sexta-feira, abril 24, 2020

Descarrila-mentes e dis-la-tes - 5 - austeridade


Ontem, nas instâncias ditas europeias, ter-se-á confirmado, mais uma vez, por que carris e descarrila-mentes (via comunicação "social") anda a informação ao povinho.
Depois da insistência num Plano Marshall pintado com as cores róseas de um passado fictício de solidariedade que nunca existiu, aí está a descarrilada informação para convencer mentes massacradas com informação descarrilada, cintilando com milagres e luzes ao fundo de túneis que não têm saída, a adiar para nunca mais o que se publicita que será qualquer dia.
Vivemos num jogo de enganos, fazendo de todos nós ou ignorantes ou parvos. Mas, no entanto, respeitáveis cidadãos porque de nós se espera o voto... ou a abstenção que querem dizer “continuem a dar o poder (político e servil) aqueles que servem o poder financeiro instalado”. Depois, logo se verá (e a médio prazo todos estaremos mortos, se não for antes…).

O que está a servir de palavra-passe neste jogo é austeridade. Porque teve grande peso, por aquilo que, em passado recente, a identificou, e a que se diz, afirma, jura, não querer voltar, enquanto se seguem os passos que levaram a esse passado e… à austeridade!
Tudo parte do pressuposto indiscutível, inabalável, de que se chegou ao fim da História (enquanto há História ou quem a conte!), no que respeita às relações sociais.
Tempo de espantalhos que se acenam como fantasmas que se pretende remover da fresca memória e que, sorrateiramente, se vão alindando, assim se evitando que haja oportunas críticas e recusa. Assim a modos  de "estejam descansados, nem pensar em repetir o que foi tão mau", e se anula ou retarda  o protesto, reacção, revolta, revolução, por se estarem a repetir os passos que  replantarão os fantasmagóricos espantalhos que dão pelo nome de austeridade.
Um exemplo, para acabar. Num dia, lê-se em editorial de jornal de referência uma sensata e informativa posição sobre a  encenação das celebrações do 25 de Abril na actividade normal e ininterrompida da Assembleia da República, nas condições de anormalidade em que estamos. Congratulámo-nos.
No dia seguinte, o mesmo director-fundista escreve sobre O regresso da palavra maldita (não diz a palavra no título e mais maldita a torna pelo que escreve) e, a meio do que escreve, arruma como devaneios do que/de quem questiona a infinitude do dinheiro, que ele aceita como inevitabilidade intangível, e  como devaneios arquiva o que/quem fala da indizível perversidade do capital, para ele definitiva.
E nós? os tolinhos que devaneamos sobre a infinitude do dinheiro que se tornou imaterial por humana decisão desumana e serve de armadilha à matéria que somos, e temos a estultícia de dizer o indizível, a perversidade do capital que é, tão só, um modo de relação entre humanos.
Porque, porra!, terá a Humanidade de se conformar com a perversidade da relação social que assenta na exploração de uma classe social sobre os que trabalham e querem viver, porque terá de aceitar que toda a construção secular, milenar, resultado da relação do ser humano com a natureza seja perversamente aproveitada por alguns em desumana desigualdade?
Quer-se um exemplo?:  desemprego, lay-off, precariedade para indivíduos e colectivos que trabalham, manutenção de lucros, dividendos, prebendas  para os que exigem protecção para aquela egoísta iniciativa privada que usa a falácia da ser para bem de todos (a bem da nação!, como ouvi em pequenino e recusei quando comecei a crescer), como já o era para os escravos e para os servos.

3 comentários:

Olinda disse...

Descarrila-mentes que não conseguem fazer com que a humanidade aceite a "ordem única"do poder dominante,Bjo

Maria João Brito de Sousa disse...

Neste dia de respirar fundo, recordar e sorrir - estiolaríamos, sem esses momentos... - desejo um festivo 25 de Abril!

Justine disse...

Modo divertido mas didáctico de falar de coisas muito sérias!