sexta-feira, outubro 25, 2019

O que se passa visto/dito do outro lado da luta

 - Edição Nº2395  -  24-10-2019

Prédeterminação

Para o imperalismo, nenhuma nação tem o direito à autodeterminação. Há sempre uma condição prévia, sem a qual esse direito nunca será invocado: o interesse imperial.
Quanto o imperialismo pretende libertar uma nação da influência de outra potência, atribui-lhe, mais que o direito a autodeterminar o seu futuro, um futuro já predeterminado, onde uma independência formal vem acompanhada da correspondente base militar e de uma dívida externa a condizer.
Similarmente, se se trata de região já controlada, o direito de autodeterminação é igualmente negado, agora acusando de separatismo, primeiro passo para uma acusação de terrorismo e para legitimar toda a repressão realizada para defender a ordem prédeterminada.
E em todas as situações, o imperialismo tenta virar os sentimentos nacionais contra a necessária união dos trabalhadores de todas as nações.
O resto é a habitual hipocrisia. A Crimeia está sob bloqueio porque exerceu o seu direito à autodeterminação. Em Espanha a opressão abate-se violentamente contra os que lutam pelo direito de autodeterminação na Catalunha ou em Euskadi. O Kosovo continua sob ocupação militar para impor a ordem prédeterminada.
Uma hipocrisia que não é exclusiva do imperialismo e da sua obediente comunicação social: os mesmos que retiram, todos os dias, instrumentos de soberania aos povos de Espanha,  para os depositar aos pés das multinacionais, tentam dirigir todos os lados da luta em torno da questão nacional. Como aliás acontece em Portugal, onde de bandeira na lapela tantos governaram ajoelhados perante as imposições da UE.

Os comunistas unem as tarefas nacionais com as da luta de classes, conscientes de que a plena autodeterminação dos povos levará à Internacional.


Manuel Gouveia
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... e lembre-se!,
quando a correlação de força obriga a recuar
vão até à (ameaça ou tentativa de) secessão
- China, Coreia, Vietnam, Portugal (Rio Maior)

3 comentários:

Olinda disse...

Nunca a palavra democracia foi tão aviltada como nesta fase de crise do capital.Bjo

João Baranda disse...

"Os comunistas unem as tarefas nacionais com as da luta de classes, conscientes de que a plena autodeterminação dos povos levará à Internacional."
Pelo que leio mantem-se (pelo menos dentro de alguns setores do PCP) a ideia de exportar a ideia da revolução proletária a todos os cantos do mundo; uma revolução guiada pela tal vanguarda mais esclarecida e que aguarda ainda pelo momento mais oportuno. Enquanto esse momento não surge há que concorrer a eleições burguesas para tentar minorar os danos que o capitalismo (mesmo de cariz social) traz aqueles que vivem só do trabalho.
Julgo que este dogmatismo nem sempre favorece o PCP nas atrás referidas eleições ... mas terá o mérito de manter a pureza ideológica do partido.
Abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Meu caro Baranda, essa ideia de exportar!..., a exploração do homem pelo homem é universal, imperialista, a luta contra ela tem de ser UNIVERSAL feita por cada um e nas condições LOCAIS.
As eleições são frentes de luta locais. Olhe o que está a passar na América do Centro e Sul. É também a nossa luta mas não somos que, comunistas portugueses, que estamos no centro dela nem temos/devemos ser mais do que solidários.
Duas observações: o tempo não tem a nossa individual dimensão, o espaço não é a nossa casa e arredores. Mais uma: o Partido é uma organização com uma ideologia com que se é (ou não...) coerente.
Abraço