quarta-feira, agosto 22, 2007

Coisas destas são para aqui e não são lá para as ficções!

Lenga-lenga para um desabafo
(para ler alto e teatralmente com os parenteses como àpartes - indicações de encenador...)


Em tempos que já lá vão
e que,
(por vezes...)
tenho a tentação
- maquiavélica… talvez malévola –
de querer ver voltar
(por um período curto, diga-se já)
para que os mais novos que eu
(que são quase todos com que convivo)
tivessem a consciência de como eram esses tempos,
e de como está a ser maltratado, desprezado,
o que para eles foi conquistado!
(E se foi dura a conquista!…)

… Em tempos que já lá vão
(– dizia eu… –)
o Excelentíssimo Senhor Ministro do Interior,
servente nomeado por Sua Excelência Excelentíssima,
o Presidente do Conselho de Ministros,
nomeava os Excelentíssimos locais,
e estes escolhiam outros que tais,
Excelências excelênciazinhas,
os vereadores veneradores
e os regedores-presidentes das Juntas de Freguesia.
E assim se vivia,
De nomeação em nomeação,
tudo a bem da nação,
sempre em pé
e sempre em paz,
… podre… mas pás catrapás!




Gritava-se: alerta!

Perguntava-se: quem manda?
Respondia-se: Alerta está! Salazar, Salazar, Salazar.
(Mas que azar… )
Só um – ele! – mandava no Governo Central
(como hoje com o Sócrates…)
Só um – o nomeado – mandava no governinho local
(como hoje com o Catarino
... é do cat’rino!)
O que vale é que nada é igual
– ou tal e qual… – ,
e que a diferença é abissal:

É que, então,
O cidadão tinha desculpa,
era uma ditadura,
a vida dura era,
a sua culpa (máxima culpa!...),
era a de se resignar
– e de se persignar –
não fosse o diabo (ou lá quem fosse) tecê-las
e lá vinham os sopapos e abanões a tempo
que (às vezes acontecia…)
atiravam um mano de um 4º andar abaixo,
ou os conservava em desumanas condições
em aljubes,
em arrecadações
caxientas,
penichentas,
bafientas…
e vá lá, vá lá
que, mal por mal,
antes ali que no Tarrafal




Mas hoje não!
Ai, não!, hoje não é assim.
Não é como era d’antes.
Se manda quem manda e como manda,
se faz quem faz o que faz,
é porque os cidadãos lá os puseram
nos sítios em que se manda,
nos lugares onde pouco se faz e muito se faz fazer,
o cidadão tem culpa
… não há desculpa (mínima desculpa…)
– ou talvez haja
… porque a informação é o que é
… porque as ilusões são o que são.

O certo,
ou o que certo não está,
é que parece igual
o que tão diferente é,
e mais diferente ainda deveria ser.
Já há quem se atreva a consentir
que o cidadão desabafe,
se queixe da vida (ou diga graçolas até…),
embora só em casa ou à esquina do café!
Mas o pior nem é isso,
o pior é estarem ao serviço,
ao serviço de quem de quem pode porque posses tem
(e de mão beijada à mão lhes foram parar)
e lixa como pode (ah!, pró que a língua ia derrapando...)

o parceiro que só trabalha e não tem dinheiro.




Isto tem de mudar tudo sem nada ter de mudar.
É preciso acordar a malta.
É o que falta!



(12.07.2007)

6 comentários:

Maria disse...

Esta lenga-lenga está fantástica.
Não sei bem porquê, Lembrei-me do "Dinossauro excelentíssimo" quando a comecei a ler...
Era tão conveniente que fosse publicada num órgão de comunicação social, para que muitos mais a lessem...

Anónimo disse...

Muito bem "arrancado", sim senhor! Grande momento de inspiração, o que mais gosto é do "mínima desculpa". Continua, vá.

Sérgio Ribeiro disse...

... minha máxima culpa...
E feliz por ter "arrancado" estes encómios. Leio coisas destas e não quero outra vida que não seja escrever!
Até acertar. Seria a reforma dourada.

Sérgio Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MJ disse...

Genial! um abraço.

GR disse...

Um grande texto!
“Um corridinho estival”. Porém, um texto para reflectirmos e nos questionarmos, porquê? a bipolarização, esta repressão psicológica, este desmedido número de desempregados, o chocante e diário flagelo de empresas que encerram e agora também as escolas e hospitais. Porquê?
“o cidadão tem culpa
… não há desculpa (mínima desculpa…)”
TEM TODA A CULPA!
Vai-nos ficar muito caro!!!

GR