domingo, março 13, 2011

Reflexões e recordatórias sobre aulas práticas e revendo matéria dada

Na minha aprendizagem pré-primária da reflexão e da luta política tive a sorte (e sorte foi!) de ter mestres e companheiros que, com toda a clareza, me colocaram, em aulas práticas, a questão luta de massas/luta institucional. Não em termos de alternativa redutora, mas no quadro de uma inter-acção, em que se valorizavam frentes de luta, em que o fundamental era ter um sentido para a luta e avaliação (baseada nesse sentido para a luta) para os meios a utilizar.
Daqui, o enraizamento, por essa via das "aulas práticas", para o que foi sendo a preparação teórica. Muitas vezes isolada, solitária, contra a corrente do pensamento dominante, do pensamento único.
A propósito de que vem isto?
Ao longo de décadas, vim acompanhando os esforços para se impor, como expressão (da) política, o pressuposto que esta era democrática quanto mais representativa fosse, quando mais a cidadania se reduzisse a adoptar (e melhorar) estruturas institucionais em que alguns "escolhidos" para representar institucionalmente todos o fossem por via de actos periódicos, no intervalo dos quais os mandantes apenas teriam que suportar as formas de fazer política dos "políticos" eleitos para o serem nesses intervalos.
Entre-actos, pontualmente, no acto seguinte de escolha dos "escolhidos" se decidiria, politicamente, que outros (ou os mesmo) continuariam, até ao acto a seguir a esse seguinte, a ser "os políticos" (a todos os níveis, desde os locais - freguesias por exemplo - até aos de estruturas em que fosse necessário escolher quem nos representasse - parlamentos europeus, por exemplo).
Pelos meus primórdios e caminhos percorridos, sempre combati/emos esta concepção de democracia às fatias temporais e a níveis secccionados de representação. A democracia não seria, na nossa concepção. uma forma de delegar poder, por parte de quem o tem, num reduzido número de eleitos. Só haverá democracia se exercida sem hiatos temporais, se em permanente esforço e reforço da participação de todos. Em articulação com formas institucionais de se exercer a prática política.
Assim me revejo na luta de massas, e em colectivo me integro nela. E, atenção!, não estou a fazer teoria, ou a especular intelectualmente. Para mim, isto ou é prática política, ou não é nada! E é-o desde a prática política individual à dos colectivos em que o indivíduo está, inevitavelmente, inserido.
Por isso, qualquer acção de massas é política, explicitamente se contra as políticas dos "políticos" que, abusivamente, se servem das expressões institucionais da política para as impor como sendo democráticas. E o fazem apenas porque eles foram... os escolhidos, por via de um voto, em que a maioria foi não esclarecida porque não informada ou deformadamente informada, que os tornou em "os políticos".
E assim vai sendo até que. Até que, a juntar ao trabalho constante, político, de quem tem da política a concepção de que todos - e sempre! - são políticos, há um estranho despertar, um acordar para que assim não pode continuar. Importante, decisivo, de massas. Com a cautelar prevenção de que esse acordar pode ser apenas um sobressalto, um grito de revolta, logo amordaçado - ou "recuperado" -, ou pode ser canalizado para a não construção, ou destruição, da tomada de consciência da importância da articulação luta de massas/luta institucional, para um futuro outro, para um projecto de sociedade, nas suas bases, princípios e valores, conhecido, discutido e assumido, o que não quer dizer unânime ou quer dizer não-unânime.
Como é evidente, toda esta reflexão se passa tendo por pano de fundo um anterior histórico que veio dividindo os seres humanos por interesses agrupados e contraditórios (em classes), que, com as suas forças, definem relações de força que condicionam o que é a democracia enquanto estrutura organizacional de iguais (em teoria) que o não são (nas práticas políticas).

2 comentários:

samuel disse...

Essa "democracia" intermitente acaba enferrujada por falta de uso e, no limite, abandonada, por parecer inútil...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Luta de massas organizada,não apenas como sobrssalto,é a meu ver uma expressão clara de democracia.
Embora o sobressalto possa ser um óptimo alerta.

Um beijo.