Já participei em dezenas de campanhas, políticas ou cívicas, antes e depois do 25 de Abril de 1974. Julgo que em nenhuma senti a incomodidade que esta, para este referendo, me provoca.
Sou, inequivocamente, pelo SIM. Tenho razões, convicções, argumentos para esclarecer a minha posição.
Antes de mais porque, sendo (apaixonadamente) pela vida, apenas aceitando o aborto como acto responsável, recuso que se imponha à consciência de outros o que vai pela nossa, que se criminalize o que é - tantas vezes, para não dizer sempre - uma das mais dolorosas decisões da vida de uma mulher ou de um casal. Pelo que, quem se sente na necessidade de fazer um aborto é - quase sempre, para não dizer sempre - alguém que, na sua consciência, não está a atentar contra uma vida, contra um ser humano, mas a impedir que o venha a ser o que ainda o não é, é - quase sempre, para não dizer sempre, alguém que é pela vida. É alguém que tem necessidade de abortar enquanto tal é possível porque, na sua consciência, não atenta contra uma vida.
Mas a minha incomodidade não está na opção de voto. Inequivocamente, SIM. A incomodidade resulta, antes de mais, de se ter sido decidido desnecessariamente este referendo ao que parece para uns portugueses imporem a outros portugueses o que não se impõe a ninguém, que parece defender o que, afinal, todos defendem, atacar o que todos atacam, e obrigá-los a tomar posições que, sendo do foro mais íntimo de cada um, os divide em bons e maus, em defensores da vida ou, por manipulada informação, faz com que outros sejam insultados, agredidos verbalmente com o anátema de assassinos (já o fui!) e, se calhar, muitas vezes por quem, ao longo da sua vida, fez vários "desmanchos", com talos de couve por exemplo, e - em toda a sua boa fé - considera quem defendo o SIM demoníacos criminosos. Assim, não. Nunca.
Pelo "não" está, com toda a (minha) certeza, muita gente que, pelas suas convicções, entende com toda a legitimidade que deve votar "não", mas o que me agride é a manipulação, a utilização verdadeiramente desumana de argumentos e de falaciosas "verdades" científicas para levar outros a votar o que se quer que se seja votado.
Obrigado a este referendo, como os meus compatriotas, estou - mais uma vez! - "em campanha". Com incomodidade mas com convicção e enorme vontade de ajudar a esclarecer.
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