sexta-feira, janeiro 04, 2008

Transcrição com dedicatória e acrescento

Do avante! de ontem (páginas centrais: Centenário de Joaquim Rafael, tipógrafo clandestino - Uma história de dedicação escrita com letras de chumbo):


com um grande beijo de muita amizade para a Mariana
"... a própria filha, a mais nova tipógrafa do Partido."

"(...)

Das mãos de Joaquim Rafael e da sua companheira Catarina Ramos Machado saíram regularmente as edições do Avante!, de O Militante, de O Camponês. Este último periódico terá sido o primeiro que Joaquim Rafael (Albano, na clandestinidade) imprimiu, a partir do número 19. Até então copiografado, O Camponês passou a ser impresso em Outubro de 1948, numa instalação situada entre vinhedos, onde habitava o casal. No mesmo ano, a tipografia muda para Santo António da Charneca, no Barreiro, onde se mantém até 1950. Depois, em Lisboa, nos dois anos seguintes, Joaquim e Catarina imprimem o Avante! e O Militante numa casa na Rua do Cruzeiro. Nos anos seguintes, as mudanças sucedem-se, por razões de defesa da tipografia.

No distrito de Lisboa, são várias as casas para onde se mudam, continuando, com ou sem apoio de mais camaradas, a impressão de vários títulos do Partido, desde o seu orgão central a outros periódicos, como o Tribuna Militar (orgão da Comissão de Unidade Militar) e o Amanhã (jornal de jovens das Juntas Patrióticas da Juventude).

Nos anos 70, Joaquim Rafael e Catarina Ramos Machado seguiram para Rio Tinto, no Porto, onde se ocuparam da impressão de O Têxtil e A Terra.

O 25 de Abril veio encontrar este militante revolucionário debilitado por uma grave doença que haveria de o vitimar em Julho desse ano.

(...)"

acrescento:

entre os locais por onde passaram e viveram, nas muitas mudanças a que foram obrigados, está Vila Nova de Ourém, em que estiveram nos Castelos e, depois, na Corredoura, onde, também, "... a sua 'natural afabilidade' inspirava confiança, revelou a oradora (Margarida Tengarrinha), destacando a importância desta característica para a actividade clandestina."

14 comentários:

Anónimo disse...

DEsculpe a intromissão e a curiosidade mas o senhor é aquele que esteve, num Janeiro dos anos setenta, no Barreiro a despedir-se de um amigo?

Sérgio Ribeiro disse...

Julgo que sim, tudo aponta para que sim (e digo-o com emoção), pois o meu amigo deve ser filho do João Borralho, economista, de Évora?
Desejo muito que este seja um primeiro contacto!

Anónimo disse...

Corredoura:Lugar de passagem, servidão,corredor.(Do diccionário).
Justa homenagem do "Avante" a que tu meu querido camarada Sérgio também te associas, continuando a lutar sem tréguas com a tua sensibilidade, coragem e exemplo de vida, contra a outra "servidão", que serve de serventia aos do costume. Apesar de teres passado também por corredores estreitos (e que corredores..!)continuas a ser um corredor (sem aspas) de fundo.
Um abraço para ti e para a Zé.
J.Filipe

Anónimo disse...

Então e esta, do anónimo identificado!

Um abração.
J.F.

Justine disse...

E como a filha é parecida com a mãe!!

Sérgio Ribeiro disse...

Grande abraço, amigo João Filipe.
Anónimo, tu?

Sérgio Ribeiro disse...

Ah!, é verdade, João Filipe,
Corredoura: lugar à entrada da cidade de Ourém, para quem vai de Fátima, melhor, do Zambujal, onde havia (e ainda há, embora em risco) a "ponte dos namorados", e que foi ocupado por uma grande superfície Intermarché.
E onde houve, lá no começo dos anos 50 do século passado (!), uma casa alugada por este casal de camaradas (e sua filha Mariana, então Clarinha), que ali montaram uma tipografia do Partido (é preciso dizer de qual?)...

Maria disse...

Arrepiadinha fiquei, e fui ler outra vez.
E continuo arrepiada.... e com uma enorme vontade de te abraçar, porque ler aqui é diferente de ler no Avante. Aqui a leitura é colectiva, é como se falássemos todos....
E a Mariana é tão parecida com a mãe....
Obrigada, Sérgio

GR disse...

São estes relatos que nos dão força e alegria para continuarmos a luta.
Ainda bem que o camarada J. Rafael pode ver a Revolução dos Cravos.
Uma vida e uma família cheia de dignidade que tanto nos orgulha.

«o senhor é aquele que esteve, num Janeiro dos anos setenta, no Barreiro a despedir-se de um amigo?»
Timidamente, fez a pergunta. Com emoção reencontras o filho de um amigo teu.
Comoveu-me!

GR

Sérgio Ribeiro disse...

... Uma família que se continua pelos netos, pela Catarina e pelo Sérgio.
De quem eu, um dia, num Comité Central, disse "e bem bonitos eles são"... mas não foi isso que foi "colhido" por uns dois ou três que lá estavam, e sim uma outra frase da Mariana que citei depois, em desabafo ao facto da imprensa nos chamar, aos comunistas, velhos e tristes.
Episódios que nunca se esquecerão!

Anónimo disse...

Sérgio, tenho dificuldade em dizer, com palavras, como me sinto emocionada. Ainda bem que referiste Ourém (Vila Nova de Ourém, como se dizia naquele tempo). Nos dois anos e meio que aí vivemos,os meus pais e eu, tivemos a oportunidade e o privilégio de lidar com pessoas muito boas, das melhores que conhecemos durante o tempo em que vivemos na clandestinidade. Pessoas que nos estimaram como vizinhos e amigos porque sentiram que nós éramos gente boa como eles. Para isso foi decisiva a maneira de ser e de agir do meu pai. Ele conhecia e entendia tão bem os outros, fossem eles quem fossem que, rapidamente, conquistava a sua estima e confiança. Isso acontecia porque ele era um homem bom e justo, um comunista.

Sérgio Ribeiro disse...

Apanhaste-me num momento de fragilidade, campaniça-mariana-clarinha.
Tinha acabado de escrever um texto difícil, de passar o dedo pela cicatriz...
Por isso o teu comentário comoveu-me... ainda mais!

Um grande beijo (dois ou três ou quatro ou cinco... um para a tua mãe!)

Anónimo disse...

Foi um feliz acaso que me trouxe até aqui...
Talvez a presença no seu post de elementos que me tocam de maneira especial me tenha chamado a atenção...
A clandestinidade, as tipografias, o Barreiro, Abril, a citação de Margarida ( que inaugura esta semana uma exposição perto de mim, http://www.cm-barreiro.pt/agenda/detalhe_agenda.asp?Id=1204 ) no acrescento que descreve uma característica que me habituei a ver associada ao nosso Amigo comum, uma época ainda com muitos contornos obscuros para mim, enfim, toda uma atmosfera que sinto pertencer ao meu passado sem saber bem porquê e me desperta uma natural curiosidade.
Voltarei assim que puder.

Um Grande Abraço (meu e da Inês)

joão borralho

Sérgio Ribeiro disse...

Meu Caro João Borralho
De novo, o seu comentário me emocionou. Guardo do João Carlos Borralho (era o nome dele, não era?) uma recordação muito grata.
Que idade tem o meu amigo? Lembro-me onde o João Borralho estreou parte do seu enxoval de recém-casado, em 1963!
Mande-me, se quiser, o seu mail e/ou telefone.
O meu é sergio.f.ribeiro@mail.telepac.pt