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sexta-feira, agosto 19, 2011

Talvez uma curva, talvez uma derrapagem...

Nenhuma estrada é uma recta (seja com c, seja sem c... escolha quem leia). Até as autoestradas, desenhadas para cortarem a direito e sempre-a-andar (fora as portagens, claro) se escapam a ter curvas. E quem diz curvas, diz derrapagens. O que torna particularmente perigosas as acelerações em tempo de chuva ou de neve. Ou mesmo só de forte ventania. Por inicativa privada (mas privada de quem?, ou privada de quê?). Mas quem é capaz de tirar o pé do acelerador quando o acelerador é o própprio pé...ou o pé do próprio
Também a História, também a História. 
Como é evidente, porque a História é uma estrada que cada um, em colectivo e sem tempo espartilhado, isto é, em séculos e milénios, projecta, constrói e (per)corre. Sem a mudança de marcha atrás. 

Atenção aos sinais: 

quinta-feira, junho 23, 2011

A metáfora da metáfora

Texto recuperado para hoje, e de que deveria alterar o título e subtítulo´(e também o texto), neste dia de Conselho Europeu em Bruxelas, para A metáfora da metáfora ou a política ao nível das massas e As andorinhas e o amor em matéria de política, tendo sempre presente a luta de classes. Mas vai assim... sem mudar nada. Metaforicamente.

A metáfora da metáfora
As andorinhas e o amor em matéria de ensino

Adormeci tarde, sobre uma página deste livro (Chagrin d'école, de Daniel Pennac).
Acordei apressado em o continuar. Preparo-me para saltar da cama, mas uma subtil barulheira sustém-me. Há um desaustinado pipilar à volta da casa. Piares e mais piares, ao mesmo tempo intensos, constantes e contidos.
Ah! pois é… é a partida das andorinhas. Todos os anos, por esta altura, elas marcam encontro nos fios da electricidade. Campos e bordas das estradas cobrem-se de despedidas, como numa imagem habitual, de fotógrafo amador.
Preparam-se para migrar. É a euforia dos reencontros e das partidas. As que ainda voltejam no céu pedem autorização para alinharem com aquelas já pousadas nos seus lugares nos fios, excitadas pelo desejo de horizonte.
“Arrumem-se, vá, toca a voar!”
“Já vou, já voo!”
Há um frenesim de voos de chegada, de voos de falsas partidas, de "tudo a postos?, aos seus lugares".
Uma agitação que vem do norte, em batalhões hitchcockianos, rumo ao sul.
E o livro conta o que se ouve, e sente, e vê. E mais... 
Mais ou menos assim:

«(...) essa é precisamente a orientação do nosso quarto: norte, sul.
Uma clarabóia na parede virada a norte, uma dupla janela na parede virada a sul.
E todos os anos o mesmo drama: perturbadas pela transparência dessas aberturas envidraçadas em frente uma da outra, um bom par de andorinhas atiram-se de cabeça contra a clarabóia.
Por isso, nada de escrita esta manhã. Abro a clarabóia norte e a dupla janela sul, e mergulho na nossa cama. E ali ficamos nós, ocupados por uma manhã a observar esquadrilhas de andorinhas a atravessarem este nosso esconderijo, de súbito silenciosas, intimidadas talvez por estes dois corpos alongados que as vêem passar em revoadas.
Só que, de um lado e de outro da dupla janela, ficam dois estreitos e verticais pedaços de parede. O espaço aberto é largo entre as duas molduras das janelas, que dão passagem à vontade a todos os pássaros do céu… mas nunca falha!, há sempre três ou quatro esparvoadas que chocam com os pedaços de parede aos lados da janela. São as desalinhadas, as que não seguem o caminho direito e aberto. As que passam ao lado, batendo as asas.
Poc! Tombam no tapete.
Então, um de nós dois levanta-se, pega na aturdida andorinha na concha da mão – não pesam nada, esses ossos cheios de ar -, espera que ela acorde, e atira-a pelos ares para se juntar às companheiras. A ressuscitada, ainda um pouco grogue, ziguezagueia no espaço reencontrado, depois pica a fundo para o sul, e desaparece no seu futuro.
E pronto!, a minha metáfora vale o que vale mas é a isto que se assemelha o amor em matéria de ensino, quando os nossos alunos voam como pássaros loucos:

fazer sair do coma escolar
uma caterva de desorientadas “andorinhas”.

Nem sempre se consegue, falha-se por vezes no apontar do rumo, algumas delas não acordam, ficam no tapete ou partem o pescoço numa vidraça mais adiante. E permanecem nas nossas consciências como buracos de remorsos onde repousam as andorinhas mortas no fundo do nosso jardim.
Mas temos sempre de tentar!
Nós temos tentado. Eles são os nossos alunos.»

E nós, nós somos os que com eles aprendemos.


segunda-feira, janeiro 24, 2011

Metáforas, parábolas e coisas assim

História (ou anedota) antiga recuperada e adaptada nestes tempos FaMIgerados:
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O pai aproveitava todas as oportunidades para “dar lições ao miúdo”. Era um "paidagogo".
Daquela vez, foi sobre dinheiro. Aliás, como em muitas vezes. Mas, daquela vez…, a “lição” tivera como tema a circulação do dinheiro.
Disse o "paidagogo": “… pois é, meu filho, é assim! Fica sabendo esta regra para a vida: dinheiro puxa dinheiro”. E, convencido de ter dito o que era preciso ser dito, acabou a aula.
O miúdo reteve.

Ficou a matutar. Sabia da gaveta em que o pai guardava o ordenado quando o trazia do armazém onde trabalhava, antes de o distribuir pelos envelopes do “orçamento familiar”. Um para a renda da casa, outro para entregar à “dona da casa” para a gestão doméstica, mais um para “extravagâncias” – que era sempre substancialmente transferido para outros fins, dada a necessidade de “orçamentos rectificativos” –, ainda um com as "sobras" para “pôr no banco” (e para ir sendo levantado se... isto é, quando fosse preciso, substituindo o esburacado “pé de meia”) e ficavam umas moeditas de trocos como que esquecidas, e que parece que sabia bem reencontrar como se fosse por acaso.
Era uma gaveta na secretária de herança e de estimação, a única que tinha chave, chave que o pai guardava cuidadosamente, só por hábito que não por precaução.
O miúdo sabia de todas estas "operações de tesouraria", aliás pretexto para outras aulas de economia.
Matutou, matutou, e resolveu passar às provas práticas. E úteis, esperava...
No dia do recebimento do ordenado e acções sequentes, quando tudo ficou sossegado e silencioso, sozinho em casa por um acaso, com uma moedita sua começou a fazer fosquinhas na ranhura da fechadura da gaveta, para ver se a moeda puxava as outras que, lá dentro, tinham ficado espalhadas.
E tanto fez – até acompanhado por uma espécie de lenga-lenga para ajudar: “dinheiro puxa dinheiro, dinheiro puxa dinheiro...” – que os deditos afrouxaram e… a moeda caiu dentro da gaveta, passando a ranhura da fechadura.
Ficou atrapalhado. Nas estritas regras morais que se impunham naquela casa, o miúdo sentiu-se em falta, e – também! – receou que o pai descobrisse uma moeda a mais quando fizesse a vistoria ao “cofre”-gaveta. Tudo razões (umas mais morais que outras) para confessar o pecadilho. Contei à mãe, sempre disposta a amaciar as penitências, se lugar a elas houvesse.
A mãe riu e resolveu ser também pedagoga, embora "mãedagoga" não dê tanto jeito como "paidagogo"
“Olha meu rico filho, o teu pai tinha razão… moeda puxa moeda, e as moedas que estavam na gaveta puxaram a tua moedita… diz-lhe adeus e é esse o teu castigo!”
O miúdo nunca mais se esqueceu. Ao longo da vida tem visto como as muitas moedas de uns poucos puxam as poucas moedas de muitos.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Metáforas, parábolas e coisas destas

Na para mim inesquecível visita à Escola Profissional de Salvaterra de Magos, durante a sessão proporcionada de contacto com alunos, que encheram completamente o amplo auditório da escola (que conheço bem de outras acções), houve verdadeiro debate. Não daqueles em que os alunos levam trabalho de casa, ou da aula, numas folhinhas com perguntas bem preparadas e revistas. Foi mesmo… aberto, espontâneo.
Só fiquei com dois pesares: o de não ter havido raparigas a colocar questões ao Francisco Lopes, e o de ter sido tão escasso o tempo (talvez sem este inevitável constrangimento o outro pesar tivesse sido anulado).
Mas venho aqui, agora, porque uma pergunta e uma resposta não me saem, resistentemente, do rol das coisas para contar.
Perguntou um aluno, lá de trás, da última fila, o que é que o Francisco Lopes pensava do “primeiro comunismo” e como é que ele via o “comunismo moderno”.
Francisco Lopes não titubeou, nem entrou na deriva pedagógica (como seria o meu vício) de procurar dar às palavras um sentido correcto, exacto; agarrou na essência da questão e, em dois traços, deu a resposta desenhando o que chamou a metáfora do Velho do Restelo, daquele velho que, no Restelo, praquejava contra a partida das caravelas, e terá visto justificadas as suas imprecações e confirmadas as suas profecias quando as primeiras caravelas se afundaram… mas as que as seguiram fizeram o caminho da descoberta de caminhos, o caminho da história, desmentindo os velhos do Restelo. Eis, como disse Francisco Lopes com as suas palavras que contaram a metáfora por ele adaptada, o “comunismo moderno”! E digo-o eu, pelas minhas com que o conto com a maior fidelidade de que sou capaz.
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óleo de Carlos Alberto Santos