quarta-feira, dezembro 09, 2009

Excertos de cartas de um certo Carlos, alemão, a um tal Frederico, "inglês", e a outros amigos (alguns nem por isso...) - 4

Na preparação/construção desse obra O Capital, escrevia Carlos a Frederico, a expor, a pedir opiniões, correcções, o que fosse…



2 de Agosto de 1862
… No capital distingo duas partes: o capital constante (C) (as matérias primas, as máquinas, os utensílios, etc.) cujo valor é simplesmente recuperado no valor do produto, e o capital variável (V), ou seja, o capital utilizado para pagamento de salários. Este último contém em si menos trabalho materializado que o que fornece em troca. Por exemplo, se o salário diário é igual a dez horas, o operário trabalha durante doze horas, ele restitui o capital variável e mais um quinto desse capital variável (duas horas). Chamo a esse excedente a mais-valia (m-v). Suponhamos que a margem de m-v é dada e que é igual, por exemplo a 50%; neste caso, o operário, num dia de trabalho de oito horas trabalha quatro horas para si e quatro horas para o seu patrão.
… Em tais condições, admitindo que o grau de exploração do operário é o mesmo em diferentes ramos da produção, os capitais de uma mesma grandeza nos diversos ramos da produção darão somas muito diferentes de m-v e, por causa disso, taxas de lucro diferentes, não sendo a taxa de lucro nada mais que a relação entre a m-v e o capital social aplicado.
Isto dependerá da composição orgânica do capital, isto é, da sua divisão em capital constante e capital variável. Suponhamos que o sobre-trabalho é igual a 50%, se, por exemplo, uma libra esterlina = uma jornada de trabalho (ou a soma das jornadas de trabalho de trabalho de uma semana), a jornada de trabalho = 12 horas, o trabalho necessário (reproduzindo o salário) = 8 horas, então o salário de 30 operários (ou das jornadas de trabalho) = 20 libras e o valor do seu trabalho = 30 libras esterlinas. O capital variável correspondente a um operário (por um dia ou por uma semana) = dois terços de uma libra, e o valor criado pelo operário = 1 libra.
A soma de m-v que produzirá um capital de 110 libras nas diferentes empresas será muito diferente de acordo com a proporção em que um capital de 100 libras se subdividirá em C e V.
Se, na indústria têxtil, por exemplo, a composição do capital é tal que C= 80 e V = 20, o valor do produto = 110 (com uma m-v, ou sobre-trabalho, de 50%); a massa de m-v = 10 e a taxa de lucro = 10%, sendo esta última a relação entre 10 (m-v) e 100 (o valor de todo o capital aplicado).
Suponhamos que numa grande fábrica de vestuário a composição do capital é C = 50 e V = 50. O produto será = 125, a m-v (com a taxa de 50% como no exemplo anterior) = 25 e a taxa de lucro = 25.
Vejamos uma outra indústria, onde a relação seja C = 70 e V = 30. O produto será = 115, a taxa de lucro = 15%.
Por último, uma indústria onde a composição seja C = 90, V = 10. O produto será, assim, = 105 e a taxa de lucro = 5%.
Com o mesmo grau de exploração do trabalho, com os capitais da mesma grandeza, teremos em diferentes ramos da indústria somas de m-v muito diferentes e, em consequência, taxas de lucro muito diferentes.
Tomemos os quatro capitais acima mencionados:
1. C80V20 valor do produto = 110 taxa de lucro = 10%
2. C50V50 """""""""""""""""""= 125 """""""""""""""= 25%
3. C70V30 """""""""""""""""""= 115 """"""""""""""""= 15%
4. C90V10 """""""""""""""""""= 105 """"""""""""""""= 5%
______________________________________
O capital = 400.................. O lucro = 55 (errado na edição de onde traduzi - SR)
A taxa de m-v é, em todos os exemplos de 50%. A taxa de lucro é, em média, de 13,75%.
Se se calcular sobre o capital total da classe (400) a taxa de lucro será de 13,75%. Ora os capitalistas são irmãos. Graças à concorrência dos capitais (afluxo e refluxo de capitais de um ramo da indústria para outro), chega-se ao resultado dos capitais de uma mesma grandeza em diferentes empresas, apesar das composições orgânicas diferentes, darem a mesma taxa de lucro médio. Noutros termos, um capital de 100 libras esterlinas que, numa empresa determinada, obtém o lucro médio, obtém-no não enquanto capital com essa aplicação específica, e não de acordo com a relação segundo a qual ele próprio produz a m-v, mas enquanto uma fracção determinada do capital tendo essa aplicação específica, e não de acordo com a relação segundo a qual ele próprio produz a m-v, mas enquanto fracção determinada do capital total da classe dos capitalistas.
A parte do capitalista e os dividendos que obtém são pagos proporcionalmente à grandeza dessa parte sendo retirados da soma geral da m-v (ou trabalho não-pago), que obtém o capital variável total de toda a classe (isto é, o capital despendido com os salários). Para receberem o mesmo lucro médio, cada subdivisão 1, 2, 3, 4 no exemplo citado, deverá vender as suas mercadorias por 113,75 libras; 1 e 4 vendendo acima do seu valor, 2 e 3 abaixo do seu valor.
O preço assim determinado = despesas do capital + o lucro médio de 10% é o que Adam Smith chama “preço natural”, preço de produção, etc. É a esse preço médio que se reportam os preços das diferentes produções (pelo fluxo e refluxo do capital). Assim, a concorrência entre os capitais leva as mercadorias, não ao seu valor, mas ao seu preço de produção que, segundo a composição orgânica dos capitais, é ou maior ou mais pequeno ou igual ao seu valor.

4 comentários:

Anónimo disse...

E que é que o estimado Sérgio Ribeiro responderia hoje ao tal Carlos alemão acerca do assunto exposto?
Seria interessante dar-nos a sua opinião de especialista no assunto, visto ser economista de formação.
AF

Nelson Ricardo disse...

Prometo a mim mesmo que um dia hei-de compreender o que está aí escrito.

Curioso do Mundo disse...

A partir do início do século XX entra em cena um tal de Vladimiro,não é Sérgio? E passados +-100 anos a pesquisa,o método e a luta continuam não é verdade?


Saúde

José Rodrigues disse...

O casino hoje esteve em polvorosa com outllok,ratings negativos sobre Espanha,Portugal,Grécia.Com estes palavrões onde é que o Carlos,o Frederico,o Vladimiro e o nosso grande colectivo,metem o bedelho?

Abraço