sexta-feira, março 13, 2020

A talhe de foice

Em todo o tempo, devemos estar informados. Para isso, devemos procurar informação. Credível e não manipuladora. Só assim um cidadão pode ser... ser um cidadão.
Neste tempo alucinado, em particular, há que bem escolher quem e como e onde nos informam e comentam.
Acabado de ler o Público de hoje, achei curioso (?) o espaço concedido (com fotografias e tudo) a opiniões-BE, não me surpreendendo o zero de informações sobre o que possa respeitar a posições ou opiniões-PCP. E ele há-as. e exigindo leituras! 
Retiro duas do avante! acabado de sair.
Para serem lidas, pelo menos por nós!  
A primeira (página  32):




 - Edição Nº2415  -  12-3-2020

Xeque-mate

Esta crónica podia ser sobre o COVID-19, o nome dado pela Organização Mundial da Saúde à doença provocada pelo novo coronavírus, que pode causar infeção respiratória grave, como a pneumonia, e que foi identificado pela primeira vez em humanos, no final de 2019, na cidade chinesa de Wuhan.
Esta crónica podia ser sobre as notícias (?) que diariamente nos servem os órgãos de comunicação social sobre a matéria, em que à declaração – sempre indispensável – de que é preciso evitar alarmismos, se segue regra geral o testemunho (?) de A, B ou C dando conta de uma alegada situação catastrófica ou traçando um cenário apocalíptico.
Esta crónica podia ser sobre a pretensa falta de máscaras, ou de camas, ou de ambulâncias, ou de kits para testes, ou de atendimento, ou de não sei mais o quê reportada a toda a hora por gente que não resiste à tentação de ter o seu minuto de glória mediática, ainda que seja para dizer enormidades.
Esta crónica podia ser sobre os próprios media e seus diversos fazedores de opinião, que à boleia desta nova epidemia e sob a capa do «interesse público» bolsam sem escrúpulos o seu ódio visceral ao Serviço Nacional de Saúde, não por acaso um dos melhores do mundo apesar de todas as suas muitas deficiências, procurando fazer crer que para ser eficaz o SNS teria de ter disponíveis milhões de camas, milhões de hospitais, milhões de médicos, milhões de enfermeiros, milhões de ambulâncias....
Esta crónica podia ser ainda sobre o oportunismo dos que clamam já pelo erário público – o dinheiro de todos nós – à conta de putativos «prejuízos», reportando como «perda» o que esperavam ganhar, como se fosse a mesma coisa ficar com menos do que se tem e lucrar menos do que se espera.
Esta crónica podia ser sobre tudo isto, mas confesso que a saga coronavírus se tornou intolerável, intragável, impossível, horrível, infernal. Prefiro por isso aproveitar estas poucas linhas para uma modesta homenagem ao actor franco-sueco Max von Sydow, que morreu este domingo em Paris, aos 90 anos.
Considerado o «último portador do estandarte de Ingmar Bergman», um dos nomes maiores do cinema de todos os tempos, Max von Sydow ficará para sempre ligado ao filme Det sjunde inseglet (O Sétimo Selo, em português), escrito e dirigido por Bergman, em que interpreta um cavaleiro que volta da Cruzada da Fé e encontra a sua terra sob a peste e a morte. Deparando-se com a personificação da morte, o cavaleiro propõe-lhe uma disputa de xadrez, para ganhar tempo e indagar sobre o sentido da vida e, logo, o sentido da morte, justamente o tema do filme. À morte ninguém escapa, mas o homem que joga com a morte ganha tempo para uma família de artistas poder fugir e sobreviver.
Em tempo de barbárie, é reconfortante este simbólico xeque-mate da arte à morte.




Anabela Fino

1 comentário:

Olinda disse...

Esta semana comecei o Avante com a Anabela fino.É sempre com prazer que leio o que escreve:possui uma ironia muito subtil que me agrada.Bom fim de semana.Bjo