- Nº 2554 (2022/11/10)
Eleições nos EUA
Os EUA foram a votos na passada terça-feira. Nas eleições intercalares estiveram em jogo todos os 435 mandatos da Câmara de Representantes, um terço dos 100 mandatos do Senado, 39 governadores de Estados, além de outros eleitos estaduais e locais. Mais uma vez a comunicação social acompanhou a par e passo estas eleições.
Exageros e subserviências de variado tipo à parte, é verdade que as eleições na maior potência imperialista do mundo têm importância, não tanto pelos resultados, mas por aquilo que evidenciam. Como sempre, tudo é decidido entre as duas cabeças de um sistema político totalmente controlado pelo poder económico, que «expele» do sistema quaisquer expressões políticas dissonantes.
Contudo, há novidades. Estas eleições evidenciam que esse sistema de poder está em crise e percorrido por contradições muito fundas decorrentes essencialmente de dois factores.
O primeiro é a situação económica e social nos EUA. A alta inflação, de 8,2 por cento, convive com insuportáveis taxas do juro e com uma perspectiva de redução da taxa de crescimento do PIB. Este cocktail desenvolve-se sob o lastro da maior desigualdade na distribuição da riqueza e dos rendimentos dos últimos 100 anos, bem expressa no facto de três multimilionários deterem uma riqueza acumulada equivalente à da metade mais pobre da população (160 milhões de cidadãos) ou de 45 por cento dos rendimentos nos EUA estarem a ser canalizados para um por cento da população.
Como seria de esperar, a administração Biden não beliscou sequer essa tendência. Pelo contrário, com os milionários gastos na guerra na Ucrânia e com os reflexos da sua estratégia de confrontação com a Rússia e a China, a situação social degrada-se e a economia tende a piorar. É neste contexto que a extrema-direita ensaia regressos, tirando partido do facto de a eleição da administração democrata não ter significado a tão prometida mudança.
O segundo é o mais do que evidente declínio relativo dos EUA no plano internacional. A estratégia de confrontação até pode ser a única forma que a grande potência em decadência tem de tentar conter essa tendência, mas os resultados não estão a ser os desejados e isso está a criar sérias rupturas no establishment que divide o poder.
António Santos
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