sábado, maio 10, 2008

Os jovens senis

Estava um fulano a ler Marx. Como quem lava o corpo pelo avesso, como quem lava a cabeça do lado de dentro. E é interrompido. Uma voz aqui ao lado, parceira-companheira, vem imperativa "lê lá esta coisa...".
Logo o fulano, que sou eu, pediu licença ao Marx. Licença concedida, até porque ele é assim, nada de "argumentos de autoridade", sempre incitando os outros a pensar, a reflectir, sempre a dizer "lava bem a cabecinha (por dentro) e pensa por ti" (que eu saiba, a fazê-lo desde aquilo que escreveu com 17 anos - que era o que estava agora a ler -, lembrando que o "Manifesto" foi escrito tinha ele 30 anos).
E li "a coisa". Tem o título "o barão sindical" e estava no Expresso da semana passada.
Ora "aquela coisa" é exemplar do tipo de "autores" de prosa que por aí pulula. Nasceram ensinados, não estudam nada porque já aprenderam tudo, e debitam "verdades". E, "naquela coisa", o de seu nome Henrique Raposo perora sobre conceitos como trabalho, por si criados ou reconstruídos, e sobre "direitos adquiridos", no tom jocoso de quem acha que tem muita graça. Assimilando, por exemplo, "direitos adquiridos" a "i.e., emprego para a vida garantido por lei". Como é que se pode levar a sério tanto rigor?! Direitos adquiridos tratados por quem se julga com todos os direitos sem ter tido que os adquirir, e muito menos por via do trabalho.
E sobre trabalho é evidente que faz "tábua raza" do que David Ricardo e outros, antes e depois, pensaram, estudaram, escreveram sobre origem do "valor", sobre liberdade, sobre divisão natural e social do trabalho. Porque para ele, pretencioso e ignorante, tudo se reduz a ser "o trabalho um dever individual". Vangloriando-se da coragem de dizer este e outros dislates, "coragem" que só ele e próceres seus próximos terão.
Para mim, e por mim falo, são jovens de idade roídos de senilidade. Jovens senis...
Bom, e volto ao Marx, à minha higienezinha, que também é terapia de rejuvenescimento.

9 comentários:

Justine disse...

A frase chocante, entre outras era "o trabalho é um dever individual e não um direito colectivo".
Pois fazes tu muito bem, que depois de ler coisas cretinas escritaos por broncos, só mesmo um bom duche interior.

samuel disse...

Se tão novos atingem a senil-idade, como estarão aos 50?

O Puma disse...

Ary

chamar-lhe-ia

cagalhãozito

Anónimo disse...

Vamos lá a ver:-este jovem, tem o pensamento neo-liberal, capitalista, foi que lhe ensinaram por todos os degraus do ensino por onde passou, culturalmente , e intelectualmente, é fruto da mesma àrvore,se tiver sorte e entrar no mundo do trabalho, continua na sua cavalgada,mas se tiver azar, e for para o rol dos desempregados, então já tem algum tempo para pensar e começar a por em causa, muita coisa que até ali lhe passara despercebido, ou não acreditava sequer, o tempo foi, é, e continuará a ser o grande mestre.
Abraço Manangão

Fernando Samuel disse...

Curioso: o JMF escreveu o mesmo no Público do Belmiro. Será que aprenderam no mesmo livro?

Fernando Samuel disse...

E o Sócrates disse isso mesmo, ontem, em Coimbra...

Sérgio Ribeiro disse...

É a verdadeira cassete!

Anónimo disse...

Manangão não é só falta de conhecimento. Conheço muita gente que teve a felicidade de ter Avelãs nunes como professor de Economia política e, feita a cadeira, rqapidamente ligou à terra. Todavia, a maioria é mesmo constituída de ignorância arrogante. aliás, a arrogância é irmã gémea da ignorância.

Sal disse...

Está montada uma campanha do piorio.
Anda muita gente assustada, parece-me.
E tentam, a todo o custo, falsear a verdade.
Mas a verdade é uma só:
A Luta está na rua.
E os filhos da mãe estão nervosos com a nossa força.

bjs