domingo, agosto 26, 2007

"em memória" (primeiro editado em "ficções...")

Nestes dias, em que tanto li sobre alguém que morreu (e que respeito, agora que morreu, como em vida respeitei, porque quero, pelos vivos e pelos mortos, ter o respeito que o humano, qualquer humano, merece), impôs-se-me este papel amarelado que aqui reproduzo:

"em memória"

a todos os mortos anónimos

A todos os que morreram
..........sem que alguém o soubesse
..........salvo a polícia que os matou
..........salvo "a política" que os condenara

A todos os portugueses mortos
..........por Portugal/Povo
..........sem que os portugueses soubessem
....................do nome
....................do homem
....................da luta
....................do crime

Hoje,
com estes mortos promovidos a mortos nossos,
com a amargura de um desastre que lhes tirou a vida,
com o peso da injustiça da sua importância relativa


05.12.1980
(num dia em que houve um acidente, que me não recordo qual foi
... mas de que me ficou a memória dos seus mortos)
_______________________________________
Acrescento ainda a tempo (?!):
Curioso, fui investigar. E estou a dizer, sem me conter, "é espantoso!, é espantoso!"
É que esses mortos, promovidos a "mortos nossos", com o peso da injustiça da sua importância relativa (que o podia ser por negativa, por terem vivido e morrido anónimos, ou que o podia ser por empolada por terem vivido e morrido em excessiva notoriedade), foram... Sá Carneiro, Amaro da Costa e quem os acompanhava no dia 4 de Dezembro de 1980.
Ele há coisas...
Por isso, isto tudo vai para o anónimo. Não tem nada de ficção!

5 comentários:

GR disse...

Bonita homenagem a todos os que já partiram!
A morte é sempre uma perda triste, para quem fica.
Mas quando não gosto da pessoa em vida, é-me indiferente a sua “partida”.

GR

Mar Arável disse...

Admito que adversários meus respeitem os que me são queridos.

Aprendi que o contrário tambem é verdadeiro

Anónimo disse...

A morte é a morte, é claro, e é quase sempre lamentável.
Lembro-me dos pulos de alegria que dei quando o Salazar caíu da cadeira e, mais tarde, quando morreu.
Quando a morte chega, faz muita diferença se o morto é um amigo ou um inimigo. Ou não?

Anónimo disse...

Morreremos todos! Uns serão chorados pelos opressores outros pelos oprimidos, sempre assim foi e será e a cada classe haverá os que farão falta e deixarão saudade. Tudo o resto é hipócrisia!

Fernando Samuel disse...

«Faz muita diferença se o morto é um amigo ou um inimigo».
«Uns serão chorados pelos opressores outros pelos oprimidos».
Exacto: carlos miguel e cid simões puseram os pontos nos iii.