terça-feira, setembro 22, 2009

Reflexões lentas - a propósito do "clima"

Ontem no fim de um dia cansativo, uma conversa. Um pouco em carne viva. Com uma das pessoas que me são mais queridas - até porque muito querida foi.
Na conversa, e a propósito de coisas de hoje, veio à baila uma situação de há oito anos, e eu disse-lhe quanto me chocara, para além do caso pessoal que não esquecerei nem a que me habituarei, uma reacção de um fulaninho à minha indignação por publicamente ter sido sugerido, em pura invenção mas com claríssima intenção, que "eu me vendera" para ter benefícios de ordem política. Essa reacção foi "qu'é que tu queres? disse isso porque em política vale tudo!".
Pois o meu interlocutor de ontem, na inhabitual longa conversa, saiu-se com esta "... é!, é a porca da política". A esta frase reagi. Com uma calma e uma contenção também inhabituais, mas que hábito têm de se tornar: "Não, meu filho, não é a porca da política, é a política porca!"
E dormi (pouco e mal) sobre a nossa conversa e esta troca de frases.
.
O ser humano é social por sua segunda natureza, e a política é-lhe inerente e igual a acção no colectivo. Em que não há ilhas nem Robinsons Crusoés a não ser em ficção (e mesmo aí tem de se arranjar um Sexta-Feira...). E pode ser (deve ser) a actividade mais nobre. porque é a assunção de que somos também os outros.
Vê-la emporcalhada custa muito! Dói.

4 comentários:

samuel disse...

Que fazer? Conviver com os "emporcalhantes", sendo constantemente salpicado (pelo menos), ou correr com eles, sendo confundido com um totalitário intolerante (pelo menos)?
Eu sei... eu sei que não é bem uma coisa nem outra... mas é uma trabalheira!...

Abraço?

Maria disse...

Eu já não reflicto sobre o que oiço. Ou o que me dizem. Porque quando chego a casa venho esgotada de uma ou outra conversa mais acesa, em que o preconceito é o que me dá mais trabalho, mesmo...
Preocupada estou, pois.

Abreijos

Rui Silva disse...

Nem mais.

svasconcelos disse...

Sim, a política é-nos intrínseca, somos todos políticos, quanto mais não seja pela tal segunda natureza social que se afirmou no post. A política, enquanto instrumento de sociabilização, motor de luta e mudança por um colectivo é do mais sublime que há e não tema nada de "porco".
E ocorreu-me ir buscar Brecht, a propósito:
""Não há pior analfabeto que o analfabeto político (...)
é tão burro que se orgulha de o ser e, de peito feito, diz que detesta a política (...)
da sua ignorância política é que nasce (...) o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, desonesto, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo." O que emporcalha a política...
bjs,