terça-feira, junho 10, 2008

Materialismo histórico - 3 (necessidades)

Reafirmo não ter a menor intenção de fazer um curso, ou algo parecido… e muito menos de filosofia. São, apenas, reflexões apoiadas em leituras e buscando ecos (isto é, comentários).
Por isso – aqui! – materialismo é o esforço de explicação científica da vida e do universo. A partir dessa explicação, o ser humano é matéria transitoriamente organizada cumprindo leis da natureza, leis que podem ou não ser conhecidas. Ou ainda não…
É por isso intrínseca ao ser humano, como animal-matéria organizada, a necessidade (spinoseana) de se auto-conservar. Vivo.
Para satisfazer essa sua necessidade essencial (vital), colhe da natureza o que esta lhe coloca “à mão”, depois “à mão de semear” (libertas as mãos por começar a deslocar-se sem delas precisar), depois aprende e retém como se servir do “meio” prolongando o seu corpo… e assim pelos séculos dos séculos materializando o processo histórico, alimentando-se, cobrindo o corpo, abrigando-se das intempéries, defendendo-se de outros animais – de que seria alimento e não os tornasse seu alimento –, perpetuando-se como espécie.
Necessidades que se podem chamar naturais e compõem um sub-conjunto, a que se foram juntando outras, que se podem chamar históricas. Algumas necessidades têm carácter “biológico” (cuja satisfação é indispensável para a conservação da vida), outras são consequência do viver em comum, do que é a cultura de uma dada sociedade num determinado momento (histórico). Mas as próprias necessidades “naturais” adquirem “dimensão cultural”, uma “segunda natureza” (social). A alimentação transforma-se em gastronomia, a protecção do corpo em moda, a preservação da espécie em amor. Sempre e tudo condicionado pela relação com o outro.
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De muitas maneiras poderia (deveria?) continuar no tema. Para não o estender demasiado, apenas a referência a uma certa hierarquia:
..........necessidades “primeiras”, incompressíveis
..........necessidades “segundas”, relativas à forma de vida
..........necessidades “terceiras”, consideradas supérfluas, de luxo
E ainda umas notas… para eventual memória futura:
..........conjuntos sociais i) absoluto das necessidades, ii) real das necessidades, iii) das necessidades não satisfeitas
..........satisfação das necessidades, consumo, valor de uso
..........criação artificial de necessidades, publicidade, crédito
..........da "necessidade metafísica" (Schoppenauer)
.........."reino da necessidade" e "reino da liberdade"

9 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia camarada, amigo, professor!

Não sei se entendi correctamente a nota em que falas de:

i) absoluto das necessidades;

ii) real das necessidades;

iii) das necessidades não satisfeitas?

Campaniça

Anónimo disse...

Depois de ler pela 3ª vez penso que já entendi, mas, apesar disso...

Anónimo disse...

Camarada
O mais dífícil das coisas é sempre o início, e quando o início é mau, por vezes já é a correlação de forças, que é desigual, condicionando a evolução, saudável do processo, originando a deteorização do tecido social,e concequentemente as desigualdades sociais, passando a comercializar-se tudo o que é lucrativo, em detrioramento do que é exencial á vida.
Ó setôr não pode dizer que não estou a esforçar-me!
Obrigado pela tua paciência camarada!
Abraço

Anónimo disse...

Apesar do feriado cá temos a lição. a raça é que anda muito mal. o capitalismo criou a necessidade de atacarmos o racismo.

Sérgio Ribeiro disse...

Eu sei que ontem foi feriado, e sei também que havia muita coisa para fazer. Mas três comentadores não foi lá muito estimulante...
Também me parece que cometi um erro, ou imprudência, de ter "metido" dois parágrafos "a mais", com pistas e notas para ficarem, como "memória para o futuro", que só teriam vindo baralhar. Peço, por isso, que não lhes dêem grande atenção (obrigar-te a ler 3 vezes, Campaniça?!, desculpa lá).
ESpero chegar ao fim do dia de hoje mais animado...
Saudações calorosas.

Anónimo disse...

Sérgio, não foi por obrigação que li três vezes, foi com prazer ( ou, como diria a minha avó Mariana "li porque eu quis"). Aliás, devo dizer-te que o que está escrito com clareza e nitidez lê-se com prazer, mesmo que não se entenda logo à primeira. Pensar, "puxar" pela matéria cinzenta é um esforço que vale a pena, e eu gosto.
Cada um parte do seu horizonte de conhecimentos e vai progredindo pelos seus próprios meios, "penso eu de que..." .
Campaniça

Justine disse...

Esta "lição" já tinha ouvido cá por casa várias vezes, mas nunca é demais fazer revisão da matéria :))
Espero o avançar do "curso", ansiosa...

Anónimo disse...

-Continua camarada não desanime cá a minha rapaziada e eu claro; está a aprender, estamos muito caladinhos mas atentos como é da norma do bom aluno. - O meu mais novo que quer ser economista, até faz copias, para melhor mergulhar no materialismo dialéctico além de querer consultar os livros que vais recomendando.

Por isto e muito mais força não desistas.

a. ferreira

Maria disse...

Não precisaria de deixar aqui um comentário para te "estimular" a continuar. O último comentário vale por todos - os jovens a quererem aprender, aprender sempre...
Por mim estou a fazer revisões da matéria, e a "acordar" para outras coisas...

Obrigada, Sérgio