História, até por via de "guias" a que nem houve o cuidado de alertar para quem estavam a falar, injectados (e infectados) pelas versões únicas, consensuais, indiscutíveis.

Cabo Verde faz o seu caminho. Nada fácil. Algum o é?

3 comentários:

olga disse...

Camarada, já percebi que esta visita a Cabo Verde te marcou bastante, também a quem não marcaria!!
Espero que esteja tudo bem e que regressado a terrítório nacional estejas operacional para a Luta que se avisinha.
Por isso, desculpa lá insistir, mas já me podes adiantar alguma coisa sobre o e-mail que te enviei há umas semanas sobre dia 26 de Junho?
É que precisamos saber se pode ser nesse dia ou se é necessário ajustar datas, ou mesmo se voçês podem.
bjs
Olga

Maria disse...

Por muito que alguns tentem a História não se apaga. O rapaz saberia do que falava, e porque falava assim. Só ignorava quem eram os seus ouvintes...
Imagino o que poderás ter sentido quando passaste frente à casa onde viveu Amilcar Cabral...

Beijo

samuel disse...

Tal como cá, muita gente não se entende com os meandros da História recente por que passou e sobre que nome dar aos bois que estiveram e estão instalados nas pastagens...